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Blog FP: Um momento para reflexões no futebol argentino

Após o desastre do descenso, o River Plate deverá refletir sobre as causas do acontecido e se reestruturar. No entanto, o fato merece uma análise mais ampla. Pois o River não caiu apenas pela própria incompetência. Há fatores muito mais amplos envolvidos nessa história. Um deles, o declínio dos grandes.

Há um evidente declínio técnico dos chamados grandes. Acabamos de completar 5 torneios sem que nenhum deles se sagre campeão, algo inteiramente sem precedentes dentro do futebol argentino. O Racing já disputou a Promoción e por pouco não repetiu a dose ano passado. Independiente este ano já poderia ter tido o mesmo destino. E Boca e San Lorenzo deverão abrir os olhos para a próxima temporada, assim como o Racing.

E quando se soma a pontuação que essas equipes tiveram nas duas últimas temporadas, o cenário é ainda mais evidente. Das 16 equipes que estiveram na 1a divisão nos últimos 2 anos, apenas Huracán, Gimnasia e Tigre somaram menos pontos que Boca, River, Racing e San Lorenzo. O Independiente ficou um pouco melhor, mas ocupa um discreto 7o lugar na lista de pontos das últimas temporadas.

Se qualquer hincha argentino ou simplesmente os fãs do futebol do país se acostumaram a pensar nessas cinco equipes como os “grandes argentinos”, algo vem dando muito errado para eles. O declínio do Racing, com apenas um título nos últimos 83 torneios disputados é evidente. Nesse período a Academia conquistou o mesmo número de títulos que Quilmes, Huracán, Chacarita Jrs. e outras equipes.

Pouco melhor é o San Lorenzo, com apenas 3 títulos nas últimas 67 competições nacionais, desempenho equivalente, no período, ao do Argentinos Jrs. e inferior a Estudiantes, Vélez e Newell’s. Não muito melhor está o Independiente, que só conquistou um título nacional nas últimas 17 temporadas, período em que se disputaram 34 torneios.

A situação, que parece muito óbvia, não foi percebida por muita gente. Talvez porque Boca e River, que são de fato os dois gigantes, continuaram ganhando títulos. No entanto, a lanterna do River no Apertura 2008 sinalizou o início de uma má fase para os dois. O resultado é que nos últimos 5 torneios, nenhum grande conseguiu sequer ser protagonista.

O Clausura 2009 foi decidido entre Vélez e Huracán. O Apertura 2009 entre Banfield e Newell’s, enquanto Argentinos Jrs. e Edudiantes lutaram até o fim no Clausura 2010. Na atual temporada, o Vélez perdeu o Apertura para o Estudiantes, mas venceu o Clausura sobre Lanus e Godoy Cruz.

Nada disso significa que essas equipes tenham perdido sua grandeza. Afinal, em um ano tão próximo como 2008 Boca e River foram campeões nacionais. Mas parece bastante evidente que há muitas coisas erradas com os grandes clubes do país. Más administrações, falta de planejamento, ausência de paciência com jovens jogadores (o que explica o fato de bons jogadores argentinos não encontrem espaço e seu país e brilhem em países como Brasil e Chile), tudo isso tem feito com que os grandes tenham cada vez mais tido participações aquém da sua altura nos torneios nacionais.

O descenso do River nada mais é do que o capítulo mais dramático desse momento tão delicado para os grandes argentinos. Não há o que comemorar nisso. Quem tecla estas linhas é hincha do Huracán, mas não tem a menor dúvida de que o caminho para o fortalecimento do futebol argentino passa necessariamente pelo fortalecimento dos grandes. Que esses clubes de tanta camisa, tradição e torcida voltem a ser protagonistas. Quem acompanha o futebol argentino sabe como isso está fazendo falta.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

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  • Eu sou hincha do Velez. Estamos bem. Pelo menso a esta distância.
    O RP faz muita falta. Por tudo a começar pelo campeonato ficar algo vazio.
    Melhores dias virão.

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Tiago de Melo Gomes

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