“Bem-vindo River…à B Nacional”
Esta foi a frase de Furios, autor do primeiro gol do Aldosivi sobre o River Plate na cancha do Ciclón. O resultado final foi 2×1 para los Gringos. Mais que isso, foi um feito histórico. Contudo, foi notável para o conjunto de Mar del Plata pelas circunstâncias que cercam o River Plate e o próprio Aldosivi. Além da frase acima, Furios expressou outra em seguida: “Assim é a B Nacional: um dia você pode perder de quatro gols, e no outro ganhar de um dos candidatos”. Embora pareça banal, a frase expressa muito do que é a competição, a sua essência; algo que parece ainda incompreensível ao glorioso clube de Núñez.
Por ter de enfrentar bons adversários na B Nacional, todos imaginavam que o River perderia para um deles. Nada disso tinha acontecido, até porque rivais fortes como o Instituto fez questão de engrossar a fala de que o River, em tese, era superior a qualquer outro na competição. Pareceu ser a última grande prova para o Millio. Na cancha do Ciclón ninguém jamais imaginava que a invencibilidade de 11 jogos iria cair justamente diante de los Gringos. O time vinha de oito jogos sem vitórias, ocupava o penúltimo lugar na tabela de classificação, era um dos últimos quanto aos promédios e, não bastassem tantos números negativos, vinha de técnico novo que sequer conhecia o elenco marplatense. Para piorar a situação, as coisas que cercavam o River Plate eram as mesmas. Até os pontos fracos pareciam acomodados, como a péssima defesa e a insistente visão de que de uma forma ou de outra a equipe vai subir sem muitos esforços ao fim da temporada. Porém, esses problemas já existiam, quando se deparou com outros adversários, e mesmo assim estava na ponta. Por que se preocupar com o Aldosivi?
Mas o futebol é diferente por causa dessas coisas. Apronta daquelas justamente quando ninguém espera. E ele quis que fosse justamente o penúltimo colocado que vencesse o Millionario. A magia que cerca o River o obriga a se posicionar como um vencedor. Isto parece contaminar a todos, desde dirigentes a técnicos e jogadores. Certamente é algo responsável por parte da história gloriosa do clube. Todavia, neste momento, parece que isso não está sendo nada bom. A maneira como o time vai para cima dos adversários é desrespeitosa. É como se todos mirassem o gol adversário e não vissem mais nada. Por vezes os dois alas sobem ao mesmo tempo. Quase não se ver volantes de contenção. Nas situações em que o time não corre perigo em campo é possível ver os dois alas apoiando juntamente com Sánchez e Aguirre, e todos ao mesmo tempo. Ou seja: perde-se a cobertura e a zaga (que já não é lá essas coisas) fica completamente desguarnecida. Esse problema foi visto desde a estreia contra o Chacarita. Continuou ainda depois de sofrer para manter empates contra Merlo, Huracán e Defensa y Justicia. Normal que fosse somente uma das partes fracas do time. Todas as equipes têm uma. Porém, como um problema grave que é, ele se acentua à medida em que ninguém parece preocupado em resolvê-lo.
O Aldosivi ganhou em Nuevo Gasómetro justamente porque soube aproveitar, como poucos, os espaços que o River sempre deixa sem preenchimento na cancha. Fez isso melhor que todos os demais. No mais, foi igual a alguns: foi aguerrido, disciplinado e eficiente em certa medida. E ganhou para fazer história. No fim da partida, lágrimas e abraços dos visitantes contrastavam com as cabeças abaixadas dos jogadores do River que saíam. Na tribuna também o presidente de los Gringos chorava de emoção. Jogadores e hinchas pareciam incrédulos com o feito. Muitos sabiam que estiveram longe de realizar uma grande partida. Mas sabiam que isso fora compensado com a dedicação e entrega eficientes à proposta de jogar nos erros do rival. Caso a equipe de Mar del Plata fracasse na competição, ainda assim esse feito será lembrado por todos na cidade. Também estará na memória de muitos velhos torcedores que foram ao estádio. Assim como vai alimentar de orgulho as pequenas crianças que contra todos os prognósticos insistem em torcer para um clube pequeno. Afinal, foi uma vitória que valeu um título.
Basta ao conjunto de Núñez que tire lições da derrota para que ela não signifique absolutamente nada à sua proposta de retornar à elite. No momento está no acesso direto. Tem uma equipe muito superior a todas as outras e tem uma hinchada que pode fazer a diferença. Uma das lições é a da humildade. Furios disse ainda: “ninguém dava nada por nós, porém este feito é algo que a Categoria proporciona”. Parece até que ele estava falando do River, pois é assim que o conjunto de Núñez toma aos seus adversários. A continuar esse problema o tranquilo retorno pode virar um pesadelo. Uma bomba. E todos sabem o que significa uma bomba na zona de guerra que é o contexto de um clube gigantesco.
Foi, sem dúvida, a pior partida do River na B. Vamos juntar os pedaços e voltar a luta.
“Mas o futebol é diferente por causa dessas coisas”, e tinha de ser logo no dia do aniversario da conquista da Copa Libertadores? Assim é demais.