Difícil acreditar que Riquelme deixou o Boca Juniors e se mandou para o “Bicho”. Proposta foi boa, mas não foi somente por isso. No foco da exigente torcida e de quadros da oposição mais fortes que nunca, Luís Segura resolveu se mexer. Ideia não é só a de levar o ídolo xeneize para a Paternal. Trata-se também de formar uma equipe de respeito, recheada de craques experientes e experimentados no futebol argentino. Desta forma, Claúdio Borghi terá um esquadrão sob seu comando. Terá gente de luxo no banco e ainda terá a sorte de disputar um Torneio bem menor e mais fácil do que costumava ser a segunda divisão do país. Porém, fica a pergunta: “e aquela história de que o Argentinos Juniors tem uma das principais canteiras do país?”. Esqueça! Nem tudo é perfeito: a tradicional canteira do Bicho já era.
Primeiro é bom posicionar o presidente do Argentinos Juniors, Luís Segura, nessa história. Convém dizer que ele é o vice-presidente da AFA, homem de Grondona, homem do “eixo do mal”, se considerarmos que essa “gentinha” tem afundado o futebol da Argentina há muito tempo. E pouco a pouco, Segura foi deixando de lado o simpático clube da Paternal. Sua ideia provavelmente estava atrelada à possibilidade de ser escolhido por Grondona para substitui-lo.
Natural que o “Bicho” fosse caindo até mesmo naquilo em que era campeão: na formação e alimento de ótimos jogadores para à equipe e para o futebol argentino e até mundial. E isto foi só um detalhe da queda. Problema foi se acentuando de tal forma que o próprio time foi rebaixado à segunda divisão. E justamente quando todos culpavam a Luis Segura apareceu o escândalo da venda de ingressos, durante a Copa do Mundo. Hora de tirar a pele do cartola; hora, para o cartola, de dar uma resposta ao problema. Daí a formação do “Dream Team” do Argentinos atual.
Convém, todavia, deixar claro que a equipe não se forma só em volta de Riquelme. Outros jogadores de peso foram contratados. Casos de Martín Zapata, jogador que oferece preenchimento ao meio-campo, Gabbarini, Castilejos, Cristian Álvarez, Ezequiel Garre, Basualdo, Daúd Gazale, Mariano Guerreiro e outros. Além disso, Ledesma e Caruzzo chegam à Paternal. De forma que temos dois grupos de reforços. O primeiro, de atletas que não têm a ver com Riquelme e, o segundo, que expressa já a interferência do ex-craque xeneize no conjunto da Paternal. Resta saber quem de fato pode fazer a diferença à equipe de Borghi e trazê-la de volta à primeira divisão.
A partir dos que chegaram, Gabbarini, Basualdo (recuado à zaga), Caruzzo, Garré, Álvarez e Zapata formarão a espinha defensiva da nova formação. Juan Pablo Lemos fica na reserva; “Burrito” Riveros, se chegar, também. Ledesma será um terceiro volante e terá, à sua frente, Riquelme como enganche. No ataque, provável que Gazale, Castilejos e Guerreiro completem a formação. Trata-se de uma esquadra respeitável e que pode amedrontar a todos os rivais na B Nacional. A própria formação pode variar para outros desenhos. De qualquer forma, o certo é que mesmo alguns reforços que chegaram para jogar devem ir para o banco. Mas isso não é tudo.
Facundo Coria tem nome para ser o reserva imediato de Román, mas atualmente tem bola para colocar o ex-enganche xeneize no banco. E a reserva, no atual momento da carreira, pode não fazer bem para Coria. Rodrigo Gómez é o nome de uma das maiores promessas do futebol argentino atual. Tem apenas 21 anos e foi um dos que se salvaram na campanha desastrosa que levou o Bicho à segunda divisão. Tivesse a equipe mais dois jogadores como Gómez e não teria caído. O garoto é mais um que perde prestígio. Assim como ele, Lucas Cano, Reinaldo Lenis, Pistone, Gaspar Iñíguez, Juán Ramírez e Nico Freire também.
Nada de errado em jovens da base esquentarem o banco para craques, enquanto se espelham nos ídolos para o apontamento e lapidação de seus acertos e erros. O que está errado no caso é outra coisa: esses atletas já sentiram o gostinho da titularidade e eles mesmos aprenderam muito com a campanha passada. Qual o espaço que terão agora para mostrar amadurecimento e evolução? Ou seja, o processo de decomposição de uma linha de trabalho, no caso, das canteiras, passa por jogadas manhosas e sutilmente corrosivas. No caso do Bicho, não se tratou apenas de cortar a grana que chegava na base, além disso, praticamente se anula o espaço das últimas promessas que a antiga canteira formou. E esta prática é o recente filho de Luís Segura que vem à luz.
A sorte grande de Claudio Borghi
E Borghi, o que ganha com isso? Muitas coisas. Além de ter um Dream Team a sua disposição, ainda poderá contar com bons reservas e com algumas das últimas jóias do trabalho da base. Certo que a direção do clube não fará esforço algum para negociá-las, assim como já o fez com Franco Flores, que vai-se embora para o Douglas Haig. Os meias Luciano Cabral e Ezequiel Ham ainda seguem na Paternal. O mesmo ocorre com o ótimo Torrén, que pode surpreender e levar a camisa titular, Lucas Rodríguez, Mariano Almandóz, “Patito” Matricardi e Nico Batista. Não faltam opções.
Tudo isso é pouco, se pensarmos que a B Nacional, pesadelo até de clubes importantes, vai ser a mais fácil da história. Começa em 02 de agosto e termina em dezembro, precisamente no dia 06. Não haverá descenso e ninguém vai se apavorar com o fantasma da B Metro. Relevante também é que as disputas serão em dois grupos, conhecidos na Argentina como “zonas”. O conjunto da Paternal integra a Zona A com mais 10 rivais. As disputas serão de ida e volta e apenas em cada zona. Não bastassem tantas felicidades e tem outra: nada menos que 10 das 22 equipes subirão à elite do futebol local.
Este contexto, portanto, pode oxigenar os pulmões de uma instituição tradicional e com a personalidade histórica de poucas. Porém, pode ser uma via de mão dupla. Pode perfeitamente anular aos olhos de todos o processo de decomposição que se opera de maneira eficaz e sutil no maior formador de talentos do futebol da Argentina. Se esta tragédia ocorrer, ela será mais um filho legítimo do cartola da AFA, Luís Segura, a vir à luz.
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