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B Nacional: um pouco do Ferro Carril Oeste, adversário do River Plate na rodada da B Nacional

Rival do River Plate na 27ª rodada, o tradicional Ferro Carril Oeste vive um momento conturbado na B Nacional. Recentemente perdeu seu treinador, Mauro Gómez e seu principal jogador, Julio Buffarini. Porém, o novo comandante, Carlos Trullet, pode intervir no cenário, melhorando-o e restituindo o orgulho que a equipe de Caballito possuía até o fim do ano, quando estava bem na tabela. Para tanto, precisa resolver dois problemas. Um a curto e outro a médio e longo prazo. Este último consiste em modificar a mentalidade extremamente defensivista da equipe, provavelmente interferindo no consagrado esquema 4-4-2 (segundo piada em Caballito, “decorado até pelos filhos dos jogadores”). Porém, a curto prazo, a parada pode ser ainda pior; vai ter de encarar o vice-líder da competição, o River Plate, em Núñez.

O Ferro Carril Oeste é mais uma daquelas consagradas instituições futebolísticas da Argentina que saiu dos holofotes de uma hora para a outra. O Verdolaga, como é conhecido no país, possui dois títulos da primeira divisão (1982 e 1984), cinco da segunda (1958, 1963, 1969, 1970 e 1978) e um da terceira, o Clausura de 2003. Porém, na disputa da B Nacional desde a temporada 2003/04, o clube somente agora dá sinais de que uma hora ou outra sobe. Dificilmente será nesta temporada.

Aposta na base e a origem do forte esquema defensivo

A saída para muitos clubes é, por vezes, a base. Assim também é no Ferro. Mas nem tanto por questão de mentalidade e mais pela necessidade de combater o buraco financeiro que acomete o clube de Caballito desde há muito tempo. Então, quando assumiu em julho de 2011, o então técnico Mario Gómez abraçou fielmente essa proposta. Só que julgando que não dispunha de muitos talentos, resolveu trabalhar uma mentalidade defensivista na equipe. Em 26 rodadas da B Nacional, o Verdolaga levou apenas 16 gols, um a mais que o Quilmes, a melhor defesa de todas. O problema é que o clube fez 14, e, juntamente com o Chacarita Juniors, é o pior dos ataques.

O técnico anterior se foi do clube duas semanas atrás. Um dos motivos foi a perda de Julio Buffarini para o San Lorenzo; a outra, foi mais um desentendimento com o plantel. Desta vez, depois do empate em casa contra o fraco Independiente Rivadávia. Na origem do imbróglio, um questionamento do plantel sobre a maneira recuada de a equipe atuar; no final, o pedido de demissão do treinador, aceita sem obstáculos pela direção.

Defensivista ou não importa pouco, pois o futebol pode perfeitamente aceitar um estilo de jogo baseado somente na defesa. Os românticos podem reclamar da Inter de Mourinho quando parou o Barcelona na Champions 2010. Mas é impossível desprezar o fato de que não havia competência e serenidade na proposta. A meu ver, também ali havia um estilo de jogo interessante. Além disso, ainda que baseado em farta jovialidade, o elenco do Ferro sempre demonstrou ao técnico um profundo respeito ao seu esquema, dentro de campo (somente Aquino ousou reclamar e foi aniquilado do elenco). Então, onde estaria o problema?

Em duas situações. Nas constantes depreciações do elenco, pelo técnico, e nos excessos na execução da proposta. Era comum o treinador dizer publicamente que priorizar a defesa era uma obrigação, já que não contava com nenhum jogador habilidoso no elenco.

Quanto aos excessos, eles realmente aconteciam. Mesmo em jogos fáceis, e em Caballito, Gómez era capaz de colocar uma linha de cinco meias, praticamente colada na linha de quatro defensores. Quando isto acontecia, nove homens viravam zagueiros enquanto à frente Salmerón – ou Miranda – ficava isolado e sem função.

O novo treinador e mudança a caminho

Desde que chegou, Carlos Trullet tem se preocupado em modificar essa cultura da defesa. Por certo não fará muita coisa, mas buscará um equilíbrio, o que é o mesmo que tentar eliminar os exageros de Gómez. A primeira ordem foi para que os jogadores evitem a ligação direta da defesa para o ataque e que busquem menos o levantamento excessivo de bolas para Mirando ou Salmerón na área.

Carlos Trullet varia mais o esquema do que Gómez. Por vezes, vai com um 3-4-1-2, foi assim no Rafaela, quando colocava o excelente Nico Castro como enganche. Se tiver de modificar o esquema, pode ir para um 4-3-3, que seria uma intervenção menor justamente na defesa, setor que é o ponto forte da equipe. Contudo, embora altere mais o esquema que Gómez, empata com o antigo treinador na preferência pelo 4-4-2.

Sem modificar muita coisa, rapidamente ele deve sacar do time ou Miranda ou Salmerón e conduzir Pereyra Diáz da meia cancha para o ataque. Díaz é um meia-atacante típico, veloz na condução e tem a vantagem de arrematar bem tanto de dentro quanto de fora da área. Curiosamente ele atua no meio porque o antigo treinador esperava pelo pivô de Salmerón para a chegada de Díaz. Uma das broncas, porém, do elenco com Gómez, é que paradoxalmente ele não permitia que o jovem meia fosse ao ataque.

Tullet pensa modificar a filosofia da equipe, tentando manter a sólida base defensiva, porém, soltando mais a criatividade da equipe. Neste sentido, ele deposita muita confiança em Pereyra Díaz. No começo da temporada, o clube não tinha nenhum nove típico e o jovem atacante ficava solto na frente, sem muita produtividade. No “pacote de Natal” chegaram dois, Luis Salmerón e Osvaldo Miranda. Gómez resolveu atuar com ambos, embora sabendo que possuem a mesma característica. Para acomodar o habilidoso Pereyra Díaz na equipe, recuou o garoto para a armação. Daí para virar um marcador foi só uma exigência do técnico.

Agora, Trullet quer contar com o jogador para fazer a diferença na criação. Outro com quem ele não abre mão de contar é Sebastián Navarro, talvez o mais criativo de todos. Um deles será preparado para executar a função de Julio Buffarini. Embora Díaz seja um meia-atacante, é provável que ele seja o escolhido, pois Navarro atua pelo lado do campo oposto ao de Buffarini, pela esquerda. Já Pereyra Díaz, que tem se revelado versátil, cai pelo setor que era ocupado pelo agora reforço do San Lorenzo de Almagro.

A segunda ordem do técnico é para que soterrem as expectativas de acesso nesta temporada. Em vez disso, proclama que a equipe complete sua formação, honre a camisa do clube, buscando a maior competitividade possível: “O quarto colocado está a 10 pontos da gente, o que é uma diferença muito grande”, disse Trullet ao ser questionado sobre as chances do acesso.

Como joga o Ferro Carril

Já dissemos que o esquema defensivo de Gómez é uma das marcas do Verdolaga. Difícil imaginar que Trullet modifique muita coisa em tão pouco tempo. O time, agora sob seu comando, em apenas três rodadas levou mais de um gol: 2×0 para o Atlanta e 3×0 para Rosário Central e Independiente Rivadávia. Por outro lado, em apenas um jogo fez mais de um gol, na vitória sobre o Guillermo Brown, por 2×0.

A equipe vai de 4-4-2 contra o River. Marcelo Berza não joga por ter chegado a cinco cartões amarelos. Entra Leandro Montagnoli no lugar. As características são as mesmas, mas logicamente a equipe perde em conjunto, já que a dupla titular com Schunke e Berza é uma barreira quase intransponível. Outro que entra é Marcos Sánchez na lateral esquerda, no lugar de Leonel Navarro. Navarro é melhor, porém irregular e menos marcador que Sánchez.

Com essa formação, o time deve esperar o River em seu campo de defesa, atrasando ao máximo a marcação. A opção pela compactação, atrás, só será abandonada se a equipe precisar atacar. Neste caso, as linhas se adiantarão até o meio-de-campo. Dificilmente o Ferro marca pressão na saída de bola. Isto porque Miranda e, sobretudo, Salmerón são lentos no combate. Em geral, fica mais cômodo que componham o setor do meio-de-campo. Ora, mas por que então dois jogadores, entre os meias, não avançam e encostam nos atacantes para pressionar a saída de bola? Isto não ocorre pelo fato de que o elenco verdolaga não está habituado a deixar um espaço vazio no meio.

Mais que os dois atacantes centralizados, o que deverá incomodar o River Plate são as subidas de Pereyra Díaz e as chegadas ocasionais, mas perigosas de Navarro. Com Gómez ele era obrigado, quando subia ao ataque, a fazê-lo pelo setor esquerdo. Com Trullet, poderá fazer pelo centro, como é de sua preferência.

Difícil imaginar um cenário com um ala municiando o ataque. Porém, é possível que isso ocorra com as subidas de Facundo Oreja pela direita. Este jogador também é importante quando a equipe pensa em ganhar. Contudo, suas subidas serão compensadas, na defesa, pelo deslocamento de Zaninovic para o seu setor e o de Díaz, para recompor a proteção à zaga.

A equipe do Ferro jogará por uma bola. Se fizer o primeiro gol, ficará ainda mais defensiva. Como sempre, o River é o favorito em confrontos desse tipo. Porém, vale lembrar que quando não assinala um gol, logo no início, os nervos dos atletas ficam à flor da pele. O que tem comprometido o Millonario na B Nacional.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

4 thoughts on “B Nacional: um pouco do Ferro Carril Oeste, adversário do River Plate na rodada da B Nacional

  • Renato Pais da Cunha

    Ferro Carril precisa voltou urgente para a primeira divisão!
    Essa equipe é a cara do futebol argentino!

  • Moura

    Texto bem detalhado sobre o Ferro. Grande time de futebol, só que hoje vai ter muitas dificuldades com o ataque do River.

  • Lucas Castro de Oliveira

    Depois de ver o que foi o primeiro tempo eu só me lembro desse texto, tudo a ver sobre o Ferro, que retranca. Cara, como é que vocês consegue acompanhar com tantos detalhes as equipes argentinas, incrível.

  • Tiago de Melo Gomes

    Caro Lucas, acredite, só tem maluco neste site. Assistimos tudo.

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