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Até onde vai o Atlético de Rafaela?

Alguns torcedores pouco acostumados com o Atlético de Rafaela podem pensar que a primazia da equipe sobre os demais na tabela do Apertura se deva à sorte, à displiscência, desentrosamento e até ao salto alto de algumas equipes consideradas grandes do futebol local. Claro que tudo isso existe ainda no futebol argentino. Empáfia sobra em elencos como o do Boca, Independiente e principalmente San Lorenzo e Estudiantes. Além de problemas como instabilidade e entrosamento, dificuldades que temos visto em equipes como o Fortín e Racing, além de outras menores, como o Argentinos Juniors. Mas não se deve a isso o bom momento da equipe de Santa Fe.

O argumento de que o clube vive uma espécie de encantamento, por estar jogando diante de grandes equipes, e que o seu futebol cairá de produção assim que acordar e ver camisas como a do Boca e Racing parece fadado ao senso comum caso se olhe para a B Nacional da temporada anterior. Claro que Racing e Boca não possuem pares na categoria imediatamente abaixo da Primeira, com exceção do River que agora está por lá. Contudo, para uma instituição como La Crema, nomes como o do Ferro Carril Oeste, Rosário Central, Chacarita etc também poderiam assustar e afugentar quaisquer pretensões de um clube cuja cidade está muito longe de ser uma das mais importantes de sua província (Com todo o merecido respeito à cidade de Rafaela). La Crema não se assustou com os grandes da B Nacional e tampouco vai se assustar com os grandes da primeira divisão porque o antídoto para se enfrentar as grandes camisas, o conjunto comandado por Trullet já descobriu: a organização. Esta é a principal arma que destacamos da equipe do Atlético de Rafaela. Permeia todos os aspectos do clube e do seu futebol. Como aqui precisamos delimitar o assunto, falemos um pouco de como joga o Rafaela e de que forma a organização é um fator que entra em campo vestindo sua camisa e não a da maioria de seus adversários.

A equipe é líder isolada da competição com seis jogos e cinco vitórias; além de 15 gols marcados e cinco contra. Quem viu o encontro com o Arsenal, em Santa Fe, pode pensar que não há nada de mais na defesa da equipe. Mas é um engano. Presentes como aqueles, no dia em que a defesa cremosa foi uma verdadeira mãe russa, não costumam fazer parte da gentileza local e não serão distribuídos muitas vezes. Naquele dia, tudo deu certo para o Viaducto de Sarandí. Talvez como uma peça pregada pelo Futebol, que queria testar a autoconfiança dos dirigidos de Trullet. A defesa do Rafaela é sólida. É composta por um bom arqueiro e por zagueiros que como poucos sabem evitar gols pelo alto. Ratifico: como poucos no atual futebol argentino.

A primeria linha de quatro joga bem próxima ao goleiro Guillerno Sara; para reforçá-la ainda mais, a segunda linha como que se divide em duas, na qual dois homens recuam para oferecer proteção e dois se posicionam no meio-de-campo. A marcação é por zona. O que é sabido é que esse tipo de marcação pode dar certo ou errado dependendo do grau de treinamento que ela possui. Pode ser um desastre, como no gol que o time levou na partida contra o Olimpo. Mas se o treinamento é o segredo, o gol contra o Aurinegro e mesmo dois outros gols contra o Arsenal, também são uma ex ceção, já que a equipe recebe esse teinamento de Trullet desde a temporada passada.

O Meio-de campo é um dos grande segredos do Rafaela. Qando ataca, os dois homens que reforçam o sistema defensivo avançam para o seu local de origem , no meio. Os dois homens que ocupavam essa posição costumam se aproximar do enganche, que na verdade é mais um atacante puro do que um enganche típico. Em geral, a condução da bola e a articulação das jogadas são feitas pelos jogadores de meio-campo. Nesse caso, o enganche (Federico González) se desloca para frente tão pronto para a conclusão das jogaddas quanto o artilheiro Gandín. Por vezes também um lateral avança junto com o bloco e, por vezes, os laterais ficam na marcação. Nesse caso, quem sobe é um dos jogadores que deveria permanecer na contenção. É sempre assim. Sempre com quatro ou cinco jogadores avançando para o ataque. Quando perdem a bola, parte dessa leva permanece no campo ofensivo para ajudar González e Gandín no duro combate que oferecem à saída de bola adversária.

Em alguns encontros Trullet vai surprender seus adversários com a mudança do 4-4-1-1 para um 3-4-2-1. Nessa formação, a equipe flutua ainda mais que na formação anterior. Contudo, se trata de uma formação que Trullet só utiliza quando percebe que seus rivais se preparam muito para enfrentar o Rafaela. A organização da equipe em campo salta aos olhos em ambas as formações. O que contribui para isso não é só o treinamento exaustivo de ambas as formações, mas também o fato de que a grande maioria dos jogadores do elenco está no clube há muito tempo. O entrosamento é perfeito; o que pode ser visto não somente nas jogadas de contra-ataque como também nas ensaiadas. Mas, para que esse entrosamento se perpetue concorrem a visão de Trullet e a proximidade da diretoria com o futebol do clube: as contratações são cirúrgicas, sai um jogador entra outro com as mesmas características. Saiu César Carignano no ataque chegou el Chipi Gandín.

O Rafaela faz do seu preparo físico uma de suas principais armas diante dos adversários. Isso tem sido assim já há algum tempo, sobretudo na última temporada, quando La Crema militava na B Nacional. Portanto, se uma equipe marcar um gol nos cremosos não poderar se acomodar, pois o elenco dirigido por Trullet vai buscar a reversão do placar até o último minuto. Foi assim contra o Albo, na Floresta. Justamente o Albo, que constuma fazer de sua cancha acanhada e da pressão de seus torcedores uma das fórmaulas que o fez permancecer na primeira divisão. No encontro com o Rafaela, o Albo vencia por 1×0 até os 30 minutos da segunda etapa, quando os comandados de Trullet viraram a partida e venceram por 2×1.

Vale dizer, por fim, que o Atlético de Rafaela se destaca mais pelo fator tático do que técnico. Se guardarmos as devidas proporções, podemos afirmar que o Rafaela está longe de ser uma Alemanha ou Espanha lá na Europa. Seria uma Holanda, equipe que não dispõe atualmente de tantos jogadores técnicos como suas rivais, mas que supera a ambas no aspecto tático e principalmente na capacidade superior de marcá-las. A equipe de Santa Fe não é uma Holanda, assim como seus rivais não são uma Espanha ou Alemanha. No entanto, podemos afirmar, com segurança, que o Rafaela está muito mais próximo da Holanda taticamente, do que todos os seus rivais estariam da Espanha e Alemanha do ponto de vista técnico. O que seguramente nos convida a, no mínimo, ficarmos de olho nessa boa equipe da província de Santa Fe.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

2 thoughts on “Até onde vai o Atlético de Rafaela?

  • Gilson

    Julián Fernández do atletico rafaela e Lisandro Lopez do Arsenal são os dois melhroes zagueiros do campeonato argentino. Merecem maior reconhecimento.

  • João Carlos Guilardas

    Cara, aonde você arruma tantos detalhes assim? Teve um jogo do Rafaela que eu vi e agora lembro bem de algumas coisas pelo seu texto. Achei que o time não acharia alguém como o Castagnano, apesar de que acho que o Gandin não é tão bom como ele. Essa formação do meio campo tem a ver mesmo, o lance dos caras recuarem enquanto dois sobem. Mas às vezes o jogo do Rafaela é bem chato, parece que o time vai perder ou empatar e mesmo assim parece que eles não ligam muito. Só não concordo muito com o sara ser um ótimo goleiro.

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