Primeira Divisão

Arsenal humilha San Lorenzo e leva mais um título para Sarandí

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Em Catamarca tudo parecia desenhado para a conquista do Ciclón. Parecia, mas se esqueceram de combinar tudo isso como o Arsenal de Sarandí. Conjunto dirigido a mão de ferro pelo competente Gustavo Alfaro vai acumulando títulos assim como acumula admiração, respeito e até temor de seus rivais. Foi assim hoje no Bicentenário de Catamarca. Placar de 3×0 foi pouco se comparado com a impressão que passou: que o San Lorenzo não tem o menor nível perto do Arsenal. Título em boas mãos e vaga na Libertadores. Ao Ciclón ficou o canto consolador de seus torcedores. Em resumo eles diziam: “jamais vamos te abandonar”.

Em teoria, o Ciclón estava preparado para se resguardar e esperar pelo Arse. Na prática, o esquema tático dizia o contrário. A ideia era a de sufocar o conjunto de Alfaro. Só que a realidade dentro de campo nem sempre é aquela que se espera a priori. Após uma primeira linha de quatro homens, na defesa, Pizzi colocou dois homens à frente, protegendo-a, e mais dois, adiantados, com a função de também defenderem a equipe. E para quê? Para que Leandro Romagnoli ficasse livre para a criação. À sua disposição, Piatti, por um flanco, e Correa, por outro, dariam profundidade à equipe e também contribuiriam com a criação. Na frente de todos eles, estava Gonzalo Verón; pronto para ser o homem do jogo.

Nada disso aconteceu no primeiro tempo, pois Romagnoli falhou, assim como tem historicamente falhado nos momentos mais importantes de sua carreira. Tampouco Correa e Piatti jogaram, pois se confundiram com Romagnoli na tentativa de criar. Como nenhum deles foi eficiente, o jovem Verón precisou recuar para armar a equipe. Armar para quem? Para ninguém.

Hinchada do Arse era pequena, mas animada
Hinchada do Arse era pequena, mas animada

Já o Arsenal atuava de forma compactada. Não pressionava a saída de bola do Ciclón e tampouco seus jogadores ficavam muito tempo no ataque. Como um bloco uniforme, a equipe se deslocava atrás da pelota e não permitia ações ofensivas do Ciclón. Desta forma, expunha o rival ao desgaste e a falhas defensivas, oportunizadas pelos espaços deixados em campo. Assim, pouco a pouco, o Arse se fez o completo dono do cotejo.

Aos 36 minutos, a pelota foi alçada à área de Torrico. O porteiro saiu do gol para dividi-la com sua defesa. Fez tudo errado e viu Nico Aguirre fazer o impensado: cabeceou a pelota de fora da área e cobriu o guardametas cuervo. Um golaço. Festa do Arse era grande, assim como gigante era o pesadelo cuervo. Mas ele apenas começava.

A segunda etapa foi toda ela do Arse. A superioridade era tamanha que o conjunto de Alfaro deixou de lado todas as preocupações com o ataque do rival. Jogou seu futebol como se estivesse treinando. Seus jogadores se soltaram em campo e não encontraram marcação de um rival apenas preocupado em descontar o marcador. Chances de marcar aconteciam uma atrás da outra. Aos nove, a pelota foi lançada para Mariano Echeverría no setor esquerdo do ataque. Ficou fácil para driblar o marcador cuervo e encobrir Torrico: um golaço.

A partir daí, a equipe de Boedo deixou de lado esquema tático e jogou na base do coração. Em vez disso, os homens do Arsenal eram a frieza que faltava para os meninos de Pizzi. Virando o jogo de um lado a outro; recuperando e distribuindo bem a pelota do meio para os lados, o Arse criava na proporção em que o San Lorenzo se perdia. E tinha outro detalhe, a bola parada. Em bola levantada para a área Fuch cabeceou para Zelaya à frente de Torrico. Zelaya precisou se abaixar para também de cabeça guardar: eram contados 21 minutos da etapa final. Arsenal 3×0.

Pizzi modificou a equipe, colocando Villalba no lugar de Correa. Também centralizou Romagnoli no ataque e fez Buffarini e Más se alternarem na função criativa em que “el Pipi” havia falhado. De nada adiantou. Pelo contrário. Ao tirar Buffarini da marcação, sobrecarregou Mercier, que jogou muito, mas quase foi expulso pelo excesso de marcação. Por outro lado, o Arsenal se dava ao luxo de colocar Rolle em campo e adiantar ainda mais o seu jogo. Desta forma, e se 3×0 é goleada, ela ficou pequena para o conjunto de Boedo. Poderia ser pior, poderia ser um placar histórico a favor do Viaducto.

Jogadores do Arsenal comemoram. Está virando rotina
Jogadores do Arsenal comemoram. Está virando rotina

Com o apito final de Deifino, o Arsenal de Sarandi comemorou mais uma conquista. Há dez anos atrás, o Arse dividia como El Porvenir, seu grande rival, o posto de equipe chica da região de Sarandí. Más línguas dizem que Grondona resolveu agir. O grande rival do Arse foi parara na 5ª divisão, enquanto o Arsenal pouco a pouco se constrói em grande vencedor da história recente do futebol argentino.

Grondona a parte, contudo, é obrigatório reconhecer a grande competência administrativa do atual campeão da Copa Argentina. Revela bons jogadores, contrata de forma cirúrgica, renova elenco sem nenhum desgaste e consegue que seus elencos aceitem e se encaixem no esquema tático de Alfaro como se estivessem rezando uma cartilha. Resultado é título atrás de título. Impossível de não se admirar.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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