Nesta última sexta-feira, 18 de outubro, um dos maiores clássicos do mundo completou 105 anos: Internazionale-Milan. Já contamos sobre os argentinos no dérbi de Turim (Juventus-Torino), que já chegou a ser mais importante que o de Milão: clique aqui. Hoje, é a vez do Derby della Madonnina. Curiosamente, o primeiro encontro da dupla milanesa ocorreu fora do país, em torneio na Suíça. Fundada naquele mesmo 1908, a Inter historicamente apostou mais e colheu mais sucessos com argentinos que o rival. A ponto de ser justamente o clube estrangeiro que mais cedeu jogadores à seleção argentina.
O primeiro argentino na rivalidade, contudo, foi rubronegro (ou rossonero): o robusto meia César Lovati, que como jogador só defendeu o Milan, de 1910 a 1922. Também foi um dos numerosos argentinos na seleção italiana. Do outro lado, o primeiro argentino de destaque também jogou pela Azzurra: Atilio Demaría. Ex-jogador do extinto Estudiantil Porteño, foi vice na Copa de 1930 pela Argentina e campeão da de 1934 pela Itália, ambas ao lado de Luis Monti.
Mas como Monti jogou as duas finais e Demaría não, este acabou esquecido mundialmente. Mas não no dérbi: é um dos maiores artilheiros do clássico, com 6 gols, sendo o argentino que mais marcou nele. Dois foram em um 5-4 da Inter em 1932, até hoje o clássico com mais gols. Demaría teve dois ciclos na Internazionale, de 1931-36, voltou à Argentina e foi novamente nerazzurro de 1938-43. Também nos anos 30, a dupla teve um irmão em cada: os obscuros Franco (Inter) e José Ponzinibio (Milan).
Os rivais tiveram sucesso com argentinos nos anos 50. A Inter teve Oscar Massei, ex-Rosario Central, Antonio Angelillo (artilheiro da Serie A de 1959), ex-Boca, e Humberto Maschio, ex-Racing; Angelillo e Maschio haviam vencido a Copa América de 1957 com um 3-0 no Brasil e compunham um ataque da Albiceleste conhecido como Carasucias (“Cara-Sujas”, gíria para “moleques”) de Lima (o torneio foi no Peru). Outro Carasucia foi o ídolo juventino Omar Sívori. Há quem diga que a eliminação precoce da Argentina na Copa de 1958 deveu-se à ausência do trio – não se convocava quem jogava no exterior. Eles passaram a jogar pela Itália, com Maschio e Sívori jogando por ela a Copa de 1962. Já Angellilo foi o primeiro argentino vira-casaca; ao fim da carreira, passou rápido pelo Milan.
O Milan teve mais sucesso na época, com os atacantes Eduardo Ricagni, ex-Huracán, Ernesto Cucchiaroni, ex-Boca, e Ernesto Grillo, ex-Independiente. Estes dois foram vice na Liga dos Campeões de 1958, em trio ofensivo sul-americano com o uruguaio Juan Alberto Schiaffino. Grillo, sobre quem já fizemos um especial (clique aqui), até marcou na final, perdida por 2-3 para o Real Madrid de Di Stéfano. Vieram após vencerem a Copa América de 1956. Outro campeão dela, o ex-River Santiago Vernazza, passaria rapidamente depois, deixando meio gol por jogo. Já Ricagni, abordado também no especial Juve-Toro por ter jogado nos dois, chegou a defender a Itália. Já nos anos 60, a Inter viveu sua melhor fase: três títulos italianos e dois seguidos na Liga dos Campeões e na Intercontinental.
O técnico da Grande Inter era argentino: Helenio Herrera, que popularizou a famigerada catenaccio. Fez tanto sucesso que a retranqueira tática foi adotada país afora e virou quase sinônimo do próprio futebol italiano. O Milan tentou reagir e contratou como técnico Luis Carniglia, de sucesso na função por Real Madrid e Roma, mas nem tanto em Milão. Ironicamente, eram tempos em que o calcio ficou fechado a novos jogadores estrangeiros, barreira só aberta nos anos 80. Dos que já estavam no país, Néstor Combín (outro ex-Juventus e Torino), que jogava pela França, foi campeão da Liga dos Campeões em 1969 pelo Milan e marcou no Estudiantes no título da Intercontinental. Foi agredido em La Plata e sua imagem empapada em sangue teria ajudado a afugentar europeus da disputa.
Nos anos 80, a Internazionale retomou seu sucesso maior com argentinos. Se na maior parte da década ficou na seca, não se deveu a Daniel Passarella, um dos maiores zagueiros do futebol. Ironicamente, o aguardado título italiano veio quando Passarella havia acabado de voltar ao River. Foi na temporada 1988-89, com outro ídolo histórico dos Millonarios e atual técnico deles, o então recém-chegado Ramón Díaz. Díaz viera do pequeno Avellino e fez boa dupla ofensiva com Aldo Serena. Logo depois, passou ao Monaco e foi muito pedido para a Copa de 1990, mas teria sido boicotado pelo desafeto Maradona.
Em 1995, chegaram mais dois aos nerazzurri: Sebastián Rambert, goleador do Independiente, era o mais festejado, mas uma lesão o atrapalhou. O outro era um lateral do Banfield que se imortalizaria no novo clube: Javier Zanetti, até hoje na Inter. El Pupi viveu toda a presidência de Massimo Moratti, iniciada naquele ano e encerrada nesta semana, e, consequentemente, os altos e baixos. A Inter se encheu de decepções nos primeiros anos. O primeiro título italiano desde aquele de 1989 só viria em 2006, herdado da Juventus. A partir dali, o clube logrou um pentacampeonato seguido, algo não visto na Itália desde o mítico Grande Torino dos anos 40.
Zanetti é quem mais jogou pela Internazionale e só tem menos clássicos disputados (45) que outro imortal, o milanista Paolo Maldini. Durante todo esse período, a Inter teve outros argentinos que compunham a espinha-dorsal da seleção, como Diego Simeone, Matías Almeyda, Nelson Vivas, Kily González e até um técnico hermano, Héctor Cúper. Juan Sebastián Verón e Gabriel Batistuta (este, sem brilho) também passaram por lá, quando estavam afastados da Albiceleste.
O Milan teve outros nomes importantes: Roberto Ayala foi campeão italiano no centenário milanista, em 1999. José Chamot e Fernando Redondo estavam no elenco vencedor da Liga dos Campeões de 2003. Mas não renderam como no Valencia, Lazio e Real Madrid, respectivamente. O mesmo vale para Fabricio Coloccini, que jogou só uma vez pelo clube, que o emprestou sucessivamente a outros até vende-lo ao Deportivo La Coruña em 2005. Coloccini se estabilizou mais no Newcastle United.
Nessa época, chegou Hernán Crespo, o único hermano a ter se destacado nos dois. Veio com o “rival” Batistuta (Crespo era da Lazio, Bati da Roma e eram concorrentes como centroavantes da seleção) em 2003 para suprir a venda de Ronaldo. Após uma temporada razoável, Crespo foi um dos primeiros reforços da Era Abramovich no Chelsea, que o emprestou ao Milan na temporada 2004-05. El Valdanito ficou só uma temporada nos rossoneri, onde foi muito bem como coadjuvante de Shevchenko, integrando grande elenco que misturava a base campeã da Liga dos Campeões de 2003 com a campeã de 2007.
Foi justo por conta da Liga que a temporada ficou amarga. Crespo marcou naquela incrível final de 2005, vencida pelo Liverpool em sensacional reação dos ingleses. Voltou ao Chelsea e um ano depois já voltava a ser nerazzurro, revendido em 2006. Ficou até 2009, participando da maior parte do penta. Foi o terceiro vira-casaca argentino da rivalidade (o segundo foi o meia Andrés Guglielminpietro, na virada do século, melhor no Milan: Guly foi outro campeão italiano no centenário em 1999, e até chamado por Marcelo Bielsa à Copa América) e o único que jogou pela seleção vindo dos dois. Outros participantes do penta a saírem em 2009 foram o volante Nicolás Burdisso e o atacante Julio Cruz.
Quem ficou todo o ciclo do penta com Zanetti foram o volante Esteban Cambiasso e o zagueiro Walter Samuel, até hoje também no clube e que venceu dez dérbis em dez jogados na Serie A. O trio também esteve na mágica temporada 2009-10, a única que viu um clube italiano obter a tríplice coroa: campeonato a copa nacionais e a Liga dos Campeões, não vencida pela Inter desde 1965. Mas o nome mais associado ao triplete foi o de um recém-chegado, o atacante Diego Milito. Não só marcou os dois gols na final europeia, diante do Bayern Munique, como também nos jogos que garantiram os dois títulos nacionais. E Milito costuma crescer no dérbi de Milão: já marcou 6 gols, metade em um 4-2 ano passado. Está ao lado de Demaría como maior artilheiro argentino do clássico.
Desde a saída de José Mourinho, porém, a Inter, mesmo vencendo o Mundial de Clubes, já não foi a mesma. Ricky Álvarez, Rodrigo Palacio e Hugo Campagnaro vieram desde então. Se ainda não levantaram taças, fizeram a Internazionale se tornar em 2012 o clube estrangeiro que mais cedeu jogadores à seleção argentina, incluindo um novo nesta semana: Mauro Icardi, que vinha sendo cotado para jogar pela Itália. Todos lutam por um lugar na Copa 2014. Além deles e de Cambiasso, Milito, Samuel e Zanetti, o clube tem hoje também o goleiro Juan Pablo Carrizo.
Já o Milan, que não teve o mesmo sucesso com hermanos, tem justamente só um hoje, e emprestado exatamente pela Inter: o ex-Boca Matías Silvestre, que na Itália também jogou em outra dupla rival, os sicilianos Catania e Palermo. Outros milanistas argentinos foram Leandro Grimi, José Spirolazzi e, mais recentemente, Maxi López. E outros interistas foram Oscar Basso (grande ídolo do Botafogo), Elmo Bovio (ex-Palmeiras e São Paulo), Alberto Cerioni, Antonio Ferrara, Mariano González, Juan Landolfi, Víctor Pozzo, Juan Rizzo, Santiago Solari e, mais recentemente, Mauro Zárate e Ezequiel Schelotto, que marcou 1-1 no último clássico.
À seleção argentina, a Internazionale cedeu Almeyda, Álvarez, Burdisso, Cambiasso, Campagnaro, Crespo, Cruz, Icardi, Kily González, Milito, Palacio, Rambert, Samuel, Simeone, Vivas e Zanetti. Já do Milan vieram Ayala, Chamot, Coloccini, Crespo e Guglielminpietro. Os milanistas Lovati e Ricagni e os interistas Demaría e Angelillo jogaram pela Itália.
*Muitas informações foram retiradas desta nota (clique aqui) dos amigos do Quattro Tratti, melhor portal brasileiro de futebol italiano.
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