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Argentinos Jrs x Vélez: clássico? Para a Copa da Superliga, sim

Nessa segunda-feira, o Argentinos Jrs 1-0 Vélez prosseguiu a 7ª rodada na Copa da Superliga, marcada pelos dérbis: ainda na sexta-feira, o Platense voltou travar fora das divisões de acesso um Clásico de la Zona Norte com o Tigre (vencedor por 4-0) pela primeira vez desde 1980, rivalidade que desde 1955 a elite só vira também em 1968. O sábado viu, na ordem, o 1-0 do Banfield de visita ao Lanús no Clásico del Sur; no Clásico Porteño, 0-0 entre Huracán e San Lorenzo na casa azulgrana, mesmo placar do Clásico Santafesino, onde o Colón recebeu o Unión; e o Clásico de Avellaneda terminou em emocionante 2-1 do Racing em pleno terreno do Independiente. No domingo, as visitas continuaram se dando bem: Newell’s 1-0 no Clásico Rosarino (custando o cargo do técnico Kily González no Rosario Central); o Estudiantes manteve doze anos de invencibilidade mesmo sofrendo 1-1 do Gimnasia no último lance do Clásico Platense no Bosque; e o Superclásico viu o Boca sorrir por 1-0 no Monumental diante de um River superior.

Tradicionalmente, o Vélez trava o Clásico del Oeste, contra o sumido Ferro Carril Oeste. O confronto, ausente desde 2000 da primeira divisão, parecia voltar para 2022 diante de uma rara campanha empolgante dos verdolagas na segundona, prejudicada por clamorosos favorecimentos da arbitragem ao Barracas Central (clube do presidente atual da AFA e líder do grupo que continha a equipe do bairro portenho de Caballito) e ao Quilmes, com quem o FCO duelou na semifinal. Mas, ainda nos anos 90, já se via acesa uma rivalidade paralela dos velezanos com o San Lorenzo, então o único grande argentino sem os troféus internacionais que recheavam em série as prateleiras do clube do bairro de Liniers. O jogador fortinero na imagem acima, o volante Pedro Larraquy, recordista de partidas por La V Azulada no século XX, foi sanlorencista a tempo, antes dessa rixa moderna aflorar.

O Argentinos Jrs, por sua vez, tem no All Boys o mais próximo de um dérbi de bairro (e o volante Sergio Batista, o barbudo na imagem acima, por sua vez também passou no fim da carreira pelo Albo, clube pelo qual torcia), mas desde os anos 80 alimenta uma rivalidade forte com o Platense – embora, como já dito acima, o clássico dos marrons seja historicamente contra o Tigre. Quando o duelo com o Tense voltou em 2021 após 22 anos, havia entre os colorados quem torcesse o nariz para chamar o encontro de clássico. Similarmente ao Vélez, a torcida do Bicho também vinha tendo rixas de razões similares com o San Lorenzo (contamos aqui) e via outra contra o próprio Vélez.

O San Lorenzo enfim ganhou no século XXI os troféus continentais que tanto lhe faltavam: a Mercosul 2001, a Sul-Americana 2002 e, finalmente, a Libertadores 2014. Argentinos Jrs e Vélez, por sua vez, seguem sendo os únicos times de fora dos “cinco grandes” em Buenos Aires a terem em suas vitrines a Libertadores; em La Plata, o Estudiantes completa o grupo dos campeões de La Copa ausentes do quinteto que o Sanloré forma com as duplas Boca & River e Racing & Independiente.

Curiosamente, o ano de 2010 foi marcado por esse trio à parte estar em alta: no primeiro semestre, por um pontinho a mais contra o Estudiantes, o Argentinos venceu o Clausura, encerrando jejum de 25 anos. No segundo, os platenses se recuperaram, faturando o Apertura nos instantes finais, impedindo que o Vélez se sagrasse campeão no ano do próprio centenário. Naquela disputa, destacamos que o duelo entre eles dois (os únicos clubes argentinos campeões mundiais de fora dos cinco grandes) estava longe de ser um clássico.

Para Vélez x Argentinos Jrs, a resposta é parecida. Embora haja alguma rivalidade entre as torcidas, a Copa da Superliga os colocou frente a frente na “rodada dos clássicos” apenas pela proximidade geográfica: dos três times da capital federal desacompanhados dos tradicionais rivais na primeira divisão, são os de estádios mais cercanos. Por isso, a mesma rodada fará o Talleres, sem o Belgrano na elite para um Clásico Cordobés, receber nessa terça-feira desde Mendoza o Godoy Cruz; também hoje, o Atlético, sem o San Martín para um Clásico Tucumano, receberá o Central Córdoba de Santiago del Estero; o Defensa y Justicia, com certa rixa com o Quilmes, encarou ainda ontem (1-1) o Arsenal – e o outro time da capital, o odiado Barracas Central, enfrentou ainda na sexta-feira o Sarmiento de Junín (2-1), dia em que o Patronato saíra de Paraná rumo a Mar del Plata para levar de 3-1 do Aldosivi.

Ex-Vélez, “Pepe” Castro aplica a lei do ex na final de 1985

O encontro mais importante entre Argentinos Jrs e Vélez seguirá sendo as finais do Torneio Nacional de 1985, ganho pela equipe do bairro de La Paternal, curiosamente campeã do torneio anterior em cima justamente do rival velezano tradicional, o Ferro. O Nacional 1985 foi o mais perto que o time de Liniers esteve de um título nos anos 80, em meio ao jejum atravessado entre 1968 e 1993. A imagem que abre a matéria, com os citados Batista e Larraquy, registra com humor aquela única disputa direta entre as duas camisas. Batista, que riu por último (com direito a gol na vitória por 2-1 na finalíssima), cavaria lugar na seleção campeã mundial de 1986.

Se apenas a partir dos anos 90 é que a camisa de La V Azulada virou uma vencedora contínua, a trajetória histórica dos colorados é de períodos muito esparsos de glória e de frequência indesejada na segunda divisão para uma instituição de taças tão proeminentes: o único ano de títulos em comum é o de 1997, justamente um em que o Argentinos venceu a Primera B enquanto o Fortín ganhava seu último torneio internacional, a Recopa.

Mas não falta gente de boa história nas duas camisas. Eis alguns nomes:

Jaime Rotman: goleiro surgido no Argentinos Jrs em 1932 em uma época nada gloriosa do clube (lanterna embora não-rebaixado em 1934, quando a AFA impôs uma fusão com o Atlanta), dali saltou a um Vélez forte ao fim do primeiro turno do campeonato de 1935 – firmando-se de imediato na titularidade. Inicialmente, o Fortín se intrometia entre os primeiros, emendando dois 4º lugares (1935 e 1936) com um 5º em 1937, algo significativo em tempos de onipotência do domínio dos cinco grandes. Mas em 1940 a equipe terminou rebaixada; Rotman seguiu carreira em 1941 no Atlanta, ironicamente o concorrente velezano contra a queda. Voltou rapidamente ao Vélez em 1944, quando o Fortín reestreou na elite – só o Boca segue há mais tempo ininterrupto nela. Já não era o mesmo e seguiu ao Uruguai para defender o Rampla.

José Luis Luna: ponta-direita que também defendeu os três clubes mais campeões da liga argentina (River, Boca e Racing) mas brilhou bem mais sob a pouca pressão de times não grandes. Luna estava nos Bichos Colorados do Argentinos Jrs que brigou pela primeira vez pelo título argentino, em 1960, na campanha mais próxima da taça até consegui-la pela primeira vez (já em 1984). Embora a equipe do bairro de La Paternal tenha ficado em terceiro, esteve mais perto do campeão do que no vice logrado com Maradona em 1980. Foi então contratado pelo River, sem vingar: em 1962 já estava no Atlanta, que vivia sua fase mais forte, seguidamente se intrometendo entre os cinco primeiros. Como jogador do time do bairro de Villa Crespo, inclusive defendeu a seleção nas eliminatórias à Copa de 1966.

Em 1965, trocou o Atlanta pelo Boca e até foi campeão, mas não transcendeu como xeneize, rumando em 1968 ao Vélez. O time do bairro de Liniers não tinha ainda títulos na elite, pendência resolvida já no Nacional de 1968, com Luna titularíssimo e com cinco gols fundamentais: o do 1-1 com o River no triangular final, impedindo um provável título por antecipação do Millo, e os quatro nos 11-0 sobre o Huracán de Bahía Blanca, uma goleada a princípio exagerada que foi vital para adiante o Fortín ser campeão pelo melhor saldo de gols. Luna faleceu recentemente, em 20 de fevereiro de 2022. Fica nossa tardia homenagem.

Ícone do Vélez nos anos 30, Spinetto treinou no Argentinos Jrs o primeiro Maradona artilheiro da liga argentina (a imagem do meio está no Instagram oficial de Diego) antes de polir nos anos 80 futuras joias do Vélez noventista (como Bassedas, na imagem)

Carlos Ángel López: revelado no Excursionistas, apareceu no River em 1972. Não firmou-se e já em 1973 seguia carreira no Argentinos Jrs. Esse talentoso meia-esquerda então chegou ao Colón em 1974, onde realmente despontou. Lembrado na revista El Gráfico que elegeu em 2012 os maiores ídolos rojinegros, cavou transferência ao Estudiantes para o Torneio Nacional de 1975, onde integrou o elenco vice-campeão. Ainda vestiria bem a camisa do Racing, time pelo qual chegou à seleção, simplesmente brigando por uma vaga com Maradona na Copa América de 1979. Foi um dos astros que o Vélez buscou no início dos anos 80 para voltar às cabeças, com 29 partidas entre 1981 (semifinalista do Nacional) e 1982.

Victorio Spinetto: defendemos em 2020 ele e não Carlos Bianchi como técnico para o time velezano dos sonhos – em parte, porque Bianchi já era selecionável como jogador, é verdade. Símbolo como jogador fortinero dos anos 30, Spinetto foi ainda maior como treinador: foram mais de dez anos seguidos na função, um recorde a qualquer clube na primeira divisão. Foi Don Victorio quem tirou o Vélez da segundona, em 1943, e dez anos depois era vice-campeão da elite, lugar mais alto que o time chegara até então. Em Liniers, além do período 1942-56, teve outros em 1958, 1961-62, 1966-67 e por fim nos juvenis pelos anos 80, polindo muitos pratas-da-casa protagonistas na glórias noventistas – dedicação que ofusca um bom trabalho também no rival Ferro Carril Oeste em meados dos anos 70.

Ele também teve mais de uma passagem no Argentinos Jrs: na primeira, vindo diretamente do próprio Vélez no decorrer do campeonato de 1962, chegou até a goleá-lo por 6-0 na rodada final – justamente o resultado mais elástico até hoje no duelo. Saiu em 1963 para voltar entre 1972-73 antes de treinar Maradona e colegas na primeira temporada artilheira de Dieguito, em 1978. Dedicamos a Spinetto (vencedor com a seleção na Copa América de 1959, sobre um Brasil recém-campeão mundial) esse outro Especial.

Jorge Pellegrini: durou apenas um ano no Vélez, mas um ano honroso a quem chegou com apenas 20 anos do Rosario Central. O Fortín foi 3º no Metropolitano de 1977 com ele sendo titular absoluto ao longo da campanha. Após trotar por Gimnasia, Colón, Independiente, Loma Negra e Instituto de Córdoba, pôde ser campeão com o Argentinos no glorioso biênio de 1984-85, embora como opção de banco. Ao fim da temporada 1986-87, já rumava a um Lanús de segunda divisão.

José Antonio Castro: autêntico ponta sem qualquer modéstia, a ponto de sua arroba no twitter ser @mejorwing, foi profissionalizado em 1975 no Vélez e foi peça-chave no vice-campeonato do Metropolitano 1979 (ano em que participou da Copa América, pensando em alternativa ao consagrado René Houseman) e no avanço até as semifinais da Libertadores 1980 (a primeira disputada pelo clube). O Independiente o contratou em 1982, mas Pepe Castro só reluziu com outra camisa vermelha: chegou ao Argentinos Jrs em 1983 e foi um dos pilares do auge do Bicho, só não renovando-se com a seleção argentina pela preferência do novo treinador em abdicar de pontas para rechear o meio-campo.

O agachado “Pepe” Castro e o goleiro Fillol, colegas no Argentinos em 1983

Ficou até 1988, tempo para vencer os dois primeiros títulos colorados na primeira divisão (Metropolitano 1984 e Nacional 1985, onde aplicou a lei do ex sobre o Vélez na finalíssima, vencida por 2-1), a Libertadores 1985 e a esquecida Copa Interamericana 1986. Só não veio mais porque a Juventus, a sete minutos do fim do Mundial Interclubes 1985, conseguiu forçar uma prorrogação, igualando a vitória parcial anotada em golaço de Castro em Tóquio quando já faltavam quinze.

José Yudica: um dos mais jovens estreantes da história da seleção argentina, El Piojo jogou no Vélez sem tanto brilho, em meados dos anos 60. Foi como treinador que ele se eternizou mais no futebol argentino – só ele e Américo Gallego foram campeões com três clubes diferentes, com Yudica tendo o diferencial de alcançar isso treinando equipes de fora dos cinco grandes. Venceu com o Quilmes em 1978, com o Newell’s do coração em 1988 e entre eles comandou o histórico Argentinos Jrs vencedor do Nacional e da Libertadores em 1985. Mas não tinha a melhor das relações com os pupilos e em 1986 foi abrigado pelo Vélez, havendo quem apontasse sua influência para os títulos que viriam nos anos 90. Ainda voltou rapidamente a La Paternal no início dos anos 90, já sem o toque de Midas, e nem uma herética passagem pelo Platense em seguida poderia lhe queimar. Contamos nesse Especial.

Carlos Fren: defendeu o Argentinos Jrs de 1973 a 1977, quando o Bicho ainda fazia campanhas de fundo de tabela – exceções aos Nacionais 1975 e ao de 1976, quando beirou a classificação aos mata-matas. Foi um dos primeiros parceiros de Maradona (profissionalizado no Nacional 1976, justamente) no futebol adulto e tinha qualidade própria: em 1978, foi contratado pelo Independiente e sagrou-se campeão do Nacional daquele ano, além de aparecer brevemente pela seleção em 1980. A revista El Gráfico chegou mesmo a inclui-lo entre os cem maiores ídolos do time de Avellaneda em 2011, por mais que Fren virasse mais de uma vez a casaca: jogaria no Racing em 1982 e seria técnico racinguista em 1995, em dupla justamente com Maradona, de quem posteriormente virou desafeto.

Em 1983, fora um reforço de renome a um Nueva Chicago que reaparecia na elite argentina pela primeira vez nos anos 20, embora logo fosse rebaixado. O que não o impediu de ser adquirido em seguida pelo Vélez, sendo peça importante no elenco vice do Nacional de 1985, ainda que no início de 1986 já rumasse a um fim de carreira nas divisões de acesso.

Ubaldo Fillol: provavelmente, o nome mais célebre dessa lista. Fillol apareceu no início de 1983 no Argentinos após atrasos salariais e desorganização institucional o fizeram sair brigado do River. Lhe seduzia a ideia de trabalhar novamente com a lenda Ángel Labruna, então técnico colorado e seu velho mentor desde os tempos de Racing (em 1973) e no vitorioso River setentista. Ele até defendeu a seleção vindo do clube da La Paternal, mas ficou pouco para virar ídolo genuíno; a súbita morte de Labruna ainda em 1983 e uma oferta do Flamengo naquele mesmo ano encerraram seu ciclo no Bicho. Ele veio ao Vélez para pendurar as luvas; ficou um ano e meio em Liniers, pela temporada 1989-90 (5º lugar) e pelo Apertura 1990. Se não exibia o mesmo nível de outrora, deixou uma gloriosa impressão final, como destacamos nesse Especial.

Cabrera e Insúa: volantes de talento que mereciam mais

Osvaldo Coloccini: pai de Fabricio, também foi zagueiro. Titular do histórico Racing de Córdoba vice-campeão do Nacional de 1980, dali chegou ao Vélez no início de 1985, a tempo de ser novamente vice do Torneio Nacional. Seguiu no bairro de Liniers para a temporada 1985-86 e dali buscou pé de meia no lucrativo narcofútbol colombiano da época. Foi repatriado no segundo semestre de 1988 inicialmente pelo San Lorenzo, clube do coração da família – participando do time semifinalista da Libertadores daquele mesmo ano, o mais perto que o Ciclón chegara do troféu até 2014. Coloccini ainda teve um segundo ciclo no bom Vélez da temporada 1989-90 antes de rumar a um fim de carreira por Argentinos Jrs e Talleres. A ligação com o bairro de La Paternal se estendeu com o filho, produto da base colorada.

Leonardo Rodríguez: talhado nos tempos de segunda divisão do Lanús entre 1983 e 1988, não foi exatamente brilhante em sua única temporada no Vélez (1988-89), embora tivesse continuidade. Não houve acerto para uma compra definitiva e ele seguiu carreira por outro ano em um Argentinos Jrs já decadente, trampolim para uma vitrine maior no San Lorenzo: foi ali que virou jogador de seleção, a ponto de ser o reserva de Maradona na Copa do Mundo de 1994.

Claudio Cabrera: formado no River, era um oásis de talento no Huracán rebaixado pela primeira vez, em 1986. Assim, foi contratado pelo Vélez, pelo qual chegou à seleção olímpica em tempos de mais proeminência desse significado – os Jogos de 1988 só barravam quem já houvesse entrado em campo em uma Copa do Mundo. Porém, naquele mesmo ano, uma infeliz ruptura nos joelhos brecou uma ascensão maior. Após o bom campeonato de 1989-90 com Fillol e Coloccini, teve ainda uma boa temporada 1990-91 no Argentinos, a ponto de rumar em seguida ao Boca. Mas já estava bichado, logo estendendo às divisões inferiores uma carreira pontuada por 15 cirurgias. Curiosidade: seu apelido de Chacho virou também o de Eduardo Coudet por conta de um amigo velezano de infância deste.

Norberto Ortega Sánchez: ligou-se mais ao San Lorenzo, com o qual vencera o Clausura 1995 (encerrando o pior jejum do clube, 21 anos) após já ter participado com Coloccini no plantel semifinalista da Libertadores de 1988. Entre as duas passagens, defendeu o Vélez na temporada 1991-92 e o Argentinos Jrs na de 1993-94. Em Liniers, foi digno: La V Azulada foi 4ª colocada no Apertura e vice no Clausura, além de dar volta olímpica na liguilla pre-Libertadores, alegrias que terminaram ofuscadas pelo que o resto da década reservou ao Fortín. No Bicho, não esteve exatamente em La Paternal e sim em Mendoza: sintoma da crise institucional que assolava os colorados, naquela temporada o time mandou suas partidas naquela cidade por um valioso patrocínio local, mas não emplacou. Ortega Sánchez não teve cerimônia em passar pelo rival Platense no fim da década.

Daniel Cordone: testemunha ativa do Vélez campeão de tudo entre 1993 e 2000, seu período em Liniers, embora só entrasse em campo nas campanhas campeãs a partir de 1996. Veio do Newcastle United para ser reforço de emergência para o Argentinos Jrs que tentou em vão escapar do rebaixamento na temporada 2001-02, conseguindo cavar em seguida um lugar no banco do San Lorenzo vencedor da Sul-Americana ainda em 2002. No Brasil, El Lobo Cordone ficou mais conhecido por um folclore para alguns e confusão para outros: sua presença em um amistoso de veteranos em 2014 em Natal teria sido divulgada como sendo a de Caniggia, com quem tinha visual similar.

Domínguez ainda reserva no Vélez campeão da Libertadores 1994 e, como veterano, ergue o Clausura 2010 do Argentinos

José Manuel Martínez: proveniente de uma família de jogadores, com o pai (Carlos Martínez) e dois tios (Joaquín Martínez e César Laraignée) no River do início dos anos 70 e um tio-avô (também Joaquín Martínez) que defendera não só o mesmo River como ainda o Boca e também o próprio Vélez entre os anos 40 e 50, El Burrito foi profissionalizado em 2003 como velezano. Ainda era reserva no time campeão do Clausura 2005, a ponto de ser emprestado exatamente ao Argentinos Jrs para a temporada seguinte. Conseguiu ajudar na luta contra o rebaixamento, em degola só evitada na repescagem contra o Huracán, e já era titular na épica conquista fortinera sobre o próprio Huracán no Clausura 2009.

Mas foi a partir de 2010 que Burrito Martínez (eleito o jogador argentino do ano) teve sua melhor fase na carreira brilhando em um trio ofensivo com Maxi Moralez e Santiago Silva no ataque quase finalista da Libertadores, quase campeão do Apertura e que retomou a glória com o Clausura 2011 – campanha que lhe rendeu uma primeira chance na seleção. O Fortín ainda seguiu no pódio nos dois turnos da temporada 2011-12 e assim o meia-atacante foi contratado a peso de ouro pelo Corinthians recém-campeão da Libertadores. Até defendeu a Argentina brevemente como corintiano, mas não se firmou e nunca mais foi o mesmo. Buscando retomar espaço na seleção, esse torcedor riverplatense forçou uma saída para o Boca em 2013 e teve no máximo alguns lampejos embora ainda recebesse chances também no próprio Vélez (2017) e Independiente (2018).

Federico Domínguez: testemunha de luxo do esplendor do Vélez noventista, pois só veio a se firmar na titularidade com a entressafra vivida em Liniers após a conquista final – a do Clausura 1998, no qual foi titular em quatro jogos e utilizado desde o banco em outros dez (normalmente para os instantes finais); Raúl Cardozo era o dono absoluto da lateral-esquerda desde os anos 80. Ele até integrou o plantel campeão do Clausura 1993, da Libertadores 1994 e do Mundial 1994, mas sem jogar assim como na Interamericana em 1996 e na Recopa em 1997; ainda assim, esteve na seleção campeã mundial sub-20 em 1995. No Apertura 1995, foram duas partidas e no Clausura 1996, uma, seguida de duas aparições nos minutos finais na Supercopa 1996. Foi preciso brilhar no Independiente campeão do Apertura 2002 (o último título argentino até hoje do Rojo) para ganhar sua única chance na seleção principal, já em 2003. Fede ainda esteve no River entre 2005-07 antes de aportar sua experiência no título do Argentinos Jrs no Clausura 2010, o terceiro e último do Bicho na elite.

Federico Insúa: profissionalizado em 1997 em um Argentinos Jrs recém-regressado à primeira divisão, mostrou-se aquele camisa 10 clássico em tempos tenebrosos do Bicho. Quando a equipe enfim fez um bom campeonato, no 4º lugar do Clausura 2001, já brigava de novo para não cair, na tabela paralela dos famigerados promedios. A queda realmente veio uma temporada depois, mas El Pocho caiu para cima, reforçando o Independiente – junto de Fede Domínguez, ele igualmente brilhou naquela conquista do Rojo no Apertura 2002, a ponto de também começar a ter suas esporádicas chances na seleção. Insúa veio já veterano ao Vélez, mas foi figura ativa nos últimos títulos argentinos dos velezanos: o Torneio Inicial 2012 e a superfinal da temporada 2012-13. Ainda voltou a La Paternal em 2016 para pendurar as chuteiras.

Santiago Silva: sempre lembrado no Brasil como o bonde corintiano em 2002, o uruguaio teve no Vélez os melhores momentos da carreira. Adquirido em 2007, começou a ser levado a sério em 2009, quando arrebentara emprestado a um Banfield campeão argentino pela primeira e única vez. Na volta a Liniers, manteve a boa fase junto ao Burrito Martínez naquelas campanhas vistosas entre 2010 e 2011, o que lhe valeu um negócio pouco frutífero com a Fiorentina. Desde então, Silva teve brilhos esporádicos por outras camisas, em especial no Boca vice da Libertadores 2012 e no Lanús campeão da Sul-Americana 2013.

El Tanque apareceu no Argentinos Jrs na temporada 2019-20. Não era o goleador de outrora na campanha 4ª colocada e ainda encarou uma dura suspensão de dois anos, enquadrado como doping ao usar substâncias em um tratamento de fertilidade. Essa rodada dos clássicos marcou justamente sua reaparição nos gramados, já pelo Aldosivi, com direito a um emocionado gol nos 3-1 sobre o Patronato.

Ambos bondes no Corinthians, ambos com auge no Vélez: o carequinha Silva e Martínez

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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