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Argentinos do Hamburgo

Rodolfo Cardoso é o argentino de maior sucesso no Hamburgo e no próprio futebol alemão. Aqui, em clássico com o Werder Bremen, onde também jogou. Foi à seleção vindo dos dois. Marcou um gol por cada no “Nordderby”

O último fim de semana do futebol europeu ficou marcado pelos fins dos jejuns de Atlético de Madrid e Arsenal e pela aposentadoria de Zanetti (veja mais aqui), quem mais defendeu a Internazionale – que se despediu de uma só vez dele e ainda dos também argentinos Milito, Cambiasso e Samuel, todos peças-chaves da tríplice coroa em 2009-10. Ofuscado por isso e em um campeonato decidido há muito tempo a favor do Bayern Munique, outro jogo também possibilitava história: o do Hamburgo.

O ex-time de Uwe Seeler, Kevin Keegan, Felix Magath e até Franz Beckenbauer perdeu há muito seu poderio na Alemanha, mas jamais esteve tão perto de ser rebaixado. Sendo que ele é justamente o único presente em todas as edições da Bundesliga, formato adotado em 1963. Vem sendo este o seu grande orgulho, o qual o lembra em forma de relógio no site oficial, contabilizando dos Jahren aos Sekunden o tempo de permanência na elite alemã (clique aqui e veja lá embaixo). Algo que ruiria se tivesse perdido no último domingo para o Greuther Fürth fora de casa na repescagem realizada entre o antepenúltimo da Bundes com o 3º da segundona. Foi 1-1.

A temporada foi tão ruim que quatro técnicos passaram pelo comando hamburguês. Um deles, um argentino interino, precisamente “o” sucesso argentino no país e no clube: Rodolfo Cardoso, que já havia sido interino em 2011. Este meia jogou sete anos por lá, de 1997 a 2004. Curiosamente, vinha justo do arquirrival, o Werder Bremen (a cidade de Hamburgo tem o St. Pauli, cult mas fraco demais para ser o maior rival do HSV), pelo qual chegara em 1995 à seleção argentina. Manteve-se nela ao virar a casaca, sendo o primeiro doblecamiseta de uma rivalidade europeia na Albiceleste.

Concorreu por um lugar na Copa 1998 (jogou pela última vez pela Argentina em abril daquele ano), mas, ao contrário de nomes mais célebres e talentosos que ele que não deram certo na Europa, Cardoso rendia bem na alta competitividade da Bundes sem convencer na seleção. Foi um dos primeiros argentinos no fussball, ainda um torneio de pouca presença hermana; chegou do Estudiantes em 1989 com Silvano Maciel (ídolo do Deportivo Armenio: veja) ao nanico Homburg. Foi goleador no Freiburg, mas só atraiu a seleção ao ir ao Bremen, onde passou a ser mais um armador. Enquanto isso, os fugazes José Basualdo iam à Copa 1990 pelo Stuttgart e Leo Rodríguez, à de 1994 pelo Borussia Dortmund.

Bernardo Romeo foi o outro único argentino a vingar no HSV. À direita, Cardoso como técnico interino lá, cargo que exerceu nesta temporada 2013-14. Só eles jogaram pela Argentina vindos do Hamburgo

Cardoso, do seu lado, só não foi o primeiro argentino a triunfar em gramados teutônicos por conta de Sergio Zárate. É o irmão mais velho de Rolando e Mauro Zárate, símbolos recentes no Vélez, onde Mauro está de volta e justamente o clube que formou Sergio no fim dos anos 80. Chegou à Alemanha em 1991 e se destacou como um ponta-artilheiro no Nuremberg, de onde teve em 1992 sua única chance na seleção. Chegou ao Hamburgo em 1994, mas não se saiu tão bem e logo foi ao futebol mexicano, onde passou ainda mais tempo. Marcou só 1 gol, justo no Nordderby com o Bremen.

Em janeiro de 2002, dois argentinos vieram fazer companhia a Cardoso: o volante Cristian Ledesma, do River (voltou ao Millo em 2011 e foi campeão argentino com ele anteontem), e o atacante Bernardo Romeo, do San Lorenzo. Ledesma não vingou e logo saiu. Romeo foi melhor: ele e Cardoso foram titulares no último título nacional do HSV, a extinta Copa da Liga, em 2003. Romeo, que só não foi à Copa 2002 pela concorrência com Batistuta, Crespo, Claudio López e a estranha preferência de Bielsa em levar Caniggia, marcou dois nos 3-3 contra o Bayern na semifinal, vencida nos pênaltis pelos hamburgueses. O veterano Cardoso, à beira da aposentadoria, fez um nos 4-2 sobre o Borussia na final.

Cardoso se aposentou em 2004. Romeo ficou até 2005, com bons 35 gols, incluindo o da vitória em Bremen no seu primeiro Nordderby, em 77 jogos na Bundes. Viera após ser artilheiro do San Lorenzo no Clausura 2001 (título com recorde de pontuação na era dos torneios curtos, 47, no embalo de outro recorde, o de 13 vitórias seguidas) e na Copa Mercosul, primeiro troféu internacional do Ciclónveja aqui. Segundo ele, só deixou cedo o Hamburgo por não se adaptar à língua, frio e frieza alemães. Mas declarou que se arrependeu. Foi emprestado ao Real Mallorca, depois vendido ao Osasuna, não foi mais o mesmo e pôde se deparar com o contraste de organização mesmo em duas grandes ligas europeias.

A última novidade argentina é a mais famosa: Juan Pablo Sorín chegou em 2006, após boa Copa e vindo de um Villarreal que por um pênalti perdido por Riquelme não decidira a última Liga dos Campeões. Mas Juampi, ainda com só 30 anos, foi atrapalhado por uma severa tendinite ao fim da primeira temporada: seu último jogo completo foi em maio de 2007 e até deixar o Hamburgo um ano e meio depois, no fim de 2008, para se aposentar no Cruzeiro, jogou só outras cinco vezes. Pena, pois, enquanto pôde vestir as Rothosen (“calças vermelhas”, apelido da equipe), o lateral deixou 4 gols em 27 jogos: média maior que o solitário gol em 11 jogos de Zárate e até que os 17 em 118 de Cardoso.

Os outros hermanos do HSV: Sergio Zárate, Cristian Ledesma e Juan Pablo Sorín, contra Frings em clássico com o Bremen

 

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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