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Argentinos do Eldorado Colombiano: há 65 anos, Di Stéfano chegava lá

Hoje, um inglês que pedisse para sair do Manchester United para jogar no Independiente Santa Fe, de Bogotá, seria tachado de louco. Mas isso já aconteceu, na virada dos anos 40 para os anos 50. Foi o caso de Charlie Mitten, que virou colega de alguns argentinos no novo clube, com destaque para René Pontoni, ex-artilheiro do San Lorenzo que era ídolo do Papa Francisco, conforme o próprio sumo pontífice expressou em carta no Vaticano pouco após seu conclave (saiba mais). Mitten era da seleção e não foi o único britânico a fazer algo do tipo: Neil Franklin, outro do English Team, deixou o Stoke City também ao Santa Fe. O escocês Bobby Flavell veio do Hearts ao Millonarios.

Se o ambiente era sedutor a europeus, imagine então para sul-americanos, com profissionalismo ainda nos primeiros passos? A Dimayor, a liga colombiana, encheu-se de jogadores “sudacas”, especialmente de hermanos. A ponto de até hoje haver mais argentinos artilheiros por lá (35) do que colombianos (26). O recordista absoluto de gols, por exemplo, é Sergio Galván Rey, que esteve no título do Once Caldas na Libertadores de 2004.

A relação não nasceu por acaso nos anos 40. Essa década viu uma geração de ouro no futebol argentino, desde o fogo sagrado demonstrado pelos jogadores ao vestir a camisa, à sequência de títulos nas Copas América disputadas pela Albiceleste (quatro em cinco na década, sendo três seguidas, ainda um recorde só dela: contamos aqui) e uma diversidade de craques mesmo em clubes pequenos, a ponto do tal Pontoni ser um dos seletos cinco jogadores que estiveram na campanha do tri, mesmo ele ocorrendo em anos seguidos – 1945, 1946 e 1947. Por sinal, Pontoni em 17 jogos pela seleção fez 17 gols e deixava ninguém menos que Alfredo Di Stéfano no banco em 1947.

Essa mesma geração, porém, além de estar longe dos contratos milionários que receberia hoje em dia, tinha seus direitos trabalhistas mais básicos constantemente ignorados pelos cartolas. Ela fez uma longa greve em 1948 e não foi atendida. Alguns emigraram à Itália, cujo campeonato foi por décadas o mais rico do mundo. Já os clubes colombianos ousavam: se rebelaram contra sua associação, que ainda pregava o amadorismo, formaram a própria liga e, ao desrespeitar limites da FIFA sobre diretrizes de transferências, foram desafiliados dela. Nem se importaram. O sucesso financeiro, de público e de crítica foi imenso. Serem excluídos ajudou ainda mais, pois ficavam desobrigados de pagar multas rescisórias aos clubes de origem dos astros cada vez mais numerosos na Dimayor.

Di Stéfano quase não aparece na imagem (está atrás do goleiro Cozzi) mas foi este jogo que o apresentou ao Real Madrid

Di Stéfano, quando chegou à Colômbia, não era o monstro como o qual é rotineiramente lembrado. Era só um veloz goleador do River que acabava de chegar à seleção. Ele mesmo se dizia tecnicamente inferior a outros colegas. Há historiadores argentinos que pensam o mesmo, inclusive, sustentando que o nível da liga espanhola como um todo na época era inferior à argentina. Notando-se os fracassos da seleção espanhola na época (não se classificou às Copas de 1954 e 1958, nesta já com Di Stéfano, e caiu na primeira fase em 1962), pode-se dar razão a eles; os já estrelados Real Madrid e Barcelona eram exceções, mais ou menos como hoje.

Foi no país cafetero que Di Stéfano, duas vezes artilheiro da Dimayor, se tornou completo, passando a defender e também a armar jogadas com maestria no principal clube daquela liga pirata, o Millonarios de Bogotá. Sua estreia lá completou anteontem 65 anos: foi em um 14 de agosto de 1949, um 5-0 com dois gols dele sobre o extinto Deportivo Barranquilla. O cenário mudou a partir de 1954, quando um acordo entre a Dimayor e demais confederações sul-americanas previu que a partir daquele ano os clubes de origem deveriam ter seus jogadores todos devolvidos. O Eldorado acabou, mas a liga de um país abençoado com Amazônia, Caribe e Pacífico continuou relativamente atrativa. E a Colômbia acabaria escolhida sede da Copa 1986.

A liga atraía brasileiros também, diga-se. Tim (da Copa 1938) e o ídolo botafoguense Heleno de Freitas jogaram no Atlético Junior ainda no Eldorado. Este outro clube da cidade de Barranquilla receberia vários outros astros daqui depois: Dida (o artilheiro flamenguista reserva de Pelé na Copa 1958), Oreco (outro da Copa 1958), Norival (ex-Flamengo e Fluminense nos anos 50), Silva Batuta (que foi à Copa 1966 e na Argentina brilhou no Racing) e até Garrincha foram alguns. Quarentinha, o maior artilheiro do Botafogo, passaria pelo Deportivo Cali e Unión Magdalena. Nova injeção financeira viria a partir dos anos 70, mas infame: dos cartéis de droga. Nesse contexto, Romeu Evangelista, ex-Atlético Mineiro nos anos 70, e o ídolo corintiano Neto chegaram a jogar no Millonarios.

O mesmo se aplicava a outro sudacas. O Peru teve seus anos de ouro na década de 70 e de lá Hugo Sotil, que jogou no Barcelona, foi ao Independiente Medellín, Julio César Uribe ao Millonarios e Miguel Loayza (ex-Boca e River), ao Deportivo Cali. Víctor Agustín Ugarte, tido como maior jogador boliviano da história (demos um jeito de falar dele aqui), saiu do San Lorenzo para o Once Caldas em 1958. De paraguaios, dois futuros personagens de destaque no futebol argentino passaram antes pelo narcofútbol: Roberto Cabañas, ídolo do Boca no início dos anos 90, era do grande América de Cali dos anos 80. Alfredo Mendoza, artilheiro do Newell’s vice da Libertadores 1992, era ex-Independiente Medellín.

Rossi é o terceiro em pé, Cozzi o goleiro. Reyes é o primeiro agachado, Báez o segundo, Di Stéfano o terceiro, Mourín o quarto e Pedernera, o último

Uruguaios importantes também passaram pelo futebol colombiano ao largo da história, especialmente no Cúcuta, casos de Bibiano Zapirain, do primeiro pentacampeão uruguaio, o Nacional dos anos 40; Ramón Villaverde, que depois iria ao Millonarios e de lá ao Barcelona em 1954; Eusebio Tejera, titular no Maracanazo; e Walter Gómez e Juan Ramón Carrasco (dois dos maiores ídolos do River), este já dos anos 70. Outro do Maracanazo, Schubert Gambetta, foi ao Millonarios, que, já no narcofútbol, também já teve Jorge Fossati e Jorge da Silva. O mitológico Ladislao Mazurkiewicz jogou no América de Cali, o ídolo gremista Atilio Ancheta no Junior e Waldemar Victorino foi ao Deportivo Cali um ano depois de protagonizar o título da Libertadores 1980 pelo Nacional.

Já a lista de argentinos é bem mais extensa. Abaixo, uma lista até o início da decadência, nos anos 90, apenas com os principais para o público argentino e os mais conhecidos do colombianos:

MILLONARIOS: principal receptor de argentinos no Eldorado, recebeu especialmente ex-jogadores do River. Só não ganhou uma vez o  título entre 1949 e 1953, quando Di Stéfano esteve por lá. A “Flecha Loira” também faturou a Pequena Taça do Mundo de 1953, marcando duas vezes em um 5-1 no próprio River. Foi uma de suas últimas exibições no Ballet Azul – meses depois foi ao Real Madrid, derrotado em casa pelo Millonarios por 4-2 um ano antes no amistoso que celebrava os 50 anos do Real.

O time não era “só” Di Stéfano. Ao seu lado, aquele que ele próprio considera o maior jogador que viu, Adolfo Pedernera, quem lhe deixava no banco no River, cujo time campeão de 1947 também cedeu o ponta Hugo Reyes, o meia Antonio Báez e, sobretudo, xerife Néstor Rossi, campeão da Copa América 1947 assim como o goleiro Julio Cozzi, que vinha do nanico Platense. Carlos Aldabe, outro ex-Platense, foi o jogador-treinador de 1949, função que Pedernera faria no tri de 1951-53. O ponta Reinaldo Mourín havia sido campeão com o Independiente em 1948. O paraguaio Julio César Ramírez também vinha do futebol argentino: jogara com Di Stéfano no Huracán em 1946.

O time seguiu vencedor até o início dos anos 60 (contou com Martín Alarcón, que vinha do America-RJ) e desde então as taças ficaram esparsas. Até 2012, as últimas foram o bi de 1987-88. O goleiro ali era Sergio Goycochea, convocado à Copa 1990 como jogador do Millonarios. Também estavam o defensor José van Tuyne, participante da Copa 1982, e o meia Mario Videla, integrante do auge do Argentinos Jrs (1984-85, com dois Argentinões e uma Libertadores). Outros campeões célebres: Daniel Onega e Carlos Biasutto em 1978. Onega é até hoje recordista de gols em uma só Libertadores, com os 17 pelo River em 1966. Biasutto foi goleiro do melhor momento do Rosario Central, campeão argentino duas vezes entre 1971-73. Pedro Dellacha, defensor racinguista dos anos 50, treinou os campeões de 1978.

Ao meio, os argentinos Rial, Pontoni e Rodríguez no Santa Fe. Nas pontas, os ingleses George Mountford e Charlie Mitten

O Millonarios também teve o mitológico goleiro Amadeo Carrizo, que lá se aposentou; o atacante Roberto Micheli, ex-Independiente usado pela seleção em 1953 junto com todo o ataque rojo, algo inédito para um clube argentino (veja); outro ex-Independiente, Roberto Ferreiro, xerife do bi na Libertadores em 1965-66 (falamos nessa semana); e o meia Marcelo Trobbiani, da Copa 1986. Mas eles não foram campeões, assim como Juan Gilberto Funes. Mas El Búfalo foi duas vezes seguidas artilheiro do campeonato colombiano e veio de lá para fazer os gols do título do River na Libertadores 1986, a primeira riverplatense – sobre o América de Cali, aliás. Terceiro goleiro na Copa 1990, Fabián Cancelarich passou pelo clube depois.

Obscuros na Argentina, heróis na Colômbia: Alfredo Castillo (1948), José María Ferrero (1967-68), Miguel Converti (1976) e Juan José Irigoyen (1979), assim como Di Stéfano e Funes, foram artilheiros do campeonato e o defensor Jorge Abraham Amado defenderia a seleção cafetera. Curiosamente, quem mais deu trabalho ao Millonarios cheio de riverplatenses do Eldorado foi o extinto Boca Juniors de Cali, bivice em 1951-52.

INDEPENDIENTE SANTA FE: primeiro campeão da Dimayor, ainda antes da chegada estrangeira em larga escala. Acabou tendo títulos bissextos. Além de Pontoni (e de Mitten e Franklin), o arquirrival do Millonarios teve de argentinos no Eldorado o atacante Héctor Rial, que depois jogaria com Di Stéfano no Real e seleção espanhola; Mario Fernández, homem-gol do Independiente campeão de 1948; e o goleiro Eusebio Chamorro, que de lá veio jogar no Flamengo tri carioca. No fim dos anos 50, passou por lá o atacante Alberto Perazzo (artilheiro da liga em 1961), cujo filho Walter Perazzo, grande ídolo do San Lorenzo, nasceu ali e chegou a jogar pelo Santa Fe já nos anos 80; Osvaldo Panzutto, artilheiro da Libertadores 1961; o volante Juan Carlos Sarnari, ex-River e participante da Copa 1966, foi campeão em 1975, última taça do Santa Fe até 2012. Reserva no super Boca de 2000-03, Omar Pérez esteve nessa quebra de jejum e é há anos o líder do plantel.

No clube também jogou brevemente em 1986 o goleiro Carlos Navarro Montoya, nascido em Medellín filho de argentinos que cresceu na terra deles mas que chegou a defender a Colômbia quando jovem. Mas desenvolveu a carreira na Argentina desde o início e reiterou pedidos à FIFA para ser autorizado a jogar pela Albiceleste. No Santa Fe, El Mono foi colega do atacante Hugo Gottardi, artilheiro do Racing nos tenebrosos anos 60 e que vinha após ser bi argentino no Estudiantes em 1982-83. Foi duas vezes artilheiro do Colombianão, já em 1983 e 1984. Além dele e de Alberto Perazzo, Omar Lorenzo também foi artilheiro, em 1966 (e campeão neste mesmo ano). Julio Tocker foi o técnico campeão de 1958 e 1960. Já o goleiro Luis López, campeão em 1975, jogaria pela seleção colombiana.

Atlético Nacional de 1976. Miguel López é o quarto em pé, Jorge Olmedo é o último em pé, Bóveda é o terceiro agachado e Navarro, o goleiro

ATLÉTICO NACIONAL: em 2014 chegou a um tricampeonato que permitiu-o igualar-se ao número de títulos do Millonarios, maior campeão apesar do jejum 1988-2012. Havia sido exatamente o primeiro campeão pós-Millonarios de Di Stéfano, mas os argentinos só chegariam em maior escala depois. O meia-atacante Oscar Rossi, raríssimo ídolo nos rivais San Lorenzo e Huracán, passou pelo alviverde de Medellín nos anos 60, assim como o ídolo racinguista Norberto Anido (lembrado na frase “não é o mesmo anido que Anido e Mesías” no oscarizado O Segredo dos seus Olhos).

Mas foi a década seguinte que viu o melhor momento do clube até então, com três taças. Outro ex-Huracán, o goleiro Raúl Navarro, passou quase todos os anos 70, ergueu as três e passou a jogar pela seleção colombiana. E outro ex-San Lorenzo, o defensor Oscar Calics (foi à Copa 1966), esteve na primeira delas, em 1973. Ramón Boveda, ponta daquele grande Rosario Central do início da década, e Miguel Ángel López, defensor do Independiente tetra seguido nas Libertadores 1972-75, estiveram na de 1976. O líbero José Luis Brown, campeão mundial em 1986 marcando na final, ficou de mãos vazias no Nacional mas foi o primeiro convocado pela seleção a partir do futebol colombiano, em 1983.

Obscuros para o público argentino, Carlos Gambina (1954) e Osvaldo Palavecino (1977-78) foram artilheiros da Dimayor. Palavecino é o quarto maior artilheiro histórico do campeonato. De técnicos, Fernando Paternoster, ex-zagueiro vice na Copa 1930, foi o técnico campeão de 1954. Osvaldo Zubeldía, que treinou o Estudiantes tri na Libertadores de 1968-70, foi campeão em 1976 e 1981, falecendo em 1982 ainda como treinador do Nacional.

INDEPENDIENTE MEDELLÍN: o rival do Atlético Nacional foi duas vezes campeão nos anos 50. Mas depois teve que esperar até 2002 para ser campeão de novo. A primeira taça, em 1955 (logo após a primeira do Nacional), teve José Manuel Moreno, outro colega de Di Stéfano no River e visto por muitos como o maior jogador argentino da primeira metade do século XX (falamos dele neste outro Especial). Moreno, já campeão na Argentina, Chile e México, se tornou ali o primeiro no mundo a ser campeão nacional em quatro países. O técnico foi Delfín Benítez Cáceres, ex-atacante paraguaio que havia jogado pela Argentina. Em 1957, foi a vez de Juan José Ferraro, segundo maior artilheiro do Vélez, vencer a Dimayor. René Seghini esteve nas duas taças e foi jogador-treinador na segunda.

Os craques Moreno (com dois ex-colegas de River: Vairo e Labruna) e Corbatta no Independiente Medellín, e José Pekerman como jogador do clube

De outros argentinos célebres no clube, houve o ponta Omar Corbatta, grande ídolo do Racing nos anos 50 e espécie de Garrincha argentino pela inocência e diabruras com a bola e o álcool – saiba maisJosé Manuel Touriño, que jogava pela Espanha, veio em 1977 diretamente do Real Madrid, onde era ídolo. Carlos Salinas, decisivo na primeira Intercontinental vencida pelo Boca, em 1977, apareceu em 1982. José Pekerman, que treinou a Colômbia na melhor Copa dela, agora em 2014, defendeu o clube nos anos 70 também. Desconhecidos na Argentina, José Vicente Grecco (campeão em 1957), Perfecto Rodríguez (1965) e Héctor Sossa (1986) foram artilheiros da liga.

DEPORTIVO CALI: vice do Millonarios em 1949, teve algumas outras figuras daquele grande River dos anos 40, como o atacante Roberto Coll, o meia Manuel Giúdice e o beque Eduardo Rodríguez; três campeões no Independiente de 1948, os atacantes Camilo Cerviño (que jogaria ainda pelo rival América no Eldorado) e Norberto Pairoux e o volante Oscar Sastre, campeão das Copas América 1945 e 1947 e irmão do ídolo são-paulino Antonio Sastre, além do beque Oscar Chiarini, ex-Gimnasia LP. Mas a primeira taça só veio em 1965. Destaque ao atacante Mario Desiderio: ex-Estudiantes, ganhou três em sete anos de clube. Francisco Villegas foi o técnico delas e Roberto Resquín treinou a quarta.

Enrique Fernández, ex-meia-equerda de Rosario Central e River, os atacantes José Yudica (ex-Newell’s) e Juan Lallana (ex-Argentinos Jrs) e o defensor Federico Vairo, do bom River dos anos 50, estiveram nesse ciclo cinco vezes campeão de 1965 a 1974 – a próxima taça só viria em 1995. Nessa época também passou Raúl Bernao, driblador ponta do Independiente bi na Libertadores em 1965-66, mas sem taças. Outro que não conseguiu títulos foi o atacante Néstor Scotta, mas fez história: único argentino duas vezes artilheiro da Libertadores, em 1977 e 1978, ano em que jogou a final. No Brasil, é conhecido por ter marcado o primeiro gol do Brasileirão, ao menos para opositores da unificação com os títulos pré-1971. Foi pelo Grêmio. Falamos mais de Scotta na última quarta-feira, veja.

Fora Scotta, aquele Deportivo Cali vice na Libertadores 1978 tinha de argentinos também o meia Miguel Landucci, daquele Rosario Central de 1971-73, e o técnico Carlos Bilardo, que assumiria a seleção colombiana para as eliminatórias da Copa 1982 antes de ser campeão mundial com a Argentina em 1986. Já em tempos de narcofútbol, o meia-armador campeão mundial de 1978 Ricardo Villa deixou em 1984 o Tottenham Hotspur, onde era ídolo, e acertou com os colombianos pouco depois. O volante Rubén Darío Insúa, ídolo de San Lorenzo e Independiente nos anos 80, passou pelo Deportivo já no início dos 90. O obscuro Walter Marcolini foi artilheiro do campeonato de 1960.

Scotta no Deportivo Cali, Falcioni e Gareca no rival América

AMÉRICA DE CALI: entre as duas idas do Deportivo à final da Libertadores, seu rival respondeu com quatro, três delas seguidas entre 1985-87. Virgem de títulos até 1979, levantou cinco taças colombianas seguidas entre 1982-86, até hoje um recorde exclusivo. No Eldorado, o argentino mais proeminente, além de Cerviño, foi Elmo Bovio, ex-São Paulo e Palmeiras. Os anos 70 viram o atacante Oscar Más, um dos maiores ídolos do River, e o goleiro Hugo Tocalli, campeão do último título do Quilmes na elite, em 1978, além de Pedernera como técnico – ele também treinara a primeira participação colombiana em Copas, em 1962. Mas os principais argentinos do América seriam os dos anos de ouro.

O goleiro Julio César Falcioni (técnico do Boca vice na Libertadores 2012) passou praticamente todos os anos 80 lá e foi cogitado à Copa 1990; só ele, Brown e Goycochea jogaram pela Argentina vindos da Colômbia. Outro ex-Vélez foi Carlos Ischia, do time vice na Libertadores 1986 para o River. Do próprio River viera em 1985 o atacante Ricardo Gareca, hoje técnico do Palmeiras. El Tigre brilhou especialmente na Libertadores 1987, da qual foi artilheiro mas não impediu o mais dramático dos vices, pois o time só perdeu a taça no último lance da prorrogação: veja aqui. Mas já afirmou que na Colômbia aquele elenco é visto com muito mais carinho do que com decepção.

A outra final de Libertadores foi em 1996 e no plantel havia o volante Alfredo Berti, do Newell’s vice na Liberta 1992. Dois jogadores da Copa de 1990 foram americanos em 1993: o goleiro Ángel Comizzo e o beque Néstor Fabbri. De desconhecidos aos argentinos, Hugo Lóndero foi artilheiro em 1969 e passaria a jogar pela Colômbia. Foi outras duas vezes goleador, em 1971 e 1972, pelo Cúcuta. Aposentou-se como maior artilheiro da Dimayor e hoje é o terceiro.

OUTROS: o Atlético Junior tem mais títulos que o Santa Fe, o Independiente Medellín e o campeão de Libertadores Once Caldas, mas o primeiro só veio em 1977. O líder foi Juan Ramón Verón, jogador-treinador. O pai de Juan Sebastián Verón estava acompanhado do goleiro Juan Carlos Delménico, último vira-casaca de Newell’s e Rosario Central, e do volante Eduardo Solari, daquele Rosario Central de 1971-73. Uma filha sua, a modelo Liz Solari, nasceu na Colômbia. Ele é pai também de Santiago Solari, que jogou no Real Madrid na década passada. Já Daniel Carnevali (goleiro titular na Copa 1974), José Ponce (meia do bom Estudiantes de 1982-83) e Edgardo Bauza (zagueiraço do Rosario Central e técnico do San Lorenzo campeão na Libertadores anteontem: leia mais aqui) também passaram pelo time de Barranquilla, mas sem taças. José Varacka e Miguel Ángel López, ídolos do Independiente como jogadores, treinaram os campeões de 1980 e 2004, respectivamente.

Junior com o goleiro Delménico e Solari, Carlos Vidal e Juan Ramón Verón (três últimos agachados). E o recordista Galván Rey no Once Caldas

O Cúcuta, por sua vez, só teve seu primeiro e único título em 2006, apesar de já ter contado, além do artilheiro Lóndero, com nomes como o atacante Juan Hohberg, um dos maiores ícones do Peñarol (veja aqui) e os volantes Victorio CoccoJuan José López, que brilharam respectivamente por San Lorenzo e River dos anos 70. Como Lóndero, Felipe Marino (1959) e o ex-Millonarios José María Ferrero (1970) também foram artilheiros da Dimayor. Mario Garelli foi artilheiro do de 1953 pelo Quindío. Omar Devanni, pelo Bucaramanga em 1963 e Unión Magdalena em 1964 (ele é o sexto maior artilheiro da liga). Jorge Ramón Cáceres (1975, jogou pela Colômbia) e Sergio Sierra (1980), pelo Deportivo Pereira. Víctor del Río, pelo Tolima em 1981. Miguel González (1982 e 1985), outro pelo Bucaramanga.

O último artilheiro hermano foi o mencionado Sergio Galván Rey, pelo Once Caldas em 1999. No século XX, o time da cidade de Manizales só foi campeão em 1950, na única taça que escapou de Di Stéfano. O técnico era Alfredo Cuezzo, um dos primeiros argentinos a virem jogar na Colômbia, ainda nos anos 30. Já o Quindío foi campeão pela única vez em 1956 tendo como técnico Francisco Lombardo, um dos maiores zagueiros que o Boca já teve, do elenco bicampeão sobre La Máquina do River nos anos 40.

A violência dos cartéis (Goycochea deixou o Millonarios após o assassinato de um árbitro a mando do chefão Pablo Escobar cancelar o campeonato de 1989), o combate a eles e mais terror com o fortalecimento das FARC fez o lado importador do futebol colombiano desabar no fim dos anos 80. As estrelas do país é que passaram a jogar fora e muitas brilharam na Argentina: Oscar Córdoba, Sergio Bermúdez, Mauricio Serna e Luis Perea no Boca, Juan Pablo Ángel, Radamel Falcao García e Éder Álvarez Balanta no River, Albeiro Usuriaga e Faryd Mondragón no Independiente, Gerardo Bedoya e Giovanni Moreno no Racing e Iván Córdoba no San Lorenzo, para ficar só nos cinco grandes – dos nanicos, o Banfield foi campeão da elite pela única vez em 2009, tendo ninguém menos que o artilheiro da última Copa, James Rodríguez. E com uma grande geração fomentada pelos traficantes, o Atlético Nacional, sem argentinos, se tornou o primeiro cafetero campeão da Libertadores, em 1989.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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  • En la foto de jugadores de Santa Fe está Mario Fernández, no un Rodríguez; el Hombre Gol llegó a Santa Fe en 1949, no en 1948. Omar Lorenzo es el nombre y el apellido DEVANNI.

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