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Argentinos que marcaram história nos 100 anos do Palmeiras

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O atual técnico do centenário Palmeiras, Gareca, e o último ídolo hermano, Barcos

Treinado por um argentino em seu centenário, a Sociedade Esportiva Palmeiras tem uma história bastante rica em hermanos. Uma relação que começou de certa forma há cerca de cem anos mesmo, na excursão de dois clubes italianos no início de agosto daquele 1914 que inspirou a numerosa colônia da Velha Bota em São Paulo a fundar um clube próprio para representá-la.

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Benito Mosso

Um era o hoje sumido Pro Vercelli, na época o mais poderoso clube da Itália; havia vencido cinco dos últimos sete campeonatos italianos quando começou em 2 de agosto de 1914 a sua série de amistosos. O outro clube era o Torino, que uma semana depois fez o seu primeiro jogo no Brasil. O Pro Vercelli mais perdeu do que ganhou. Já o Toro só venceu por aqui, com direito a dois triunfos sobre o Corinthians (ambos no Parque Antarctica, por sinal), um 3-0 e um 2-1. Dois autores de gols, posteriormente, viriam a jogar no rival corintiano: Enrico Arioni, autor de dois nos 3-0, e Benito Mosso, que marcou no outro jogo. Este começou a carreira na Itália, mas provavelmente seu nome original era Benedicto, pois nasceu em Mendoza.

Chamado de Mosso II para não ser confundido com irmãos que também jogavam nos grenás (falamos de todos neste outro Especial), ele veio ao Palestra Itália dois anos depois, quando a liga italiana enfim se paralisou por conta da Primeira Guerra Mundial. Foi o primeiro argentino na história palestrina. Aliás, após deixar o Brasil aquele Torino fez três jogos na Argentina, onde enfim sua invencibilidade ruiu: 2-1 para a seleção argentina e 1-0 para o Racing, com a vitória vindo em um 2-0 sobre um combinado da liga. E o sobrenome Mosso esteve novamente entre os autores dos gols visitantes. O Palmeiras, por sua vez, teria diversos outros argentinos em sua rica história. Ei-los:

Santiago Narvaja: volante que excursionou com o Nacional (atual Argentino) de Rosario por Rio de Janeiro e São Paulo em março de 1934, atraindo o então Palestra Itália, onde jogou entre abril e junho sete partidas pela campanha campeã estadual naquele ano. Logo voltou ao Nacional. Embora tenha jogado por Boca, Argentinos Jrs e Chacarita, fez mais fama no interior, com passagens pelo trio principal de sua Córdoba natal (Talleres, Belgrano e Instituto), além daquele clube rosarino.

Floreal Garro e Juan Echevarrieta: chegaram em 1939 do Gimnasia y Esgrima La Plata. Seriam ambos campeões em 1940, com Garro, que saiu em 1941 e chegaria a ser técnico da Ferroviária de Araraquara, entre os meias e Echevarrieta marcando seus muitos gols no ataque: chegou a ser o 3º maior artilheiro geral do clube e ainda é o maior goleador estrangeiro do Verdão. Ninguém teve média de gols tão alta quanto ele ali: fez 105 gols em 123 jogos. Um, na final de 1942 nos 3-1 sobre o São Paulo, no primeiro jogo da instituição como Palmeiras após o governo federal ordenar a troca de nome do Palestra Itália. Foi seu último ano no clube e seria lembrado no filme O Casamento de Romeu e Julieta, personagem cujo nome foi inspirado na junção de Julinho Botelho com o sobrenome do artilheiro argentino.

Mario De AndreisPancho e Teófilo Juárez: De Andreis chegou em 1940 do Ferro Carril Oeste, também alviverde, e não se firmou no Palestra, indo com Garro ao Independiente Rivadavia de Mendoza um ano depois. “Pancho” é a versão espanhola para o apelido “Chico” e foi como ficou conhecido o meia Santos Francisco Sprovieri,  que esteve em 1941 vindo de uma carreira obscura. Ex-River e Racing, o zagueiro Juárez também passou rapidamente neste mesmo ano.

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Echevarrieta (de bigode, dono da melhor média de gols no clube) e Garro, campeões em 1940. Dacunto e González, campeões em 1944 – como técnico, González foi vice na Libertadores 1968. E o goleador Bovio

Alfredo González, José Dacunto e José Villalba: os dois primeiros vieram em 1943. Ex-reserva no Boca, González fizera carreira no Rio de Janeiro, onde jogou por Flamengo, Vasco e Botafogo. Dacunto vinha do Ferro Carril Oeste. Foram campeões em 1944, onde Dacunto se notabilizou mais por não jogar por suposta pressão do “inimigo” São Paulo em suspendê-lo. O Verdão foi campeão ainda assim e cantou que “com Dacunto ou sem Dacunto o São Paulo é um defunto”. Ele saiu em 1945 e González, que treinou o Palmeiras vice da Libertadores 1968, outro ano depois. Villalba fez carreira no Brasil desde o início, sendo um dos maiores ídolos do Internacional: vinha do Rolo Compressor colorado e ainda é o segundo maior artilheiro dos Gre-Nais. Mas seu passo no Palmeiras, de 1944 a 45, foi obscuro.

Elmo Bovio: formado no Sarmiento de Junín e ídolo no Peñarol, ficou de 1948-1949. Não conseguiu títulos, mas teve grande desempenho: fez 56 gols em só 73 jogos. O pecado foi rumar ao São Paulo, cuja rivalidade com os palmeirenses estava acesa como nunca pela acirrada disputa nas taças e pelo rancor alviverde sobre as tentativas tricolores em se apropriarem do patrimônio palestrino por conta da declaração de guerra do Brasil contra a Itália e o resto do Eixo na Segunda Guerra.

Roque Valsecchi: campeão no Boca no início dos anos 40, passou pelo Botafogo mas o Palmeiras o contratou do Temperley, da segundona argentina. O centroavante só jogou 2 vezes, em 1950.

Jim Lopes e Abel Picabea: técnicos do início dos anos 50. Lopes era o codinome de Alejandro Galán, ex-boxeador que desenvolveu vitoriosa carreira de técnico no Brasil, conseguindo títulos também por Portuguesa e São Paulo após ser campeão estadual e municipal em 1950 no Verdão. Treinou os três abaixo. Picabea, de carreira no Brasil desde os tempos de jogador, teve resultados regulares em 1952.

José Montagnoli, Luis Villa e Norival Ponce de León: campeões da Copa Rio em 1951, que a FIFA recentemente equiparou ao Mundial de Clubes, ápice das “cinco coroas palestrinas” erguidas entre 1950-51 (as outras foram o Estadual de 1950, o bi municipal e o Rio-São Paulo 1951). Os dois primeiros vieram de La Plata em 1950: o atacante Montagnoli, do Gimnasia, e o meia Villa, após dez anos de Estudiantes. O atacante Ponce de León já vinha fazendo carreira no Brasil e, ao contrário de Bovio, vinha do São Paulo. Montagnoli saiu ainda em 1951; os outros dois, mais duradouros, ficaram até 1953. Destaque maior ao meia Villa, titular em todas as coroas.

Juan Oroz: também esteve em 1951 no Palmeiras, mas sem transcender. Na Argentina, destacou-se como raro vira-casaca de Estudiantes e Gimnasia, onde conseguiu média de meio gol por jogo.

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Três campeões do glorioso biênio 1950-51: os também atacantes Montagnoli, Ponce de León e o meia Villa. E Cruz, campeão brasileiro em 1960

Pablo Herrera, Ramón Rafagnello e Miguel Rugilo: goleiro formado no Ferro Carril Oeste, Herrera era reserva de Barbosa no Vasco, foi contestado desde o início e teve mesmo vida curta após jogar em derrota de 6-4 para o Corinthians, sendo emprestado ao Linense. O defensor Rafagnello, sobrenome real de Rafagnelli, como ficou mais conhecido, fizera carreira no Rio de Janeiro, brilhando no Vasco e no Bangu. Mas, veterano e fora de forma, não repetiu o desempenho em São Paulo. Um dos maiores ídolos do Vélez, Rugilo foi listado também entre os cem maiores da seleção em edição especial de 2011 da principal revista esportiva argentina, a El Gráfico, por derrota honrosa de 2-1 para a Inglaterra (então considerada a soberana do futebol) em Londres em 1951 onde a atuação de Rugilo rendeu-lhe o apelido de León de Wembley. Teve início experimental promissor, mas surpreendeu ao pedir a rescisão do contrato antes do início do Estadual.

Luis Cardoso e Rubén Luz: o zagueiro Cardoso veio em 1954 após três anos de Independiente, jogando 14 vezes e logo voltando à Argentina, onde chegou a defender o Boca. Goleiro formado no Ferro Carril Oeste, Luz ficou só em 1958 no Palmeiras, não superando a concorrência com outro reforço para aquele ano para a posição, o futuro ídolo Valdir Joaquim de Moraes.

Osvaldo Cruz: na Argentina, fez história no Independiente. Em 1953, foi à seleção junto com todo o quinteto ofensivo rojo (algo inédito para um clube do país) na primeira vitória sobre a Inglaterra: leia aqui. Após ser campeão lá em 1960, este ponta-esquerda veio ao Palmeiras e no mesmo ano faturou a Taça Brasil, marcando duas vezes nos 8-2 na final, contra o Fortaleza. Mas logo voltou ao Independiente.

Armando Renganeschi Nelson Filpo Núñez: técnicos de história nos anos 60. Renganeschi, que brilhara no São Paulo como jogador naqueles acirrados anos 40, esteve em 1961. Foi ele quem pediu a contratação de Ademir da Guia junto ao Bangu e foi o técnico vice na Libertadores 1961. Filpo Núñez, campeão do Rio-São Paulo 1964, é o único estrangeiro que já foi técnico do Brasil, naquele jogo em que toda a delegação palmeirense representou a seleção em 1965 para a inauguração do Mineirão.

Luis Artime: um dos maiores goleadores que o futebol já teve. Dedicamos-lhe um Especial, aqui. Artime vinha com uma média altíssima de gols por River, Independiente e seleção. No Palmeiras, não foi diferente. Veio em 1968, só fez menos gols que Pelé no Estadual e só não ficou mais tempo porque ele e o clube se agradaram com proposta em 1969 do Nacional, onde faria ainda mais história (o tricolor uruguaio deve a ele as primeiras Libertadores e Intercontinental do clube, em 1971). Não é mais lembrado porque chegou depois do vice na Libertadores 1968 e saiu antes de começar o vitorioso Robertão de 1969, embora algumas fontes errôneas atribuam que tenha sido campeão nele.

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Os técnicos Renganeschi (vice da Libertadores 1961) e Filpo Núñez, que graças ao Palmeiras treinou a seleção brasileira; o superartilheiro Artime; e Madurga, campeão brasileiro em 1972

Norberto Madurga: um dos maiores ídolos do Boca, o deixou por sua participação ativa na greve de 1971. Lembrado por lá especialmente por marcar os dois gols sobre o River na casa rival em Superclásico que valeu o título de 1969. Volante mais ofensivo que defensivo, mal chegou ao Brasil e foi campeão brasileiro em 1972. Foi inicialmente pensado pelo técnico Osvaldo Brandão como substituto para o veterano Ademir da Guia, mas El Muñeco se firmou deslocado como centroavante, na vaga do suspenso César Maluco. Foi bem avaliado pela Placar (chegou a ser 5º na Bola de Prata para a improvisada posição) mas foi efêmero e a volta de César e a presença também de Leivinha no ataque deram àquela Academia o luxo de não ter maiores saudades do argentino.

Héctor Veira: obscuro para os brasileiros, carismática lenda na Argentina: ele é oficialmente o maior ídolo do San Lorenzo. Era um talentoso meia-esquerda que não foi mais longe pela boemia. Chegou já veterano ao Palmeiras, em 1976, mas logo foi comprado pelo Corinthians, onde não vingou.

Alejandro Mancuso: também vinha do Boca, mas ídolo mesmo fora no Vélez do coração (curiosamente, formou-se justo no arquirrival velezano, o alviverde Ferro Carril Oeste), onde chegou a jogar com Ricardo Gareca, atual técnico palmeirense. O cão-de-guarda Mancuso, que não hesitava em entrar forte – foi até eleito o jogador mais violento do futebol brasileiro -, ficou só em 1995, raro ano sem taças da Era Parmalat. Jogara a Copa 1994 e em 1996 passou ao Flamengo, onde foi mais querido.

Sergio Gioino: atacante que fez quase toda a carreira no futebol chileno. O Palmeiras o contratou em 2005 da Universidad de Chile, onde havia sido campeão um ano antes. Mas não empolgou.

Francisco Hernández e Hernán Barcos: reserva do bom Huracán de 2009, Hernández chegou ao Palmeiras em 2010 e jogou pouquíssimo. Já o atacante Barcos, também ex-Huracán, veio em 2012 desde a LDU, onde fora ídolo e sondado à seleção equatoriana caso se naturalizasse. El Pirata segue fresco na memória palestrina pelo título na Copa do Brasil, o mais expressivo em mais de dez anos no clube, e por ter sido um oásis de boas atuações no rebaixamento meses depois. Acabou chegando à seleção argentina mesmo, continuando a ser convocado por um tempo mesmo após a queda.

Ricardo Gareca, Pablo Mouche, Fernando TobioAgustín Allione e Jonathan Cristaldo: do elenco atual. Gareca foi um bom atacante dos anos 80 (jogou por Boca, River e seleção: veja mais clicando aqui e aqui) que também triunfou na Argentina como técnico do seu Vélez do coração, a partir de 2009, com três títulos nacionais em quatro anos e grande manejo de jogadores da base velezana. Da antiga equipe trouxe o defensor Tobio, o meia Allione e o centroavante Cristaldo para o Palmeiras. O atacante Mouche esteve no Boca vice para o Corinthians na Libertadores 2012 e, embora tenha jogado algumas vezes na seleção, nunca convenceu no antigo clube.

Atualizações após a matéria: em 2015, o clube contratou Lucas Barrios, argentino da seleção paraguaia.

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Mancuso às lágrimas na eliminação na Libertadores 1995 apesar do Palmeiras vencer por 5-1 o futuro campeão Grêmio (porque na ida perdera de 5-0): tinha amor à camisa mas durou pouco. Como serão Mouche, Tobio e Allione?

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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