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Argentinos de destaque no futebol dos EUA, sede da Copa América Centenário

Havia soccer nos Estados Unidos antes da MLS. Argentinos não só estiveram presentes nas ligas anteriores ao modelo iniciado em 1996 como defenderam a seleção ianque nos tempos de amadorismo dela. Hora de relembrar os nomes mais destacados, seja de craques que passaram pelos EUA, seja daqueles que tiveram destaque lá e/ou ainda os naturalizados.

Naturalizados

A seleção contou com um argentino já nos anos 50. Foi o cordobês Efraín Chacurian, que chegou ainda adolescente a Nova York e jogou por diversas ligas regionais do país. Esteve nas eliminatórias à Copa do Mundo de 1954, marcando gol no Haiti. Foi incluso em 1992 no hall da fama do soccer. A década seguinte teve na seleção Iván Borodiak, de origem ucraniana e que jogou em equipes dessa colônia nos EUA. Havia jogado antes na segundona argentina por Almagro e Talleres de Remedios de Escalada e seu único jogo pelo país adotado foi um sonoro 10-0 aplicado pela Inglaterra em 1964. Esteve entre os All Star da NASL em 1969, pelo Baltimore Bays.

A NASL era a North American Soccer League, criada em 1968 e o principal campeonato nacional até 1984, responsável pela contratação de Pelé. Miguel Malizewski apareceu naquele ano para defender o Baltimore Ravens e logo apareceu na seleção, participando das eliminatórias à Copa de 1970. Em agosto de 1973, contudo, a NASL negou-se a fornecer seus atletas à seleção e os universitários, em mês de férias, também estavam fora do alcance. Daniel Califano, que jogava de forma amadora, acabou usado em amistoso contra a Polônia e só. Chegou depois a defender o San Antonio Thunder na NASL. A seguir, os irmãos Angelo e Pablo Di Bernardo. Eles surgiram no futebol universitário e Angelo foi mais longe: chegou a defender por quatro anos o estrelado Cosmos do fim dos anos 70 aos 80. Participou das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, despedindo-se nas eliminatórias à Copa do Mundo de 1986.

Pablo, embora se dedicasse mais ao futsal, jogou um amistoso pela seleção de futebol em 1985, contra a Suíça. Por fim, o volante Pablo Mastroeni, desde os cinco anos de vida nos EUA, jogou as Copas de 2002 (na grande campanha até as quartas-de-final) e 2006, se associando mais ao Colorado Rapids. Foi colega do meia Claudio Reyna, filho de ex-jogador do Independiente e do Los Andes emigrado ainda em 1968. Outro de origens argentinas foi o zagueiro Marcelo Balboa, das Copas de 1994 e 1998, e que esteve nos 3-0 sobre a Argentina na Copa América de 1995, vergonha protagonizada pelos alvicelestes reservas após a classificação na primeira fase estar garantida.

Chacurian, Angelo Di Bernardo (no Cosmos) e Mastroeni na boa Copa de 2002: jogaram pelos EUA

Pré-MLS

Antes do advento da NASL, talvez o jogador de mais expressão no futebol argentino a jogar nos EUA tenha sido o meia Victorio Casa, ídolo no San Lorenzo e com passagem breve pela Albiceleste no início dos anos 60. Casa viajou primeiro em virtude de uma tragédia: perdeu o braço, o que não o impediu de seguir jogando, e foi buscar tratamento custeado pelas forças armadas, responsáveis pelo acidente. El Manco passou depois pelo Washington Whips. Contamos aqui sobre sua carreira. Um dos colegas de Casa naquele San Lorenzo foi o futuro flamenguista e tricolor Narciso Doval. No fim da carreira, nos anos 70, Doval jogou por Cleveland Cobras e New York United, que não eram da NASL.

Em 1968, Rubén Navarro foi incluso no All Star da primeira edição da NASL. El Hacha Brava era um duríssimo defensor dos dois primeiros títulos do Independiente na Libertadores (1964-65) e estava no Cleveland Stokers. Já o meia Francisco Escos, do Rochester Lancers, foi incluso nos All Stars de 1971, 1972 e 1973, após carreira na segundona argentina pelo Temperley. O atacante Roberto Aguirre, que emigrara ainda nos anos 60 após passar pela seleção, esteve nos All Stars de 1973 e 1974 pelo Miami Toros. Era ex-Newell’s e Racing. Ricardo Alonso, que desenvolveu a carreira toda nos EUA, foi All Star em 1982 com o Jacksonville Tea Men e em 1983 com o Chicago Sting.

Oscar Fabbiani foi artilheiro em 1979 (ano em que foi vice da Copa América pelo Chile) pelo Tampa Bay Rowdies após consagrar-se três vezes goleador da liga chilena pelo Palestino. Ele é tio de Cristian Fabbiani, conhecido pela folclórica passagem pelo River há alguns anos. Ex-jogador, ex-técnico e ex-presidente do Huracán, Carlos Babington, que participou da Copa de 1974, esteve no Tampa Bay Rowdies nos anos 80. Já Ricardo Villa veio consagrado do Tottenham Hotspur (falamos aqui) para o Fort Lauderdale Strikers.

MLS

Atualmente, desconsiderando-se as franquias canadenses, a MLS conta com Mauro Díaz, Agustín Jara, Maximiliano Urruti e Mauro Rosales (todos do Dallas), Federico Bravo, Diego Martínez (New York City), Federico Higuaín, Gastón Sauro (Columbus Crew), Fabián Espíndola, Luciano Acosta (DC United), Javier Morales, Juan Manuel Martínez (Real Salt Lake), Matías Pérez García, Andrés Imperiale (San Jose Earthquakes), Cristian Maidana, Leonel Miranda (Houston Dynamo), Diego Valeri, Lucas Melano (Portland Timbers), Luis Solignac (Colorado Rapids) e Gonzalo Verón (New York Red Bulls).

Aguirre (Miami Toros), Escos (Rochester Lancers), Fabbiani (Tampa Bay Rowdies) e Doval (Cleveland Cobras), que não jogava a NASL

Não é de hoje que o recordista Dallas aposta em argentinos. Ainda na época de Dallas Burn, a franquia do Texas foi a primeira da MLS a colher sucesso hermano. Na primeira edição do campeonato, contou com Diego Soñora. O defensor vinha com experiência de sete anos de Boca, tempos em que os xeneizes contrastavam uma seca nacional com troféus continentais de variado prestígio (Supercopa, Recopa, Copa Master, Copa Ouro…). Por três anos, El Chiche esteve presente no All Star Game da temporada. Foi campeão no DC United e passou ainda por MetroStars (atual New York Red Bulls) e Tampa Bay Munity. Daniel Peinado foi outro pioneiro no Dallas Burn.

Na mesma época, outros dos primeiros argentinos na MLS, no Miami Fusion, foram o volante Marcelo Herrera, ex-Vélez de Carlos Bianchi; e Beto Naveda (ex-Boca) e Leonardo Squadrone (ex-Huracán), do New England Revolution, que contou ainda com Ariel Graziani. Graziani era um atacante que defendia o Equador e viria a brilhar exatamente no Dallas, e também no San Jose Earthquakes. Na virada do século, também foi três vezes ao All Star Game. Mas eram tempos de menor prestígio e seus gols nos EUA não lhe bastaram para ir à primeira Copa do Mundo dos equatorianos, em 2002. O goleiro Darío Sala, com passagens por San Lorenzo, River e Independiente, foi mais um de passagem pelo Dallas: foram cinco anos, entre 2005-10.

Já o primeiro protagonista oficial foi Christian Gomito Gómez, eleito MVP em 2006, pelo DC United, até então a franquia mais vencedora da MLS. Já estava há três anos em Washington e passou por Colorado Rapids e Miami FC (este, fora da MLS), mas só no Nueva Chicago conseguiu ser tão ídolo como na capital dos EUA – jogou no bairro portenho de Mataderos em três décadas diferentes e veterano marcou gols dos acessos seguidos da terceirona e segundona, ambos em 2014. O defensor Facundo Erpen, ex-Talleres, foi seu colega nas três franquias e também esteve em um All Star Game; Gomito esteve em quatro.

O grande hermano da MLS, porém, é Guillermo Barros Schelotto, na época o jogador mais vitorioso da história do Boca. Seu irmão gêmeo Gustavo já havia experimentado o futebol ianque pelo Puerto Rico Islanders (de fora da MLS). Guillermo virou GBS e em 2008, recuado da ponta ao meio-campo, carregou o Columbus Crew ao único título e foi MVP da temporada e da final, na qual deu três assistências. Naquele elenco também era bastante querido o lateral Gino Padula, que vinha das divisões inglesas inferiores. Mas o sucesso de Schelotto foi tamanho que acabou convidado por Barack Obama e Mauricio Macri para jantar promovido em meio ao encontro recente dos dois presidentes.

Soñora (Dallas Burn), Graziani (San Jose Earthquakes), Claudio López (Kansas City Wizards) e Rosales (Seattle Sounders): sucesso relativo

A franquia de Ohio ainda fez mais duas consistentes temporadas e apenas o amor ao quase rebaixado Gimnasia LP do coração impediu que Schelotto se aposentasse nos EUA. Se ele era o nome mais consagrado na Argentina a emigrar à MLS, o ponta Claudio López e o meia Marcelo Gallardo eram os de carreira internacional mais gabaritada a chegarem ao soccer. Piojo López foi a referência ofensiva do Kansas City Wizards (atual Sporting Kansas City), eliminado no mata-mata de 2008 exatamente pelo Columbus Crew – outro argentino destacado no Kansas foi o meia Carlos Marinelli. Já El Muñeco Gallardo teve uma estadia-relâmpago no DC United antes de uma última volta ao River.

Em 2009, o Columbus Crew dava pinta de bicampeonato, sendo o melhor pontuador da fase inicial, mas a taça foi do Real Salt Lake dos atacantes Fabián Espíndola e Javier Morales, ambos de trajetória pouco gloriosa na Argentina. Nos EUA, não chegaram a ser matadores, mas Morales jogou alguns All Star Games e Espíndola esteve nele na edição de 2012, anos após rodar o mundo por uma ocasião menos feliz: quebrou um pé ao executar uma pirueta desastrada para comemorar um gol que acabaria anulado. Relembramos aqui o lance tragicômico.

O último argentino a protagonizar a MLS foi Diego Valeri, promessa do Lanús campeão argentino pela primeira vez, em 2007. Valeri foi o MVP da final passada, que rendeu o primeiro título do Portland Timbers (de Lucas Melano, Norberto Paparatto e Maximiliano Urruti, outros argentinos; a franquia do Oregon ainda tinha um pouco antes um herói do Estudiantes, Gastón Fernández). O meia já havia sido eleito a revelação da liga em 2013, “sucedendo” o armador Mauro Rosales, do Seattle Sounders (2011) e o atacante Federico Higuaín, do Columbus Crew e irmão de Gonzalo (2012).

Ainda que não demos enfoque às três franquias canadenses da MLS, vale o registro de que ela, cada vez mais atrativa, mostrou força em 2014 ao seduzir Ignacio Piatti. Recém-vencedor da primeira Libertadores do San Lorenzo, Nacho foi ao Montreal Impact e quase emendou novo título continental, ficando no vice da Concachampions. Por fim, vale lembrar que o River adquiriu ainda na base do “argentino” Dallas os gêmeos Rogelio e Ramiro Funes Mori, este importante na vitoriosa Libertadores de 2015 e convocado para a Copa América atual. Dos ianques que fizeram o caminho inverso, Renato Corsi foi o mais longe: o nova-iorquino foi reserva no Argentinos Jrs campeão da Libertadores de 1985 e argentino de 1984 e 1985.

Os grandes argentinos da MLS: Gómez (DC United), Barros Schelotto (Columbus Crew) e Valeri (Portland Timbers) foram todos campeões e MVPs
Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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