Nunca a Copa do Mundo teve um dia de mata-mata tão Copa América. Neste sábado teremos Brasil x Chile e Colômbia x Uruguai. Todas essas seleções já contaram com hermanos consigo, alguns já mencionados no Especial sobre argentinos que defenderam outros países em Copas (clique aqui).
Sim, o Brasil já teve argentinos, ainda que, oficialmente, só no corpo técnico. Em 1938, Carlos Volante, ex-Platense, jogava na França, sede do mundial. E acabou juntando-se à única delegação sul-americana que marcou presença, como massagista. A troca de contato com brasileiros o levaria ao Flamengo, onde integrou o primeiro tricampeonato estadual rubronegro, nos anos 40. Conviveu com muitos outros argentinos no Mengão: Orsi (campeão pela Itália em 1934), Alfredo González e o mais lembrado, Valido. Como técnico, Volante treinou o primeiro campeão nacional, o Bahia de 1959.
Em 1965, nas festas de inauguração do Mineirão, todo o time do Palmeiras foi usado pela seleção brasileira, incluindo o técnico: o argentino Nelson Filpo Núñez, que assim se tornou o único estrangeiro técnico do Brasil. O mais perto que argentinos chegaram da seleção brasileira foi com o goleiro Edgardo Andrada (ex-Vasco) e o atacante Rodolfo Fischer (ex-Botafogo), ambos então no Vitória. Jogaram em 10 de junho de 1976 um jogo contra o Resto do Mundo por um combinado brasileiro considerado como jogo de seleção por algumas fontes. Há também quem diga que João Saldanha, como técnico do Brasil, chegou a se interessar em convocar o flamenguista Narciso Doval.
O Chile, treinado em 2010 por Marcelo Bielsa e agora por Jorge Sampaoli, ambos hermanos, já tiveram vários que jogaram pela sua seleção. Salvador Nocetti foi o primeiro convocado, em 1941, mas não jogou – anos mais tarde, seria técnico, entre 1968-69. O primeiro a jogar, também em 1941, foi Eduardo de Sáa. O defensor Florencio Barrera veio depois, jogando a Copa América de 1945. Outro defensor, Rodolfo Almeida, jogou as Copas América de 1955, 1956 e 1957.
Os seguintes jogaram uma vez cada: Ernesto Álvarez em 1963 e Jorge Spadaletti em 1975. Em 1979, Oscar Fabbiani jogou a Copa América, no ano em que foi artilheiro da na época prestigiada liga dos EUA. O próximo convocado foi Daniel Morón, em 1996, mas tal como Nocetti ele não jogou. Em 2001, o goleiro titular na Copa América foi Sergio Vargas. Daniel Pérez jogou duas vezes em 2003. Depois dele, o argentino mais duradouro: Matías Fernández, com mais de 60 jogos e participante da Copa 2010. Foi pré-convocado para a de 2014, mas uma lesão o impediu de ir a mais um mundial pelo Chile.
Em 2007, Javier Di Gregorio jogou uma vez. Em 2011, Gustavo Canales fez a sua estreia e em 2014, Pablo Hernández. Estes dois também entraram na pré-lista de Sampaoli para a Copa do Brasil, mas terminaram de fora dos 23 finais. Sampaoli que não sucedeu o ídolo Bielsa diretamente: entre eles, os chilenos foram treinados por Claudio Borghi, campeão pela Argentina na Copa 1986 e que como técnico fizera sucesso no Colo Colo. Outros técnicos argentinos além deles três e de Nocetti foram Alejandro Scopelli (vice como jogador pela Albiceleste em 1930) entre 1966-67 e Vicente Cantatore em 1984.
Já a Colômbia também é treinada por um argentino em 2014: José Pekerman, que dirigira a terra natal na Copa 2006. O primeiro a jogar pela seleção colombiana foi ninguém menos que o mítico Alfredo Di Stéfano, em alguns amistosos a partir de 1949. Depois, o atacante Hugo Lóndero foi vice na Copa América 1975, o mais perto que os cafeteros chegaram do título até vence-lo em casa em 2001. Em 1976, três novidades argentinas na seleção: Raúl Navarro, Jorge Cáceres e Luis López. O último deles, Jorge Abraham Amado, apareceu um ano depois.
Antes de Pekerman, a Colômbia já teve outros cinco hermanos a treinando. O primeiro foi o defensor Fernando Paternoster, vice na Copa 1930 como jogador que foi técnico em 1939. A seguir, Lino Taioli na Copa América 1947. Com o ex-craque Adolfo Pedernera, colega de Di Stéfano (que considera Pedernera o melhor jogador que já viu) no River e naquele lendário Millonarios de Bogotá, o país foi pela primeira vez a uma Copa, em 1962 – onde perdeu para o Uruguai, por sinal, mas arrancou um 4-4 com a URSS de Yashin após estar perdendo por 4-1. A seguir, outro vice de 1930: Rodolfo Orlandini em 1957. Ele também treinou Equador e Costa Rica, outras presentes no Brasil.
O último antes de Pekerman foi ninguém menos que Carlos Bilardo, técnico da Argentina campeã em 1986. Bilardo vinha fazendo sucesso na Colômbia treinando o Deportivo Cali, que sob El Narigón foi o primeiro colombiano em uma final de Libertadores, em 1978 (perdeu para o Boca). Ele treinou a seleção nas eliminatórias para a Copa 1982, mas a vaga ficou com o Peru. Há ainda o caso do goleiro Carlos Navarro Montoya, nascido na Colômbia de pais argentinos e crescido na Argentina. Jogou pela terra natal as eliminatórias à Copa 1986, mas se arrependeu e passou anos pedindo para a FIFA aceita-lo na Albiceleste. A autorização só veio em 1998, tarde: já veterano, nunca foi chamado.
A seleção uruguaia tem na Copa 2014 o goleiro Fernando Muslera, nascido em Buenos Aires de pais uruguaios e que com poucos meses foi viver na terra deles. Como ele, outros hermanos na Celeste Olímpica são argentinos “por acidente”, mais ou menos de forma inversa à de Navarro Montoya: só nasceram no país vizinho, crescendo no Uruguai. São os casos de Marcelino Pérez, em 1933 (jogaria no Vasco) e do meia Gustavo Matosas (ex-São Paulo e Goiás), que atuou na vitoriosa Copa América 1987, cujo título repôs os uruguaios como maiores campeões continentais isolados após 45 anos. Era filho de Roberto Matosas, ídolo do River nos anos 60.
De argentinos “propriamente ditos” pelo Uruguai, teve-se Atilio García, maior artilheiro do futebol uruguaio e do Nacional e que jogou pelo país na Copa América 1945. Dedicamos-lhe um especial: veja aqui. Em 1949, o Peñarol foi campeão invicto e seria base do time do Maracanazo. Ernesto Vidal e Juan Hohberg compunham no clube o quinteto ofensivo com Ghiggia, Míguez e Schiaffino, quase integralmente reproduzido na Copa de 1950: só Vidal vivia há tempo suficiente para obter cidadania. Ele era um italiano crescido na Argentina e só não jogou justamente contra o Brasil, por lesão.
Hohberg atuou na Copa seguinte e foi protagonista de um dos jogos mais emocionantes das Copas: o 4-2 contra a mágica Hungria na semifinal. Os magiares venciam por 2-0 até os últimos quinze minutos. Hohberg fez os dois gols do empate e o cansaço e emoção fizeram-lhe desmaiar após o segundo. Na prorrogação, ainda acertou a trave. Também fez o único gol uruguaio no jogo pelo bronze e treinou o país na Copa 1970, por quarenta anos a última em que a Celeste ficou entre os quatro primeiros.
Já falamos mais de Hohberg no especial dos argentinos de destaque no Peñarol, onde ele foi o maior deles (em fim de carreira, venceria a primeira Libertadores, em 1960): clique aqui. Fora ele, só o mítico ex-zagueiro Daniel Passarella também treinou o Uruguai, entre 1999-2001. Entrou depois da Copa América e saiu antes do fim das eliminatórias e da Copa América 2001.
Inversamente, a seleção argentina já contou com alguns desses estrangeiros. O volante Aarón Wergifker era filho de imigrantes russos judeus que rumavam à Argentina, com ele nascendo em São Paulo, escala da viagem. Embora brasileiro só de nascença, é o único “tupiniquim” que defendeu a Albiceleste, entre 1934-36. Ela já contou com dois uruguaios, ambos no início do século passado. Horacio Vignoles jogou uma vez, em 1913. Zoilo Canavery duas, em 1916.
Ironicamente, Vignoles e Canavery jogaram só contra o Uruguai. Já retratamos Canavery como o vira-casaca em pessoa: jogou por Boca e River e por Racing e Independiente: dos cinco grandes argentinos (até hoje ninguém esteve em todos), só não esteve no San Lorenzo. Foi um raro destaque em comum de Racing e Independiente (falamos aqui) e dos quatro só não foi campeão no River.
Não houveram chilenos nem colombianos, mas um chegou a ser pedido: o zagueiro Éder Álvarez Balanta, destaque do River que acaba de voltar a ser campeão. Apesar da boa fase, Balanta vinha sendo ignorado por Pekerman nas eliminatórias e dada a conhecida fragilidade da zaga da Argentina, houve torcedores que pensaram nele como solução caso topasse se naturalizar. Até divulgou-se que ele seria o primeiro negro na Albiceleste, o que não seria verdade (por exemplo, Alejandro de los Santos, filho de uruguaios aliás, jogou a Copa América 1925: veja aqui). Mas Pekerman cedeu e o levou à Copa.
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