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Argentina e o seu último ato de amor à Seleção

Escolher torcer para uma seleção de um país que não o seu é visto como um ato de rebeldia e de ‘anti patriotismo’. Mas há anos os escretes nacionais não são mais vistos desta maneira. Vide a seleção brasileira, que hoje é chamada por muitos como ‘seleção da CBF’, longe de seus jogadores representarem a nação. Tanto que os próprios atleta sequer fazem questão de vestir a “amarelinha que faz o adversário tremer”, como diria Zagallo.

Ter a Argentina como a seleção a se torcer é ainda mais ultrajante para os patriotas de Copa do Mundo (ainda que torcer por França, Itália, Portugal, Alemanha, Japão é supernormal). Mas, o que faz alguém torcer pela Argentina? Um time que não ganha absolutamente nada no âmbito profissional há 23 anos e que prolongará essa marca por, no mínimo, mais dois anos. E que tem tudo para manter a seca.

O fato que isso é difícil de mensurar em algumas linhas. Mas é como se houvesse uma multidão de mulheres lindas, capas de revista, te dando mole, mas você quer mesmo ficar com aquela menina normal, que te faz rir em alguns momentos e choram em outros. Só você sabe o porquê disso tudo.

Nesses 23 anos, foram duas gerações incríveis. Sorín, Riquelme, Crespo, Gallardo, Saviola, Aimar, Tévez, Messi, Di Maria, Aguero, Mascherano, Higuaín… todos sem um título sequer pela seleção principal da Argentina. Chega a ser injusto, principalmente pelo sentimento que cada um vestiu a camisa da seleção. Algo parecido com as gerações de 1974 a 1986 da seleção brasileira.

Curiosamente, após a derrota na Copa América Centenário, esse tenha sido o último momento no planeta que uma seleção principal (leia-se gigante) teve jogadores que representaram verdadeiramente a sua nação ao invés de somente vestir a camisa. Os que vierem por agora certamente não terão a gana de Mascherano e Messi, que só quem os viu jogar de perto sabem o quanto queriam um título por seu país.

Ou seja: a partir da saída desses ícones, a Argentina passa a ser uma seleção normal, como qualquer outra. Não pelos jogadores em si, uma vez que Dybala está aí. Mas digo na questão do sentimento. Algo que o Brasil vive hoje em dia com a seleção CBF. Quem estiver ali, jogando, apenas vestirá a camiseta como se fosse um colete sujo usado em peladas dominicais.

Messi, assim como Zico, não terá em seu currículo um título pela sua seleção. Assim como o Galinho, que perdeu pênalti no seu último jogo oficial – o brasileiro ainda jogou uma partida festiva contro Resto do Mundo, em 1989, perdendo por 2×1. Uma pena para ambos.

AFA
A Associação de Futebol Argentino nunca foi um exemplo de gestão. Grondona só saiu do seu cargo após a morte. E hoje a entidade vive uma crise ainda maior. Não paga o salário do seu treinador há quase um ano e as premiações simplesmente não existem. Seu campeonato está cada dia pior, graças ao inescrupuloso aumento de clubes na primeira divisão por decisão política.

Como bem lembrou Alexandre Lozetti, repórter do GloboEsporte.com:

Vale lembrar que a Argentina, por muito pouco, não foi vetada da Copa América devido a uma intervenção do governo na AFA, o que é vetado pela FIFA, já que a entidade máxima do futebol prega a autonomia de seus federados junto ao governo – uma prova ainda maior de que os jogadores não representam o país, mas a uma entidade.

O futuro da entidade (e da Seleção Argentina) estão em jogo nos próximos meses. Veremos como serão as Eliminatórias sem esses ícones.

Thiago Henrique de Morais

Fundador do site Futebol Portenho em 2009, se formou em jornalismo em 2007, mas trabalha na área desde 2004. Cobriu pelo Futebol Portenho as Eliminatórias 2010 e 2014, a Copa América 2011 e foi o responsável pela cobertura da Copa do Mundo de 2014

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