Libertadores

Argentina 9×3 Brasil

boca-campeon-copa-libertadores-07Acredite se quiser, todavia este é o placar de confrontos entre os dois rivais em finais da Copa Libertadores da América. Uma vantagem totalmente desproporcional ao equilíbrio que se espera de um duelo tão magnífico. Poderá existir então uma razão congruente entre essas 12 decisões? Não sei quanto as outras 10. Discorrerei sobre as 2 mais recentes, das quais de cara já posso relacionar um fator comum: falta de preparo dos brasileiros.

2007: Boca Juniors 3×0 Grêmio; Grêmio 0x2 Boca Juniors

Naquela ocasião, era clara a superioridade do elenco xeneize, embora o Tricolor gaúcho tinha a seu favor uma zaga menos atrapalhada e um técnico mais astuto.

La Bombonera viu os melhores resultados de Riquelme, Palermo e companhia, enquanto longe dela as coisas eram bem mais tenebrosas, salvo o jogo contra o Libertad. Mas o próprio time paraguaio compreendeu algo que, se tivesse sido aplicado pelo Grêmio, poderia ter mudado o destino daquela Copa. Eles entenderam a importância de se defender com inteligência.

Nas laterais, Ibarra e Clemente Rodriguez, e no meio, Roman e, às vezes, Neri arg 9x3 bra[1]Cardozo, eram os responsáveis pela criação das jogadas ofensivas e contra-ataques. E o que fez o time de Assunção? Priorizou a anulação de todos eles. Não foi simples, tanto que o Boca teve diversas oportunidades de marcar o gol da vitória. Porém, o final feliz ficou para o Libertad ao conseguir um empate por 1×1. Verdade que em casa a classificação acabou ficando com os Xeneizes, mas a lição de como jogar em Buenos Aires havia ficado para quem quisesse aprender.

O Grêmio matou essa aula, e pagou o preço. Além de deixar as laterais livres, tinha pouca atenção para com as genialidades de um Riquelme no auge de sua qualidade. E pior, nos lances de bola parada sempre sofriam com a dupla Pa-Pa, chegando a sofrer um gol no primeiro tempo e quase tomar outro na etapa final. Tendo ainda o problema de um Tcheco irreconhecível, a reação não foi possível, o 3×0 foi inevitável, e com ele veio a pressão psicológica no Olímpico que facilitou o hexacampeonato do Boca Juniors.

2009: Estudiantes 0x0 Cruzeiro, Cruzeiro 1×2 Estudiantes

pinchacampeon[3]No caso celeste, o problema não foi a partida na Argentina. Muito pelo contrário, pois foram brilhantes contra Veron e Boselli, as principais armas dos Pinchas. Claro que houve certa liberdade para Enzo Perez e La Gata Fernandez, mas os dois sozinhos não eram páreo para a muralha Fábio. O grande vacilo esteve mesmo na partida final.

Desde a chegada de Alejandro Sabella, o Estudiantes se notabilizou por jogadr de forma metódica. Não eram retranqueiros, nem tão pouco eram de fazer um gol solitário e depois se fechar. No entanto, priorizavam sempre a solidez defensiva antes de correr qualquer risco desnecessário. Numa comparação com proporções devidamente guardadas, era como se jogassem como o São Paulo tricampeão brasileiro.

E la se foi a Raposa, embalado por um Mineirão lotado e empolgado com o favoritismo justificado por um elenco forte e em boa fase. Talvez este favoritismo tenha interferido nas mentes dos jogadores, ou talvez a própria alegria em excesso da torcida, isso eu não posso garantir com certeza. O que digo embasado pelo que vi foi uma falta de paciência para manter a posse de bola. Para furar qualquer sistema defensivo forte, é necessário calma e criatividade, e nenhum dos dois estavam com os comandados de Adilson Batista.

E por mais ilógico que soe, tudo se agravou depois do gol vindo do chute depinchacampeon[4] Henrique desviando em Desabato. A zaga ficou entorpecida com o sublime fato de estar na frente e facilitou demais para os Pinchas. No belo cruzamento de Veron, no cruzamento raro de Cellay a la Angeleri, todos os defensores celestes bobearam. Prato cheio para Fernandez. E se Leonardo Silva fazia parecer que o Cruzeiro era imune a jogadas aéreas, Boselli provou o contrário. O resto da história todos viram nesta semana.

O ponto a ser destacado nestas duas decisões é mesmo a falta de preparo adaptada a cada momento. O adversário pode ser o mais temível ou pode estar acuado por não ser favorito. Não importa, pois sempre que um time argentino não for encarado com inteligência, de igual para igual, o resultado tenderá a se repetir. E a goleada continuará a crescer.

Rodrigo Vasconcelos

Rodrigo Vasconcelos entrou para o site Futebol Portenho no início de julho 2009. Nascido em Buenos Aires e torcedor do Boca Juniors, acompanha o futebol argentino desde o fim da década passada, e escreve regularmente sobre o Apertura, o Clausura e a seleção albiceleste

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