Desde Belém – O Paysandu, instituição das mais tradicionais da Amazônia e do país e que completará o centenário no próximo ano, vem aos poucos revivendo bons momentos. Em 2012, voltou à 2ª divisão nacional após seis anos na terceirona. Neste 2013, já conseguiu o primeiro turno do Estadual e segue na briga para obter também o segundo (no próximo sábado, terá semifinal). Amanhã, apresentará uniformes da Puma, nova fornecedora. O fato mais marcante da semana, contudo, é a renovação das lembranças da fase áurea do clube, que participou da Taça Libertadores da América de 2003. Hoje, completam-se dez anos do ápice do “Papão”: a vitória por 1-0 sobre o Boca Juniors em plena Bombonera.
Com esse gatilho, estivemos com o símbolo daquela proeza. Fomos ao estádio da Curuzu, na manhã da última sexta-feira, para falar com o meia Iarley sobre a sua curta, mas marcante, passagem pela Argentina: após seu gol no histórico triunfo paraense, ele fora em julho daquele ano ser o camisa 10 do próprio Boca; foram só 39 jogos, mas com apenas quatro derrotas, gols em rivais, um título nacional e o último mundial vencido por um clube do país, além do vice na Libertadores de 2004. Ídolo também no Ceará, no Internacional e no Goiás, ele retornou ao Paysandu exatamente em 2013.
Futebol Portenho: Iarley, como é que você foi recebido no Boca? Qual foi a percepção que você viu nos colegas e demais argentinos sobre os jogadores e o povo brasileiro?
Iarley: Bem, logo quando eu cheguei… O primeiro contato sempre é difícil. É difícil porque, na época, eu era um jogador assim, meio que desconhecido, e existia uma incógnita em vestir a camisa do Boca. Um brasileiro… Na época, se eu não me engano, eu era o único brasileiro na Argentina (haviam outros cinco: Bebeto, do Racing; Edílio, do Estudiantes; Fábio Alves, do Newell’s, e que chegou a jogar no Paysandu; Ibson, do River Plate, que tinha também Léo Magalho nos juvenis; Reinaldo, do Quilmes). Mas, o fato de eu ter tido uma boa atuação na Bombonera, de ter feito o gol lá, me ajudou bastante; foi meu cartão de visitas. Então, já houve um respeito: “opa, esse cara aqui chegou aqui, dentro da nossa casa, e… fez o que fez”. Então, já houve esse primeiro respeito. Acho que o primeiro contato foi o respeito.
Em 2005, Vaguinho, antigo ídolo do Corinthians nos anos 70, disse à Placar que brasileiro algum receberia a 10 em clube argentino, referindo-se a Tévez, que vestia a 10 do clube paulista. A comum desinformação sobre o futebol vizinho fez com que o ex-ponta-direita provavelmente não soubesse que, dois anos antes, o antigo time de Carlitos ofertou a camisa a um brazuca: Pedro Iarley Lima Dantas, que no Paysandu usava a 7. Desde a sua estreia pelo Boca Juniors, contra o Gimnasia LP, na rodada inicial do Apertura 2003, ele usou nas costas o número consagrado por Maradona e Riquelme, embora a responsabilidade original fosse a de suprir a ausência do 16, Delgado, artilheiro da vitoriosa Libertadores de 2003 (fez contra Paysandu e Santos) e recém vendido à Cruz Azul-MEX.
FP: Como foi vestir a 10?
Iarley: O Bianchi me chamou do lado e falou “ó, tu vais vestir a camisa 10”, e tal. Aí, eu falei “pô, vai ser uma honra para mim”, né? “Vai ser uma satisfação muito grande vestir uma camisa tão importante para o argentino, para o torcedor do Boca”. E aí, ficou também aquela expectativa: “ah, como é que vai ser? Será que ele vai ter boas atuações?”. E aí, acho que depois das três ou quatro atuações que eu tive, dos três ou quatro primeiros jogos, já ficou tudo tranquilo, normalizado, e a galera… aprovou.
FP: Ainda mais depois do gol no River? Você fez em um clássico…
Iarley: Aí já foi o “batizado”. Foi essa atuação, no Monumental, que me deu uma tranquilidade já, dentro do clube. Os torcedores já tinham um carinho muito grande. E me deu muita tranquilidade para o restante do campeonato. Eu fiz um outro gol, muito importante, dentro da Bombonera, contra o San Lorenzo…
FP: Foi o gol do título, não foi?
Iarley: É, praticamente. Então as coisas foram indo bem.
Seis meses e meio depois de concluir para as redes de Abbondanzieri após esquivar-se ao mesmo tempo de dois marcadores, Iarley voltou a deixar dois adversários para trás antes de marcar na casa adversária. Desta vez, levou a melhor em disputa contra Ricardo Rojas pela lateral do Monumental de Núñez, pedalou diante de Horacio Ameli, deslocou ambos ao girar pela esquerda e, com pouco ângulo, vazou Franco Costanzo. Assim fez o segundo gol dos 2-0 sobre o River Plate, em 9 de novembro. “Ya lo ve, ya lo ve, el Hermano de Pelé”, logo estava na boca dos boquenses.
Contra os outros três rivais dos “cinco grandes do futebol argentino”, Iarley, naquele Apertura 2003, só não marcou diante do Independiente: fez um no 4-1 no Racing, em Avellaneda, em setembro; contra o San Lorenzo (da revelação Montillo), que era justamente o concorrente direto ao título e adversário na última rodada, marcou o da vitória por 1-0. Iarley vinha sendo poupado para o mundial e sua última partida havia sido exatamente diante do River, cinco rodadas antes. Nesse intervalo, o Boca só venceu uma e permitiu ao San Lorenzo chegar empatado na liderança para aquela “final”.
FP: Você falou do Bianchi. Qual o diferencial dele, o Mr. Libertadores?
Iarley: Eu acho que a simplicidade. Ele não inventa muita coisa, é um cara muito sério, correto, tem o grupo na mão… Eu acho que o bom do Bianchi é isso, é essa seriedade que ele tem. E o jogador entra em campo e dá tudo por ele por isso, por essa tranquilidade que ele passa para a gente, com a seriedade dos trabalhos. Não tem uma cobrança excessiva, né? Ele tira de cada jogador o máximo que ele tem.
FP: Normalmente, a gente tem uma imagem dos argentinos como catimbeiros. Eles realmente se consideram assim? Acham que os brasileiros são ingênuos ou tão catimbeiros quanto?
Iarley: Eu acho que eles têm um respeito muito grande. Eles não querem ser inferiores ao brasileiro. Essa rivalidade existe justamente por isso, eles querem sempre estar provando que são melhores que o brasileiro. Só que eles estão tentando nivelar na vontade, na força, na tática… Naquela época, o brasileiro era mais habilidade, mais genialidade, mais firula, mais futebol vistoso. Hoje, não, tá tudo nivelado. Hoje, tudo é físico, tático… O Brasil teve uma evolução muito grande disso. Por isso, passou um pouquinho à frente dos argentinos.
FP: Você falou muito em tática agora. Havia muita insistência nisso nos treinos? Como era?
Iarley: Demais, demais. O argentino se doa ao máximo na parte técnica, tática, entendeu? Um bom passe, uma boa colocação… O brasileiro era mais na ofensividade, assim, na criação das jogadas. Então, a escola deles é muito isso: um futebol rápido, mas bem postado.
FP: E como era o vestiário do Boca? Era uma coisa estritamente profissional ou havia uma união mais forte? Chegaste a te aproximar de mais alguém em especial entre os jogadores?
Iarley: É um pouco de tudo, né, cara? Era um vestiário… Não foge muito do que é um brasileiro hoje, não. São uns caras muito brincalhões; são caras sérios na hora que têm que ser sérios, mas muito brincalhões, muita brincadeira… Entendeu? Eu tive uma percepção muito rápida disso; então, brincavam comigo, eu brincava com eles. Não ficava sério, porque eles me tinham ali como um saco de pancadas mesmo: “é o brasileiro”. Mas, aí, me acolheram como mais um da família.
FP: Alguém em especial?
Iarley: Demais. Tem o Pato Abbondanzieri, o Schiavi… O Tévez estava começando. Eu meio que adotei ali o Tévez, então… O Schelotto… São pessoas por quem eu tenho um carinho muito grande.
FP: O Schelotto chegou a comentar depois de vencer o Paysandu aqui ou coisa do tipo, do jogo?
Iarley: A gente sempre comentou, né? Sempre que a gente estava sentado, almoçando ou jantando, sempre tinha esse comentário do jogo, da “ah, lá a gente jogou mais no teu erro, no erro de vocês… (o Boca) não podia levar gol…”. E assim sempre comentavam.
FP: Foi divulgado que o Diego Cagna teria dito que o Boca, lá na Bombonera, faria 7-0. Ele chegou a comentar algo a respeito contigo?
Iarley: Desconheço. Não sei dizer…
FP: Você segue ligado no futebol argentino ou, pelo menos, no “Mundo Boca”?
Iarley: Eu estava mais, eu era mais… Nesse ano, eu dei uma desligadinha. Mas eu, sempre que podia, estava sempre no Olé, sempre nas redes sociais, nos jornais de lá, sempre ligado no que estava acontecendo.
FP: A El Gráfico, a principal revista argentina (esportiva), chegou a lhe colocar entre os cem ídolos do Boca. Você soube disso? Foi em 2010 (mostramos-lhe um exemplar)…
Iarley: (Surpreso) Rapaz, não… Vou precisar de uma dessas depois, cara! Vai ter que conseguir uma dessas (risos)! Posso tirar uma foto aqui (pega o celular)? (Após ler, fala com certa emoção) Pois é, eu te digo que aquele gol na Bombonera, no Monumental e a minha atuação no mundial foram muito importantes, assim… Para a conquista do mundial, a gente perdeu o Tévez, machucado. Era o principal jogador nosso. E aí eu tive que jogar na frente, sozinho. Tive que segurar ali. O gol que a gente fez foi uma jogada já ensaiada nossa, que a gente fez durante todo o ano, que era o Schelotto ficar aberto e eu faço um desmarque no meio da zaga – ele tinha uma técnica muito grande de colocar a bola onde ele queria. Ele colocou, tentei dar uma cavadinha por cima do Dida, o Dida defendeu e o Matías Donnet chegou e… fez o gol.
Em entrevista à própria El Gráfico em fevereiro deste ano, Bianchi também afirmara que a jogada daquele gol já era algo preparado, embora não identificasse os componentes: “é um tiro livre que alguém trabalha no plantel, e há certa pessoa que tem que ir por um lado e outros para o outro”. Também comentou sobre a escalação de Iarley; de acordo com o treinador, seria Schelotto o machucado, enquanto Tévez estava fora de ritmo de jogo devido a uma suspensão de 45 dias: “Guillermo, vais jogar a primeira hora e Carlos, você a segunda”, explicou, pensando em uma possível prorrogação (que ocorreu). “Faltando três semanas, chamei Iarley e lhe disse (…) ‘não vais jogar esses jogos do campeonato (argentino), porque és o único atacante que vai jogar confirmado contra o Milan’ ”. Bianchi também afirmou que, se tivesse aceitado oferta do Internacional anos atrás, teria chamado o brasileiro e Abbondanzieri (que também jogou lá) para trabalhar consigo.
FP: Eles inclusive apontam (na mesma revista) que a melhor atuação do Schelotto foi justamente aqui, diante do Paysandu…
Iarley: Exatamente! Foi mesmo… O Schelotto, aqui, arrebentou…
Eleições sobre os maiores clássicos do mundo normalmente alternam Boca-River e Real-Barcelona na frente. Nos últimos anos, além do forte teor político, a abundância de estrelas, os títulos vistosos e a projeção midiática cada vez maiores têm favorecido, sobre a decadente dupla argentina, a rivalidade espanhola. Iarley esteve próximo desta: nos anos 90, passou pelo time B do Real. Três anos antes de enfrentar o Barcelona pelo Internacional, jogou pelo Boca contra o antigo rival. Foi em sua quarta partida pelos auriazuis, pelo amistoso Troféu Joan Gamper. A partida marcou a estreia de Ronaldinho Gaúcho no Camp Nou pela equipe catalã.
FP: Iarley, chegaste a jogar no Real Madrid B. Você deve ter presenciado a atmosfera antes dos clássicos contra o Barcelona, o Atlético. Qual seria a diferença para um Boca-River?
Iarley: Sem dúvida. Cara, eu sempre falo assim, que isso é proporção… A rivalidade é a mesma, a paixão é a mesma, nervosismo, confusão… Essas coisas, tudo é o mesmo. Lá, é um pouquinho mais contido; aqui, um pouquinho mais exaltado. Lá, tem mais torcida; aqui, tem um pouquinho menos… Mas tudo é a mesma coisa.
FP: Teve algum outro clube que te chamou a atenção na Argentina, fora o Boca?
Iarley: Cara, na nossa época, tinha, é… o Chacarita. Me chamou a atenção era a rivalidade com o Boca! É algo muito mais que o River (incisivo)! Em termos de nervosismo no jogo, confusão, de rivalidade de torcida, briga entre eles… Quando falavam “ó, vai ser o jogo contra o Chacarita”, nossa! Ficava todo mundo nervoso, policiais, todo mundo, o clube, aquela tensão… Então, achei isso muito diferente.
Iarley enfrentou o Chacarita Juniors uma vez, em sua quinta partida pelo Boca – logo após o referido amistoso contra o Barcelona. Apesar do desnível clubístico (o Chaca tem apenas um título na elite, em 1969) e de ambos terem seus dérbis (o do Chacarita é diante do Atlanta), os setores exaltados das duas torcidas desafiam-se desde os anos 80. Foi uma emboscada contra torcedores do Chacarita em amistoso de 1999 na Bombonera que rendeu a prisão de Rafa Di Zeo (solto no ano passado), líder da polêmica barra brava do Boca, La 12. Outra confusão ocorreu no jogo de Iarley.
Em 31 de agosto de 2003, na Bombonera, barras do Chacarita quebraram catracas e pontos de venda antes do jogo. Durante, trocaram disparos de rojões com os rivais e romperam as próprias cercas de proteção; o jogo acabou aos 69 minutos. O tapetão manteve o placar de Boca 2-0 e ainda tirou 3 pontos dos derrotados. Por justamente 3 pontos a menos que o antepenúltimo Atlético de Rafaela, os funebreros (o cemitério mais famoso de Buenos Aires é o da Recoleta, mas o maior do país é o da Chacarita; ali jazem Carlos Gardel e Ástor Piazzolla, dentre outros) seriam rebaixados.
FP: Voltando ao gol de quase dez anos atrás: você driblou dois jogadores, se lembra de quem?
Iarley: Lembro! Foi o Burdisso e o Schiavi. Burdisso e Schiavi… (apuramos já após a entrevista que Schiavi na verdade não jogou; o acompanhante mais provável de Burdisso na roda seria José María Calvo, que no início da partida substituiu o lateral-direito Hugo Ibarra, em cuja zona a jogada atraiu ambos e foi concluída)
O Paysandu, ainda hoje o único clube do norte brasileiro na Libertadores, vinha surpreendendo. Não sendo acostumado a triunfar longe de casa, já havia estreado com vitória fora: 2-0 no Sporting Cristal, no Peru. Terminou a primeira fase invicto, líder do grupo e classificado com duas rodadas de antecipação, com destaque para, já garantido na fase seguinte, impor na penúltima rodada um acachapante 6-2 no Cerro Porteño (Iarley marcou duas vezes) em Ciudad del Este. Robson, o “Robgol”, era o vice-artilheiro do torneio. Contudo, as oitavas-de-final reservavam o Boca Juniors.
Na virada do século, os auriazuis tornaram-se carrascos comuns para estrelados times brasileiros, mesmo quando não os vencia na Bombonera: após empates em casa, o Boca levou a melhor em São Paulo sobre o grande Palmeiras da época, na final da Libertadores de 2000 e na semifinal da de 2001 (seria novamente campeão). Também na de 2001, o time despachara com duas vitórias nas quartas um Vasco de 30 jogos de invencibilidade e que até então tivera 100% de aproveitamento no torneio.
As únicas vitórias brasileiras na Bombonera na Libertadores eram do Santos de Pelé, na final de 1963, e para o Cruzeiro de Ronaldo e Cerezo, na primeira fase de 1994, em que um decadente Boca ficou na lanterna. No período, vitória boquense também sobre o Corinthians na Copa Mercosul de 2000, onde veio o único revés para brasileiros: em torneio que não prestigiava, foi eliminado nas quartas pelo Atlético, em 2-0 sem Riquelme no Mineirão. A vitória histórica do Paysandu foi emendada três dias depois com um 5-2 no São Paulo (Iarley fez o quinto), pelo Brasileirão.
FP: Quando vocês foram para lá, o Boca era o carrasco dos times brasileiros. Qual era o pensamento de vocês? Era, sinceramente, de não perder por muito, ou, quem sabe…?
Iarley: É… É aquela coisa: eu sempre fui um cara que trabalhei muito a motivação. Então, eu sempre falava a meus companheiros, sempre fui, assim, um líder… E eu sempre falava para eles o seguinte: “ó, tem o jogo de volta!”. A gente vencer na Bombonera sabia que ia ser difícil. Eu não podia chegar lá e falar “vamos vencer aqui, vamos vencer aqui”, que os caras, de repente, (retrucariam) “ah, esse cara tá louco”. Mas não é um fato esse, a gente pode vencer; como eu disse para eles, “a gente pode vencer o jogo. Porque é 90 minutos, é onze contra onze, independente de qualquer lugar”. Só que, como eu falo para eles, “ó, o jogo aqui vai ser muito difícil. Vamos tentar empatar o jogo. Vamos empatar… Se não der para vencer, vamos empatar, porque tem o jogo de volta no Mangueirão. No Mangueirão, nós somos fortes”.
FP: E, justamente aqui, o Paysandu perdeu…
Iarley: Exatamente…
FP: Teve algum excesso de confiança no jogo de volta?
Iarley: Não, não… Foi mesmo… Durante o jogo mesmo. Nós erramos mais do que o normal. Nós erramos bola, saída de jogo, fizemos jogadas que normalmente a gente não erra. Infelizmente, a gente pagou…
Os jogos contra o Boca marcaram a carreira não apenas de Iarley, mas dos outros cinco jogadores daquele Paysandu que seguem no clube; o outro único ainda a jogar é o volante Vanderson, expulso na Bombonera após acotovelar, curiosamente, o futuro carrasco Schelotto. O atual técnico é o ex-atacante Lecheva, que empatou momentaneamente em 1-1 no Mangueirão a partida perdida por 4-2. Um de seus auxiliares é Rogerinho, único daquele elenco presente também nos dois títulos do time na Série B nacional, em 1991 e 2001. Já Ronaldo hoje treina os de sua antiga posição. O goleiro titular era o lesionado Alexandre Fávaro, crucificado após surpreendente derrota para o Águia na Curuzu pelo Estadual – único revés do Paysandu no torneio, mas que o que alijaria das finais, apesar da melhor campanha; Ronaldo assumiu o posto. Após a primeira fase, contratou-se o ex-vascaíno Carlos Germano, mas quem esteve contra o Boca foi Ronaldo.
O atual presidente é o ex-atacante Vandick. Utilizado aos 38 anos na ausência de Robson (também expulso na Bombonera), declarou-se aposentado após a eliminação, fora de forma e comovido com o grosso da multidão de 65 mil pessoas que enchera como nunca o Mangueirão mesmo sem ônibus para ir e voltar – os rodoviários haviam entrado em greve naquele 15 de maio de 2003. Fora ele quem catapultara o Papão à Libertadores: fez três nos 4-3 da final da Copa dos Campeões de 2002, em Fortaleza, sobre o Cruzeiro de Jefferson, Luisão, Maicon, Jorge Wagner e Fábio Júnior.
Com o tempo, a dor da eliminação virou orgulho por ter peitado o futuro campeão, que não perdeu outra vez na campanha. O Paysandu também se gaba de ter o melhor aproveitamento da Libertadores, com cerca de 71%. Os cinco remanescentes e outros antigos integrantes se farão presentes amanhã na sede social do clube, em evento que celebra os dez anos da vitória sobre o Boca. Outra atração será A Bombonera É Nossa, filme que tem depoimentos de Carlos Bianchi.
FP: Iarley, se você tivesse mais uns bons anos de carreira – com todo o respeito –, você se veria de volta ao futebol argentino?
Iarley: Sem dúvida, sem dúvida.
FP: No Boca ou em outro?
Iarley: Qualquer um, qualquer um… Se fosse no Boca, melhor! Mas eu gostei muito da cultura, do país; gosto muito do futebol argentino. A maneira que se disputa, aguerrida, era mais ou menos a minha característica. Então, sem dúvida, eu voltaria.
FP: Mas você chegava a ter algum preconceito de ir para lá?
Iarley: Não, nenhum, nenhum (incisivo)… Os caras que tiveram problema, até depois de mim que tiveram (após Iarley, dois brasileiros estiveram no Boca, sem sucesso: o lateral-direito Baiano, ex-Palmeiras, e o zagueiro Luiz Alberto, ex-Flamengo), foi porque… Foi por circunstância ou por deixar que isso aconteça. Por mais que… Você tem que demonstrar que não, que você é um cara diferente! Por que, às vezes, a gente mesmo é até preconceituoso. Né? Então, eu acho que isso… A torcida adversária vai sempre te xingar. De todo nome! Aí, se ele me diz “ah, negro, não-sei-o-quê”, eu não vou (reagir). “Filho da …” é a mesma coisa, cara! Vai fazer o quê? Isso tem aqui. Durante o nosso próprio campeonato brasileiro, a gente vai para os cantos e os caras ficam xingando, chamando de todo jeito… Então, isso faz parte do futebol. Agora, eu não posso é chegar para um cara e depois, na rua assim, “ah, tu é assim, tu é isso, isso…”, que não tem nada a ver. Então, aí sim…
FICHA DA PARTIDA – Boca Juniors: Roberto Abbondanzieri; Hugo Ibarra (José María Calvo 19/1º), Nicolás Burdisso, Marcos Crosa e Clemente Rodríguez; Sebastián Battaglia (Alfredo Moreno 15/2º), Raúl Cascini, Diego Cagna (Carlos Tévez 29/2º) e Matías Donnet; Guillermo Barros Schelotto e Marcelo Delgado. T: Carlos Bianchi. Paysandu: Ronaldo; Rodrigo (Gino 29/2º), Jorginho, Tinho e Luiz Fernando; Vanderson, Lecheva (Bruno 13/2º), Sandro Goiano e Vélber (Rogerinho 28/2º); Iarley e Robson. T: Darío Pereyra. Árbitro: Carlos Amarilla (PAR). Gol: Iarley (22/2º). CA: Ronaldo, Iarley, Cascini e Donnet. CV: Robson e Rodríguez (20/1º) e Vanderson (9/2º).
Agradecimentos especiais: a Pam Sames, Ronaldo Santos (ambos da assessoria do Paysandu) e Vincenzo Procópio (sócio do clube e colaborador do site Futebol Nortista), outras pessoas sem as quais esta entrevista não teria ocorrido.
Iarley já foi personagem de outras notas do Futebol Portenho, incluindo outra entrevista. A seguir, links para elas e, mais abaixo, vídeos de seus gols na Argentina em 2003, na ordem cronológica.
Entrevista com Iarley na Super Semana – River 0x2 Boca
Supersamana – Brasileiros no Super: Iarley
As outras vitórias brasileiras contra o Boca na Bombonera
Quem já passou por Boca Juniors e Corinthians
Acréscimo em 09-07-2015: Iarley voltou à Bombonera como um dos convidados do jogo festivo de aposentadoria do jogador mais vezes campeão do Boca, o ex-colega Sebastián Battaglia – veja aqui.
"Porque isto é algo mais do que uma simples partida, bastante maior do que uma…
As apostas no futebol estão em franco crescimento no Brasil, impulsionadas pelo aumento das casas…
A seleção de 1978 teve como principal celeiro o River Plate: foram cinco convocados e…
Originalmente publicada pelo aniversário de 60 anos, em 15-07-2014 Segundo diversos sites estrangeiros sobre origens…
Originalmente publicado em 12 de julho de 2021, focado na inédita artilharia de Messi em…
A Copa do Mundo de Futebol é um dos eventos esportivos mais aguardados e assistidos…
This website uses cookies.
View Comments