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Antonio Roma, o Tarzan do Boca

Em 1960: primeiro de seus 12 anos de Boca. Teve seis títulos e glórias extras no clube

Nesta última quarta-feira de 20 de fevereiro, faleceu, aos 80 anos, o ex-goleiro Antonio Roma, um dos maiores ídolos do Boca Juniors e um dos mais imponentes argentinos já vistos na função: “vem esse urso em cima e já não vês mais o arco”, relatou Ermindo Onega, histórico atacante do rival River Plate e que por anos teve de duelar com El Tano (gíria argentina para os descendentes de italianos; abreviação de “napolitano”) ou Tarzán.

Como alguns dos maiores ídolos boquenses, como Roberto Cherro, Bernardo Gandulla, Jaime Sarlanga, Pedro Arico Suárez e Silvio Marzolini, Roma chegou ao clube da Ribeira vindo do Ferro Carril Oeste – no seu caso, em 1960, juntamente com este último. Começou no clube do bairro de Caballito em 1955 e já no ano seguinte estava na seleção, estreando em amistoso de 10 de outubro contra o Uruguai, em Paysandú (vitória por 2×1).

Em 1957, na reserva de Rogelio Domínguez, foi campeão da Copa América, mas no mesmo ano viveu o drama do rebaixamento do Ferro, em campanha sofrível: último lugar, a 5 pontos do penúltimo (Lanús), e em época onde a vitória valia 2 e não 3. O técnico Guillermo Stábile preferiu levar Amadeo Carrizo (River) e Julio Musimessi (a quem o Tarzán substituiria no Boca) como goleiros à Copa do Mundo da Suécia.

Menos de um ano após o descenso, foi um dos desnudos pela torcida verdolaga a partir dos 36 minutos do segundo tempo do jogo contra o Dock Sud, pela antepenúltima rodada da segundona. O FCO acabara de fazer 2×0 no oponente e o delírio em Caballito se desatou: o clube garantia antecipadamente ali o título e o acesso, dos quais Roma esteve em 32 das 34 partidas. Na volta à primeira, os recém-ascendidos pouco lembraram a equipe de dois anos antes: dividiram o 3º lugar com o Independiente.

O lance que mitificou Roma: defendendo (adiantado, é verdade) o pênalti de Delém, do River

O Boca não era campeão desde 1954 e, desfazendo-se de Musimessi, contratou Roma, a vir de Caballito juntamente com o lateral-direito Marzolini. Naquele 1960, em busca do fútbol espetáculo, o presidente xeneize Alberto Jacinto Armando contratou uma legião estrangeira, com boa dose de brasileiros. Roma consolidou-se, voltando naquele ano à seleção e firmando-se nela como titular. Teria mais protagonismo na Albiceleste do que o lendário Carrizo, de estilo bastante oposto (El Tano, embora fanfarrão, se contentava em apenas defender, em vez de se comportar como um jogador extra de linha).

O conjunto auriazul, porém, ainda passou dois anos inconstantes (4º e 5º lugares) até a campanha algo mitológica de 1962, quando encerrou um jejum nacional de oito anos (até então, o maior vivido pelos bosteros) da melhor forma possível: o concorrente era o River, deixado para trás na penúltima rodada após Superclásico do mais lembrados. Sobre o título em questão, já dedicamos dois especiais, aqui e aqui. Roma foi peça central do desfecho épico: a 5 minutos do fim, impediu o empate do rival ao defender pênalti, do brasileiro Delém.

O lance praticamente resume a trajetória de ambos na Argentina, ainda que injustamente para as duas partes – no caso de Delém, explicamos aqui. Já sobre Roma, o fato de ter tido outros brilhos. Já com 30 anos, naquele mesmo 1962 foi o goleiro usado na Copa do Mundo do Chile e continuaria no posto no mundial seguinte. Foi um dos mais veteranos a jogar pela Argentina, despedindo-se pouco antes dos 35, como titular na Copa América de 1967.

No Boca, por sua vez, seguiu como titular até 1970. Além do Superclásico de 1962, esteve em outros três bem especiais, em que seu clube tirou outros títulos do River: no de 1963, o Boca, já sem chances após ter priorizado a Libertadores, venceu o rival fora de casa, deixando o caminho livre para o Independiente ficar com a taça. Já os de 1964 e 1965 foram mais semelhantes ao que consagrara Roma.

Pela seleção, aos 34 anos (é quem mais esteve nela vindo do Boca), e com recorde de invencibilidade, aos 37 (o camisa 3 é Marzolini, seu colega desde os tempos de Ferro)

No primeiro, o 1×1 garantiu a taça a uma rodada do fim. No segundo, virada no final para 2×1 na antepenúltima rodada colocou os xeneizes na dianteira, em um campeonato onde os millonarios chegaram a ter 4 pontos de vantagem. No período, o arqueiro chegou a ficar 742 minutos em 1964 sem levar gol (o clube levou só 15 em 30 jogos), o que se interrompeu apenas com um pênalti – ainda assim, só convertido por Federico Sacchi, do Racing, após rebote.

Só Carlos Navarro Montoya teria invencibilidade maior no Boca. Mas antes, o próprio Roma superou a marca de 1964: já com 37 anos, em 1969, ficou 782 minutos sem ser vazado, ainda que não tenha dado a volta olímpica; machucado, esteve de fora das finais do torneio nacional, vencido sobre o… River, no Monumental de Núñez. Sensação que Roma experimentou um ano depois, em que o estádio riverplatense foi usado como campo neutro em nova final nacional, contra o Rosario Central.

Foi o último dos 5 campeonatos vencidos por El Tano, que obteve também a Copa Argentina de 1969. Já à beira dos 40, ele seguiu na Ribeira até 1972, usado na maior parte do tempo em amistosos; a titularidade estava com Rubén Sánchez. Após largar os gramados, sustentou-se como um bom vendedor de seguros. Antonio Roma ainda é nada menos que o jogador do Boca que mais vezes jogou pela seleção, 38 vezes.

Abaixo, entrevista recente com o ex-arqueiro, por ocasião dos 50 anos, completados no último dezembro, do famoso pênalti que defendeu, e o anúncio de sua morte:

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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