A rodada deste final de semana promete muitas atrações. Times grandes se enfrentam, há confronto direto entre ponteiros, e dois clássicos. Um deles é particularmente atrativo para aqueles que se sentem seduzidos pelo charme dos pequenos clubes portenhos. Esse jogo é entre Argentinos Jrs e All Boys, no sábado em La Paternal.
Os dois clubes se situam em bairros vizinhos, localizados nas proximidades do centro geográfico do município de Buenos Aires. O Argentinos Jrs é tradicionalmente um clube de La Paternal (embora seu estádio na realidade esteja no bairro de Villa Mitre). A cerca de 15 quadras de distância, está o estádio da Floresta, casa do All Boys.
Os dois estádios são ligados por uma única avenida, a Álvarez Jonte, que em dias de clássico fica intransitável para veículos automotores. Os hinchas marcham em sentidos opostos ao encontro da torcida rival, e brigas históricas entre torcedores do Bicho e do Albo já foram registradas nos arredores das duas canchas.
Embora essa rivalidade entre vizinhos (para um detalhamento dessas rivalidades, veja-se o especial “Os Verdadeiros Clássicos Argentinos“, neste mesmo site) venha desde o início do século XX, o número de confrontos entre as duas equipes não é muito grande. Isso acontece por ser frequente que estejam em divisões diferentes. No século XX, só a década de 70 viu ambos juntos na primeira divisão argentina profissional. Naquela década, nos campeonatos em que o regulamento programava rodadas reservadas apenas aos clássicos (quando possíveis), o Argentinos Jrs enfrentava o All Boys e não o Platense.
A ênfase acima é preciso ser feita porque desde o rebaixamento alvinegro em 1980, a torcida do Argentinos Jrs gradualmente desenvolveu uma mútua rivalidade à parte com a do Platense, a despeito de este próprio clube travar historicamente o Clásico de la Zona Norte com o Tigre. Tudo por conta do contínuo desencontro de divisões do Bicho e do Tense com seus rivais clássicos – o Tigre só teve duas temporadas fugazes na elite entre os anos 50 e os anos 2000.
O All Boys, por sua vez, teve encontros certos com o Argentinos também na segunda divisão dos anos 30, 50 e 90, além da época de amadorismo. Mas, justamente por não costumar frequentar a elite desde a implantação aberta do profissionalismo (em 1931), similarmente desenvolveu rivalidade à parte: ela se dá com o Nueva Chicago. Como ambos costumam esquentar a segunda ou mesmo a terceira divisão, o jogo ganhou o apelido de Superclásico del Ascenso. Ainda assim, os alvinegros chegaram em 1998 a cometer a ousadia de sondarem ninguém menos que Maradona, ícone máximo dos colorados. Diego havia parado de jogar no ano anterior e preferiu seguir longe dos gramados.
Sem que Maradona cometesse a heresia, o nome mais célebre como vira-casaca é justamente o atual treinador da seleção. Sergio Batista era na infância torcedor do All Boys, onde pendurou as chuteiras no fim dos anos 90. Mas, ironicamente, passou antes e depois pelos dois rivais: consagrou-se no Argentinos Jrs campeão de quase tudo em 1984-85 e, como técnico, tirou-o da segundona em 2004. No Chicago, passou rapidamente como jogador após um ano parado em função do vício nas drogas. E, como treinador, quase tirou os verdinegros da segundona também, em 2005.
Vale ainda citar o caso de dois irmãos: o volante Esteban Cambiasso dispensa apresentações a ponto de, ao sair da base do Argentinos Jrs rumo ao Real Madrid, conseguir cavar junto a negociação do goleiro Nicolás Cambiasso. Uma primeira ironia já residia no fato de Esteban preferir na juventude o basquete enquanto Nicolás sim era o “futbolero” dos Cambiasso – e torcedor assumido do All Boys, se fazendo presente nas arquibancadas quando o time subiu da terceira à segunda divisão em 1993.
Em Madrid, o goleiro nunca iria além do time B do Real, tendo uma carreira distante do prestígio alcançado pelo irmão. Mas realizou o sonho de triunfar no time do coração, sendo um dos líderes da ascensão alvinegra recente, notadamente no retorno à elite em 2010 (após trinta anos seguidos de ausência, desde aquele rebaixamento em 1980).
Argentinos Jrs e All Boys se enfrentaram em 61 partidas oficiais. E a vantagem do Argentinos Jrs é incontestável: são 32 vitórias do Bicho contra apenas 8 do Albo, e 21 empates. Outra façanha do clube de La Paternal é jamais ter sido vencido em casa pelo seu grande rival. No último confronto, em 1997, pela B Nacional, o Argentinos Jrs venceu por 2 a 0.
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