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Aguirre e Gareca decidindo a Libertadores em lados opostos

As semifinais entre Vélez Sarsfield e Peñarol pela Libertadores de 2011 não serão a primeira vez em que seus respectivos técnicos Ricardo Gareca e Diego Aguirre se enfrentarão em uma partida-chave da competição. Em 1987, eles se encararam na grande decisão do torneio, e no papel de artilheiros de suas equipes.

Àquela altura, Gareca já era um jogador experiente, de 29 anos de idade, que havia passado por Boca Juniors e River Plate. Em 1983, marcou o gol da vitória da Argentina sobre o Brasil no Monumental de Núñez pela Copa América, decretando o fim de 13 anos sem vitórias da Albiceleste no clássico.

Não chegou a ser convocado para o mundial de 1986, mas mesmo assim teve grande contribuição para aquela conquista, já que marcou, em 1985, o gol da classificação para a copa, salvando seu país de ser eliminado pelo Peru dentro de sua própria casa (como como havia acontecido em 1969, gerando uma das maiores crises da história do futebol argentino).

El Tigre saiu do River Plate e foi para o América de Cali em 1985. Naquele tempo, esta equipe, turbinada com o dinheiro que lavava do Cartel de Cali, atraía bons jogadores de outros países do continente (por exemplo, o goleiro era o também argentino Julio César Falcioni, atual treinador do Boca Juniors. Carlos Ischia também passou por lá) e era a mais forte da Colômbia.

Já em seu primeiro ano no clube, Gareca veria o América bater na trave na Libertadores: perdeu a final para o Argentinos Jrs nos pênaltis. Em 1986, outro vice, agora contra os ex-colegas do River. Em 1987, a equipe manteve o treinador e a base, fez ótima campanha e chegou à final, com 5 vitórias, 4 empates e apenas 1 derrota. Ostentava ainda o artilheiro do torneio: o próprio Gareca, com 7 gols.

O adversário era o Peñarol. A tradicionalíssima equipe aurinegra não parecia tão assustadora como em outros anos. Mas seu jovem treinador, Óscar Tabárez, havia montado uma equipe cheia de jovens promissores. Um deles, o talentoso atacante Diego Aguirre, de apenas 23 anos, que havia sido trazido do Liverpool uruguaio. Não foi fácil: Aguirre, contratado quando o técnico ainda era Roque Máspoli, e Tabárez não tinham o melhor relacionamento.

O início de temporada foi ruim e Tabárez só permaneceu porque em um clássico de pré-temporada com o Nacional foi ganho. Com o Peñarol jogando com três a menos. Aguirre fez a jogada de contra-ataque a resultar no gol da vitória no chamado “Clássico dos 8 contra 11”, um dos mais célebres da rivalidade.

Os argentinos Falcioni e Gareca no América

Meses depois, os uruguaios estavam na final continental. Na primeira partida, em Cali, em 21 de outubro, o América venceu por 2-0, gols dos paraguaios Battaglia e Cabañas (que depois seria ídolo no Boca). Gareca sofreu uma distensão muscular que praticamente o tiraria de ação. Mas bastava segurar o empate na volta para finalmente a equipe levar o título para a Colômbia. Uma semana depois, no Centenário, Cabañas marcou logo no início, e a taça pareceu ainda mais próxima.

No segundo tempo, Aguirre empatou, e os uruguaios foram para cima, sendo contidos à muito custo pela defesa do América, até que aos 42 minutos Jorge “Mono” Villar marcou o gol da vitória. Após 87 minutos com o título nas mãos, os colombianos haviam perdido a chance de conquistar o continente. Ao menos por enquanto. A grande decisão ficaria para a neutra Santiago, no dia 31.

Graças ao melhor saldo de gols, os colombianos seriam declarados campeões caso a partida terminasse empatada ao fim dos 90 minutos e da prorrogação. E a equipe soube administrar a vantagem durante todo esse tempo. A partida rumava tranquilamente para o empate, com os uruguaios não conseguindo furar o bom sistema tático montado por Gabriel Ochoa Uribe, ex-goleiro deste e também de outro América, o do Rio de Janeiro (vice carioca em 1955), além do Millonarios de Di Stéfano.

Mas o impossível aconteceu. Aos 120 minutos de partida, no último lance do jogo, a bola sobrou para Aguirre, que rompeu a defesa colombiana e fuzilou Falcioni. Um belo gol que levou os colombianos ao desespero: pela terceira vez seguida, o América perdia uma final de Libertadores, e desta vez tendo chegado mais perto do que nunca. Ele ainda é o único trivice consecutivo da competição. Já os aurinegros confirmavam sua mística de conseguir vitórias impossíveis.

Ao fim, a carreira de Gareca foi mais sólida que a de Aguirre. Além de Boca e River, passaria por outra grande equipe argentina, o Independiente (sendo ali campeão do Clausura 1994), além de atuar pelo Vélez Sarsfield, seu clube do coração e do qual é o atual técnico. Foi bicampeão colombiano, artilheiro de Libertadores e teve bons momentos com a camisa da albiceleste.

Já Aguirre, ainda que talentoso, teve uma carreira mais errática. Passou por muitos clubes, inclusive do Brasil (Internacional, São Paulo, Portuguesa), além de na Argentina, Uruguai, Chile e Espanha. Sempre marcou seus gols, mas não chegou tão longe quanto se esperava – nunca jogou pela seleção, por exemplo. Mas, naquele histórico 31 de outubro de 1987, foi ele quem entrou para a história. Para se ter uma ideia do clima da ocasião, pode-se conferir abaixo o gol dele com narrações colombiana e uruguaia:

A imagem icônica do drama do trivice seguido do América no último lance da Libertadores de 1987. O carrasco Diego Aguirre na verdade mal é visto na foto: é o jogador quase totalmente cortado no enquadramento, mais à direita
Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

View Comments

  • Já encaminhei para amigos no Facebook e no orkut! Conhecia a história, mas não sabia do detalhe que o empate dava o título ao América - pensei que ambos àquela altura do jogo estivessem se poupando para os pênaltis. Se esta situação que eu imaginava já daria em desespero, imagine então na que realmente aconteceu... com o "plus" de dois vices anteriores engasgados...

    Vale ressaltar que o América de Cali era turbinado com os narcodólares do cartel da cidade. Não tenho muita pena dessa derrota deles não...

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