Não. Esse texto não contará com clichês de que a vitória foi como um tango. Deixemos isso para as emissoras de televisão que já abusaram disso há tempos quando falam de Seleção Argentina. O ritmo aqui é diferente. São aquelas taquicardias, que chegam a um pico de adrenalina, mas que com um simples balde de água fria apaziguam tudo. E que naquele momento que você menos espera, toda adrenalina sobe como se tivesse tomado uma injeção para causar tal efeito.
Tudo bem. Exagero. Não sou capaz de causar esse tipo de sentimento em um singelo texto pós-jogo. Ainda mais em um texto que poderia ter sido a última partida de Lionel Messi em uma Copa do Mundo. Não, ele não merecia, por mais que você tenha comemorado o gol nigeriano após o pênalti infantil de Mascherano. O único que não merecia tamanha tragédia era o camisa 10 da Argentina. E, por sorte, não foi sua despedida.
Para um cardíaco, um jogo assim não é bom. A comemoração aliada ao nervosismo, que viria a ser o restante do primeiro tempo, só aumenta a ansiedade. O que é um perigo para quem sofre desses males. Nesses casos, é totalmente necessário um cuidado médico supervisionado para evitar o pior. Quis o destino que no primeiro tempo tudo ocorresse bem.
Mas o balde de água fria veio de um jogador que não merecia, por tudo que já fez pela Seleção. Javier Mascherano foi ingênuo e segurou o defensor nigeriano por todo o tempo. Não era necessário. Armani, que fazia a sua estreia com a camisa da Seleção, nada pôde fazer. A imagem de Mascherano o abraçando no começo do jogo até poderia ser uma foto importante, de agradecimento por salvar a sua pele. Mas não, não foi.
Mas o pico de adrenalina veio graças a dois personagens que ninguém poderia um dia imaginar que estariam ali. Mercado é altamente criticado na Seleção, por seu peso e seu jogo. Seus cruzamentos quase não rendem nada. Marcos Rojo, por outro lado, cresceu no Mundial-2014, também como um dos questionados. E, claro, não poderia ser diferente na bagunçada argentina de 2018.
O cruzamento certo de Mercado sobrevoou a área como se nada pudesse acontecer. Recheada de nigerianos, a bola encontrou justamente Marcos Rojo. Tanto a transmissão quanto este que escreve viu o Meza fazendo o gol. Mas não. Era do ex-lateral do Estudiantes, que começou a partida como zagueiro e terminou como atacante. Como salvador. Messi sabia disso. Pulou sobre as costas de Rojo e comemorou como se fosse um título. A adrenalina, de volta. E gol da Croácia. Mais injeção de adrenalina!
Os momentos finais, com jogadores argentinos segurando a bola na bandeira do escanteio, não poderia remeter outra lembrança: o gol de Adriano, na Copa América de 2004. Por sorte, os nigerianos não têm um tanque e um atacante com aquela qualidade. A única bola que poderia gerar um novo balde de água fria foi defendida sem problemas por Armani.
E acabou. A adrenalina voltou a subir com a comemoração e a classificação às oitavas de final de Copa do Mundo e com Sampaoli indo para o vestiário sem vibrar com os jogadores. Uma vitória maluca, dos próprios atletas, que serviu apenas para impedir uma eliminação precoce e uma despedida de Messi da Seleção na primeira fase da Copa do Mundo.
A França é mais time, por mais que não tenha demonstrado isso no jogo desta terça-feira, contra a Dinamarca. Mas o futebol proporciona momentos malucos. Quem sabe a adrenalina suba ainda mais na partida de sábado. O problema disso tudo é que, quanto maior a sensação de prazer, a queda e a depressão podem ser ainda maiores.
Mas não custa sonhar.
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