Desde Córdoba
Texto e foto por Matías Izaguirre*
Se existe um traço pelo qual, na Argentina, são (re)conhecidos os cordobeses – além de sua tonada, tão musical como característica – é seu sentido de humor. Quem um dia já pisou em Córdoba, escutou e/ou comprovou essa lendária tendência à brincadeira e à risada, mas também ao quarteto (um ritmo tropical que, através de Carlos La Mona Jiménez, primeiro e, Potro Rodrigo, depois, souberam chegar massivamente a todo o país); o futebol e o fernet. Esta bebida de origen italiana que costumeiramente mistura-se com Coca-Cola e, desde alguns anos, sua alquimía agridoce causa furor. Não obstante, os cordobeses alegam ter “descoberto” esse drink muito antes que os demais. E de fato, numa outra demonstração de sua originalidade, produzem um sorvete com esse sabor.
Talvez por tudo isso, somado o orgulho que exibem os cordobeses por sua terra e cultura – principalmente por cima daquilo que venha de Buenos Aires – que o jogo da seleção foi encarado da forma como vimos, uma verdadeira festa. Antes da partida, tudo fazia acreditar que seria. Por sorte, os onze escolhidos por Sabella não desapontaram. Foi um verdadeiro show. E Messi, como sempre, acabou com jogo. Fez um, mas poderia ter feito outros mais caso não existisse algo chamado má sorte. É correto dizer que com Messi, ela não costuma aparecer, mas lhe nega (como faz com todos nós) certas delícias. Entretanto isso não diminui a sensação, muitas vezes compartilhada, de que foi uma noite destas que serão lembradas por muito tempo.
É que desde que ficou conhecido que a seleção viria disputar uma partida válida pelas eliminatórias, a cidade se revolucionou e as conversas se multiplicaram conforme a data do jogo se aproximava. Ontem de manhã, não existia lugar em Córdoba onde não se vendia bandeiras argentinas, camisetas com a 10 de Messi ou simplesmente com uma foto sua festejando algum gol. Todos imaginavam quantos gols faria Messi no reformado estádio Marío Alberto Kempes.
Assim que chegamos ao estádio percebemos a grande quantidade de vendedores que tratavam de salvar o mês tentando vender todo tipo de indumentária da seleção (bandeiras, camisetas, abrigos, balões, etc.). Ninguém se preocupava se era roupa oficial ou não. Evidentemente não era. A ideia era estar vestido conforme a ocasião. Entretanto, há um detalhe muito significativo: os “pastelitos” que geralmente fazem as avós nos dias de festas pátrias. Talvez seja um exagero, mas permita-me a licença. Não digo que este jogo tenha sigo algo como uma data pátria. Mas sim, que para os cordobeses e, para as pessoas do interior do país, esta vitória argentina é também – e principalmente – uma vitória do interior. Porque não têm a possibilidade de ver seus ídolos, mais do que pela televisão e nos campeonatos europeus, porque veem quando jogam em Buenos Aires que se as coisas não saem bem, alguns começam a vaiar, porque muitos destes jogadores nasceram no interior e apenas voltam para as festas e quando se aposentam. Porque sentem que ese ditado portenho de que “Deus está em todas partes, mas atende em Buenos Aires”, esta vez perdeu seu efeito.
Por isso a festa, por isso o estádio repleto. Por isso as ovações a Messi, para que se sinta querido. Por isso os fogos de artifício quando o jogo terminou. Por isso as bandeiras e as caras pintadas. Por isso a emoção e por isso os “pastelitos”.
Não foi uma data pátria, mas quase. E, para os cordobeses, teve certo gostinho a revanche. E quem pode dizer que foi apenas desta vez, mas o certo é que Messe atendeu em Córdoba.
Com certeza, humor, quarteto, futebol e fernet iluminaram a noite deste fim de semana. Em todos momentos, em qualquer ponto, alguém brindará por Messi, por este pequeno senhor dos milagres. Bem merecido, diga-se de passagem.
*Texto traduzido por Leonardo Ferro
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