A culpa é do Messi
Desde Buenos Aires – Enquanto preparava as minhas coisas na tarde da última sexta-feira, visando a cobertura que faria ao vivo para este site do que viria a ser mais uma contundente vitória argentina, algo já me atormentava muito antes da bola rolar. Não se tratava da falta de nenhum item básico do equipamento para poder desenvolver o meu trabalho como jornalista; fiz questão de me certificar que todas as baterias estivessem carregadas (celular, notebook e câmera fotográfica). Tampouco eram os números, estatísticas e informações com que me atualizei sobre os últimos confrontos envolvendo Argentina e Venezuela.
Eu me preocupava com este texto. Isso mesmo, amigo. Não fazia ideia alguma de como poderia escrever algo que fugisse do óbvio. Ser surpreendente e inovador ao tentar ser diferente daquilo que todos os outros jornalistas no mundo inteiro já escreveram, estão escrevendo nesse exato momento e, ao que parece, ainda escreverão por muito tempo mais: Lionel Messi. Quando alguém vai a uma partida onde esse mágico do futebol se apresenta, vai sabendo que todas as atenções, lentes, olhos e pedidos estarão concentrados nele. E não é por menos; ele não decepciona.
No instante que a seleção pisou no gramado do Monumental de Núñez, a torcida local preparou uma festa que há muito tempo não se via por aqui em jogos da Albiceleste. Parece que os portenhos fizeram questão de acolher e fazer com que se sintam tão confortável e queridos na capital do país, como foi quando atuaram pelo interior da Argentina no ano passado (Córdoba e Mendoza). E é claro que, depois de toda emoção transbordada no momento do hino nacional, o próximo a ser ovacionado foi Messi, o que não me dava uma trégua sequer para esquecer do meu “problema” e compromisso com estas linhas.
Mas foi só a bola rolar e ter novamente o prazer de ver esse jogador ao vivo, que acabei desistindo de minhas grandiosas pretensões. Percebi que é impossível falar de outra coisa que não seja ele. Messi é único e tem tanta vontade de jogar futebol que cobra até lateral; tem tanta confiança em si mesmo e em suas fintas, que, no lance do pênalti, não se importou se o árbitro marcaria ou não a infração. Seguiu na jogada, driblando e encarando o defensor. Parou apenas quando seus companheiros o abraçaram. Ele, meio que sem entender o motivo, foi para cobrança e anotou o seu 32 gol pela seleção.
Antes disso, havia dando um passe fantástico de primeira que habilitou Higuaín no lance do primeiro gol. No segundo tempo, brindou a todos com uma de suas arrancadas típicas que reúne habilidade, velocidade e controle de bola. Levou desde o meio de campo até a entrada da área. Novamente, um passe preciso para o centroavante anotar seu segundo no jogo, o terceiro da Argentina. Ele joga em outra velocidade, joga outro tipo de futebol.
Por isso, peço desculpas. Por não conseguir fugir de um texto normal ou mais um sobre Lionel Messi, mas é ele próprio quem não permite que isso aconteça. Não se pode escolher outro personagem para uma crônica esportiva quando ele está em campo. E ainda bem que isso acontece.