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Elementos em comum entre Corinthians e Independiente

Independiente e Corinthians, que duelam nessa quarta pela Libertadores, a princípio não têm consigo muitas semelhanças. Somente na virada do milênio é que o Timão passou a reunir um cartel de glórias internacionais tão familiares desde os anos 60 ao Rojo, por sua vez carente nelas em tempos recentes, ao menos em comparação ao riquíssimo passado. A massa de Itaquera é reconhecida pelo apoio “fiel” e já se satisfaz com um futebol aguerrido, enquanto a hinchada do Libertadores de América tem fama de exigência por um futebol vistoso (de paladar negro, na gíria argentina) – e, nas mas línguas, por supostamente não ter o mesmo calor e assiduidade que a do rival. O estilos antagônicos não impediram que um bom número de pessoas estivessem nas duas equipes, incluindo quatro brasileiros. 

O clube de Avellaneda e o do Parque foram ambos campeões em torneios alusivos a 1922, 1938, 1939, 1977, 1983 (Argentino e Estadual em todos), 1995 (Recopa a Supercopa; Estadual e Copa do Brasil), 2002 (Argentino; Rio-São Paulo e Copa do Brasil) e 2017 (Sul-Americana; Brasileiro). Teriam inspiração britânica: a camisa original do Rojo era branca, inspirada nos primeiros campeões argentinos, os escoceses do St. Andrew’s, cuja insígnia foi parodiada no distintivo original – enquanto o icônico manto vermelho teria sido inspirado no Nottingham Forest, que de fato excursionou pela Argentina em 1905. O Corinthians, como se sabe, baseou-se no Corinthian inglês, que esteve no Brasil em 1910. Trata-se do ano das fundações dos oponentes de hoje.

Vamos a quem passou pelos dois:

Brito: foi revelado pelo Corinthians em 1933, defendendo o alvinegro por quatro temporadas, sem títulos, conseguindo no máximo o vice estadual de 1936. Dali rumou ao futebol carioca para defender o America, participando como rubro da Copa do Mundo de 1938. Após a Copa, foi ao Flamengo, jogando as primeiras partidas da campanha campeã de 1939, perdendo espaço para Jocelino. Ainda em 1939, passou ao Independiente, que também seria campeão naquele ano. Mas sem contribuição do reforço, que, já decadente e lesionado nos meniscos, só jogou amistosos e no campeonato paralelo dos times B, conforme informação do excelente @ArchivoHistóricoCAI, perfil no twitter dedicado à história roja. O suficiente para ser o primeiro brasileiro do clube. Em 1940, voltou ao Brasil.

Os brasileiros Osvaldo Brandão (campeão em ambos) e Lanzoninho

Jim Lopes: teve uma trajetória singular. Seu nome real era Alejandro Galán, adotando o “artístico” no Brasil, onde fez carreira no boxe antes de passar ao futebol como treinador. Campeão nos anos 50 pelas demais forças paulistanas (por São Paulo e Palmeiras no Estadual e pela Portuguesa no Rio-São Paulo), foi após uma carreira desenvolvida no Brasil que foi “importado” pelo futebol natal, trabalhando no Independiente em 1959. Dali virou alvinegro em 1960. Em ambos, conviveu com os maiores jejuns que já imperaram nas duas equipes, em meio à famosa fila estadual corintiana de 1954-77 e uma seca geral roja de 1948-60. Mas Jim ainda chegaria a treinar sua seleção em 1967.

Osvaldo Brandão: era o treinador do Corinthians tanto no título estadual de 1954 como no de 1977, isto é, o termo inicial e o final do tabu. Nesse meio tempo, também teve mais de uma passagem pelo Independiente. Ficou primeiramente entre 1961-62, sem títulos mas deixando boa impressão que o fez ser recontratado em Avellaneda em 1967. Ali o rival Racing venceu a Libertadores e o Mundial, mas teve as faixas carimbadas pelo título nacional rojo ao fim daquele mesmo ano: os pupilos de Brandão foram campeões em pleno clássico vencido por 4-0, coroando a campanha nacional de melhor aproveitamento da história do profissionalismo argentino – cerca de 87% dos pontos. Mesmo sem Libertadores no currículo, há quem veja no paternal Brandão o melhor técnico que o clube já teve, como o goleiro Miguel Santoro, quatro vezes campeão continental.

Lanzoninho: na Argentina esse ponta-direita ficou conhecido pelo nome mesmo, João Lanzoni. O curitibano foi revelado no futebol de seu Estado natal, chegando a São Paulo inicialmente para defender o Juventus. Antes de vir em 1960 ao Corinthians, passara ainda pelos rivais São Paulo e Palmeiras. Foi corintiano até 1963, com 17 gols marcados em 53 jogos dos tempos de jejum, mas teve o álibi de no ano do “faz-me-rir” (1961) estar cedido ao Independiente de Brandão. O time e Lanzoninho, que marcou quatro gols na Argentina, não foram brilhantes, mas o brasileiro pôde ter uma tarde de glória em pleno Clásico de Avellaneda: o Racing, campeão daquele ano, levou de 4-0 (curiosamente, de forma similar à que Brandão vivenciaria de novo em 1967) com dois gols do ponta.

Quando um brasileiro brilhou no clássico de Avellaneda: Lanzoninho, em 1961, fez dois gols em um 4-0 sobre um Racing que terminaria campeão

Benny: na Argentina ficou conhecido pelo sobrenome Guagliardi. O ponta-esquerda esteve no Corinthians em 1957, ano de um recorde de invencibilidade no clube (37 jogos; o time de 2017 parou nos 34), mas foi importado pelo Independiente quando brilhava no interior paulista pela Ferroviária. Na mudança de Araraquara a Avellaneda não conseguiu titularidade, com as pontas preenchidas com Raúl Benao e Raúl Savoy. Mas pôde rechear o currículo com o título argentino de 1963 (marcando quatro vezes na campanha) e a primeira Libertadores do clube e do futebol argentino, em 1964, atuando no 2-2 com o Alianza Lima. Em 1965, seguiu na Argentina como jogador do Gimnasia LP, onde pôde sobressair-se com onze gols, incluindo sobre o campeão Boca, Racing e San Lorenzo.

Armando Renganeschi: zagueiro do Independiente de 1933 a 1937, Renga iniciou nos anos 40 uma larga trajetória por clubes brasileiros. Em São Paulo, ficou mais associado aos rivais São Paulo (fez o gol do título de 1946 no clássico com o Palmeiras, rivalidade que vivia seu auge político) e Palmeiras (treinando o vice da Libertadores de 1961 e trazendo Ademir da Guia ao clube). Voltou ao Rojo como treinador em 1963, sucedendo Brandão e comandando a maior parte da campanha campeã nacional, encerrada já sob Manuel Giúdice. Passou pelo Corinthians em 1978, onde inversamente ao que ocorrera em Avellaneda, sucedeu Brandão – mas sem emplacar.

Carlos Gamarra: esteve no Independiente ainda no início da carreira, em 1993, sem triunfar no futebol argentino. Devolvido ao Cerro Porteño, o resto é a história conhecida de um dos maiores zagueiros do futebol, contratado do Benfica pelo Timão em 1998 após grande desempenho pelo Internacional. Nem mesmo a passagem pelo Palmeiras desmereceu El Colorado (apelido oriundo dos cabelos ruivos e não da passagem prévia pelo Inter) perante a Fiel, de boa memória da marcação firme e ao mesmo tempo limpa no título brasileiro de 1998 e do estadual de 1999.

O brasileiro Benny Guagliardi esteve na maior série invicta do Timão e venceu a Libertadores pelo Rojo. Escudero não foi feliz em nenhum

Sergio Escudero: zagueiro de duas passagens pelo Independiente, em 2007 e na temporada 2014-15, sem receber aplausos. Em seu país, ficou mais associado ao Argentinos Jrs, defendendo-o quase que seguidamente entre 2007 e 2012, descontada a passagem pelo Corinthians. Chegou à pauliceia no início de 2009 e até vinha bem, mas lesionou-se de forma grave ainda em abril e só reapareceu nos gramados já em novembro. Não voltou a se firmar e já em 2010 voltou ao Argentinos, inicialmente sob empréstimo dos alvinegros, até ser revendido em definitivo.

Matías Defederico: contratado no embalo do Huracán quase campeão em 2009 após 36 anos, sua negociação foi complicada, com diversos capítulos: aquiaquiaquiaquiaquiaquiaquiaqui… até anunciarmos sua contratação (aqui. Ufa!). Este volante ofensivo veio anunciado como “um novo Messi”, um erro assim como escala-lo no ataque como se realmente tivesse o mesmo estilo de La Pulga. Não emplacou no centenário corintiano em parte por jogar fora da posição habitual. Mas tampouco voltou a ter regularidade em outros clubes. Em 2011, foi emprestado ao Independiente, seu time do coração. Como rojo, chegou a defender uma versão caseira da seleção argentina (no 4-1 sobre a Venezuela na inauguração do estádio de San Juan, fornecendo uma assistência), mas a paciência da torcida com ele em uma temporada terrível do clube não durou muito. 

Juan Manuel Martínez: fazia grande tridente ofensivo no Vélez do início da década com outro fracasso corintiano, o uruguaio Santiago Silva, e Maxi Moralez. El Burrito veio após a Libertadores vencida pelos alvinegros e até defendeu como corintiano a seleção (no Superclássico das Américas, onde só quem jogasse nos dois países poderia ser aproveitado), mas não apreciou a reserva no Parque. Mesmo integrando o título mundial, viu-se perdendo lugar na seleção e forçou saída a ponto de ir ao Boca – mesmo no passado tendo declarado torcer pelo River, clube onde haviam jogado diversos familiares seus. Martínez não se deu razão, passando três anos sem empolgar direito nos auriazuis e nem mesmo no retorno ao Vélez em 2017. Sua contratação em seguida pelo Independiente chegou a surpreender. Não foi titular na vitoriosa Sul-Americana ano passado. 

Defederico fracassou nos dois. Burrito Martínez, sem regularidade desde que deixou o Vélez em 2012, tenta se reerguer em Avellaneda. Chegou em meados de 2017 e ainda não decolou

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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