El Gráfico, desde há quase cem anos, soube reconhecer o futebol brasileiro
Foram 51 capas da El Gráfico a contar com brasileiros como protagonistas. É mais de uma a cada dois anos para os 98 anos (99 incompletos) da edição impressa da revista, lançada em 1919 e que promete seguir online. Desde os anos 20 os tupiniquins já apareciam destacados na capa, repita-se, como protagonistas. Isso porque não contamos aquelas em que, dividindo-a com argentinos, aparecem sugestivamente como antagonistas (como esta), como coadjuvantes ou aquelas em que o item de capa é um time inteiro com um e outro brasileiro “diluído” em outras nacionalidades.
A primeira data de 1923 e é inspiradora. Capitães das duas seleções se cumprimentam com sorrisos genuínos em vez de protocolares, sobre a legenda “a obra do sport em favor da fraternidade sul-americana” (veja em tamanho ampliado). Pelé, descrito como “amigo da casa”, foi personagem de capa nove vezes, além de outra em meio aos jogadores da seleção de 1970. A Argentina não se classificou para aquela Copa do Mundo e nem por isso a El Gráfico deixou de cobrir a canarinho. A reportagem sobre o tri mundial brasileiro foi uma das escolhidas pela revista entre as noventa melhores de sua história, na ocasião do aniversário de 90 anos da publicação – veja aqui a lista.
Abaixo de Pelé (protagonista também na ocasião de sua despedida, no Cosmos, em capa com Carlos Alberto Torres), um personagem dos anos 90: Silas, cujo prestígio no São Paulo não se equiparou à idolatria que gerou no San Lorenzo, onde em 1995 foi participante ativo do fim de um jejum de 21 anos na elite, o maior dos azulgranas. Só naquele ano, foram três capas com o pastor; uma delas, como o representante máximo do clube em uma edição que servia de “esquenta” para o início da temporada seguinte à conquista, junto de Francescoli (River) e Caniggia (Boca), além dos representantes dos também grandes Racing (Diego Capria), Independiente (Daniel Garnero) e pelo emergente Vélez (Marcelo Gómez). Silas estampou outra capa em 1997.
Em terceiro, vem Paulinho Valentim, Didi e Ronaldo, cada um três vezes. Assim como Silas, o reconhecimento de Valentim no Botafogo fica pequeno perto da adoração no Boca nos anos 60, sendo até hoje o maior artilheiro xeneize no Superclásico em jogos válidos pelo campeonato argentino. Casado com a Hilda Furacão real, Valentim radicou-se em Buenos Aires e lá faleceu, sendo velado na sede do Boca. Em duas, Didi apareceu como técnico do River, reconhecido por lhe trazer bom futebol apesar da falta de títulos. Já Ronaldo dispensa comentários. Uma de suas capas foi alusiva à famosa convulsão.
A admiração e reconhecimento não se limitaram ao futebol. Houve espaço para os remadores José Andrade de Ferreira e Antônio Rocha (em 1934), ao corredor Wilson Gomes Carneiro, ao saltador Adhemar Ferreira da Silva e ao piloto Emerson Fittipaldi. Ayrton Senna não chegou a tanto, mas uma dolorida reportagem sobre sua morte foi outra a figurar entre aquelas 90 melhores.
Jogadores brasileiros que se destacaram em clubes argentinos foram compreensivelmente os mais numerosos, no conjunto. Essa história começou nos anos 30, com os irmãos Petronilho e Waldemar de Brito no San Lorenzo (ambos duas vezes cada um), passando até por um goleiro do modesto Ferro Carril Oeste (o ex-flamenguista Jurandyr) nos anos 40, pelas reiteradas com Paulinho Valentim nos anos 60 e até por uma curiosa: no início de 1981, Toninho Cerezo negociou seriamente com o River, que buscava reagir à ida de Maradona ao Boca, embora já houvesse trazido Mario Kempes nesse sentido. Cerezo vestiu sorridente a camisa millonaria. Ficou para folclore.
O último brasileiro a ocupar sozinho a página principal foi Iarley (com uma legenda em português mesmo – “tudo bem”), exatamente o último a realmente brilhar com luz própria por lá. A rigor, a última capa com brasileiros foi uma de 2017 a ter Romário e Pelé, os mesmos personagens cuja imagem abrem a matéria. Como ambos parecem coadjuvantes de Messi (e Cristiano Ronaldo, no caso de Pelé), assim como Neymar nesta de 2015 e nesta de 2014, vale dizer que o último tupiniquim de fato protagonista foi Ronaldinho Gaúcho, ao lado de Messi em 2005. R10 que, por sinal, foi outro a ontem dizer adeus oficialmente – houve hermanos que no twitter usaram as duas coisas para lamentar a data.
Segue abaixo, cronologicamente, as demais capas brasileiras da El Gráfico, além das que, junto com a de Iarley, abrem a matéria – “o mundo aclama Pelé o melhor jogador do mundo (ele é)”, com Pelé em 1961; e a pós-Copa 1994, com Romário sobre outra legenda em português, com licença poética para uma tradução literal da popular expressão argentina El Más Grande ao invés de “O Maior”, como seria mais correto.
Essa não será a única nota em tributo à El Gráfico. Aguardem. Por enquanto, vale acessar nossa matéria sobre os argentinos que preferem Pelé a Maradona, incluindo César Menotti e até Caniggia.
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