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Conheça os principais jogadores argentinos de origem catalã

Na semana em que o plebiscito pela independência da Catalunha se refletiu no futebol, vale lembrar alguns dos principais jogadores argentinos de aparente ascendência catalã; a nota é assumidamente especulativa. Dentre os nomes, ídolos de todos os grandes clubes argentinos, figuras de momentos notáveis de equipes médias e pequenas e até campeões mundiais.

A comunidade minoritária da Espanha mais presente no futebol (e na sociedade) argentino é a basca, incluindo diversos refugiados da Guerra Civil, até mesmo participantes da Copa do Mundo de 1934. Mas havia também catalães e o mais notável foi Julio Munlloch, um ex-Barcelona que defendeu o Vélez em 1940. Em contrapartida, ao menos dois hermanos já defenderam a seleção catalã: Emilio Sagi Baba, primeiro nativo da Argentina a defender o Barcelona (entre os anos 10 e 30) e a seleção espanhola, foi de um tempo em que a seleção e o campeonato regionais tinham mais prestígio, antes do primeiro campeonato espanhol (iniciado em 1929) e do “padrão FIFA” para jogos oficiais.

O outro foi Alfredo Di Stéfano, que participou em 1955 de um 6-2 no clube italiano Bologna. Curiosamente, o jogador de Barcelona (em amistosos) e Espanyol defendeu a Catalunha antes de estrear pela própria seleção espanhola, o que se daria em 1957. Argentina e Catalunha se enfrentaram três vezes, todas no Camp Nou: vitórias sul-americanas de 3-0 (Scaloni, Maxi Rodríguez e Galletti) em 2004 e de 1-0 (Lavezzi) em 2008 e derrota de 4-2 (García, Bojan, Sergio e Hurtado para os europeus, Pastore e Di María para a Albiceleste) em 2009, na estreia catalã do último trabalho de Cruijff como treinador. A Argentina também já enfrentou o Espanyol. E não venceu: empatou em 2-2 em 1926 e foi derrotada por 2-0 em 1999, nas festas do centenário do clube.

San Lorenzo de 1915 (os irmãos Coll são os dois últimos jogadores em pé e Xarau é o terceiro sentado ao chão) e Di Stéfano pela seleção catalã

Voltando as refugiados da guerra civil, muitos deles encheram o San Lorenzo, que passou a ser conhecido como “o clube dos espanhóis”. Se os bascos criaram a fama, sobrenomes catalães haviam sido essenciais, pois o clube quase foi extinto em 1912. Dentre as figuras ativas do ressurgimento, a render na estreia na primeira divisão em 1915, estão os irmãos Coll (o goleiro José e o lateral-direito Alberto) e o centroavante Francisco Xarau, todos fundadores do time em 1908. Um dos últimos remanescentes vivos dos primórdios azulgranas, vivendo esquecido até os anos 70, Xarau foi o vice-artilheiro da campanha de acesso e autor de dois gols na vitória de virada por 3-1 no primeiro clássico com o Huracán, em 1915.

Vamos aos principais jogadores em questão, por ordem alfabética dos sobrenomes:

Gustavo Bou: refugo do River que se consagrou como o artilheiro do Racing campeão argentino de 2014, após treze anos.

Patricio Camps: potente atacante do Vélez nos anos 90, especialmente no ciclo pós-1994, bastante vitorioso também. Foram três títulos argentinos, um da Supercopa (fuzilando Dida na final contra o Cruzeiro) e um da Recopa. Teve breve passagem pela seleção argentina, o que não impediu de ser sondado também pela ucraniana, origem que tem por parte de mãe.

Omar Catalán: o sobrenome ao menos denota a origem catalã para um dos jogadores mais xingados do Racing, mas que ficou eternizado como autor do gol do título da Supercopa 1988 (também sobre o Cruzeiro), único troféu da Academia entre 1967 e 2001. Ironicamente, torce pelo Independiente. Após breve carreira, virou taxista.

Roberto Coll; Oscar Coll: além dos irmãos dos primórdios do San Lorenzo, o sobrenome também pertenceu a um reserva do River de La Máquina que nos anos 50 virou astro no Deportivo Cali do “Eldorado Colombiano” e artilheiro no primeiro título chileno do Palestino (Roberto); e a um reconhecido meia-direita no San Lorenzo nos anos 50, que defendeu também o Espanyol, por sinal (Oscar).

Jorge Comas: ícone do chamado futebol ochentoso (como os argentinos se referem à década de 80) como seus mullets, notabilizou-se por vários gols sobre o River, seja pelo Vélez ou pelo Boca. Essa característica o fez ídolo nos auriazuis apesar da falta de troféus.

Adrián Domenech: beque e capitão do fantástico Argentinos Jrs campeão de quase tudo entre 1984 e 1985 – dois dos três títulos argentinos e (antes dos gigantes River e San Lorenzo) uma Libertadores foram levantadas por um time de expressão apenas de bairro e que já não dispunha havia alguns anos de Maradona. Por sete minutos, não veio o Mundial sobre a Juventus, naquela que é considerada a final de mais alto nível de ambos os postulantes em Tóquio.

Bou, Camps, Catalán e Fillol juntos com a Supercopa 1988 e Comas

Marcelo Espina: figura do sumido Platense nos anos 80 e 90, era quem colocava David Trezeguet no banco do clube marrom, pelo qual chegou à seleção em 1994. Foi justamente o primeiro a usar a camisa 10 na Albiceleste após a Era Maradona. Falamos aqui.

Ubaldo Fillol: um dos melhores goleiros da Argentina (se não o maior) e do mundo. Campeão da Copa de 1978, multicampeão pelo River, campeão e capitão daquele Racing da Supercopa 1988, recordista de pênaltis defendidos no campeonato argentino – incluindo no jogo em que se despediu, vitimando o próprio River… mais detalhes neste Especial ao Pato.

Luis Giribet: arisco ponta-esquerda com passagem destacada pelo Huracán na virada dos anos 60 para os 70, campeão com o Rosario Central em 1973 e reserva de Daniel Bertoni no Independiente campeão da Libertadores em 1974 e 1975, El Oreja também está no reduzido grupo de jogadores que marcaram gol na única partida que tiveram pela seleção – foi em derrota de 2-1 para o Uruguai em Montevidéu em amistoso em abril de 1970.

Juan Manuel Llop: um dos três jogadores que mais defendeu o Newell’s, fazia uma recordada dupla de volantes com Gerardo “Tata” Martino em todo o saudoso ciclo de 1988-92, quando os rosarinos somaram dois títulos nacionais (se igualando ao número de títulos do rival Rosario Central) e duas finais de Libertadores.

Oscar Más: segundo maior artilheiro da história do River, onde brilhou como um ponta potente e goleador tanto na fase podre sem títulos nos anos 60 (esteve na Copa de 1966) como, já veterano, no time multicampeão na metade final dos anos 70. Em tempos nos quais ir ao futebol europeu mais atrapalhava do que ajudava a manter-se na seleção, não foi mais chamado após 1972, quando rumou para um breve passo pelo Real Madrid. Já aposentado, fez o gol do inesperado título argentino na Copa Pelé de 1987, primeira edição de uma espécie de mundial de veteranos de bastante prestígio na época.

Carlos Matheu: defensor de longo período no Independiente, ainda que não seja unânime na torcida, foi o capitão do jogo decisivo do último troféu rojo, a Sul-Americana de 2010, contra o Goiás. Era sua volta ao futebol após meses recuperando-se de uma lesão no joelho contraída justamente em sua estreia de apenas dois minutos jogados pela seleção argentina, no início daquele ano.

Domenech contra Platini em Tóqui em 1985; Llop no Morumbi antes da decisão de 1992; e Más pela seleção: consagrado nela como aposentado

Osvaldo Mura: meia ofensivo dos dois primeiros títulos argentinos na Libertadores, no bi seguido do Independiente em 1964-65. Teve maior destaque na segunda conquista. Marcou um dos gols na semifinal contra o Boca e fechou o torneio com um golaço em jogada carregada desde o meio-campo para driblar até Mazurkiewicz e anotar o 4-1 na decisão com o Peñarol.

Roberto Monserrat: volante que se destacou na primeira subida do Belgrano à elite do campeonato argentino, em 1991, no San Lorenzo campeão de 1995 (encerrando o maior jejum do clube, 21 anos) e no River campeão da Supercopa em 1997, no que por muito tempo foi o último título internacional millonario. El Diablo teve ainda breve passo pela seleção na caminhada à Copa de 1998.

Antonio Sastre; Oscar Sastre: Antonio foi um dos maiores jogadores que o futebol já teve. Ao menos, um dos mais completos, com habilidade reconhecida como atacante, meia, defensor e até no gol, posição onde foi improvisado por três vezes, sem ser vazado. Três vezes campeão da Copa América e presente nos dois primeiros títulos profissionais do Independiente, também brilhou nas primeiras conquistas do São Paulo desde a refundação tricolor em 1935. O zagueiro Oscar era seu irmão caçula e também foi campeão no Independiente e na seleção, além de ser outro astro do Deportivo Cali do “Eldorado Colombiano”.

José Daniel Valencia: jogador mais presente do Talleres na história da seleção (41 vezes), era o meia-armador que começou titular na Copa de 1978. Descoberto por Menotti quando ainda estava no Gimnasia de Jujuy, foi apontado por Maradona como um dos homens que lhe “roubou” a vaga naquela Copa, ainda que perdesse lugar nos jogos finais. Valencia também esteve na Copa de 1982. Dessa vez, foi quem superou a concorrência para ficar na honrosa reserva de Dieguito.

Nelson Vivas: último jogador a defender a seleção vindo tanto do Boca (nos anos 90) como do River (em 2003), formou-se e se aposentou no Quilmes – era um dos cerveceros escalados contra o São Paulo na noite marcada no lamentável incidente entre Desábato e Grafite na Libertadores de 2005. Defensor na espinha-dorsal da seleção desde 1998, ausentando-se da Copa 2002 apenas por lesão.

Monserrat, Sastre, Valencia e Vivas

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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