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Quem já foi colega de Messi e Maradona?

Há 20 anos, o Boca reunia juntos, pela primeira vez, Maradona e Riquelme. Só Diego, mesmo em fim de carreira, poderia fazer Román usar no Boca uma estranha camisa 20. E só Riquelme em forma poderia fazer Messi usar ainda em 2008 uma camisa 18. O grande meia multicampeão pelo Boca, que com ambos compõe a trio dos melhores meias que o futebol argentino revelou nos últimos 50 anos, é também um dos cinco que puderam ser colegas dos maiores craques argentinos da era moderna.

Maradona deixou a seleção em 1994, ano das estreias na Albiceleste de futuros colegas de Lionel nela, como Juan Pablo Sorín e Javier Zanetti; porém, estes eram justamente caras novas para o ciclo pós-Copa do Mundo dos EUA, que marcou a melancólica despedida maradoniana pelo país. Ariel Ortega acompanhou Diego na Copa e faria sua última partida pela Argentina em 2010, mas depois de sete anos ausente e convocado pelo próprio Maradona, então técnico, para um jogo com ares de homenagem ao craque do River e que só contou com jogadores do campeonato argentino. Assim, Ortega jamais pôde efetivamente ser colega de Messi na seleção.

Assim, a regra (com pontual exceção) foi os colegas de Messi e Maradona, como Riquelme, acompanharem Dieguito apenas no Boca e La Pulga apenas na seleção. O primeiro a poder se gabar disso foi o goleiro Roberto Abbondanzieri. Ele chegou ao Boca em janeiro de 1997, quando seu sobrenome ainda era Abbondancieri (descobriria apenas em 2002 que a grafia correta era com Z e solicitou a alteração). O clube na época vivia a expectativa pelo retorno de Maradona, que ao fim do Clausura 1996 tirara licença para tratar-se contra as drogas. Diego voltou em 10 de julho, em amistoso contra o Newell’s no qual marcou até gol: de falta, aos cinco minutos, dentro de Rosario, gerando esperanças de uma volta triunfal. Falamos aqui.

O goleiro Abbondanzieri e Riquelme (primeiro em pé nas duas imagens) com Maradona e Messi, que ainda usava a camisa 18 quando era colega de Riquelme

El Pato era o goleiro do Boca naquela partida, mas não vinha agradando uma torcida órfã de Carlos Navarro Montoya, a ponto do próprio Maradona chegar a pedir publicamente a contratação do desafeto José Luis Chilavert para o segundo semestre. O paraguaio quis vir, mas foi segurado pelo Vélez, o que não significou caminho livre para Abbondanzieri: o clube importou o colombiano Oscar Córdoba, que logo se firmaria, sendo protagonista nas vitoriosas Libertadores de 2000 e 2001, ambas, afinal, decididas nos pênaltis.

Com muita paciência, Abbondanzieri soube aguardar sua vez. Titular na vitoriosa Libertadores de 2003, chegou à seleção como o goleiro argentino de fato em melhor fase, mesmo já veterano. Foi o dono da posição na Copa de 2006 e numa derrota de 1-0 para o Paraguai em Assunção nas eliminatórias pôde estar em campo pela primeira vez ao lado de Messi, em 3 setembro de 2005. Aquela foi a segunda vez da revelação do Barcelona pela seleção principal. Ele entrou nos últimos dez minutos de jogo, substituindo César Delgado.

Por minutos, Messi e Riquelme não atuaram juntos naquela ocasião: Román também esteve naquela partida, mas saiu faltando 19 minutos para a entrada de Andrés D’Alessandro. Àquela altura, era enfim o camisa 10 indiscutido na seleção, após ser solenemente ignorado por Marcelo Bielsa quando comia a bola no Boca bi da Libertadores em 2000-01. Estreou no time adulto do clube no fim de 1996, já após Maradona ter iniciado seu ano sabático. Foi titular no primeiro semestre de 1997, mas a volta do ídolo máximo do país colocou Román no banco, em que pese o título mundial sub-20 que a promessa conseguira pela Argentina em julho.

Kily González é o primeiro agachado na foto à esquerda

Maradona sofreu uma lesão muscular logo em sua segunda partida no retorno ao Boca, contra o Racing, ainda pelo Clausura 1997. Ficou um mês parado e assim Riquelme reassumiu a titularidade. Para então ambos serem testados juntos naquele 18 de agosto, em amistoso intertemporada (o Clausura fora finalizado no início daquele mês e o Apertura começaria na última semana) contra a Universidad Católica. Os chilenos foram insensíveis ao dia histórico e venceram por 3-2 em La Bombonera; seria empate se Sebastián Rambert não desperdiçasse um pênalti.

Maradona e Riquelme só jogaram juntos outra vez pelo Boca. Foi na primeira rodada do Apertura 1997. Dessa vez, Maradona cobrou o pênalti e marcou (Rambert virara cobrador oficial na ausência sabática do ídolo, mas havia outra razão: Dieguito ficara marcado por errar seis pênaltis seguidos no Clausura 1996, mas ainda assim fora pedido pela torcida para cobrar aquele contra a Católica; sabendo da enorme moral que tinha, preferiu tomar a responsabilidade para proteger Rambert).

O que atrapalhou dessa vez foi que Diego foi pego no antidoping e suspenso preventivamente por um mês. Fora de forma, passou a sofrer com lesões musculares. Ambos voltaram a estar na mesma partida uma outra vez, no 2-1 de virada sobre o River no Monumental. Mas não juntos: Maradona atuou no primeiro tempo e Riquelme, no segundo. Ninguém sabia, mas aquela foi a última partida da carreira de Diego, que anunciou dias depois a aposentadoria, revoltado com a divulgação da falsa notícia da morte de seu pai. Riquelme gradativamente tomou conta da camisa 10 do clube e da seleção. Jogou pela primeira vez com Messi no 2-0 em 9 de outubro de 2005 sobre o Peru, pelas eliminatórias.

Basile só não foi o único colega de ambos na seleção porque ela também contou com o assistente Rubén Díaz, o terceiro homem na foto da direita, trabalhando junto nas duas passagens

Ambos foram titulares ali (foi a primeira vez em que Lionel foi titular pela Argentina), iniciando a parceria de sucesso nas Olimpíadas de 2008 e tristemente ignorada por José Pekerman ao longo da Copa 2006. Aquela partida também foi uma das últimas do ponta Kily González pela seleção. Também titular na ocasião, ele passara pelo Boca na agridoce temporada 1995-96. Tanto no Apertura como no Clausura, o clube, recém-reforçado com Maradona, chegou às rodadas finais com chances de título, especialmente no Apertura, onde era líder invicto até a antepenúltima rodada. Mas nem em vice a equipe ficou.

O bom desempenho momentâneo no clube fez Kily estrear pela Argentina ainda em 1995 e ir ao futebol europeu ao fim do Clausura 1996. Seu primeiro jogo com Maradona foi exatamente a partida que marcou o regresso de Diego ao futebol, ao fim da suspensão de quinze meses oriunda do doping na Copa de 1994; foi em 30 de setembro de 1995, no 2-1 amistoso sobre a seleção sul-coreana em Seul.

O nome seguinte é o único técnico que teve a honra de comandar Maradona e Messi, ambos na seleção. Alfio Basile teve dois ciclos esparsos à frente de Albiceleste: primeiramente, entre 1991 e 1994, Copa do Mundo inclusa, credenciado por ter reerguido brevemente o Racing entre 1985 e 1989 (tirando da segunda divisão o time de Avellaneda e fazendo-o campeão da Supercopa 1988, única taça comemorada entre 1967 e 2001 por lá). El Coco depois reapareceu em 2006, já após a Copa, e durou até 2008, ironicamente boicotado pelo próprio Maradona, que desejava abertamente o cargo. Basile estava amparado pelos numerosos títulos em seu último trabalho vistoso, no Boca entre 2005 e 2006 (dois argentinos, uma Sul-Americana e duas Recopas). Vale menção honrosa a Rubén Díaz, fiel assistente técnico de Basile, incluindo esses dois ciclos na seleção.

Verón: como os outros da lista, também foi colega ainda de Caniggia

No Clausura 1996, Maradona foi colega não só de Kily González, mas também de uma revelação do Estudiantes: o versátil Juan Sebastián Verón, que passou somente aquele semestre no Boca. As chances de título acabaram na penúltima rodada, mas o desempenho de La Brujita o fez estrear pela seleção ainda como jogador xeneize. Assim como Kily, dali rumou à Europa. Verón logo viraria figura carimbada na seleção nos anos 90 e 2000, mas demorou a ser colega de Messi. Marcado pela péssima Copa de 2002, ele ficou ausente em todo o ciclo de José Pekerman. E demorou mais um tempinho para trabalhar com Basile.

Já mais do que trintão, Verón voltou a defender a Argentina em 28 de junho de 2007, no 4-1 sobre os EUA pela Copa América, encerrando quatro anos de ausência credenciado por liderar o Estudiantes campeão argentino após 23 anos, em dezembro de 2006. Foi titular ao lado de Messi. E ao lado de Riquelme e Abbondanzieri, por sinal. Ausente notável na Copa de 2006, foi à Copa de 2010 junto com Lionel (e o técnico Maradona).

O último foi o atacante Martín Palermo. Pedido pelo próprio Maradona para aquele Apertura 1997 após boa fase no Estudiantes, El Titán estreou já no mês de setembro. Em sua segunda partida, atuou pela primeira vez ao lado de Maradona, em um 2-1 no Newell’s em 14 de setembro, pelo Apertura – foi o dia do último gol da carreira de Diego, de pênalti. Foram colegas nas três partidas seguintes do clube (0-0 com o Vélez e 2-1 no San Lorenzo pelo Apertura; derrota de 2-1 para o Colo-Colo pela Supercopa). Na última delas, Maradona teve nova lesão muscular. Só voltou a jogar uma outra vez, naquele 2-1 sobre o River. Foi de Palermo o gol da vitória de virada. Foi seu primeiro gol no Superclásico e as manchetes foram todas para ele, pois ninguém sabia ainda que Dieguito iria parar de jogar.

Palermo: aposta de Maradona no Boca e na seleção

Sem Maradona na metade final, o Boca perdeu o título por um mísero ponto. Mas a aposta do craque em Palermo mostrou-se certeira. Martín fez um caminhão de gols no bicampeonato xeneize de 1998-99, retrospecto que o colocou naquela fatídica Copa América de 1999. Após virar piada mundial com os três pênaltis perdidos contra a Colômbia, nada demais para quem perderia um filho em 2006, foram necessários dez anos para que voltasse à seleção. Graças ao amigo Maradona, técnico que apostou naquele carismático e iluminado atacante.

A reestreia de Palermo na Albiceleste foi em 9 de setembro de 2009, substituindo Sergio Agüero na derrota de 1-0 para o Paraguai em Assunção na periclitante eliminatória para 2010. E foi exatamente aquela a data em que o veterano jogou pela primeira vez ao lado de Messi.

A teimosia de Maradona mostrou-se certeira contra o Peru, quando Martín, em chuva torrencial, fez no finalzinho, logo após o empate peruano, o gol que aproximou muito os hermanos da Copa. Com o coração prevalecendo sobre a razão, Maradona ignorou Ezequiel Lavezzi e levou Palermo à África do Sul, dando-lhe dez minutos de Copa do Mundo, contra a Grécia, com a Argentina já classificada. Tempo suficiente para ele marcar e comemorar feito menino – aproveitando justamente um rebote de chute de Messi.

Até eles são humanos e também se emocionaram como a gente com Palermo em 2010. Mais, no vídeo abaixo

Vale a menção ainda a Walter Samuel. Também foi colegas dos dois, naquela linha: de Maradona no Boca e de Messi na seleção. Mas o zagueirão, outro contratado pelo Boca para aquele Apertura 1997, jamais esteve em campo ao lado de Diego. Somou inicialmente só quatro jogos em 1997, justamente no período em que o clube não podia contar, por lesão ou aposentadoria, com a principal estrela.

Atualização em 10-11-2021 – se considerado o jogo festivo em que Maradona despediu-se da seleção em 2001, atuando pela Argentina do próprio Marcelo Bielsa, mais gente entra nessa relação: Javier Zanetti, Roberto Ayala, o próprio Walter Samuel acima referido, Juan Pablo Sorín, Julio Cruz e Pablo Aimar, todos colegas de Dieguito pela seleção naquela tarde e eventualmente de Messi também.

Vale lembrar nosso Especial sobre aquele incrível ataque do Boca de 1997, a incluir ainda Caniggia e o mexicano Luis Hernández, dentre outros

Se for considerado o jogo festivo de despedida de Maradona (à esquerda), há mais gente. Kily González (já mencionado na nota) está nas duas fotos, assim como Sorín e Ayala. A da esquerda ainda tem Julio Cruz, Zanetti e Aimar, e um cortado Verón. E a da direita também tem Abbondanzieri e Riquelme

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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