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Leonardo Ulloa, o argentino que saiu da Patagônia para ser campeão com o Leicester

O Leicester City surpreendeu o mundo do futebol e conquistou a tão sonhada Premier League 2015/2016, um feito gigante que será lembrado eternamente. Entre os atletas campeões, está Leonardo Ulloa, um argentino da Patagônia que foi uma espécie de 12° jogador nos foxers, anotando gols importantes e entrando na história da equipe após ser contratado em uma época em que o Leicester apenas pensava em acesso e luta contra o rebaixamento. Conheça mais sobre a carreira de Ulloa.

Com 29 anos, Leonardo Ulloa chegou ao ápice de sua carreira ao conquistar o épico título da Premier League com o Leicester. O atacante argentino nascido em General Roca, cidade localizada no norte da Patagônia, teve uma carreira parecida com a história da equipe inglesa, com muita luta e dedicação para chegar em um momento único de sua vida pessoal e futebolística.

Ulloa começou no futebol atuando nas categorias de base Deportivo Roca, da cidade natal e um dos principais clubes da Patagônia (jogou alguns campeonatos nacionais nos anos 70 e 80) e time de infância do jogador. Após fazer pelos laranjas os primeiros gols, foi ainda juvenil para outro dos principais clubes da região, o CAI (sigla de Comisión de Actividades Infantiles), da cidade de Comodoro Rivadavia. No profissional e entre os grandes clubes, teve sua primeira grande aparição para o futebol com a camisa do San Lorenzo, de 2005 e 2007, ano em que venceu o Clausura.

O atacante, porém, anotando apenas três gols em 31 jogos na equipe do Papa. Eis sua ficha no Diccionario Azulgrana, publicado por ocasião do centenário sanlorencista, em 2008: “Outro dos juvenis que se incorporaram da Comisión de Actividades Infantiles, de [província de] Chubut. Espigado e voluntarioso, exibiu mais sacrifício que capacidade goleadora. Jogou apenas duas partidas no título do Clausura 2007”. Sem sucesso, foi para o Arsenal de Sarandí (até esteve no elenco campeão da Sul-Americana, mas ainda assim na reserva) e depois Olimpo de Bahía Blanca (saiu expulso e vaiado quando o clube foi rebaixado, em 2008…), aonde também não conseguiu fazer muitos gols, tendo que tentar decolar a carreira em nanicos da Europa.

No velho continente, mais precisamente na Espanha, o atacante enfim encontrou o caminho dos gols e fez sucesso na equipe do Castellón, marcando 31 gols em 78 jogos, sendo um dos destaques da campanha da equipe na Liga Adelante, a segundona espanhola. Ulloa chamou a atenção do Almería, que o contratou em 2010 e não se decepcionou. Foram 39 gols nos rojiblancos, em 90 jogos disputados com a camisa da equipe em La Liga.

Com a camisa do San Lorenzo, Ulloa teve uma passagem tímida, anotando apenas três gols.
Com a camisa do San Lorenzo, Ulloa teve uma passagem tímida, anotando apenas três gols.

Nesse momento, já dava para afirmar que Ulloa tinha qualidade e poderia ser observado com bons olhos por outras equipes da Europa. Foi aí que apareceu a Inglaterra na vida de Leonardo, mas primeiro ele se aventurou com a camisa do Brighton & Hove Albion, se destacando na Championship, onde marcaria gols importantes: foram 23 na temporada 2013-2014, chamando atenção assim do Leicester, onde tudo mudaria em sua carreira.

O argentino custou cerca de £ 7,6 milhões ao Leicester, um valor alto para o orçamento da equipe em julho de 2014, mas uma contratação de extrema importância para a disputa dos foxers no retorno a Premier League. Leonardo, como é chamado pela torcida, teve papel fundamental na permanência do Leicester na primeira divisão, já que a equipe escapou do rebaixamento após flertar com as últimas posições durante toda a temporada 2014-2015. E pensar que o elenco contava com Esteban Cambiasso…

No Deportivo Roca, da Patagônia

No começo dessa atual temporada, nem o mais otimista torcedor do Leicester imaginava o desfecho com o épico título. Durante a campanha, Ulloa foi considerado o 12° jogador de Claudio Ranieri, entrando sempre durante as partidas e sendo o principal substituto do artilheiro Jamie Vardy.

Em 27 jogos, fez seis gols, bons números para quem quase sempre saiu do banco. Especialmente diante dos minutos somados: foram 937 minutos até aqui, equivalentes a dez jogos inteiros com poucos minutos de acréscimo em cada. Aí a média a princípio baixa subiria para mais de meio gol por jogo.

Ulloa foi chave na reta final: quatro dos seus gols vieram nas últimas dez partidas, nas quais acumulou 322 minutos (ou cerca de três jogos e meio, equivalendo a média superior a um gol por jogo). Os mais lembrados, os dois nos 4-0 sobre o Swansea City (vídeo abaixo) na 35ª rodada, quando foi titular em substituição ao suspenso Vardy, jogo que permitiu aos foxes colocarem uma mão na taça: bastava mais uma vitória nas três rodadas que faltavam para o time ser campeão. Na rodada seguinte, o Leicester só empatou com o Manchester United, mas o título se garantiu com o Tottenham Hotspur permitindo o empate do Chelsea.

Os outros dois gols da reta final não foram menos importantes. Leonardo marcou dois gols talismãs no fim de duas partidas. Contra o Norwich City, na 27ª rodada, foi oportunista ao aproveitar aos 44 minutos do segundo tempo uma sobra para o gol vazio e decretar um suado 1-0.

Aquele gol foi importantíssimo como efeito psicológico, pois o Leicester abriu quatro pontos de vantagem para os perseguidores Arsenal e Tottenham, que ainda jogariam, entre si, na rodada – ou seja, renovou a liderança independentemente dos resultados alheios. A torcida compreendeu bem e a comemoração foi tão intensa que foi registrada como terremoto. Falamos aqui. Para melhorar, os concorrentes empatariam o clássico que travaram. Assim, nenhum encostou no líder.

O outro gol, por sua vez, foi no empate em 2-2 com o forte West Ham dessa temporada, já na 34ª rodada. Os Hammers, na briga por vaga na Liga dos Campeões, haviam virado a partida em pleno estádio King Power e Vardy havia sido expulso. Ulloa entrou na última meia hora e teve toda a frieza necessária para converter um pênalti aos 50 minutos do segundo tempo, diminuindo o prejuízo e renovando a moral dos foxes, confirmando até mesmo uma certa idolatria da torcida que canta uma música para o argentino (Veja aqui, na matéria da ESPN Brasil). O resultado dessa vez pôs o Leicester com oito pontos provisórios de vantagem sobre o Tottenham, que ainda jogaria.

Os outros gols vieram em dois 3-0, contra Stoke City e Newcastle United, também marcante: foi fora de casa e na rodada que pôs os azarões pela primeira vez na liderança, a 13ª. Agora, Ulloa vive o seu melhor momento, com o maior título de sua carreira e deu seu clube, prestes a disputar uma Champions League e viver uma temporada 2016-2017 que jamais imaginava. Talvez até mesmo com uma oportunidade pela Seleção Argentina, para voltar, assim, a gritar um gol em seu país e representar a Patagônia. Para continuar a fazer história no futebol. Parabéns, Leonardo Ulloa! 

*Com contribuição de Caio Brandão, que já escreveu sobre quando o Tottenham foi campeão deixando o Leicester para trás, em circunstâncias dramáticas: com a torcida gritando “Argentina” para apoiar o ídolo Ardiles em plena Guerra das Malvinas – saiba mais.

Victor Limeira

Jornalista formado pela faculdade paulista FIAM/FAAM. Acompanha não só o futebol argentino como as ligas menores da Europa. Começou a escrever para o Futebol Portenho em agosto de 2010 principalmente por ter uma paixão do futebol que reúne alma, raça e um belo toque de maestria

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