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Elementos em comum entre Atlético Mineiro e Racing

Torcida fanática em meio a sofrimento por rebaixamento em meio a um jejum terrível. A semelhança é impressionante nesse ponto entre estes dois listrados. A diferença é que a Libertadores de 2013 segue fresca na mente atleticana, enquanto a memória racinguista ainda precisa aguentar que, dos clubes já campeões do torneio, é justamente La Academia quem há mais tempo está em seca – espera que completaria meio século no ano que vem. Vamos elencar outros elementos em comum, a começar pelo início, com o perdão da redundância: ambos foram fundados na data de 25 de março.

Agora vamos ao fim: em 2014, ambos foram campeões nacionais. O Racing voltou a vencer o campeonato argentino após 13 anos. Já o Atlético faturou a Copa do Brasil com o gosto de vencê-la sobre o arquirrival. Desconsiderando-se a segundona de 2006, foi o primeiro título nacional do Galo desde o Brasileirão de 1971.

A espera atleticana para enfim faturar também o campeonato brasileiro chega aos 45 anos em 2016. O Racing sofreu “apenas” dez anos a menos, entre 1966 e 2001 (detalhamos aqui). Nesse período, os argentinos foram rebaixados em 1983 e os mineiros, em 2005. As torcidas também não fazem questão de lembrar que os rivais ainda têm mais glórias internacionais.

Os títulos estaduais atleticanos que ocorreram enquanto o Racing era campeão argentino se deram em 1949, 1950 e 1958. Em 1988, os alvinegros foram campeões mineiros enquanto os alvicelestes, com o veterano Ubaldo Fillol, faturavam a Supercopa Libertadores – justamente sobre o Cruzeiro, aliás (saiba mais). Além disso, ao menos três jogadores passaram pelos oponentes de hoje: os defensores Carlos Galván e Diego Capria e o atacante colombiano Wason Rentería. O destaque comum foi El Negro Galván, que compensava a falta de maior técnica com muita raça e disposição.

Galván integrou os agridoces anos 90 do Racing, com boas campanhas mescladas à falta de títulos, escapados nos detalhes. Ficou de 1992 a 1998 em Avellaneda. Nesse período, o time foi vice da Supercopa 1992 (no troco cruzeirense), perdeu por um mísero ponto o Apertura 1993 e foi vice no Apertura 1995 atrapalhado pelo rival Independiente – na última rodada, o Rojo foi goleado pelo Vélez, concorrente racinguista à taça na campanha lembrada pelo 6-4 alviceleste sobre o então líder invicto Boca de Maradona e Caniggia em plena Bombonera na antepenúltima rodada. Aliás, foi naquele dia que o atual presidente argentino Mauricio Macri elegeu-se presidente do Boca: falamos aqui.

Capria Renteria
Capria e Rentería, bondes no Racing. No Atlético, o argentino, mesmo zagueiro, fez mais gols que o atacante colombiano

O armador Rubén Capria teve sua tarde de glória naqueles 6-4, quando marcou três vezes. Em meio ao jejum, virou ídolo, ofuscando Diego Capria, seu irmão caçula. O Capria mais novo vinha tendo uma carreira errática: produto do Estudiantes rebaixado em 1994 (como Rubén), havia vencido a segundona de 1996 pelo Huracán Corrientes. O sucesso de Rubén levou Diego ao Racing em 1997. Não se firmou como titular na campanha racinguista da Libertadores, outro trauma: a Academia chegou às semifinais e venceu na ida o Sporting Cristal por 3-2, mas levou de 4-1 em Lima: saiba mais.

Galván era um dos zagueiros titulares daquela campanha, que passou por River (detentor do título) e o Peñarol, camisas pesadas que, eliminadas, alimentaram a esperança racinguista por um título diante da pouca força dos peruanos – que decidiriam o torneio contra o Cruzeiro, por sinal. El Negro (apelido comum a argentina aos de pele escura mesmo que seja por origem indígena e não africana; saiba mais) viria a Belo Horizonte, mas para jogar no Atlético, em 1998. Foi titular dos vices do Brasileirão de 1999, sendo considerado um dos dez melhores zagueiros do campeonato pela Placar, em campanha marcada por eliminar o Cruzeiro nos mata-matas. Em 2000, Galván foi jogar no Santos e no Brasil defenderia também o Paysandu, em 2004.

Capria com Palermo, ex-colega de Estudiantes
Capria com Palermo, ex-colega de Estudiantes

Capria, por sua vez, já estava no Chacarita quando foi importado pelo Atlético, em 2000. Foi alvinegro só por cinco semanas, entre outubro e novembro de 2000, jogando dez vezes. Mas marcou 3 gols, ótimos números para um zagueiro. O mais lembrado, cobrando potente falta, foi nas quartas-de-final da Copa Mercosul, colocando um 2-0 a 9 minutos do fim sobre o Boca no Mineirão. Na volta, os mineiros arrancaram um 2-2 na Bombonera, conseguindo ser o único time brasileiro a eliminar os xeneizes naqueles tempos em que os comandados de Carlos Bianchi encarnavam o auge de seus momentos como carrascos de brasileiros (Palmeiras, Vasco, Paysandu e Santos sentiram bem).

Já não-classificado para os mata-matas do Brasileirão, o Atlético acabou eliminado pelo Palmeiras nas semifinais daquela Mercosul, e Capria deixou o clube. Venceria a edição seguinte do torneio, pelo time do coração, o San Lorenzo – foi dele o último gol de pênalti na decisão sobre o Flamengo.

Rentería, por sua vez, já era conhecido no Brasil antes de chegar a Minas; havia sido um folclore no Internacional entre 2005 e 2006 e vendido ao Porto, onde nunca se firmou; foi sucessivamente emprestado e numa dessas veio ao Galo em 2009. Foi um fiasco: marcou só um gol em dezesseis jogos e a paciência se esgotou de vez com o atraso de sua reapresentação no início de 2010. No Racing, foi um obscuro campeão em 2014. Fora anunciado no início do ano, lesionou-se e na campanha vitoriosa no Torneio Transición só jogou oito minutos, substituindo Diego Milito contra o Olimpo, e relacionado em apenas outros dois jogos. Foi dispensado no início de 2015.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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