Primeira Divisão

Ferve o interior! Santa Fe tem clássico histórico e líderes são de Mendoza e Tucumán

Se o campeonato inglês vem eletrizando com cinco pontos separando o líder do vice, o torneio de Transição 2016 no campeonato argentino chega à metade com a mesma diferença demarcando a distância do líder ao oitavo em ambos os grupos. No grupo A, o líder provisoriamente isolado é o Godoy Cruz, três pontos à frente de outro interiorano: o Rosario Central, que, com um jogo a menos, receberá nesta segunda-feira o Sarmiento. No grupo B, a liderança também está fora da capital: Estudiantes, Lanús e a surpresa Atlético de Tucumán dividem a ponta. Em outro canto do país, Santa Fe vivenceu um dérbi histórico, com a maior goleada do Unión sobre o Colón pelo campeonato argentino em qualquer divisão – e fora de casa!

Santiago García fez o único gol da vitória do Godoy Cruz sobre o Olimpo. A equipe de Mendoza revive seu auge, desfrutado há cerca de meia década sob o comando técnico de Omar Asad. Dessa vez, o treinador é outro ídolo do Vélez, o ex-zagueiro Sebastián Méndez. Além do Rosario Central, que se divide entre a Libertadores e o campeonato local, o Independiente também está no páreo. O Rojo bateu por 2-1 o Patronato e segue três pontos atrás do Godoy Cruz e provisoriamente empatado com o Central.

Quem poderia estar mais perto era o Arsenal, que se vencesse em casa ficaria um ponto atrás do líder mendocino. Mas os rubroazuis perderam em Sarandí para o Gimnasia LP, que mostrou recuperação após a surra no clássico com o Estudiantes domingo passado, um 3-0 sem alma por parte dos alviazuis que custou o emprego do ídolo Pedro Troglio, que estava há cinco anos como técnico gimnasista. O gol foi do reserva Lorenzo Faravelli para os comandados do interino Andrés Yllana, golaço em toque sutil mas forte de fora da área que encobriu o goleiro. O resultado fez o Gimnasia seguir sonhando: o Lobo está a quatro pontos do Godoy Cruz e empatado com o próprio Arsenal.

No grupo B, todos os líderes venceram. No reencontro com os gêmeos Barros Schelotto, seus ex-comandados do Lanús, agora sob Jorge Almirón, garantiram em casa um 2-0 com o ex-boquense Lautaro Acosta e o velho ídolo José Sand. O Estudiantes, que impusera com folga a freguesia sobre o Gimnasia, teve mais trabalho diante do Defensa y Justicia. Em um “jogo de seis pontos”, os alvirrubros garantiram o 2-1 em La Plata sobre os surpreendentes auriverdes, que seriam os co-líderes se ganhassem. Foi de virada e a vitória veio em pixotada da zaga visitante, em recuo fraco de bola ao goleiro que Augusto Solari aproveitou para dribla-lo e completar.

A surpresa do grupo B veste o alviceleste do Atlético Tucumán. Recém-ascendido, o Decano sovou em Buenos Aires o Argentinos Jrs, de campanha ridícula: o Bicho tem só 2 pontos em sete partidas. Rodrigo Aliendro, Cristian Menéndez e o reserva Juan Govea anotaram o 3-0 para os comandados de Juan Azconzábal. Três pontos atrás de tucumanos, platenses e lanusenses segue outro trio empatado: o Defensa y Justicia, o San Martín de San Juan (que empatou em 2-2 fora com o Aldosivi, de Mar del Plata) e o Huracán, que aplicou um 4-2 no Temperley.

O grande destaque, porém, foi o clásico santafesino. Não chega a ter internacionalmente o glamour de outros dos principais dérbis do futebol argentino. Gustavo Barros Schelotto, que já defendeu o Unión, relatou que Santa Fe é uma cidade pequena como sua La Plata natal, e que assim ambas “dependem do clássico local. Não se destaca-os tanto jornalisticamente a nível nacional, mas são de muita importância, e a cidade os vive de uma maneira muito particular e para o jogador são algo muito forte”.

Talvez por isso é que o grande craque do lado derrotado esteja pedindo para sair. É o ex-gremista Alan Ruiz, que anunciou que sente ter cumprido seu ciclo em Santa Fe, não escondendo seu desejo de voltar ao Grêmio. O detalhe é que na rodada anterior ele simplesmente havia marcado três gols em uma festa rubronegra no Cemitério de Elefantes, um 4-1 no River. Dessa vez, a vítima do estádio foi seu próprio dono. O Colón não vence o rival desde 2012, mas certamente não esperava por uma tarde daquelas, especialmente com a goleada tão recente sobre o campeão da América.

O Cemitério de Elefantes vira em 2000 a maior goleada oficial do clássico, considerando-se só jogos pelo campeonato argentino, um 4-0 para o Sabalero, finalizando um ciclo mágico que rendera um vice-campeonato (1997) e uma honrosa participação na Libertadores (1998). Tardou, mas o troco veio. Se não repetiu o número, o Unión pode gabar-se de ter construído sua maior vitória em pleno terreno inimigo. De quebra, o Tatengue, que faz campanha mediana, sendo só o 9º do grupo B, brecou a pretensão rubronegra: se o Colón vencesse, seria o segundo do grupo A, mas dormirá em 8º.

O lateral Emanuel Brítez, em cabeceio certeiro em escanteio já nos acréscimos do primeiro tempo; o atacante Franco Soldano, emendando de primeira pelo meio uma bola cruzada rasteira pela esquerda, aos 5 minutos do segundo; e o volante Ignacio Malcorra, de pênalti, aos 23 do segundo, marcaram os gols para o time do técnico Leonardo Madelón, ele mesmo um personagem de história no clássico – fez o gol do dérbi que valia vaga direta na elite, em 1989. Para completar, a goleada serviu para o Unión ultrapassar o Colón em vitórias oficiais. Agora são 27 triunfos alvirrubros contra 26 derrotas em um clássico cujo grande charme é um rigoroso equilíbrio entre os rivais: saiba mais clicando aqui.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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