Eleições na AFA: muita confusão e nenhuma definição
Após 35 anos em que Julio Grondona controlou o futebol argentino com rédea curta, finalmente teríamos ontem a eleição de um novo presidente. As duas candidaturas tinham características bem marcadas. De um lado Luís Segura, que assumiu provisoriamente a AFA após a morte do Chefão. Cartola do Argentinos Jrs., representava a continuidade do grondonismo no poder, contando com a união dos aliados do falecido presidente para se manter no comando. De outro, Marcelo Tinelli, vice presidente do San Lorenzo, apresentador de TV, empresário milionário, defensor de um modelo mais empresarial e ligado ao presidente eleito Mauricio Macri.
Após semanas de campanha se esperava uma eleição tão disputada quanto a que tivemos semanas atrás para a presidência do país. E quando se contaram os votos a expectativa se confirmou: o resultado foi um empate, com 38 votos para cada candidato. Mas embora o regulamento fosse claro quanto à necessidade de uma segunda votação instalou-se a total confusão por um motivo muito simples. Se eram 75 eleitores, como a somatória dos votos atribuídos a ambos os candidatos poderia alcançar 76?
Se num primeiro momento houve muitas suspeitas de fraude, logo ficou claro que se tratou de erro humano. O sistema de votação é complicado, com cada eleitor escolhendo uma cédula atribuindo voto a um candidato (ao contrário do sistema mais simples em que há os nomes dos candidatos em uma cédula e se marca um “x” ao lado do candidato preferido). As cédulas eram finas, grudavam umas nas outras e em vários casos a comissão de apuração (que continha inclusive membros das duas campanhas) identificou casos de duas cédulas grudadas para o mesmo candidato. Nesses casos se descartava uma e se validava a outra. Certamente em algum momento houve um caso de cédulas coladas que passou desapercebido por todos, causando o resultado adulterado.
Após muita confusão, o presidente do Boca Juniors, Daniel Angelici, propôs que a segunda votação, prevista em regulamento, fosse aberta, com cada eleitor declarando publicamente seu candidato favorito, para evitar a repetição do problema. Mas a proposta sequer foi considerada, já que se constatou que dois votantes já haviam ido embora: o presidente do Crucero del Norte teve de abandonar a sala de votação para não perder seu avião para Misiones e o do Excursionistas voltou para casa as pressas após ser informado que haviam aparecido pichações ameaçadoras nos muros de sua residência.
A segunda votação ficou para ser realizada em data posterior, ainda não definida. Houve rumores de que Mauricio Macri interveio com vários telefonemas para cartolas aliados, propondo um nome de consenso, que seria Armando Pérez, do Belgrano, secundado por Daniel Angelici, que tenta nos próximos dias a reeleição no Boca Juniors. A ideia seria desatar o nó da polarização e ao mesmo tempo premiar a província de Córdoba, essencial no segundo turno que elegeu o novo presidente do país.
Luis Segura num primeiro momento se mostrou aberto a uma chapa de consenso, o que causou estranhamento, já que negou fortemente a possibilidade durante toda a campanha. Mas Marcelo Tinelli se manteve numa postura discreta, ainda que alguns de seus aliados tenham rejeitado a ideia. Mas vale notar que Daniel Angelici, eleitor de Segura, mas muito ligado a Maurício Macri, patrocinou a ideia de uma terceira candidatura. Segundo o mandatário xeneize, nenhum dos dois poderá comandar um futebol argentino rachado ao meio. Assim, segue o clima de total indefinição, mas as articulações para a definição de um nome de consenso parecem ter terreno fértil para progredir.