85 anos do vice na primeira Copa do Mundo, em 1930
Por quase meio século, aquela fervura no Rio da Prata foi a única final de Copa alcançada pela Argentina, pendência enorme para a seleção que historicamente dominava a Copa América – quando nova decisão, desta vez com título, enfim veio, muitos dos primeiros finalistas já não puderam presenciar: Juan Evaristo falecera um mês antes da Copa de 1978, o goleiro Juan Bottaso ainda em 1950, o artilheiro Guillermo Stábile em 1966. A primeira final completou ontem 85 anos. Hora de lembrar a campanha.
Embora Plutão estivesse em súbita voga (se em 2015 foi pela sonda que gerou fotos de resolução inédita, na época era porque o planeta-anão acabara de ser descoberto) e cartolas já atrapalhassem a seleção, influenciando na escalação de jogadores sem condições, 1930 era inegavelmente um tempo bem diferente: o golpismo era ainda mais escancarado (o presidente Yirigoyen seria derrubado dali a dois meses, começando na Argentina a “década infame”) e o detentor do título era o Gimnasia LP, que simplesmente não venceu o certame desde então e acostumou-se a ser um clube azarado: saiba mais.
De outros clubes presentes na convocação, alguns sumiram ou mesmo se extinguiram com o tempo: no ano seguinte, dezoito clubes romperam com a associação amadora para fundar uma liga profissional. Quem não esteve com eles tendeu a fechar as portas, casos do Sportivo Palermo e do Sportivo Buenos Aires; ou desativar o futebol competitivo, como o Estudiantil Porteño, campeão amador em 1931 e 1934; ou então decair profundamente (Argentino de Quilmes). Com uma única exceção, as convocações concentraram-se em equipes da grande Buenos Aires e La Plata, embora clubes rosarinos já tivessem espaço na seleção há mais de vinte anos. Quem atuasse fora do país não era chamado e assim Raimundo Orsi, da Juventus, e Julio Libonatti, artilheiro e campeão no Torino (!), não tiveram chance.
Mesmo assim, é notável as ausências de River e Independiente. O River tinha só um título, em 1920, e só ganharia força nos anos seguintes. E foi com a compra de alguns finalistas de 85 anos atrás que recebeu o apelido de Los Millonarios, embora a grande figura dessa ascensão tenha ficado de fora: Bernabé Ferreyra, que fez incríveis 195 gols em 193 jogos pelo Millo, que o contratou em 1932 por um recorde mundial junto ao Tigre, onde já se destacava – ele estreou pela seleção a um mês da Copa, indo muito mal, sem contar a ninguém que havia doado sangue naquele dia para uma irmã doente. Outras ausências sentidas foram a de clubes rosarinos, bastante assíduos nas convocações entre os anos 10 e 20. Uma greve local acarretou no afastamento de possíveis convocados, em especial o goleiro Octavio Díaz (que havia ido às Olimpíadas de 1928) e o centromédio Cataldo Spitale. Assim, abriram espaço a Juan Bottaso e ao veterano Luis Monti.
Boa parte dos jogadores teve a oportunidade da revanche, com muitos remanescente da prata olímpica em 1928: veja aqui. De outras figuras olímpicas que se ausentaram, destaque ao ponta Raimundo Orsi (que por sinal era do Independiente) e ao artilheiro daqueles Jogos, Domingos Tarasconi, do Boca, que se lesionara gravemente e entrou em declínio, sendo campeão da Copa América de 1929 sem atuar em nenhuma partida. Já Orsi permanecera na Europa após os Jogos, acertando com a Juventus, participando ativamente do período em que a equipe de Turim começou a tornar-se o maior clube da Itália (veja). Ele venceria a Copa de 1934 pela Squadra Azzurra, marcando na final: saiba mais.
A própria Juve buscou alguns argentinos de 1930 também. Não conseguiu o artilheiro Guillermo Stábile, que preferiu o Genoa, mas fechou com Luis Monti, outro campeão pela Itália em 1934. Ele é o único que jogou duas finais por países diferentes, mas o recorde jamais lhe orgulhou: a pressão fascista manchou a taça, enquanto no vice ele atuou muito mal, nervoso com ameaças de morte. A princípio sequer queria jogar, sendo convencido em cima da hora após o desembarque de Pedro Bidegain, presidente do San Lorenzo (é quem batiza o Nuevo Gasómetro), onde Monti jogava.
Monti, por sinal, foi quem marcou o primeiro gol argentino das Copas, em um petardo de falta sofrida por Mario Evaristo a dez minutos do fim contra a França no estádio do Nacional. Foi só 1-0, mas sem refletir o que foi a partida, na qual a grande figura foi justamente as constantes defesas do goleiro francês Alexis Thépot: “até os postes e o travessão jogaram para ele!”, exclamaria Francisco Varallo, último sobrevivente da final e quem deveria ter cobrado a falta. Mas, após perder tantas chances para Thépot, insistiu que Monti chutasse. O jogo foi encerrado antes dos 90 minutos pelo árbitro brasileiro, que, avisado do erro, ordenou a retomada quando alguns jogadores já haviam se trocado! Houve invasão de campo que amedrontou o atacante Roberto Cherro – seu lugar passaria a ser de Stábile.
Na segunda partida (a partir dela a Albiceleste só atuou no Centenário), um 6-3 no México. Os argentinos abriram 3-0 com 17 minutos de jogo, mas a 15 minutos do fim o que se ensaiara goleada estava em um perigoso 5-3. Toda a linha média daquela ocasião (Chividini, Zumelzú, autor de dois gols, e Orlandini) ficou de fora da final. A vaga na semifinal foi garantida com um 3-1 que começou movimentado contra o Chile, com Stábile marcando aos 12 e aos 13 e com o oponente diminuindo aos 15. Mario Evaristo matou a partida aos 16 do segundo tempo. Só que Varallo foi lesionado ali e foi desfalque na semifinal.
Os EUA, adversários da semi recheados de antigos profissionais ingleses em um certame cheio de amadores, provocaram que goleariam, pautando-se na dificuldade argentina contra o México. Mas os massacrados foram os ianques, que só fizeram aos 44 do segundo tempo o gol de honra (aplaudido pela torcida argentina) nos 6-1. Tendo de manobrar uma rivalidade tremenda (a ponto de aos argentinos ser concedido o benefício de jogarem o primeiro tempo com uma bola própria), o árbitro belga Jean Langenus, que já conhecia a tensão platina pois apitara a final olímpica de 1928, exigiu seguro de vida e passagens de volta marcadas para pouco após o fim da partida.
Dorado meteu entre as pernas de Bottaso para abrir o placar, uma bomba de Peucelle empatou e um arremate polêmico de Stábile (que segundo os uruguaios recebeu em impedimento um passe de Varallo) que ainda bateu na trave antes de entrar virou a partida em uma primeira etapa rotulada de medíocre pela própria imprensa argentina. Para piorar, o goleiro Bottaso foi lesionado em dividida com Héctor Castro. Sentindo o golpe, não se esticou para defender a bola empurrada com um carrinho de Cea no empate nem o chute de longa distância em que Santos Iriarte desempatou.
Só deu Argentina depois. Peucelle, Juan Evaristo e Stábile buscaram nova igualdade e Varallo, apesar de fracas condições físicas (treinaram-no num galinheiro na final, correndo e chutando contra uma parede; querendo jogar, se disse apto embora estivesse cheio de dor e ao fim do primeiro tempo já não conseguia produzir bem), acertou o travessão. O título charrua se garantiu no penúltimo minuto, com Héctor Castro ganhando a disputa aérea com Della Torre para cabecear certeiro sobre a meta de Bottaso.
Eis os onze jogadores argentinos da final:
Juan Bottaso: apelidado de Cortina Metálica (bancava a alcunha com o hábito de agachar uma persiana imaginária), era o goleiro reserva mas atuou na semi e na decisão. Jogou só uma outra vez pela seleção, um 1-1 amistoso com o Uruguai em Montevidéu em 1929. Foi o último jogador do Argentino de Quilmes na seleção – fundado em 1899, trata-se do primeiro clube “nativo” em meio à colônia britânica que dominava o futebol nacional, daí o nome. O time não se juntou ao profissionalismo e hoje padece na quinta divisão, sendo o único clube nela que já esteve na elite: confira. Já Bottaso profissionalizou-se logo, indo em 1931 passar quatro anos de destaque no Racing antes de voltar ao Argentino.
José Della Torre: forte e aguerrido, deveria ter ido às Olimpíadas, mas foi dispensado na véspera. Deu a forra no mundial: suas únicas cinco partidas pela Argentina foram durante o torneio. Revelado no San Isidro (que passou a focar-se no rúgbi, sendo o maior campeão portenho neste esporte), Pechito jogava no Racing e foi um dos diversos reforços que o America-RJ trouxe sem sucesso em 1934, tempos do chamado Platinismo no Brasil. Como técnico, venceu a Copa América de 1959, última edição que a Argentina venceu até o bi de 1991-93. Também treinou o Racing campeão de 1958.
Fernando Paternoster: El Marqués, apelidado assim pelo jogo limpo (costumava anular os rivais prensando-lhes espaço contra a linhas de fundo), era a dupla de Della Torre na zaga do Racing após chegar do Atlanta em 1926. Já havia sido titular nas Olimpíadas de 1928. Convenientemente alto, teve a carreira interrompida por uma fratura em 1933. Coube a ele a marca pouco honrosa de perder o primeiro pênalti a favor da Argentina nas Copas, contra o México. Foram 16 jogos pela seleção com apenas 3 derrotas, duas delas justamente nas finais olímpica e mundial contra os uruguaios. O pequeno troco veio na Copa América de 1929, vencida sobre os rivais. Como técnico, foi um dos argentinos precursores do Eldorado Colombiano e também promoveu o futebol equatoriano.
Juan Evaristo: lateral-direito indiscutido na seleção nos anos 20, jogava pela Argentina desde 1922. Era do extinto Sportivo Palermo e integrara seguidas decisões, vencendo as Copas Américas de 1927 e 1929 mas perdendo as Olimpíadas e o mundial. Era irmão mais velho de Mario Evaristo e ambos ainda são os únicos irmãos que atuaram juntos pela Argentina em Copas – os Milito foram separados. Além dos Evaristo, de irmãos só os holandeses René e Willy van de Kerkhof também jogaram juntos uma final de Copa. No profissionalismo, adotou brevemente o Boca, onde reencontrou o irmão.
Luis Monti: parrudo (seu apelido era Doble Ancho) e de personalidade, impunha respeito como volante central e foi uma das figuras mais marcantes do futebol argentino dos anos 20. Conseguiu integrar os primeiros títulos dos rivais Huracán e San Lorenzo, onde ficou mais tempo, ganhando outras duas vezes a liga e passando vinte meses invicto. Havia sido o capitão nas Olimpíadas e foi jurado de morte na Copa, o que afetou até sua vontade de jogar. Apesar da final apagada, foi contratado em seguida pela Juventus e integrou o primeiro penta italiano seguido. Acabou campeão pela Itália na Copa de 1934. Pela Argentina, foram 16 jogos, perdendo apenas dois, exatamente as duas finais contra o Uruguai.
Pedro Suárez: único nascido nas Canárias a jogar uma Copa no século XX, tinha como grande virtude a garra e entrega tão apreciadas no Boca, aonde chegara do Ferro Carril Oeste justamente em 1930 para ser ídolo por doze anos, sendo rotulado de perro de presa (“cão de caça”). Mas sabia também manejar e distribuir bem a bola. Mais conhecido pelo codinome Arico, após o mundial só voltou em 1939 a defender a Argentina. A raça não o impedia este lateral-esquerdo de ser cavalheiro, errando propositalmente um pênalti mal marcado contra o Brasil na Copa Roca de 1940 – imaginam isso hoje?
Carlos Peucelle: um dos atacantes argentinos mais destacados de sua época. Rápido, de boa técnica, inteligente e que sabia jogar em equipe, foi longevo na seleção. Com passagens prévias por Boca, San Telmo e Sportivo Barracas, atuava no extinto Sportivo Buenos Aires e foi sua contratação pelo ascendente River Plate em 1931 (fez o primeiro gol do primeiro clássico profissional com o Boca) que rendeu ao clube o apelido de Millonarios. Chegou a marcar três gols em uma só partida contra o Brasil, já em 1940. Primeiro reserva a marcar gol pela seleção, em 1934, foi sob sua orientação ainda como jogador e depois técnico juvenil que o River montou La Máquina, a célebre equipe dos anos 40. Ele integrou o protótipo daquele elenco, antes da vaga ficar em definitivo com Juan Carlos Muñoz. Acabamos elegendo-o neste ano o técnico do time dos sonhos do River: saiba mais.
Francisco Varallo: Pancho compensava com velocidade e arremate forte (sendo apelidado também de Cañoncito) a falta de técnica. Era do Gimnasia LP, integrando no início de 1930 o único título do Lobo na elite, válido ainda pelo torneio de 1929. Estreou pela seleção a um mês da Copa, nos 1-1 com o Uruguai que abrem a matéria, marcando gol. Para a fúria gimnasista (perdeu amizades de anos e sua casa foi apedrejada), profissionalizou-se no Boca, onde foi um dos maiores ídolos: mesmo não sendo centroavante, teve média de 0,87 gol por jogo e era o segundo maior artilheiro geral, atrás de Roberto Cherro, e o maior artilheiro profissional, até Martín Palermo superá-los já no século XXI. O colocamos neste ano no time dos sonhos do Boca: veja aqui. Varallo fez o gol da primeira vitória da Argentina sobre o Uruguai no Centenário, em 1934. Lesões no joelho obrigaram-no a parar cedo. Último sobrevivente da final, ele faleceu lúcido aos cem anos, em 2010.
Guillermo Stábile: o artilheiro era reserva! Stábile entrou a partir da segunda partida no buraco deixado pelo mencionado Cherro. El Filtrador abusava da velocidade (tinha medalhas nos 100 metros rasos) e já se destacava na década de ouro do Huracán (clube que venceu nos anos 20 quatro dos seus cinco títulos). Mas atuou apenas durante a Copa, pois em seguida profissionalizou-se na Itália. Escolheu o Genoa em vez da Juventus. Na época parecia mais certo, pois era o Genoa era o maior campeão. Fraturou-se e não se recuperou, enquanto a Juve largava para ser o maior clube do país… Stábile, com os 8 gols na Copa, tem média de dois por partida na seleção, a mais alta no geral. E só Gabriel Batistuta marcou mais vezes que ele pela Albiceleste em Copas. Posteriormente, foi o técnico mais longevo e vitorioso da seleção, empilhando Copas América no final dos anos 30 ao final dos 50: mostramos aqui.
Manuel Ferreira: um dos Profesores, ataque poderosíssimo do Estudiantes de 1931 (saiba mais), seu filho foi um dos arquitetos do Estádio Único de La Plata. Elegante armador de jogo, também fazia seus gols. Atuava desde 1927 pela seleção, sendo outro do vice olímpico que dera o troco nos uruguaios na Copa América de 1929 mas novamente deles perdeu em 1930. Foi o capitão no mundial, mas ausentou-se contra o México: precisava fazer uma prova da faculdade e voltou momentaneamente a Buenos Aires, contando mais tarde que os professores, empolgados com a Copa, facilitaram o exame.
Mario Evaristo: seu nome na realidade era Marino. Veloz ponta-esquerda, era apelidado de El Galgo. Irmão caçula de Juan Evaristo, fora seu colega no Sportivo Palermo e no Boca, onde já estava na época da Copa. Jogaram nove vezes juntos pela Argentina e a única derrota que viveram foi justo “aquela”, que também marcou a saída deles da seleção. Desentendeu-se com dirigentes do Boca e em 1932 seguiu carreira no Sportivo Barracas na liga amadora, depois indo ao Genoa e ao futebol francês.
Abaixo, os demais jogadores da delegação hermana:
Ángel Bossio: La Maravilla Elástica, tinha grandes condições físicas e reflexos para movimentar-se de lado a lado na pequena área, limite que o costume impunha na época aos goleiros. Foi o primeiro goleiro a defender um pênalti em Copas – o do mexicano Manuel Rosas – e era mais um vice olímpico remanescente. Na época atuava pelo Talleres de Remedios de Escalada (integrou o elenco que ascendeu à elite em 1925 e em 1930 esteve na melhor campanha do clube nela, um quinto lugar), o decadente rival original do Lanús: dos fundadores da liga profissional argentina, é quem há mais tempo está sumido da elite, desde 1938. Bossio foi outra contratação millonaria do River, que o levou em 1933, voltando a Escalada (onde também foi técnico) em 1936. Faleceu dois meses após o título mundial de 1978.
Roberto Cherro: El Cabecita de Oro conseguia ser um parrudo habilidoso que defendeu a seleção por onze anos, longevidade grande para a época. Ainda sabia armar jogo e nesses onze anos teve média altíssima de 0,76 gols por partida. Foram 13 em 17 jogos, quatro em um único contra o Uruguai em 1933, uma revanche pessoal para quem esteve nas Olimpíadas e na Copa sem jogar nenhuma das finais: em 1928 por lesão e em 1930 por aquela crise nervosa. Uma pena: revelado no Ferro Carril Oeste, foi até 2010 o maior artilheiro do Boca, onde atuou entre 1926 e 1938 com alguns intervalos pelo Sportivo Barracas. E pela seleção conseguiu doze vitórias seguidas, marca ainda inigualada.
Alberto Chividini: exceção em um plantel baseado nos entornos da capital federal, vinha do Central Norte de Tucumán, sendo o primeiro jogador do futebol desta província a figurar na seleção. Na época, era comum o calendário valorizar torneios entre seleções provinciais e ele chamava a atenção por diversos combinados do norte argentino. Quase atuou na final diante do nervosismo do titular Monti, mas os treinadores optaram pelo sanlorencista. Foi jogar no próprio San Lorenzo em 1933, sendo de cara campeão no primeiro título profissional cuervo (confira) e ficando lá por meia década. Chegou a marcar duas vezes em um 5-2 no clássico com o Huracán em 1934.
Atilio Demaría: era do Estudiantil Porteño, um clube que ainda existe mas que não abraçou o profissionalismo. Após a Copa, acertou com a Internazionale, onde brilhou: é um dos maiores artilheiros no clássico com o Milan (veja). Assim como Monti, venceu a Copa de 1934. Mas como não atuou em nenhuma das finais, apenas o colega costuma ser lembrado pela marca de único bifinalista por países diferentes; sua única partida em 1930 foi nos 6-3 sobre o México, na vaga do ausentado Nolo Ferreira.
Ramón Mutis: beque esquerdo do Boca nos anos 20, defendia a Argentina desde 1923. Seu apelido dizia tudo: Fuerte. Esteve a ponto de ir às Olimpíadas, mas apenas sua dupla Ludovico Bidoglio (“Vico era o engenheiro e eu o pedreiro”, dizia ele mesmo) foi a Amsterdã. Mutis em 1928 destacou-se, porém, na visita dos escoceses do Motherwell, então um acontecimento em época onde os britânicos eram vistos como semideuses. Na Copa, atuou apenas na estreia.
Rodolfo Orlandini: do extinto Sportivo Buenos Aires como Peucelle, este corpulento volante foi mais um bivice olímpico e mundial. Mas, como Cherro, não atuou em nenhuma das finais contra o Uruguai, embora tenha sido titular na maior parte da primeira Copa. Foi junto com Stábile ao Genoa.
Natalio Perinetti: ponta-direita do Racing hepta argentino seguido nos anos 10 (saiba mais), era daqueles especialistas mais em cruzamentos para outros marcarem do que em fazer gols. Os dribles também deleitavam o público: chegou a ser sondado pelo futebol espanhol nas Olimpíadas de 1928 mesmo não chegando a atuar nos Jogos – o delegado que acompanhou a seleção era do San Lorenzo e influenciou para que o titular fosse o sanlorencista Alfredo Carricaberry. Já em 1930, Perinetti atuou na estreia mas perdeu a vaga para Peucelle. Também foi contratado pelo River millonario, em 1933, mas não rendeu tanto. Sua família esteve entre os fundadores do Talleres de Remedios de Escalada.
Edmundo Piaggio: único da delegação que não atuou em nenhuma partida da Copa, ele jamais defendeu a Argentina em jogos oficiais apesar da convocação. Era o lateral-esquerdo do Lanús. Passou ao Boca em 1931, sendo esperado para como o sucessor de Ludovico Bidoglio, mas acabou perdendo espaço para o brasileiro Moisés e em pouco tempo regressou aos grenás.
Alejandro Scopelli: meia-direita dos Profesores do Estudiantes, atuou apenas na semifinal, deixando sua marca nos 6-1 nos EUA. Deveria ter jogado a final também, mas os cartolas pressionaram pelo lesionado Varallo pois milhares de torcedores do Gimnasia haviam vindo para vê-lo. Scopelli foi um dos argentinos mais internacionais de seu tempo: transferiu-se à Roma e chegou a jogar pela Itália, abandonando o país ao ser convocado pelo exército. Manteve a carreira no Racing (brilhou lá também, com média de 0,73 gols por jogo), por França e Portugal, onde treinou os três grandes e também o Belenenses, onde já havia sido ídolo igualmente como jogador: falamos aqui. Fez sucesso como técnico também no México e no Chile. Até livro sobre futebol escreveu, Hola Míster.
Carlos Spadaro: um hábil e veloz ponta-esquerda do Lanús, atuou esporadicamente pela seleção entre 1928 e 1931, já como atleta do Estudiantil Porteño.
Adolfo Zumelzú: era alto, mas habilidoso e considerado o mais técnico centromédio argentino na época, de estilo contrastante ao método vigoroso do concorrente Luis Monti. Marcou duas vezes no México e foi a primeira opção pensada para substituir Monti na final, mas declarou-se lesionado e os médicos confirmaram que ele não tinha mesmo condições de jogo. Revelado pelo San Isidro, na época atuava no Sportivo Palermo. Também brilhou no Racing campeão de 1925, último título da Academia até o tri de 1949-50-51, que por sinal veio com Stábile de técnico.
Francisco Olázar e José Tramutola: como jogador, Olázar foi meia daquele Racing hepta argentino seguido (ainda um recorde) nos anos 10. Assumiu como chefe da seleção em 1929 e após dois jogos recebeu a companhia de Tramutola quanto à parte física. Não era bem um técnico na definição atual do termo, com a parte tática sendo resolvida pelos próprios jogadores, especialmente pelo capitão Manuel Ferreira (responsável pelas jogadas ensaiadas no seu Estudiantes). Depois da Copa, Olázar desligou-se do meio e passou a ser bancário, falecendo em 1958. Tramutola também encerrou seu vínculo com a seleção, atingido pelas críticas quanto ao estado físico e também anímico dos jogadores.