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Todos os argentinos da seleção equatoriana

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Raffo e Graziani, os atacantes argentinos mais significativos da seleção equatoriana

Nenhum país exportou tantos jogadores a outras seleções nacionais que a Argentina, especialmente na América do Sul. O Equador, seu adversário no amistoso de hoje a noite, não é exceção. Por sinal, é treinado por um argentino ex-jogador da seleção da Bolívia, Gustavo Quinteros (titular na última Copa do Mundo de La Verde, em 1994). E um dos “equa-argentinos” é o único jogador da seleção equatoriana a ter sido artilheiro da Copa América. E o mais recente poderia ter sido Hernán Barcos!

Juan Parodi foi o primeiro, como técnico. Comandou a participação nas Copas América de de 1941 e 1942. Em ambas, não pôde fazer muito pelo incipiente futebol local (foram respectivamente a segunda e a terceira vez que os equatorianos disputaram o torneio) e a tricolor não teve vitórias. Contra os argentinos, protagonizou dois recordes: na de 1941, a Albiceleste venceu por 6-1 com cinco gols de Juan Marvezzi, recorde em uma só partida para um jogador da Argentina. E na de 1942, os hermanos aplicaram um impiedoso 12-0, ainda a pior derrota da história da seleção do Equador.

René Orlandini treinou a tricolor na Copa América seguinte, em 1945. Participante da Copa do Mundo de 1930 pela Argentina, o retrospecto sob ele foi menos pior, com o primeiro ponto equatoriano no torneio continental, no 0-0 contra a Bolívia. Chegou a empatar parcialmente em 2-2 contra a própria Argentina até a última meia hora, perdendo por um honroso 4-2. Fez dois gols também no Brasil (9-2) e três na estreia contra o anfitrião Chile (6-3).

Na Copa América de 1953, La Tri foi treinada por Iván Esperón, ex-jogador da Roma. Permanecia a seleção mais fraca das Américas enquanto a Venezuela não participava, mas as estatísticas evoluíam, com 2 pontos – um, no empate com o campeão Paraguai. Perdeu só de 2-0 do Brasil. Na de 1957, além do técnico Eduardo Spandre, houve um argentino também entre os jogadores, o atacante Jorge Larraz.

O Equador só somou um ponto, mas Larraz foi o destaque solitário, marcando 5 dos 7 gols do país e conseguindo até transferência ao futebol espanhol (passou pelos rivais Las Palmas e Tenerife, além do Deportivo La Coruña). Dois anos depois, o Equador sediou a Copa América. Carlos Alberto Raffo, que chegou a defender o Argentina de Quito (atual Deportivo Quito), abriu o placar contra o Brasil (que viraria para 3-1) e fez o gol equatoriano no empate em 1-1 com a Argentina. Foi a primeira vez, em jogos de seleções, em que a Albiceleste foi vazada por um adversário argentino. E a primeira vez em que ela não venceu os equatorianos.

Raffo, sem parentesco com o artilheiro da Libertadores 1967 (Norberto Raffo, do campeão Racing), marcou naquele torneio mais gols que o futuro mito Alberto Spencer, sua dupla de ataque. Voltou a vazar a Argentina nas eliminatórias à Copa de 1962, com Spencer marcando um e o argentino, outros dois na derrota de 6-3 em Quito (em Buenos Aires, deu Argentina 5-0). Foi ainda mais longe na Copa América seguinte, em 1963. O Equador, que chegou a estar vencendo a Argentina por 2-1 (levou de 4-2), conseguiu sua primeira vitória no torneio, nos 4-3 sobre a Colômbia.

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O goleiro Elizaga logo após pegar o pênalti de Tévez, ao fundo. E Quinteros, que assumiu como técnico da seleção há 15 dias

Raffo marcou duas vezes nessa vitória e seis ao total naquela edição, ficando na artilharia. Ainda que Brasil e Argentina enviassem seleções sem seus principais nomes, vale ressaltar que Spencer, já um figurão no continente pelo Peñarol (é o maior goleador da Libertadores), também desfalcou o Equador – não se convocava na época quem atuasse no exterior. Spencer só voltou em fim de carreira a defender a seleção, no início dos anos 70, quando foi jogar no Barcelona de Guayaquil, mas foi breve. Já sem a estrela, Roberto Resquín treinou sem sucesso o país nas eliminatórias à Copa de 1974.

O hermano seguinte na tricolor foi outro atacante, Ángel Liciardi, quatro vezes artilheiro do campeonato equatoriano e com 7 gols em 9 jogos pelo Equador entre 1976-77, mas incapaz de classifica-lo à Copa de 1978. O goleiro Pedro Latino por sua vez atuou apenas os últimos vinte minutos das eliminatórias à Copa de 1986, contra o Uruguai. Mais um atacante, Ariel Graziani foi o próximo, estreando em 1997 na Copa América. Seu Equador, com dois gols dele, terminou liderando o grupo da Argentina, mas caiu nas oitavas-de-final nos pênaltis para o México.

O melhor jogo de Graziani foi pelas eliminatórias à Copa de 1998, onde quatro pontos separaram o Equador de sua primeira classificação ao mundial. Ele fez três gols no templo estádio Centenário, grande raridade para um oponente do Uruguai. Mas foram inúteis para evitar a derrota de 5-3 para a Celeste. Na Copa América de 1999, em um grupo da morte com Argentina, Uruguai e a grande geração da Colômbia, só perdeu. Ao todo, foram 15 gols em 34 jogos por La Tri, mas o último em 2000. Apesar de manter boa fase na MLS, a liga dos EUA não tinha o razoável valor atual e ele terminou não convocado à Copa do Mundo de 2002.

2000 foi também o único ano do atacante Carlos Alberto Juárez pelo Equador, pelo qual não repetiu a faceta goleadora que tinha no Emelec, jogando quatro vezes e sem marcar pela seleção. Cristian Camello Gómez foi usado em dois jogos nas eliminatórias à Copa de 2006 (um, contra a Argentina), mas, como os dois antecessores, ficou de fora do mundial apesar da classificação.

2007 teve a estreia de dois Polacos: os goleiros Marcelo Elizaga e Javier Klimowicz. Klimowicz não se firmou, Elizaga sim. O Equador caiu na primeira fase da Copa América, mas manteve a honra quando, já eliminado, enfrentou o Brasil. Elizaga fechou o gol e só foi vazado em razão de um pênalti. Nas eliminatórias à Copa de 2010, em outro lance de pênalti, dessa vez contra a terra natal, pegou a cobrança de Tévez. Os equatorianos deram a impressão de que iriam à repescagem, mas na penúltima rodada levaram em casa a virada do concorrente direto Uruguai aos 48 do segundo tempo – de pênalti.

Elizaga também foi titular na Copa América de 2011 e fez seu último jogo pelo Equador no ano seguinte. No torneio, foi colega do zagueiro Norberto Araujo, titular da LDU campeã da Libertadores sobre o Fluminense em 2008. Em 2011, Araujo já tinha 33 anos e não foi retomado após a eliminação tricolor na primeira fase. Foi a última novidade argentina na seleção equatoriana até Gustavo Quinteros, técnico dos três últimos (e bons) anos do Emelec, assumir há 15 dias a direção de La Tri. Já o ex-palmeirense e gremista Barcos foi sondado pelo sucesso na LDU. Mas sua transferência ao Brasil chamou a atenção da Albiceleste e ele “manteve-se” argentino.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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