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Racing e Sporting Cristal revivem semifinal da Libertadores 97

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Jorge Soto comemora em Avellaneda, onde marcou um dos gols: o Racing se complicou em 1997 o vencer só por 3-2 na ida

A derrota em casa na semana passada não foi a única desventura sofrida pelo Racing contra o Sporting Cristal pela Libertadores. Hoje eles voltam a se pegar. Em 1997, o duelo alviceleste entre Avellaneda e Lima foi válido pelas semifinais do torneio. E os peruanos, naquela ocasião, também levaram a melhor, protagonizando apenas a segunda e última vez que um clube do Peru chegou à final.

O Racing não estava na glória dos anos 60, mas vivia bons momentos em campo em meados dos anos 90. Lutou pelo título do Apertura 1995, destronando na antepenúltima rodada o então líder invicto Boca de Maradona e Caniggia com um 6-4 em plena La Bombonera, em exibição de gala do meia Rubén Capria: El Mago fez três gols. Mas a Academia ficou no vice para o Vélez.

No torneio seguinte, o Clausura 1996, novamente lutou pela ponta. Mas o time fez jus à fama de mal-assombrado, perdendo pontos preciosos, os mais lembrados contra Estudiantes (sofreu aos 46 minutos do segundo tempo o empate com cabeceio do goleiro Carlos Bossio, na primeira vez que um goleiro marcou com bola rolando na primeira divisão) e Huracán (vencia por 2-0, mas levou gol em impedimento não anulado e outro no finalzinho em cobrança de falta onde a bola atravessou a barreira). O título foi de novo do Vélez e a boa fase rendeu no desfalque de Claudio López, vendido ao Valencia.

Como o Vélez venceu tanto o Apertura como o Clausura da temporada 1995-96, seus vices fizeram um tira-teima para definir a outra vaga argentina na Libertadores de 1997. O Racing superou o Gimnasia LP dos gêmeos Barros Schelotto e assegurou presença. O técnico Miguel Brindisi dava lugar a Alfio Basile, xerife dos racinguistas campeões da Libertadores de 1967. Sob Basile, o Racing continuou entre os primeiros no torneio caseiro seguinte, ficando em 4º no Apertura 1996.

A primeira fase foi um pouco periclitante. Perdeu em Avellaneda na estreia para o Vélez e só conseguiu a primeira vitória apenas na penúltima rodada do grupo. Mas passou de fase após vencer também na última, em confronto direto com o Emelec para definir com quem ficaria a terceira e última vaga da chave. Para piorar, encararia nas oitavas o timaço do River da época, detentor do título da Libertadores e seguidamente campeão nacional.

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Capria, grande maestro do Racing nos anos 90, no dia em que marcou três nos 6-4 na Bombonera sobre o Boca de MacAllister (depois seu colega na Libertadores 97)

A ida foi em Avellaneda e teve um primeiro tempo frenético: o Racing abriu 1-0 e depois 2-1, mas ainda na primeira etapa o River virou. Ficou no 3-3 após o zagueiro Claudio Úbeda aproveitar cruzamento de Capria e saída equivocada do goleiro Roberto Bonano para empatar aos donos da casa. Pelo regulamento da época, qualquer novo empate no Monumental levaria aos pênaltis. O lado frenético da ida se resumiu na volta aos primeiros 8 minutos, depois dando lugar ao drama.

Um contra-ataque logo aos 4 minutos colocou os homens de Basile na frente. Em contra-ataque, Capria lança desde antes do meio-campo, Marcelo Delgado percorre pela esquerda e tocou para Esteban Fuertes (refugo do rival Independiente trazido para o lugar de Claudio López, posteriormente se tornaria ídolo e artilheiro máximo do Colón) completar ao gol vazio. Quatro minutos depois, El Príncipe Enzo Francescoli arranca e invade a área sem ser incomodado e encobre magistralmente Ignacio González.

Então o nível baixou e Úbeda e Marcelo Gallardo foram expulsos – o atual técnico do River, por revidar marcação do lateral Carlos MacAllister, que teve o lábio cortado, se encheu de esparadrapos e pareceu uma múmia ao voltar. O 1-1 não se alterou e nos pênaltis Nacho González brilhou logo de cara, ao converter o seu e defender o de Francescoli. Todos foram convertendo em seguida (Brusco, Trotta, Netto, Celso Ayala, Capria, Hernán Díaz) até Delgado anotar o quinto racinguista na série.

O oponente seguinte, pelas quartas era o Peñarol. Naquele mesmo ano, um simples amistoso de verão entre ambos teve faísca, com uma confusão entre os jogadores simplesmente impedindo a realização de disputas por pênaltis após um 0-0. Na Libertadores, a disputa foi novamente necessária após um vencer ao outro em casa por 1-0, com o mago Capria marcando o dos argentinos. E foi emocionante. Capria foi de herói a vilão: Fernando Álvez pegou o dele e o do zagueiro José Serrizuela.

Mas os aurinegros só acertaram com os experientes Pablo Bengoechea e Óscar Aguirregaray: Nacho González também pegou dois, de Pereira e Luis Romero, e na última cobrança viu José de los Santos chutar para fora. O Racing estava na semifinal e o sonho de Basile e do clube reconquistarem a América exatamente trinta anos depois esteve lúcido como nunca. Permitira-se até a um tira-teima com o Cruzeiro, de quem ganhara a final da Supercopa 1988 e de quem perdera a final da de 1992.

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Úbeda, MacAllister e Delgado nos épicos com o super River da época

Mas faltava combinar com os peruanos. Não tinham uma geração dos anos 70, capaz de colocar um Teófilo Cubillas no Porto, um Hugo Sotil com Cruijff no Barcelona ou um Percy Rojas no Independiente tetra da Libertadores, mas a fase local era boa: a Blanquirroja por bem pouco não se classificaria à Copa de 1998, empatando em pontuação com o Chile e ficando de fora só por critérios de desempate, e naquele mesmo 1997 eliminaria a Argentina da Copa América.

O líder do Cristal, que já havia eliminado o Vélez de Chilavert dentro da Argentina nas oitavas, era o então jovem Nolberto Solano, que acabaria contratado no semestre seguinte pelo Boca e dali ao forte Newcastle United da época, principal concorrente do Manchester United antes de Arsène Wenger assumir o Arsenal. Estaria no jogo-despedida de Maradona.

O Racing venceu na ida em casa, mas por um perigoso 3-2, com os visitantes diminuindo a cinco minutos do fim com gol do argentino Luis Bonnet – o Racing ainda perdeu oportunidade de fazer 4-2. Em Lima, Bonnet foi novamente carrasco, marcando outro. de cara O brasileiro Julinho também se destacou, ganhando todas de MacAllister (sofrendo inclusive dele um pênalti que o juiz interpretou como falta fora da área) e cruzando para gols peruanos.

Delgado até empatou momentaneamente em 1-1. Mas Julio Rivera fez os 2-1 ainda no primeiro tempo. Outro argentino, Marcelo Asteggiano, cabeceou já no segundo tempo para ampliar a 3-1, em outra evidência mal-assombrada do Racing, onde Asteggiano começara a carreira. E Solano, de falta, liquidou ao marcar o quarto. A goleada não passou impune: dois foram expulsos de cada lado.

A morfina sobre a paupérrima situação econômica da Academia acabou. Basile saiu, o time ficou em 13º no Apertura 1997, teve de vender Capria para levantar os embargos, foi 15º no Clausura 1998 e menos de um ano depois o presidente Alberto Lalín decretava a quebra do Racing, apenas uma manobra para seguir contratando sem que o clube fosse embargado. Porém, a estripulia cobrou seu preço e outro ano depois, já em fevereiro de 1999, o quase-finalista da Libertadores 1997 era anunciado como “deixado de existir”. Mas isto é história para outro capítulo…

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Galván (depois bem no Atlético Mineiro), González, Marini, Navas, Úbeda e MacAllister; Michelini, Capria, Fuertes, Delgado e Netto, os titulares da campanha. Só Úbeda ficou para o título argentino de 2001

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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