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Há 30 anos, o Argentinos Jrs vencia a elite pela 1ª vez

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Olguín, Domenech, Pavoni, Vidallé, Villalba e Batista. Castro, Videla, Pasculli, Commisso e Ereros

Recém-promovido à elite. Foi assim que terminou 2014 para o Argentinos Jrs. E era essa a rotina do clube de La Paternal na maior parte de sua história até atingir um nível de grandeza incompatível com resultados tão medianos assim. Essa ascensão meteórica teve seu primeiro salto há exatos 30 anos, com o primeiro dos três títulos do Bicho na elite argentina, quando a impressão que se poderia ter antes do campeonato não pensaria nada perto assim. Naquela antevéspera de natal de 1984, o Argentinos deixava de ser apenas o time a ter revelado Maradona (por sinal ainda longe dos deuses do futebol na época) para se fincar, mais à frente, em um pedaço da elite mundial do futebol.

Aquela equipe de bairro tinha sua tradição na elite, mas de expressão modesta. Seu primeiro vice foi em 1926, a 4 pontos do Boca, quando haviam duas ligas no futebol argentino e a mais forte se concentrava na outra, com River, Racing, Independiente e San Lorenzo. O outro, com Maradona, foi em 1980. Dieguito revolucionou o clube, obtendo um recorde não igualado de cinco artilharias no campeonato argentino. Mas ainda era jovem demais para fazer verão sozinho. O vice foi inclusive de certa forma meio enganoso: o campeão River ficou 9 pontos à frente em época em que a vitória valia 2 e garantira a taça faltando ainda outras 4 rodadas.

O sonho de um título não se tornou possível com Maradona. E não se tornou possível com outros astros que estiveram um ano antes, em 1983, quando o elenco campeão se germinava – a equipe havia sido semifinalista no Nacional. O técnico daquele River de 1980, o mito Ángel Labruna, havia passado a comandar os de La Paternal e faleceu subitamente em setembro nos braços do goleirão Ubaldo Fillol, outra recente aquisição do Argentinos (falamos aqui). Fillol, alguns dias depois, acertou com o Flamengo, que teria a aposentadoria de Raul ao fim daquele 1983 e buscava amenizar a saída de Zico.

Em 1984, o Argentinos Jrs se mirou em mais outras antigas figuras do River dos anos 70. Chegaram o meia Emilio Commisso, o classudo volante Juan José López (que por ironia estava jogando justo no Boca e que por outra ironia havia tentado ir antes ao Argentinos Jrs de Labruna) e o matador tosco mas eficiente Carlos Morete, à época no Independiente. Mas quem vingou foi outro contratado junto ao Independiente: Jorge Olguín, lateral campeão titular na Copa do Mundo de 1978 convertido em um eficiente zagueiro. Seria dele não só o gol do título como outros dez na campanha.

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Videla, “condutor e estrategista” na legenda em amarelo. E o gol do título, de Olguín

Outro ex-jogador de seleção a aportar bem foi o goleiro Enrique Vidallé, de passagem pelos rivais Gimnasia LP e Estudiantes. Mas a fase de Olguín foi tão boa que poderia ter vencido também a Copa do Mundo de 1986, mas não concordava com os métodos do técnico Carlos Bilardo, do qual já fora comandado nos tempos de San Lorenzo. Por sinal, falamos muito de Olguín ontem (clique aqui), por título seu nos azulgranas dez anos antes, em 1974.

“Desfrutei de uma maneira muito especial. Foram os últimos anos da minha carreira e neles realizei o que sentia a pleno: joguei no posto que gostava, de zagueiro central, e o futebol que eu sentia. Andei tão bem no Argentinos que um integrante do corpo técnico do Bilardo me chamou para que fosse à seleção. Atendeu minha mulher porque eu não estava em casa. E não existiam os celulares. Não quis ir, nunca respondi o chamado. (Bilardo) era um cara que se preocupava mais pelo rival do que pela própria equipe, sua obsessão era defender, te fazia olhar mil vídeos mas para ver como jogava o outro e não para corrigir você”, explicou o defensor em junho em entrevista à revista El Gráfico.

Em agosto, o Argentinos Jrs completou 110 anos e elegemos por isso os 11 melhores jogadores do Bicho (veja). Olguín e Vidallé estavam lá. Outros dois titulares também: o lateral-esquerdo e capitão Adrián Domenech, que já jogava pelo Bicho nos idos de 1978, e o meia Sergio Batista, presente desde 1981 e que dali despontou para ser titular na Copa 1986. O segundo mundial vencido pela Albiceleste teve ainda mais dois campeões 30 anos atrás, Pedro Pasculli e o armador Claudio Borghi.

Primeiro rotulado de “novo Maradona”, Borghi é o único presente em todos os três títulos do Argentinos – venceu o terceiro e último como técnico, em 2010. El Bichi, porém, só deslancharia a partir do ano seguinte, liderando o time no bicampeonato nacional e na conquista da Libertadores. Ainda era reserva e seu lugar como dono no meio-campo era muito bem ocupado por Mario Videla, “condutor e estrategista” na legenda da capa da El Gráfico pós-título. Borghi, de fato, nem mencionado foi por José Omar Pastoriza em junho de 1985 em uma entrevista deste à revista Placar.

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Outros destaques: o artilheiro Pasculli e o seguro goleiro Vidallé

Pastoriza era o técnico do Independiente campeão da Libertadores e mundial em 1984 e acabara de assumir o Fluminense, que teria o Argentinos pela frente na Libertadores de 1985. Seu relato resume como trabalhava aquele Bicho de 30 anos atrás: “exibe um futebol vistoso e alegre, que relembra a grande fase do futebol argentino. Tem dois pontas agressivos, Ereros e Castro, velozes e habilidosos que buscam quase sempre as finalizações do perigoso e objetivo centroavante Pasculli. O meio-campo se destaca pela criatividade e aplicação na marcação. O cérebro é o grandalhão e aparentemente lento médio-volante Batista, que dá início às jogadas de ataque, bem assessorado pelo veloz, resistente e habilidoso Videla. Na defesa se destacam o experiente goleiro Vidallé e o veterano Olguín, campeão mundial de 1978 e tido como o melhor líbero argentino na atualidade”.

Eram os anos em que, à exceção do Independiente, os clubes grandes passavam por problemas. Boca e River não eram campeões desde 1981 (um venceu o Metropolitano e o outro, o Nacional), quando gastaram fortunas em dólares para responder um ao outro com as vindas de Maradona e Mario Kempes para depois verem a dívida ir às alturas junto com a cotação da moeda dos EUA em meio à crise econômica da ditadura e a derrota nas Malvinas. Já San Lorenzo e Racing haviam caído para a segundona, onde o Racing por sinal não conseguiria sair naquele 1984. O Huracán, visto ainda como “sexto grande” em razão das boas campanhas na década anterior, também ia mal e cairia em 1986.

Melhor para os menores. O Estudiantes ressurgira momentaneamente com dois títulos e o Ferro Carril Oeste irrompera com outros dois. E foi essa dupla a grande ameaça às pretensões dos de  La Paternal. O desfecho poderia até ter sido outro não fosse outro dos lances esdrúxulos da AFA: aquele Metropolitano 1984 teve início nos domingos abril, quando ainda começariam os mata-matas do Nacional, nas quartas-feiras. O Argentinos Jrs caiu logo no primeiro mata-mata, para o Talleres, enquanto o Ferro avançou até o fim de maio, sendo campeão. Duas das 5 derrotas dos verdolagas no Metro, incluindo uma em casa para o Temperley, vieram quando seus jogadores já se poupavam para as finais do Nacional.

O Argentinos Jrs não tinha nada com isso e também só perdeu cinco vezes, incluindo um 2-0 em casa para o Ferro já perto da reta final, proporcionando alguma emoção – no primeiro turno, arrancara um 0-0 fora de casa com ele, resultado que adiante faria a diferença para o título. Na campanha, os campeões derrotaram duas vezes por ao menos três gols de diferença o Boca: 3-0 em La Paternal (dois gols de Olguín, um de Morete) e um impiedoso 5-1 fora de casa, exatamente o resultado seguinte àquela derrota para o Ferro. Ereros, Castro, Pasculli, Videla e Olguín deixaram um cada. Contra o outro concorrente, o Estudiantes, o restrospecto foi melhor: 2-1 em casa (Olguín e Morete) e 0-0 em La Plata, na reta final.

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O susto da invasão de campo antes do fim do jogo, a revoltar jogadores como o camisa 3 Domenech

Naquela campanha também venceu-se o Talleres por 3-1 (Ereros, Pavoni e Pasculli) dentro de Córdoba e por 4-1 (dois de Ereros, dois de Pasculli) em casa. O Rosario Central levou de 3-0 (Batista, Castro e Pasculli) no Gigante de Arroyito. E mesmo quem estava em um ótimo ano foi humilhado – o  Independiente levou de 2-0 em Avellaneda (Olguín e Pasculli) e depois foi surrado por 4-1 (dois de Pasculli, um de Ereros e um de Commisso) na Paternal.

Já o Ferro Carril Oeste teve uma campanha menos espetacular, com só três vitórias por mais de dois gols de diferença. Mas seu futebol “feio” era eficiente e ele e o Argentinos chegaram à última rodada igualados na liderança. Pior para o FCO, que poderia estar à frente se na penúltima rodada não tivesse saído do 0-0 em casa com um Independiente recém-chegado da longa viagem da volta do Japão (foi o primeiro jogo dos titulares recém-campeões do mundo). Pior ainda porque jogaria em La Plata com o Estudiantes, 2 pontos atrás e ainda com chances de título.

Por ironia, quem jogou no estádio do Ferro (que costuma alugar sua casa para outros clubes em razão da posição geograficamente central do seu bairro em Buenos Aires) foi o próprio Argentinos Jrs, cujo estádio na época era ainda mais acanhado que o atual. Papai Noel se vestiu mais de vermelho do que nunca naquele gordo natal do Bicho: Estudiantes e Ferro se anularam em La Plata, ficando no 1-1. E La Paternal festejou à distância o pênalti que Olguín converteu aos 35 minutos do primeiro tempo sobre o Temperley. Mas não tão à distância assim. A ponto de não uma volta olímpica de redenção ficar impossibilitada: houve invasão de campo que forçou o árbitro a encerrar o jogo aos 40 do segundo tempo, para o desespero de alguns jogadores, que foram às vias de fato com os torcedores.

O susto passou. Os resultados foram mantidos e nem o mais otimista sonharia que, mesmo com o técnico campeão Roberto Saporiti deixando o clube após a taça, aquela fase teria voos muitos mais altos – mas essas outras histórias que ficam para 2015; uma prévia pode ser conferida neste outro Especial.

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Domenech e Ereros em lance do jogo de 30 anos atrás, contra o Temperley. Haveriam tardes ainda mais gloriosas…

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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