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Sušić, técnico da Bósnia, já marcou um hat-trick na Argentina

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Safet Sušić já foi eleito oficialmente em 2004 o maior craque bósnio, nos Prêmios do Jubileu da UEFA. Foi um expoente das grandes seleções que a Iugoslávia formou pouco antes da dissolução do país. Já se escreveu que a nata daquela geração do fim dos anos 80 estava na Croácia, mas a presença bósnia também era significativa, conforme mostramos neste outro Especial. Havia na verdade estrelas bem espalhadas, como os sérvios Dragan Stojković, Mihajlović e Jugović, os montenegrinos Savićević e Mijatović, o esloveno Katanec, o macedônio Pančev, além daqueles croatas de 1998.

Após a violenta separação iugoslava, a Bósnia teve alguns nomes de destaque, como Hasan Salihamidžić, que jogou por dez anos no Bayern Munique; Sergej Barbarez; que chegou a ser artilheiro da Bundesliga pelo decadente Hamburgo; Meho Kodro, que brilhou na Real Sociedad nos anos 90 e até passou pelo Barcelona do técnico Cruijff; ou ainda Vladimir Gudelj, um dos protagonistas do forte time que o Celta de Vigo teve no fim do século passado. Mas nenhum conseguiu levar maiores sucessos à seleção, que ainda cometeu a furada histórica de não dar atenção a Zlatan Ibrahimović quando este, que ainda não havia jogado pela Suécia natal, pediu uma chance à terra do pai.

As revelações bósnias não pararam. Vedad Ibišević apareceu com tudo no nanico Hoffenheim que chegou a ameaçar ser campeão alemão em 2007, com a campanha desandando justamente na pausa de inverno, após ele romper os ligamentos do joelho quando o clube era líder e ele, artilheiro da Bundes de 2007-08. A edição seguinte do campeonato alemão foi faturada pela primeira vez pelo Wolfsburg, de Edin Džeko e Zvjezdan Misimović. Haris Mendunjanin defendia as seleções de base da Holanda e Miralem Pjanić figurava no canto do cisne do grande Lyon da década passada.

Eles estiveram perto de irem à Copa 2010, chegando até a serem dados como favoritos na repescagem contra a campanha cambaleante de Portugal e saírem de Lisboa perdendo só de 1-0. Mas, àquela altura treinados por Miroslav Blažević, técnico da Iugoslávia campeã sub-20 em 1987 e da bela Croácia bronze em 1998, os bósnios perderam pelo mesmo placar em Sarajevo. A mesma base conseguiu a classificação inédita à de 2014, e como líder de sua chave. Desta vez o técnico era o antigo ídolo.

Como jogador, Sušić começou em 1973 no Sarajevo. Mas só irrompeu em 1979: o time seria vice-campeão e ele o artilheiro de uma liga normalmente polarizada entre sérvios e croatas. Foi o mais perto que chegou do título caseiro. E foi o ano em que a Iugoslávia recebeu em casa a Argentina, então campeã do mundo. Ressalte-se que só Américo Gallego e Daniel Passarella, dos campeões em 1978, jogaram aquela partida, com Menotti usando um time experimental. Foi um amistoso para celebrar a despedida de Dragan Džajić (eleito naqueles prêmios de 2004 o maior craque sérvio) da seleção.

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Na Copa 1990, onde voltou a dar trabalho à Argentina, e treinando a classificação inédita da Bósnia à de 2014

Foi um show de Sušić naquele 16 de setembro de 1979, chegando a abrir 3-0 marcando em todos. No primeiro, carregava a bola perto na entrada direita da grande área e tentou passa-la a um colega. Um hermano interceptou mas sem afastá-la, Sušić a pegou de volta, penetrou pelo centro e chutou prensado por dois adversários, mandando ao canto esquerdo. No segundo, foi fominha mesmo: em contra-ataque com três iugoslavos contra dois zagueiros argentinos, preferiu carregar, atraindo o goleiro para enfim chutar alto. No último, arriscou rasteiro de fora da área e o goleiro argentino foi incapaz de segurar após espalmar: a bola o encobriu e morreu nas redes.

Nos últimos minutos, mais três gols: Passarella, em um de seus petardos de falta, diminuiu aos 37 do segundo tempo. Aos 44, Slišković levou a melhor na corrida em contra-ataque e tocou entre as pernas do goleiro. Os iugoslavos trocavam passes e num erro deles os argentinos armaram para Ramón Díaz, em seu segundo jogo pela Albiceleste, marcar seu primeiro gol pela seleção e diminuir um pouco o vexame. Daquelas caras novas, só ele, Van Tuyne e Hernández iriam à Copa 1982.

Sušić passou os anos 80 no Paris Saint-Germain. Esteve no primeiro título francês do PSG, em 1986, o único que o clube conquistou sem que houvesse investimentos multimilionários por trás. A façanha e a longevidade não foram esquecidos: em 2012, já em tempos de astros e vacas bem gordas, quem foi eleito o maior ídolo da equipe foi o bósnio. Em Copas, ele enfrentou a Argentina nas quartas-de-final de 1990, a última da antiga Iugoslávia. Liderou uma equipe recheada dos jovens valores campeões sub-20 em 1987. Mesmo com um a menos, os iugoslavos resistiram até os pênaltis, lembrados por Maradona desperdiçar o seu e ser “salvo” por Goycochea, que ali começou a brilhar na Copa.

Vale lembrar que Argentina e a antiga Iugoslávia já se enfrentaram no Maracanã, em 1972, na Taça Independência, uma minicopa organizada para celebrar os 150 anos da independência brasileira. Na partida pelo terceiro lugar, deu Iugoslávia, também por 4-2 (o tal Džajić jogou e marcou um dos gols: confira). O jogo de 1979 foi no “xará” Marakana, campo do Estrela Vermelha cujo apelido é referente ao estádio carioca. Abaixo, ficha técnica e vídeo com gols dessa partida:

ARG: Enrique Vidallé, José van Tuyne, Juan Bujedo, Daniel Passarella e Victorio Ocaño, Américo Gallego, Hugo Coscia (Ramón Díaz 1/2º) e Carlos López, Sergio Fortunato, Patricio Hernández e Roberto Díaz (José Castro 10/2º). T: César Menotti.

IUG: Aleksandar Stojanović, Zoran Vujović, Miloš Hrstić (Nikica Cukrov), Velimir Zajec (Vedran Rožić), Srećko Bogdan (Boro Primorac), Mišo Krstičević, Safet Sušić, Blaž Slišković, Dušan Savić, Vladimir Petrović (Zlatko Vujović) e Dragan Džajić (Ivica Šurjak). T: Miljan Miljanić.

Árbitro: Romeo Stâncan (ROM).

Gols: Sušić (23/1º, 9/2º e 25/2º), Passarella (37/2º), Slišković (44/2º) e Ramón Díaz (45/2º).

httpv://www.youtube.com/watch?v=aMd3nnigbz8

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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