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Elementos em comum entre Grêmio e San Lorenzo

Logo mais Grêmio e San Lorenzo se pegam pelas oitavas da Libertadores, em confrontos que oporão um dos times brasileiros mais reconhecidamente copeiros contra o grande argentino mais sedento pelo torneio – é o único dos cinco maiores clubes hermanos (Boca, River, Independiente e Racing são os outros) que ainda não o venceu, ao passo que a taça já foi levantada até por Estudiantes, Vélez e Argentinos Jrs, equipes de expressão nacional menor.

Na Argentina, o Grêmio é mais próximo do nanico Almagro, que tem uniforme muito parecido (clique aqui), e não do San Lorenzo de Almagro – curiosamente, estes dois clubes, apesar de formados no bairro de Almagro, só o levam no nome, pois se enraizaram em outras áreas: o Almagro (que já teve consigo ao menos um gremista, o meia Moisés Beresi), no município de Tres de Febrero; o CASLA, no bairro de Boedo, embora seu estádio atual esteja no de Flores. Tradicionalmente, o rival sanlorencista está longe de ser o Almagro: é o Huracán, alvirrubro como o Inter e do bairro de Parque Patricios, vizinho a Boedo, e ex-clube de Hernán Barcos, que enfrentará seu ex-técnico na LDU, Edgardo Bauza.

Vítimas da ISL, tricolores e azulgranas já tiveram vários outros elementos em comum. O mais recente é o garoto Alán Ruiz, presente no dramático título sanlorencista no ano passado, a cumprir a recente escrita presente desde 1995 que “impõe” que o Ciclón só seja campeão a cada seis anos. O meia ainda não se firmou no Grêmio, mas já há na torcida quem o tenha como xodó. Vamos aos outros:

Parobé, Ivo Diogo e Alfeu

Os três primeiros eram brasileiros que jogaram na virada dos anos 50 para os 60. Curiosamente, eles também jogaram pelo Internacional. João Mallmann, apelidado de Parobé, começou no Grêmio, em 1958 e um ano depois foi colega de Pelé na seleção do exército que representou o Brasil no Sul-Americano Militar. Naquele tempo, credenciados pelo título da Copa 1958, os brasileiros estavam mais em alta do que nunca antes ou depois no futebol argentino. O habilidoso ponta-esquerda Parobé chegou ao San Lorenzo em 1962, mas não foi levado em conta: só 8 jogos e depois foi ao Inter.

Já os centroavantes Alfeu e Ivo defenderam antes o Inter, pelo qual estiveram no Pan-Americano de 1960, em que a seleção brasileira, treinada por Foguinho, foi formada no futebol gaúcho (incluindo jogadores dos pequenos Cruzeiro, como o goleiro Irno, e Aimoré, como o futuro santista Mengálvio). Enfrentaram duas vezes a Argentina na última edição do fracassado torneio, tentativa de competição entre seleções de todas as Américas – não confundir com os Jogos Pan-Americanos.

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Os irmãos Scotta antes de se enfrentarem; na realidade, só o do River foi tricolor

Em 1961, Ivo, artilheiro do Gauchão 1960, foi contratado pelo Newell’s, que encheu-se de outros brazucas também: clique aqui. Foi importante para a Lepra vencer a segunda divisão, mas o acesso foi impedido no tapetão após denúncias de uma mala preta para o Excursionistas vencer o principal concorrente rubro-negro, o Quilmes. Ele acabou retornando ao Brasil para jogar no Grêmio em 1962. Fez os dois gols do título estadual sobre o Inter, o primeiro do então recordista hepta gaúcho gremista.

Já Alfeu chegou ao San Lorenzo em 1963. Jogou só 9 vezes, sendo lembrado mais pelo gol da vitória em clássico com o Boca. Saiu no ano seguinte, quando Ivo chegou ao CASLA. Também jogou pouquíssimo, 7 vezes, em parte por lesões. Enquanto Ivo chegava a Boedo, Alfeu acertava com o Grêmio em 1964, mesmo ano em que seu irmão caçula debutou no Tricolor: o ídolo Alcindo, o “Bugre Xucro”, herói do hepta e da reconquista de 1977 que encerrou o octa do Inter.

Irmãos Scotta

Héctor Scotta, apelidado de El Gringo, brilhou na melhor fase do San Lorenzo até então, o início dos anos 70. Integrou o primeiro clube argentino campeão dos dois torneios anuais do país, em 1972 (clique aqui) e, já firmado na titularidade, da taça de 1974, a última antes do largo jejum que acometeu o CASLA até 1995. Em 1975, alcançou um recorde anual de gols no futebol argentino: 60. Poderia ter ido à Copa 1978 se não estivesse no Sevilla, em época em que atuar na Europa pesava contra.

Há quem pense, como a errônea Wikipédia, que ele atuou no Grêmio no final dos anos 70, mas estava no Sevilla. Quem jogou no Tricolor foi só seu irmão Néstor Scotta, La Tola. Veio sob empréstimo do River em 1971 e entrou para a história especialmente por ter feito o primeiro gol do Brasileirão (ao menos para quem se opõe à unificação), em um 3-0 no São Paulo no Morumbi. Fez sucesso, e isso atraiu o River a trazê-lo de volta. Em 1977 e em 1978, foi artilheiro da Libertadores pelo Deportivo Cali.

Atualização em 2016: publicamos especiais posteriores sobre os Scotta. Clique aqui para ver o do gremista e aqui para acessar o do sanlorencista.

Oscar Ortiz e Walter Corbo

Se os anos 60 respiraram o hepta gremista, a superar o hexa do “Rolo Compressor” colorado dos anos 40, os anos 70 viram o Inter fazer a reultrapassagem dos recordes. Em 1976, o Tricolor, para impedir o octa, contratou nomes de peso: o goleiro Agustín Cejas, ex-Santos de Pelé e ultravencedor no Racing; o “gigante” Alcino, maior ídolo da história do Remo, da época do auge do prestígio nacional do clube paraense; e o ponta-direita Ortiz, que vinha daquele ultra San Lorenzo.

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Ortiz só caiu nas graças do San Lorenzo; Corbo, em nenhum

El Negro se destacava pelos dribles e preciosos cruzamentos: o próprio Héctor Scotta já declarou que metade daquele seu recorde de 60 gols em 1975 deve-se às assistências de Ortiz. No Grêmio, porém, o ponta teve a sua habilidade reconhecida, mas não conseguiu render tanto no duro futebol gaúcho. E foi muito bem substituído pelo jovem e já mais forte e potente Éder, então promessa do América Mineiro, para deixar maiores saudades. Já em 1977 Ortiz estava no River, onde se reabilitou e terminou titular campeão da Copa 1978. Passaria ainda por Huracán e Independiente.

Alcino, embora artilheiro do Estadual, e Cejas também não duraram no clube, que para 1977 recorreu respectivamente ao veterano Alcindo e ao uruguaio Corbo, ídolo no Peñarol. Deu certo. Mas Corbo foi crucificado por falhar na final de 1978. Passou no ano seguinte ao Sanloré. Segundo o livro Diccionario Azulgrana, foi “algo inseguro no jogo aéreo e carente de voz de comando para dominar a área, (…) em suas duas temporadas no clube suas atuações não passaram de discretas”.

Luiz Fernando e Sebastián Abreu

O defensor Luiz Fernando passou pelo Grêmio na virada dos anos 80 para os 90. Mesmo tendo como concorrentes à dupla com Edinho os fracos Luís Eduardo e o chileno Fernando Astengo e o violento uruguaio Obdulio Trasante, não costumava jogar. O Diccionario Azulgrana talvez explique: “áspero, tosco e expeditivo. (…) Alternou boas e más atuações e completou um passo sombrio, de regular para baixo”. Jogou 30 vezes entre 1997-98, ainda assim marcando 4 gols, um no clássico com o Huracán.

Já o uruguaio Loco Abreu ficou benquisto no Brasil pelos botafoguenses. Mas, bem antes, fracassou no Grêmio. Surgira como promessa no Defensor, passou ao San Lorenzo em 1997 e desembestou a fazer gols. Faltaram-lhe taças, mas transferiu-se ao na época Super Deportivo La Coruña. O clube galego o emprestou ao Grêmio em 1998. Não repetiu os gols e chegou até a fraturar o pé treinando cobranças de pênalti. Teve uma segunda etapa no San Lorenzo em 2001 e, embora reserva, enfim veio o título.

Germán Herrera e Sebastián Saja

Ex-dupla de Abreu no Botafogo (clique aqui), Herrera também jogou nos oponentes de hoje. Chegou ao San Lorenzo após ser razoável no Rosario Central, por sinal o clube atual do Loco. Foi reconhecido pela raça e disposição, mas faltaram mais gols: 7 em 50 jogos. Suas duas passagens pelo Grêmio, em 2006 e em 2009, foram marcadas pelas mesmas características.

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Antes de serem dupla no Botafogo, o ex-careca Loco Abreu e Herrera passaram pelos dois

Saja era o goleiro do belo San Lorenzo de 2001-02 em que Abreu figurou, período em que os cuervos conseguiram um recorde de 13 jogos seguidos vencendo, levantaram o Clausura 2001 com um recorde de pontos na era dos torneios curtos (47) e também seus primeiros e únicos títulos internacionais: a Copa Mercosul 2001 (sobre o Flamengo: clique aqui) e a Sul-Americana 2002 (aqui). O elenco mudou bastante durante o ciclo; El Chino foi um dos poucos presentes do início ao fim.

No período, foi até cotado para a Copa 2002. A partir de 2003, passou a ser sucessivamente emprestado. Veio ao Grêmio em 2007, foi campeão estadual e saiu-se muito bem no vice da Libertadores, mas caiu um pouco de produção no segundo semestre. Lembrado por sucesso nos pênaltis, seja pegando-os ou chutando-os, hoje ele é um dos pouquíssimos que se salvam no Racing.

Silas

Silas foi um dos “Menudos do Morumbi” ídolos do São Paulo nos anos 80, mas nada perto do prestígio que angariou na Argentina. É um dos maiores ídolos da história do San Lorenzo. Foi titularíssimo no título do Clausura 1995. Desde a taça nacional de 1974, em que Ortiz e Héctor Scotta atuaram, o clube não era campeão da elite. O período de seca incluiu o rebaixamento de 1981 – o primeiro de um grande argentino e cuja comoção perdura até hoje, pois o famigerado sistema de rebaixamento por promedios vigora desde 1983 para proteger os grandes de novas quedas.

O volante já estreou com tudo, com um golaço de canhota no ângulo do Boca para ganhar um clássico no Nuevo Gasómetro (chegaria a marcar dois em outra vitória sobre os auriazuis, um 4-0) e interpretar como um sinal divino para rechaçar ofertas econômicas mais vantajosas, segundo o fundador dos Atletas de Cristo. Demonstrou pegada, boas assistências e chegadas ao gol e pedaladas em velocidade entre 1994-97, comandando o meio azulgrana e armando as jogadas de ataque.

Ele ainda esteve nas maiores goleadas do clássico com Huracán: 5-0 em 1995 e 5-1 em 1997, marcando em cada. Como jogador, Silas chegou a estar justo pelo Internacional. Já no Grêmio, passou como técnico em 2010, após bons trabalhos no Avaí. Dirigiu naquele ano o último elenco gremista campeão estadual, mas não vingou muito depois. Em meados daquele ano, para recuperar-se perante os torcedores, a diretoria optou por nada menos que o ídolo-mor Renato Gaúcho para substitui-lo.

Leia também: Especial “110 anos de Argentinos no Grêmio”

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Saja e Silas foram campeões nos dois e estão entre os grandes ídolos azulgranas

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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