Exterior

Mais um argentino, desta vez Bielsa, pode dirigir na América do Sul

marcelo_bielsa

Já se contam quase oito meses que Marcelo Bielsa não comanda uma equipe de futebol. Nesse tempo, desbancou diversas propostas em nome de um retiro sabático que só um salário à sua altura o tiraria. Palmeiras, Santos, Newell´s, Polônia Peru e outros tentaram, mas sentiram um pé-na-bunda bem doloroso quando se deram conta do que era esse salário. Já o Catar ofereceu milhões e milhões, mas sentiu um pé-na-bunda cujo nome se expressa no recado: “vocês podem ser milionários, mas não foram e nunca serão agraciados com o futebol”. Agora o Peru tenta de novo. E parece que vai.

Tem tempo já que Bielsa se foi do Bilbao. Mesmo que os resultados finais não fossem os melhores, “el Loco” fez uma verdadeira “lavagem estomacal” no clube basco. O resultado disso é que ainda que sob a direção de outro técnico, as coisas andam de vento em popa em San Mamés. Então, o técnico argentino resolveu fazer um retiro sabático que só seria interrompido pela grana capaz de pagar pelos nobre serviços de seu talento raro. Várias propostas aconteceram, mas Bielsa educadamente disse “não” a todas elas. O fato é que não estavam à altura de suas pretensões salariais. Exceto uma, a do Catar.

Só que para esta “el Loco” disse não pois não se vê dirigindo uma equipe fantoche de futebol. Faz bem. Por lá a coisa é tão artificial que em 2001 o país tinha somente 600 mil habitantes. Agora, tem 2 milhões. Todo mundo que é pobre de Paquistão, Índia, Irã, Egito, Sudão etc vai para lá para a construção de um país cada vez mais “paraguaio” e surreal. O controle da grana continua com os mesmos: duas ou três famílias. E o futebol? Alguns xeques que não têm o que fazer possuem alguns times e fazem um campeonato. A torcida é apenas um ou outra gato pingado, pois gente que nasceu no Catar representa somente uns 15% da população. Bielsa falou: “tô fora!”. Fez bem.

Rejeitado no passado, o Peru voltou a insistir e parece que agora vai. Uma reunião foi feita ontem, no Paraguai (país que também procura por um técnico argentino, pois o Victor Genés é um bonequinho no cargo). A proposta giraria em torno de 9,8 milhões de reais por ano. Além disso, a promessa de que “el Loco” poderia fazer aquelas mexidinhas nas estruturas (Claudio Pizarro, que falou mal do Bielsa já está morrendo de medo). E mais uma promessinha: a de que a Federação vai investir num centro de treinamentos para a Seleção principal utilizar de forma exclusiva. Mas por que a reunião foi no Paraguay?

Ocorreu lá porque o presidente da Federação Peruana, Manuel Burga, foi a uma reunião da CONMEBOL. Após as conversas, Burga disse que a decisão sobre o nome do novo treinador vai sair apenas na segunda semana de março.

Mesmo que não ocorra a decisão por Bielsa, vale novamente a reflexão sobre nossos treinadores. De novo ninguém pensa em um nome brasileiro. E nossos técnicos seguem acreditando que o problema é do mundo inteiro. Menos deles.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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