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35 anos do segundo título do Boca na Libertadores

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Gatti, Sá, Mastrángelo, Veglio e Benítez na volta olímpica

Ontem, o Boca Juniors celebrou os treze anos de sua inapelável vitória no Real Madrid na Intercontinental 2000. Mas nem tanto de outra taça, a completar idade mais redonda na mesma data. Foi a do bicampeonato seguido na Libertadores, em 1978.

O poderio da seleção argentina campeã mundial naquele mesmo ano pode ser atestado por isso: ela não tinha consigo nenhum jogador do Boca. “Mas o Boca, cavalheiro, venceu a Copa do Mundo sem jogadores da seleção. Agora, eles estão quites”, segundo afirmação do jornalista Diego Chavo Fucks, simpatizante boquense. De fato, um mês após Passarella erguer a taça da FIFA, no início de agosto, os auriazuis venceram a Intercontinental válida ainda por 1977 mas só travada já em 1978: clique aqui.

Mais ou menos quatro meses depois, em uma época onde a Libertadores era realizada no segundo semestre, o clube reafirmou sua supremacia continental, mesmo perdendo no meio do caminho o título argentino para o nanico Quilmes (clique aqui).

Na época, o campeão anterior entrava na edição seguinte já na segunda fase, benefício extinto na edição de 2000. Em 1978, a segunda fase já se constituía na semifinal, travada não em mata-matas entre os quatro melhores, mas em dois grupos de ida e volta com três times cada. O Boca caiu no rival do River e do Atlético Mineiro, o mais longe que o Galo havia chegado da taça até vencê-la neste 2013.

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Mastrángelo, ex-River, marca no antigo clube na semifinal. Um dos artilheiros do Boca no bi da Libertadores

Ambos poderiam estar instigados: os alvinegros viram o rival Cruzeiro ser finalista nas duas edições anteriores e vencer a de 1976, sobre o próprio River, que por sua vez, após perder para a Raposa, viu o mesmo algoz ser derrotado pelo Boca na final de 1977. Se o sentimento era este, não foi traduzido nos números. Os xeneizes venceram os dois jogos contra os atleticanos, com direito a gol contra de Cerezo.

O última jogo foi um Superclásico. Como em quase todos os dérbis decisivos, especialmente na Libertadores (já haviam duelado também na de 1977), quem sorriu foi o Boca. Ambos empataram na Bombonera. Mas, como o River chegou a ser derrotado pelo Atlético no Brasil, tinha desvantagem. Era obrigado a vencer para forçar um jogo-extra. Mas, mesmo no Monumental, não foi páreo.

Os bosteros venceram por 2-0 com gols de ambos ex-jogadores do Millo: Mastrángelo e Salinas, heróis boquenses também por já terem marcado nos 3-0 sobre o Borussia Mönchengladbach dentro da Alemanha Ocidental na vitoriosa Intercontinental. A falta de nervos millonaria se traduziu nas expulsões de Eduardo Saporiti e Reinaldo Merlo, cada uma pouco após os gols rivais.

No intervalo de tempo entre a classificação à final e as decisões, mais de um mês se passou. Nesse período, o Boca, apesar de ter chegado a reunir 5 pontos de vantagem (na época, a vitória valia 2) sobre o Quilmes na reta final, acabou ficando no vice. Revés logo esquecido, ainda mais quando aquele copeiríssimo elenco segurou um 0-0 na ida da final, na casa adversária.

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Boca contra o Atlético Mineiro; e o finalista Deportivo Cali: Otero, Torres, Castro, Caicedo, Escobar e Zape; Umañan, Landucci, Ospina, Scotta e Benítez. Landucci e Scotta eram argentinos

Foi contra o Deportivo Cali, o primeiro colombiano finalista na Libertadores, prenunciando o grande momento que o futebol do seu país voltaria a demonstrar a partir da década seguinte, revivendo um pouco o Eldorado que o esporte viveu por lá na virada dos anos 40 para os 50. Mesmo após o fim daquela fase dourada, onde chegou a ter Di Stéfano e outros membros da grande geração hermana dos anos 40, o campeonato cafetero continuou a atrair argentinos por um tempo.

Aquele Deportivo era treinado por ninguém menos que Carlos Bilardo, que oito anos depois seria o técnico de Maradona & cia na vitoriosa Copa de 1986. Entre seus jogadores, dois já haviam defendido a Albiceleste: o lateral Heriberto Correa (que era paraguaio naturalizado argentino), ex-Vélez, e o atacante Ángel Landucci, ex-Rosario Central.

Mas o maior destaque entre os argentinos dali era outro atacante: Néstor Scotta, conhecido no Brasil por marcar, pelo Grêmio, o primeiro gol do Brasileirão (aos que se opõem à unificação pré-1971). Na Argentina, onde jogou no River e no Racing, ele é menos reconhecido que o irmão Héctor, grande goleador do San Lorenzo. Mas teve seus bons momentos, especialmente no decadente Racing. Scotta foi o artilheiro daquela Libertadores e já o havia sido também na de 1977.

Mas nada disso foi suficiente na Bombonera, que teve naquele 28 de novembro de 1978 o casal real espanhol, Juan Carlos e Sofía, entre os espectadores. O próprio Bilardo reconheceu que o que houve com seus comandados poderia ocorrer com qualquer outro time do mundo na conhecida dura atmosfera do estádio xeneize. Mastrángelo e Salinas, artilheiros do Boca na competição, deixaram o seu cada.

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O recordista Sá com o veterano goleiro Gatti; Salinas, o outro artilheiro do Boca na Libertadores 1978, e Perotti, autor de dois gols na final

Mas o destaque maior foi para a revelação Hugo Perotti, que fez outros dois no massacrante 4-0. Só outra final de Libertadores teve placar mais elástico, ainda que pela mesma diferença de gols (os 5-1 do São Paulo na Universidad Católica em 1993). El Mono, de só 19 anos de idade, vinha dos juvenis para não deixar a torcida sentir falta do vitorioso ponta-esquerda anterior, Darío Felman, vendido ao Valencia após a Libertadores 1977 e que só jogara a Intercontinental por um acordo com o clube espanhol.

Perotti é pai de outro ponta, Diego Perotti, do Sevilla, até hoje o último caso de pai e filho usados na seleção argentina. Outro destaque especial do título foi para um defensor: Francisco Sá. Outro ex-River a se dar muito melhor no Boca, El Pancho já havia vencido as quatro que o Independiente empilhou em sequência (ainda um recorde) entre 1972 e 1975 e a primeira obtida pelo Boca, em 1977. Com a sexta Libertadores no currículo, Sá se tornou até hoje o maior campeão dela. Ironicamente, ele estava disposto a ir jogar na Colômbia antes do técnico Juan Carlos Lorenzo convencê-lo a ir ao Boca.

El Toto Lorenzo foi o maior técnico que o clube teve antes de Carlos Bianchi. A taça de 35 anos atrás foi sua última glória – como já havia ocorrido em 1977, Boca e Liverpool (novamente campeão europeu) não chegaram a um acordo pela Intercontinental, que sequer foi realizada. Depois que Lorenzo se retirou em 1979, após perder o tri da Libertadores para o Olimpia, o time passou duas décadas de glórias magras e vendo o River encostar em expressão internacional. A reação só veio com Bianchi. Contaremos o início dela no próximo especial…

FICHA DA PARTIDA – Boca: Hugo Gatti, Vicente Pernía, Francisco Sá, Roberto Mouzo e Miguel Bordón, Jorge Benítez (Carlos Veglio), Rubén Suñé e Miguel Zanabria, Ernesto Mastrángelo, Carlos Salinas e Hugo Perotti. T: Juan Carlos Lorenzo. Deportivo Cali: Pedro Zape, William Ospina, Henry Caicedo, Miguel Escobar, Fernando Castro (Heriberto Correa), Rafael Otero (Héctor Jaramillo), César Arce Valverde, Ángel Landucci, Ángel Torres, Néstor Scotta e Alberto Benítez. T: Carlos Bilardo. Árbitro: Edison Pérez (PER). Gols: Perotti (15/1º), Mastrángelo (15/2º), Salinas (26/2º) e Perotti (40/2º)

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O gol mais bonito da final: de Mastrángelo, que nem aparece na foto. Um canhotaço que encobriu o pobre goleiro Zape

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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