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11 jogadores para os 110 anos do Newell’s Old Boys

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O Newell’s Old Boys, clube argentino da moda, comemora hoje seus 110 anos. Onze décadas, na verdade, apenas de um referencial, pois seus fundadores já praticavam um fervente football em Rosario há décadas, mas nos pátios do colégio Comercial Anglo Argentino da cidade. Em 3 de novembro de 1903, uma reunião informal criou simbolicamente um clube só oficializado em ata dois anos depois, o que por um tempo fez muitos crerem na fundação como em 1905.

Formado pelos veteranos (daí o Old Boys) do colégio, o nome refere-se ao fundador da escola, o imigrante inglês Isaac Newell. Chegara à Argentina com só 16 anos, em 1869, sem parentes, com auxílio de amigos dos pais e uma carta de recomendação ao administrador da Ferrovia Central Argentina – ou Central Argentine Railway. Newell foi aceito nela como telegrafista. Não foi definitivo na profissão. Seria simbólico: na ferrovia, surgiria o Rosario Central… Em 1878, passou a trabalhar também em um colégio metodista, onde à noite dava aulas de inglês.

Ali conheceu sua esposa, a alemã Anna Jockinsen, também professora de inglês. Eles abriram o próprio colégio em 1883, no mesmo endereço da casarão do já falecido administrador que acolhera Isaac. No brasão, as cores vermelha e branca da bandeira inglesa com a branca e negra da casa real alemã. O football naturalmente surgiu como recreação entre os alunos e muito praticado no pátio colegial até que veteranos fundassem trinta anos depois o NOB, já no fim da vida do professor, que sabia estar seriamente doente desde 1900 e afastara-se da docência em 1901.

Isaac Newell faleceu em 1907. O time que lhe homenageia já se mostrava forte: fundara em 1905 a liga rosarina e vencera as três primeiras edições dela e quatro das seis posteriores. Em 1908, já tinha seu primeiro jogador na seleção argentina, o ponta-direita José Viale, um dos sócios-fundadores como Claudio Newell, filho de Isaac. A liga rosarina foi prioridade até 1939, ano em que a dupla principal da cidade foi admitida no campeonato argentino, até então restrito à Grande Buenos Aires e La Plata, apesar do nome. Até lá, foram 15 títulos rubronegros e 12 do Rosario Central. Nessas primeiras décadas, o principal jogador do Ñuls foi outro ponta-direita: Julio Libonatti.

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Colegio Anglo Argentino (hoje, Colegio Inglés) e túmulos de Isaac Newell e esposa em Rosario

Ele começou no Rosario Central. Mas não durou no rival e chegou ao Newell’s em 1919. Dois anos depois, já era herói da seleção: o primeiro título da Argentina na Copa América veio em 1921 com Libonatti marcando em cada partida da Albiceleste, incluindo no Brasil e o gol do título, sobre o Uruguai. Terminou carregado em Buenos Aires desde o estádio do Sportivo Barracas (lembra? O especial anterior foi sobre ele: clique aqui) até a frente da Casa Rosada, na Praça de Maio… Na temporada, ele também marcou nos 3-0 no Huracán pela Copa Ibarguren, tira-teima da época entre o campeão “argentino” com o rosarino para definir moralmente o “verdadeiro” campeão nacional.

Fez história ao ser a primeira contratação transatlântica do futebol europeu, em 1926. Outros sul-americanos já jogavam lá, mas com carreira iniciada já no Velho Continente. Libonatti foi o primeiro que a Europa contratou a partir do futebol sul-americano. Virou ídolo histórico também no Torino, sendo goleador do campeonato italiano de 1928, o primeiro vencido pelo clube. Mais do que isso, chegou a ser o maior artilheiro do Toro (hoje, é o segundo) e o segundo que mais marcou no clássico contra a Juventus. Também jogou pela seleção italiana. Falamos aqui.

“Pense no Zidane. Agora, se lembre do Van Basten. Por fim, acrescente um pouco do Raí. Pronto, você chegou a um pouco do que era o René Pontoni“, assim comentou nosso colaborador Joza Novalis sobre um ídolo assumido pelo Papa Francisco em carta com selo do Vaticano. Pontoni foi um poderoso centroavante dos anos 40, já na época em que o Newell’s recém-ingressara no campeonato argentino. Antes de brilhar no San Lorenzo, o clube “papal”, Pontoni começou no NOB, em 1941. Em embalou o time, que ficou na 3ª colocação, época em que isso significava demais aos novatos do interior.

Em um ano, já era da seleção: pertenceu à geração dourada argentina eclipsada mundialmente pela Segunda Guerra. O brilho se restringiu ao continente. A seleção venceu três Copas América seguidas (recorde ainda não alcançado) nos anos 40. Foi em 1945, 1946 e 1947: clique aqui. Apesar dos anos seguidos, só cinco jogadores estiveram nas três campanhas. Pontoni foi um deles e, na última, chegou a deixar Alfredo Di Stéfano no banco. Pudera: em 19 jogos pela Argentina, foram 19 gols.

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Trio ofensivo: Santamaría, Pontoni e Libonatti

No Newell’s, a média de Pontoni foi “só” de 0,6 por partida: 72 em 118, cinco deles no clássico rosarino. Algumas das razões pela qual o escalamos como centroavante no lugar do maior artilheiro profissional do clube, Víctor Ramos, autor de 104 gols em 253 jogos, e que só foi campeão já no fim da carreira e fora da titularidade. Na escalação hipotética, o ataque seria completado por outro ponta, Santiago Santamaría. Mesmo ponta, era goleador: o segundo maior artilheiro profissional da Lepra é ele, com 90 gols, 9 deles no Rosario Central. É o profissional que mais gols marcou no clássico.

Jogou de 1971 a 1985, com três passagens diferentes pela sangre y luto. A melhor foi a primeira, até 1974, ano em que participou ativamente do primeiro título argentino do clube, com 8 gols em 15 jogos. Na segunda, acabou convocado à Copa de 1982. Infelizmente, em 27 de julho deste 2013 um ataque cardíaco matou El Cucurucho. O apelido (“casca de sorvete”) lhe foi dado pelo colega Mario Zanabria. Marito era o meia-esquerda daquele Newell’s campeão de 1974. Ele e Santamaría haviam passado por grande decepção em 1971: o time chegou às semifinais, perdida justo para o Rosario Central.

Para piorar, o Central, que também ainda não tinha títulos argentinos, acabaria campeão. O rival foi bi em 1973. Razão pela qual a taça de 1974 representou certo desafogo aos leprosos. E veio da melhor forma: contra os rivais, na casa deles. A nove minutos do fim, o Central vencia por 2-1 quando o cerebral e capitão Zanabria acertou de fora da área o canhotaço do empate que garantia o inédito título. Razão pela qual o escalamos no lugar de Maxi Rodríguez. Zanabria seria ídolo também no Boca: mesmo menos protagonista, foi figura importante nas primeiras Libertadores dos xeneizes, no bi de 1976-77.

Colega de Zanabria e Santamaría, o raçudo volante Américo Gallego foi outro ídolo dos anos 70. Foi o único jogador de Rosario titular em uma Argentina campeã do mundo, em 1978. Passou ao River em 1981, onde também seria ídolo (capitão campeão de tudo em 1986: nacional e as primeiras Libertadores e Intercontinental do Millo). No Newell’s, estreara em 1974, já após o título. Quitou a falta de taças na Lepra trinta anos depois: foi o técnico dos campeões de 2004, título que fez o clube enfim ultrapassar as quatro conquistas nacionais do Central.

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3/4 do meio-de-campo: o meia-esquerda Zanabria e os volantes Gallego e Martino

Se o Newell’s conseguiu um 5º título, foi porque até lá, conseguira desde 1974 outros três. Eles vieram entre 1988 e 1992, melhor época do clube. O líder era outro volante, o atual técnico do Barcelona: Gerardo Martino. Era um elegante jogador que só não foi às Copas de 1986 e 1990 porque o técnico Bilardo preferia homens de contenção em vez de armadores para a posição. Mal comparando, seria um Alex (o do Coritiba e outro injustiçado por não jogar Copas) jogando mais atrás. Quando Bilardo saiu, Fernando Redondo, mais jovem, já havia despontado com ainda mais classe.

Martino esteve nos referidos três títulos e nos dois vices na Libertadores que o Newell’s alcançou no mesmo período. É quem mais jogou pelo clube, 509 vezes. Tornou-se um bom treinador: sob ele o Paraguai enfim chegou às quartas-de-final da Copa do Mundo, em 2010, além de eliminar o Brasil e ser vice na Copa América 2011. Mas foi na velha casa que chamou a atenção do Barça. O Newell’s estava ameaçado de rebaixamento em 2012 e, com os mesmos jogadores, mudou com a chegada de El Tata: vice naquele ano, campeão em 2013 e por um triz não chegou a nova final de Libertadores neste ano.

Se Martino é quem mais jogou pela Lepra, o goleiro Norberto Scoponi é o segundo, com 408 jogos. El Gringo também esteve nos três títulos nacionais e dois vices na Libertadores entre 1988 e 1992. Na Libertadores, destacou-se especialmente em decisões por pênaltis (Bolívar em 1988, América de Cali em 1992), embora tenha perdido nisso para o São Paulo em 1992 (pegou a cobrança de Ronaldão). Seguro, frio e elástico, acabou convocado à Copa de 1994.

Para a lateral-direita, o quarto homem com mais jogos pelo NOB: Fabián Basualdo, importante na defesa rubro-negra campeã nacional em 1988, título que apaziguou grande decepção de um ano antes: o time fora vice justo para o Central, que acabava de voltar da segundona. Basualdo iria ao River logo após a taça e faria falta na Libertadores; não conseguiram substituir-lhe e o volante Juan Llop (terceiro que mais jogou pela Lepra, mas não era um Gallego) se improvisou na posição, sem render do mesmo jeito. Basualdo passou seus 27 primeiros jogos na seleção sem perder, um recorde.

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3/4 da defesa: Scoponi, o lateral-direito Basualdo e o zagueiro Sensini

Na zaga central, outro de 1988: o versátil Roberto Sensini, que saiu após o vice na Libertadores. El Boquita já era jogador de seleção e viraria figurinha carimbada, jogando por ela até 2000, já com 36 anos. Foi às Copas de 1990, 1994 e 1998. Destacou-se também nas outras equipes que passou: Udinese, Lazio e, especialmente, o grande Parma dos anos 90. Voltou como técnico ao Newell’s em 2009. Assim como em 2012, o time flertava com o rebaixamento e acabou vice.

Um dos comandados de Sensini foi o eleito para a outra lateral: Rolando Schiavi. Despontara no Argentinos Jrs e depois fizera história no Boca, mas começara nas divisões de base leprosas e ainda não havia jogado profissionalmente pelo NOB, dívida que acabou em 2007. El Flaco foi o capitão do vice em 2009. Na época, acabou convocado à seleção aos 36 anos de idade: é o mais velho estreante na Albiceleste. Até correu por fora por um lugar na Copa de 2010. No clube, fez história também por seus 20 gols: é o maior defensor-artilheiro do Ñuls. Ainda rendendo, voltou com 38 anos ao Boca em 2011.

Para fechar os onze, um do elenco atual: o meia Lucas Bernardi. Foi outro líder do time de 2009, ano em que regressou à casa: surgira nela em 1998 e foi contratado dois anos depois pelo futebol francês, onde fez história no Monaco. Ficou oito anos no time do principado, pelo qual foi vice da Liga dos Campeões de 2004 tirando Real Madrid e Chelsea do caminho. Bernardi concorreu para a Copa de 2006, mas a concorrência com os mais jovens Riquelme e Aimar pesou. As razões para Bernardi estar aqui vão além do esportivo; Joza Novalis dissecou em julho os porquês em um perfil do meia: clique aqui

O técnico, é claro, só poderia ser Marcelo Bielsa, que simplesmente dá nome oficial ao estádio leproso, além de ser torcedor fanático do NOB. A homenagem pode parecer exagerada a quem só ganhou dois títulos nacionais e um vice na Libertadores (entre 1990 e 1992), mas o contexto já foi explicado em alguns de outros especiais sobre o aniversariante de hoje. Confira-os mais abaixo, pela ordem cronológica dos acontecimentos de um clube que pôde dar-se ao luxo de negligenciar seus ex-jogadores Batistuta, Maradona e Ortega (e Messi, por enquanto só torcedor…) nessa escalação:

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Schiavi completa a defesa, Bernardi o meio e o técnico Bielsa comanda tudo

*René Pontoni, ídolo do Papa

*Há 40 anos, uma pomba voava para nunca mais pousar

*Héctor Yazalde, o primeiro argentino chuteira de ouro

*Rosario há 25 anos: Central campeão, Newell’s vice

*25 anos do início dos anos dourados do Newell’s

*25 anos da primeira final de Libertadores do Newell’s

*Gabriel Omar Batistuta, o maior artilheiro da Albiceleste

*Marcelo Bielsa e Newell’s Old Boys: uma era que terminou há 20 anos

*Newell’s: vice-campeão da Libertadores vinte anos atrás

*Há 20 anos, Maradona chegava ao Newell’s Old Boys

*Os títulos anteriores de Central na 2ª e Newell’s na 1ª

*O Clásico Rosarino está de volta

*Elementos em comum entre Boca e Newell’s

*Elementos em comum entre Newell’s e Vélez

*Elementos em comum entre Newell’s e Atlético Mineiro

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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