Banco de reservas em crise em Avellaneda: Racing e Rojo ficam sem técnicos
Impressiona o quanto o futebol anda em crise em Avellaneda. O Rojo já foi para a B Nacional; o Racing parece louquinho para seguir o rival pelo mesmo caminho. Reflexo disso são as campanhas pífias que um e outro fazem, cada um em sua categoria. Sinal claro é o fato de que a crise no banco de reservas era grande. E como são mais “co-irmãos” que rivais os cumes de suas crises parecem chegar ao mesmo tempo. No mesmo fim de semana, os dois treinadores foram demitidos. Prova de que o problema não era só no banco de reservas é a suspeita de que dificilmente novos substitutos resolverão o problema.
Poucos se recordam de quando Zubeldía chegou. Ninguém dava jeito no Racing. O jovem técnico, de forte personalidade e, por vezes, teimoso e provocador, de cara desenhou e apresentou um plano de trabalho para a direção da Academia. Afastou um e outro; promoveu a subida ao time de uma geração que alternava ótimas promessas com outros jovens supervalorizados das canteiras. Além disso, Zubeldía fez uma lista com nomes de peso. Sua ideia era a de equilibrar o elenco com garotos e homens. Caberiam a estes últimos a função de resolver o problema e tranquilizar àqueles, que se transformariam em bons jogadores.
Poucos se recordam ou perceberam em que ponto a proposta de Zubeldía deu errado. Quando se tratou de mandar muita gente embora, sem problemas. Nisto, Cogorno até agradecia, pois economizava uma grana e fortalecia sua honesta proposta de sanear os miseráveis e afetados cofres racenguistas. Quando se tratou de subir a garotada, melhor ainda. Nomes surgiriam para o fortalecimento da equipe e alguns por certo seriam bem negociados, no futuro.
O problema começou a aparecer em duas situações. Dos nomes que chegaram poucos foram os solicitados pelo técnico. Dentre estes, quem desembarcou em Avellaneda eram, digamos, as últimas opções. Para piorar as cosias, Nenhum deles resolveu. Para exemplificar as coisas destacamos Diego Valeri como o sonho de consumo do técnico. A direção do Racing sempre apontou os grandes custos da negociação. O que fica sem sentido, considerando que o Lanús negociou o atleta quase de graça para o México. E foi do país asteca que veio a maior decepção: Pep Sand. E para resumir a passagem de Sand, fica a frase dele, quando se foi: “jogar pelo Racing foi a pior decisão que tive em toda a minha vida”.
O problema ganhou dimensões gigantescas quando Cogorno se viu no direito de praticar o que considerava uma obrigação: a de negociar jovens atletas. Comprou uma briga estupenda com o jovem treinador. Resultado disso foi que dirigente e técnico muitas vezes deixaram de lado a preocupação com o clube e priorizaram uma espécie de fogo-amigo ao trabalho do outro. Depois disso, nunca mais as coisas se ajustaram. O início de temporada foi marcado pela tentativa de ambos em deixarem as arestas de lado recolocarem o clube no palco de suas preocupações. Já era tarde. Nenhuma solução encontrada pelo técnico, então, parecia capaz de repercutir positivamente em campo: o Racing era uma tragédia. Resultado lógico? Zubeldía se foi.
No Rojo, o problema institucional era ainda maior; bem mais profundo e danoso. Seu principal responsável chama-se Comparada, antigo presidente e que mais parece um barra brava da pior espécie possível que um dirigente. Sua passagem pela presidência do Rojo foi tão desastrosa que seu substituto, o atual presidente, Javier Cantero, chegou a dizer que o rebaixamento do clube foi até positivo. De certa forma ele não estava errado, já que o clube não parece dispor de estrutura para seguir mantendo um elenco de nível na primeira divisão.
Com uma necessidade feroz de reduzir dívidas institucionais gigantescas, a B Nacional oportunizou a Cantero que reduzisse a folha de pagamento. Além disso, o fato de lidar com rivais menos poderosos poderia aumentar a autoconfiança e levantar a baixa autoestima, construída por seguidos vexames, na elite do futebol argentino. Na teoria, tudo isto está correto. Contudo, na prática, a performance da equipe, na B Nacional, ou sugere que o Rojo não tem time sequer para a segunda categoria argentina ou que os planos traçados para disputar a categoria foram equivocados.
O posto de técnico é outra história de insucessos que conta com nomes como o de Ramón Díaz, Cristian Díaz, Américo Gallego e o de Brindisi. A lista mostra que por mais que se coloque um gênio no banco de reservas do Rojo dificilmente o seu futebol dentro de campo vai melhorar. A crise institucional parece sugar as boas iniciativas, as boas promessas das devastadas canteiras, assim como eventuais jogadores de peso que desembarquem no clube. A imagem é devastadora e segue apontado para o precipício. Neste sentido, a B Nacional pode não ser o destino final do Independiente na sua passagem pelo ascenso.
Brindisi caiu somando apenas dois pontos em 12 disputados, na segunda divisão. O líder, Defensa y Justicia já tem 12 pontos. Além disso, o Rojo não diferencia locais para dar os seus vexames. Seja na cancha dos rivais, seja no papel de anfitrião, a equipe não apenas segue sem vencer como ainda desempenha um futebol medonho e artificial. Assim como no rival da cidade, o Independiente tem agora uma lista de nomes para substituir o seu já antigo treinador. Assim como o rival, não consegue eliminar a suspeita de que independentemente de quem venha dificilmente as coisas vão se modificar.
Cantero e Cogorno. Rojo e Racing. São tantas coincidências que chegam a assustar. Crise institucional, dificuldades de montar equipes, alternâncias constantes de técnicos, heranças malditas de ex-presidentes, torcidas impacientes e feridas em suas autoestimas, tradições maculadas e poucas perspectivas de uma solução a curto prazo. A continuar assim, o simpático “fantasma de La B”, utilizado pelos torcedores do Racing para brincarem com o rival, deve ampliar a sua vida útil em Avellaneda. Não que vá sair de um clube para o outro, mas abraçando os dois co-irmãos ao mesmo tempo.