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Elementos em comum entre River e Racing

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Perfumo jogou pelos dois a final da Libertadores. Eleito duas vezes ao time dos sonhos do Cruzeiro

Se a tônica dos grandes argentinos na atualidade é saborear mais a nostalgia, talvez não haja mais afetados do que River e Racing. Mas ambos, surgidos da união de dois clubes (respectivamente, La Rosales e Santa Rosa, e Barracas al Sud – nome original da cidade de Avellaneda – e Colorados Unidos) têm muitos outros e mais gloriosos elementos em comum.

Dos futuros grandes (os respectivos rivais Boca e Independiente e o San Lorenzo são os outros), foram os primeiros a subirem à elite. O River, em 1908, após final contra o próprio Racing na 2ª divisão. Venceu-o de virada por 2-1 na prorrogação. Como houve invasão de campo, a partida foi anulada. Na nova final, o River não deixou dúvidas: 7-0. Tempos em que o campeão não era millonario nem de Núñez, e sim apenas um modesto clube de La Boca, mesmo bairro do Boca Juniors (daí a rivalidade), e o vice não se vestia de Blanquiceleste e sim um xadrez celeste e – heresia! – vermelho.

Trocos ocorreram: o Racing subiu em 1910, ano em que, no centenário da Revolução de Maio, passou a vestir-se nas cores argentinas. E, a partir de 1913, impôs um hepta seguido na elite, ainda um recorde seu. As taças de 1917 e 1918 tiveram como vice o River, ainda sem títulos na primeira. E ele quebraria a série ao ser pela primeira vez campeão, em 1920. Em 1921, o cenário voltou: River vice, Racing campeão. O River tornou-se uma máquina de títulos (literalmente: nos anos 40, seu time foi apelidado de La Máquina) só a partir dos anos 30, já na zona norte – La Boca, vizinha à cidade de Avellaneda, fica ao sul. O primeiro deles, em 1932, com 1 ponto de diferença sobre o Racing.

Entre o final dos anos 40 e dos 50, foram eles quem mais se alternaram nas taças. Os de Avellaneda foram os primeiros tri seguidos da era profissional, entre 1949-51, com o tetra perdido por 1 ponto justo para o River em 1952. Ao fim da década, foram os de Núñez quem também conseguiram um tri, de 1955-57. O campeão de 1958? O Blanquiceleste. A partir dali, o Millo entrou em jejum de 18 anos, onde, nos dez primeiros, o Racing viveu sua melhor fase. O que não impediu La Banda Roja de vir a ter muitos mais festejos do que La Academia, cujos lampejos, por outro lado, deixaram o River para trás. Como na Libertadores 1997 (semifinalista), onde eliminou o detentor do título em pleno Monumental nas oitavas.

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Fillol, capitão e campeão nos dois, e o uruguaio Carrasco

Roberto Perfumo

Garra, categoria e bom cabeceio eram suas marcas. Titular do Racing melhor lembrado: El Equipo de José, o campeão argentino de 1966 com 39 jogos invictos, recorde só superado pelo Boca de Bianchi 30 anos depois. A invencibilidade, curiosamente, caiu contra o River, que recebeu no dia 52.231 pagantes, então sua maior plateia para jogo que não fosse contra o Boca. O troco veio na Libertadores 1967: os millonarios foram superados na 1ª fase e na semifinal. Perfumo e colegas venceriam o torneio (ver aqui) e também a Intercontinental 1967 (aqui), a primeira obtida por um time argentino.

Em 1970, El Mariscal (“O Marechal”) foi jogar quatro anos de sucesso no Cruzeiro. Capitão da Argentina na Copa 1974, em 1975 foi acrescentar experiência à zaga do River (que o dispensara nos juvenis), onde muito ensinou o jovem Passarella. O clube, naquele ano, encerrou em dose dupla o jejum de 18 anos que vivia, faturando o Metropolitano e o Nacional. Perfumo também esteve na final da Libertadores 1976, perdida para os ex-colegas do Cruzeiro. Parou de jogar em 1978, em Núñez.

Ubaldo Fillol

Surgido no Quilmes, El Pato despontou no Racing, em 1972. Seu talento o levou ao River em 1973 e à seleção para a Copa 1974. Titular nas Copas 1978 e 1982, fez história no Millo: sete títulos argentinos em nove anos de clube, com destaque aos que em 1975 quebraram a seca de 18 anos. A volta olímpica, por sinal, foi contra o Racing, que perdeu com gols de Carlos Morete e Norberto Alonso, dois torcedores racinguistas. Retornou à Avellaneda em 1988 para vencer a Supercopa Libertadores, primeiro troféu da Acadé desde a Intercontinental 1967. No caminho, o River foi eliminado na semifinal – ver aqui.

Juan Ramón Carrasco

O uruguaio teve passos fugazes nos dois, jogando 2 anos em cada, mas deixando sua marca: o meia era caracterizado pelo temperamento e chute forte. Foi tri seguido no River (Metro e Nacional 1979, Metro 1980). No Racing, onde foi em seguida, foi um camisa 10 goleador: 28 gols em 55 jogos. Sem ele em 1982, a Academia fez um péssimo campeonato, decisivo para o rebaixamento um ano depois: os promedios a condenaram no lugar do… River.

Ramón Medina Bello

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Medina Bello e Merlo

El Mencho tinha chute forte também. Mas ou fazia golaços ou mandava às arquibancadas. No Racing, foram só 26 gols em 124 jogos. Venceu a Supercopa 1988, mas sem ser figura. Ainda assim, foi ídolo dos bons momentos que o clube teve após voltar da segundona. Chegou ao River em 1989 e se aprimorou. No início dos anos 90, fazia dupla letal com Ramón Díaz e chegou à seleção. Fez 70 gols em 212 jogos – os últimos, normalmente vindo do banco. Este ponta-direita deixou o clube em 1997, com 6 títulos nacionais e, mesmo já na reserva, também a Libertadores 1996 e a Supercopa 1997.

Reinaldo Merlo

El Mostaza (“O Mostarda”, tinta dos seus cabelos) é simplesmente quem mais jogou pelo River: 562 vezes entre 1969-84, preferindo aposentar-se quando foi dispensado; vinha perdendo lugar após a vinda do concorrente Américo Gallego, em 1981. Vestiu apenas a Banda Roja e a camisa da seleção em toda a carreira de jogador. Integrou com Juan José López e Norberto Alonso “os Três Mosqueteiros” do meio-campo do clube nos anos 70, carregando o piano para que os outros dois, mais técnicos, brilhassem.

No Racing, chegou em 2001 a um clube em chamas, declarado falido em 1999 e ameaçado de rebaixamento. Implantou seu Paso a Paso para fugir da queda no Clausura e, depois, para vencer o Apertura e decretar o fim do jejum de 35 anos sem taças nacionais dos Blanquicelestes (ver aqui). Teve como vice o River, que ficou sem troféus em pleno centenário. Virou até estátua em Avellaneda.

Em comum na seleção…

Seis conseguiram. Vladislao Cap, filho de um ucraniano com uma romena, foi um raçudo zagueiro e volante do Racing nos anos 50, um dos numerosos campeões nacionais de 1958 levados à vitoriosa Copa América de 1959. Chegou ao River em 1962 e lá ficou até 1965, atrapalhado pelo jejum para tornar-se ídolo. Pelo clube, foi titular na Copa 1962. Vinte anos depois, faleceu enquanto era técnico do time, aumentando a crise, de origem financeira, que se vivia ali. Viera do Boca e tornara-se o primeiro técnico a passar diretamente entre os dois principais rivais do país. Na função, treinou o rival racinguista Independiente no título nacional de 1971 e a seleção na Copa 1974.

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Cap e Onega

Rogelio Domínguez foi um dos maiores goleiros argentinos: fechava ângulos com seu 1,90 m e bons reflexos. Surgiu no Racing, participando do tri de 1949-51, mas só depois se firmou. Rivalizava com Amadeo Carrizo por uma vaga na seleção (estreou em 1956), onde ficou sem perder seus 16 primeiros jogos – então um recorde. Titular na vitoriosa Copa América de 1957, foi logo depois ao Real Madrid de Di Stéfano, o que significou também sua ausência na Copa de 1958 (os do exterior não eram usados). Deixou o Real ao fim do ciclo de 5 títulos madridistas seguidos na Liga dos Campeões, em 1961, indo ao River, onde jogou pouco, na reserva do próprio Carrizo. Mesmo assim, foi à Copa de 1962. Pelo Nacional, jogou contra o Racing a final da Libertadores 1967. Parou no Flamengo, em 1969.

Daniel Onega surgiu como atacante implacável do River na Libertadores de 1966. Até hoje é quem mais fez gols em uma só edição do torneio: 17. A ascensão meteórica o colocou entre os pré-convocados à Copa do Mundo daquele mesmo ano, mas só seu irmão Ermindo foi à Inglaterra. Daniel também não conseguiu ir à Copa de 1970, com a Argentina eliminada pelo Peru. Foi um dos maiores ídolos do River apesar de ser da época dos 18 anos sem taças. Com o tempo, virou um celebrado meia-armador. Emprestado ao Racing em 1972, atuou pela seleção pela última vez naquele ano, onde integrou os vices do Metropolitano.

Enrique Wolff surgiu na lateral-direita racinguista de 1967, mas, muito novo e desejando concluir o ensino médio, não participou das taças daquele ano, de forma que apareceu já no início do jejum da Acadé. Mas, preciso, veloz e torcedor do Racing, virou ídolo. Em 1972, ano em que estreou na seleção, foi trocado com o River pelo atacante Néstor Scotta (o mesmo que, pelo Grêmio, teria marcado o primeiro gol do Brasileirão para os opositores da unificação). Wolff seguiu na seleção e até foi o capitão da Argentina na Copa 1974, da qual saiu para a Espanha – seria bicampeão nacional pelo Real Madrid em 1978-79. Ter ficado de fora da quebra do jejum millonario, em 1975, o privou de ser mais ídolo. Mas esteve entre os convidados da festa de fim de século do River, ao lado do próprio Scotta.

Julio Olarticoechea surgiu no Racing em 1976 e nele ficou até 1981. Sua polifuncionalidade (podia atuar nas duas laterais e como volante em qualquer lado também) o levou ao River em 1981, sendo campão nacional. Foi à Copa 1982 e poderia ter se firmado entre os ídolos se não fosse diretamente ao Boca em 1985. Nessa época, já jogava mais na defesa e acabaria titular na Copa 1986. Veterano, voltou ao Racing em 1988, já após a Supercopa. E vindo dele, esteve na Copa 1990.  El Vasco (“O Basco”) é o único a ir a três mundiais por três diferentes grandes argentinos.

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Wolff e Olarticoechea

Sergio Goycochea surgiu no nanico Defensores Unidos de Zárate, chegando ao River em 1982. Nunca se firmou na titularidade, por “culpa” de Fillol e, depois, de Nery Pumpido. Mas, em 1987, recebeu sua primeira chance na seleção. Na Copa 1990, na vaga do próprio Pumpido, estava escondido no Millonarios de Bogotá, voltando à Argentina como jogador do Racing, onde também não brilhou: já em 1991 estava na 2ª divisão francesa, no Brest. Ainda assim, jogou 13 vezes pela Argentina como racinguista. O Tapa Penales, curiosamente, era na infância torcedor justo do rival Independiente.

Após passar também pelo Paraguai e continuar na seleção, voltou ao River depois de campeão e eleito o melhor jogador da Copa América 1993. Goyco foi titular no campeão do Apertura 1993, um time “mais sólido que brilhante”, como admite o próprio livro do centenário do clube. Foi à Copa 1994, de onde saiu para o emergente Mandiyú do técnico Maradona. Burgos o substituiu muito bem para que ficasse um ídolo do River. Mas, como Wolff (e Scotta), também esteve no jogo festivo de fim de século do Millo.

…e em comum em títulos:

Fora Perfumo, Fillol, Medina Bello e (como técnico no Racing) Merlo, outros cinco conseguiram. Muitos, como Fillol, goleiros: Antonio Rodríguez jogou 4 vezes no River campeão de 1941, na reserva do uruguaio Julio Barrios. Passou a maior parte dos anos 40 no Lanús, indo ao Racing em 1948. Foi titular no tri de 1949-51. No último, alternou-se com Héctor Grisetti, titular do título argentino de 1947 do River – o mencionado Carrizo ainda era iniciante. Após dois anos no Banfield, chegou ao Racing em 1951. Rogelio Domínguez também era um iniciante reserva e Grisetti foi a sombra de Rodríguez.

Agustín Cejas é um dos maiores ídolos racinguistas, goleiro titular da Equipo de José que dominou o país, o continente e o mundo entre 1966-67. Brilhou também no Santos de Pelé – foi o primeiro a quem a Placar entregou a Bola de Ouro, em 1973. Voltou à Academia em 1977, saindo em 1980. Com 334 jogos, era quem mais havia defendido-a (hoje, está atrás de Gustavo Costas). O River o levou em 1981: com Kempes e Houseman, campeões mundiais em 1978, era uma das respostas à ida de Maradona ao Boca. Mas, reserva de Fillol, só jogou uma vez no título nacional de 1981, aposentando-se.

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Goycochea e Simeone – no Racing, com réplica da camisa pré-Blanquiceleste do clube
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Domínguez

Eduardo Saporiti surgiu no Racing, mas no Racing de Córdoba, em 1971. Chegou ao River em 1976 para só sair em 1987: está entre os que mais jogaram pelo clube. El Sapo ganhou seis títulos argentinos e, em 1986, as primeiras Libertadores e Intercontinental do time, embora já não fosse titular absoluto na zaga millonaria. Passou “ao outro” Racing e aposentou-se em 1988, como reserva dos campeões da Supercopa. No título seguinte da Academia, o Apertura 2001, estava o lateral-esquerdo Carlos Arano, reserva. No River, ele esteve entre 2010-13: seu título ali foi a 2ª divisão em 2012 mesmo. Teve mais sucesso no Huracán, onde está atualmente; fora titular do polêmico vice argentino de 2009.

Menção honrosa: Diego Simeone. Hincha do Racing, veio nele parar de jogar, em 2005, lutando pelo título: o clube foi 3ª do Clausura 2005. Resultados ruins posteriores o fizeram seguir no clube como técnico. Mas seu elenco não foi capaz de superar a crise e El Cholo mostrou melhor sua capacidade em outros lugares: no Estudiantes campeão de 2006 após mais de 30 anos e no último título do River na elite, em 2008 – ver aqui. Chegou a voltar ao Racing, treinando os vices de 2011, mas novamente não se deu bem depois. E desde então vem fazendo o Atlético de Madrid, onde fora ídolo, reagir.

Atualizações após a matéria: Simoene não é mais o último técnico campeão pelo River na elite e sim Ramón Díaz, no Torneio Final 2014; o Racing voltou a ser campeão também em 2014, no Torneio Transição. No elenco, antigos campeões no River: o zagueiro Nicolás Sánchez (Clausura 2008) e o artilheiro Gustavo Bou (Clausura 2008 e segunda divisão 2011-12), ambos refugos em Núñez. O River, também em 2014, enfim quebrou a seca internacional, ganhando a Sul-Americana, assim como Recopa e Libertadores em 2015. Em 2015, o riverplatense Gabriel Mercado tornou-se contra a Colômbia em 17 de novembro outro a jogar pela seleção vindo dos dois – havia jogado uma partida como racinguista em 2010, contra a Jamaica.

Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-RacingRiver-IndependienteIndependiente-San LorenzoRacing-San LorenzoRacing-Independiente, Boca-IndependienteBoca-San Lorenzo, River-San LorenzoBoca-River IBoca-River II, Boca-River IIIBoca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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