Elementos em comum entre Racing e San Lorenzo
Este especial inaugura uma minissérie envolvendo os cinco grandes do futebol argentino e seus principais nomes em comum. Abriremos com as semelhanças entre Racing e San Lorenzo, que se enfrentam nesta rodada pelo Torneio Inicial da temporada 2013-14. Dos grandes, a dupla é a que mais vem devendo nos últimos quarenta anos.
Ambos foram até os primeiros grandes rebaixados, em períodos próximos: o San Lorenzo em 1981, o Racing em 1983. O período incluiu os maiores jejuns de títulos nacionais dentre os cinco grandes (grupelho que formam com Boca, River e Independiente), com 21 anos para os azulgranas entre 1974-95 e 35 para os blanquicelestes, entre 1966-2001. Em 2001, por sinal, ambos foram pela única vez campeões no mesmo ano: o San Lorenzo no Clausura e na Mercosul e o Racing no Apertura.
O CASLA teve sorte pouco melhor desde 1973: fora o jejum menor, venceu a elite quatro vezes (1974, 1995, 2001, 2007), uma Mercosul (2001) e uma Sul-Americana (2002), além da segundona de 1982. A Academia, do seu lado, só venceu uma vez a 1ª divisão, aquela de 2001, e a Supercopa 1988 (aqui), além de não ter conseguido retornar imediatamente após o descenso: perdeu a última repescagem pela segunda vaga em 1984, só voltando em 1985, também através dela e não como campeã.
Atualizações em 2014: a dupla voltou a ser campeã no mesmo ano, com o San Lorenzo faturando a Libertadores e o Racing, o campeonato nacional. Após esta matéria, o San Lorenzo também venceu a elite uma outra vez, ainda em 2013.
O San Lorenzo também se sai mais feliz no seu clássico, realizado contra o Huracán. Este outro time, outrora seriamente respeitado como “sexto grande”, passa por vexames ainda piores que o da dupla de hoje e no retrospecto do dérbi tem menos vitórias mesmo quando joga em casa. Já o Racing padece contra o Independiente, que, justamente desde 1973, tem mais vitórias no Clásico de Avellaneda e muito mais troféus internacionais – ainda é o recordista na Libertadores, que venceu sete vezes. Não à toa, seu inédito rebaixamento, em 2013, ainda é muito comemorado sob doses extras pelos racinguistas.
Por outro lado, o Racing tem um passado mais glorioso antes de tanta decadência. Além de mais títulos argentinos (soma 16 contra 14 do Ciclón), tem uma Libertadores e Intercontinental (foi o primeiro argentino a conquista-la, em 1967), ainda hoje uma pendência para o CASLA – sigla que, de Club Atlético San Lorenzo de Almagro, é também satirizada pelos rivais como Club Atlético Sem Libertadores da América. Os cuervos são os únicos grandes da Argentina que ainda não venceram a competição, já levantada até por Estudiantes, Vélez e Argentinos Jrs, trio de expressão nacionalmente menor.
Atualização em 2014: o San Lorenzo enfim venceu a Libertadores. Mas ainda é o único grande sem título mundial.
A decadência dos dois é refletida no fato de que, dentre todos os duelos entre os cinco grandes, só este não possui um único jogador que, por ambos, defendeu a seleção. Quem mais está perto é o goleiro Sebastián Saja. Para aqueles amistosos a testar só os que jogam na Argentina, ele, muito apreciado no seu Racing, costuma ser um dos mais pedidos. Alejandro Sabella ainda não lhe deu as chances que Saja não recebe desde 2002, quando era um dos destaques do último grande momento do San Lorenzo. Foi um dos destaques dos logros de 2001. Chegou à titularidade em meio ao Clausura, vencido no embalo de outra conquista cuerva: o recorde de treze vitórias seguidas no campeonato.
Saja também foi decisivo no título da última Copa Mercosul, sobre o Flamengo, abatido em decisão por pênaltis na qual ele pegou os de Juan e Roma e acertou outro (ver aqui). Chegou a ser testado por Marcelo Bielsa antes da Copa de 2002, para a qual foi cotado como terceiro goleiro, mas não se saiu bem. Recuperou-se ao fim do ano: foi um dos poucos remanescentes da Mercosul que venceram o torneio sucessor, a Sul-Americana (aqui), as máximas taças internacionais conseguidas por aqueles a quem falta a Libertadores. Já no Racing, El Chino chegou em 2011, tornando-se líder no elenco. Foi vice da Copa Argentina de 2012, o mais perto que o clube esteve de um novo título desde 2001.
O goleiro do San Lorenzo que alternou-se com Saja no título do Clausura 2001 foi Gustavo Campagnuolo, que jogou 7 dos 19 jogos da campanha. Acabou bicampeão argentino naquele ano: passou ao Racing ainda em 2001 para ser titular do elenco que, mesmo mediano, pôs fim ao terrível jejum de 35 anos, saga contada aqui. Firmou-se nos arcos racinguistas, aos quais só deixou em 2009, carregado pelos colegas. Chegou até a ser chamado para a seleção em 2002, mas não jogou. Foi justamente Saja o primeiro goleiro a conseguir satisfazer os racinguistas depois que El Flaco saiu. Ambos até duelaram nos pênaltis nas quartas-de-final da Sul-Americana 2002 (confronto mais expressivo entre os dois times, que nunca se enfrentaram na Libertadores), cumprimentando-se.
Outra amostra do nível menor dos dois clubes é que Racing-San Lorenzo é também o confronto de grandes com menos campeões em comum: só Campagnuolo e José Chatruc. El Pepe foi colega dos dois goleiros. Foi titular da Academia campeã em 2001 e um ano depois, também titular na vitoriosa Sul-Americana do San Lorenzo. Embora não tenha agradado tanto os sanlorencistas, que o viam como desordenado, marcou 9 vezes em seus 38 jogos por eles, ótimos números para um volante. Ficou até 2003 nos azulgranas. Voltou ao Racing em 2008, na mesma situação com a qual chegara em 1999: na ameaça de rebaixamento, afastada embora Chatruc já não contribuísse tanto. Mas saiu ovacionado na noite de despedida, em 2009 – junto, justamente, de Campagnuolo.
Atualizações em 2014: Michelini e Chatruc foram igualados por Saja e o lateral Germán Voboril. Saja, enfim, foi campeão argentino no Racing. Foi colega do recém-chegado Voboril, que no mesmo ano vencera a Libertadores pelo San Lorenzo e já havia sido reserva no vitorioso Clausura 2007.
O caudilho e não à toa capitão daquele San Lorenzo de 2001-02 era Pablo Michelini. Compensava as limitações técnicas com entrega, aplicação e efetividade no jogo aéreo. Também foi “co-autor” de um dos gols do título da Sul-Americana – um adversário fez contra após tentar desviar jogada do volante. Chegara em meados 1999 desde o Racing, onde passara cinco anos recuperando bola e tocando curto. Viveu os bons momentos da Academia na década (vice no Apertura 1995, semifinal da Libertadores 1997) e a princípio continuara mesmo com o anúncio da quebra do clube, no início de 1999.
José Iglesias, ao contrário de Michelini, se destacou nos dois mas é no Racing que foi campeão. Toti foi revelado no fim dos anos 70 no San Lorenzo, chegando a ser contratado pelo Barcelona B. Voltou em 1983 para ser um dos destaques do time que, voltando da segunda divisão, por um mísero ponto não venceu a elite, desempenho que o devolveu à Espanha (ao Valencia). Se manchou perante os antigos torcedores ao acertar depois com o rival Huracán, onde também brilhou. Veio ao Racing em 1987, vencendo a Supercopa 1988. Virou o Totigol, com quase meio gol por jogo e dois em um 6-0 no Boca.
Dos não-campeões em nenhum, Gonzalo Bergessio teve maior destaque. Sua dupla com Facundo Sava foi vital para manter o Racing na elite há alguns anos. Berge durou pouco, 35 jogos e 12 gols, para realmente ficar como grande ídolo, mas na primeira temporada sem ele, o clube teve o desgosto de ser o primeiro grande a jogar a repescagem contra o descenso. Com Bilos, Placente e D’Alessandro, foi uma das grandes contratações do San Lorenzo em 2008 (ano de centenário) para vencer ali a Libertadores em alto estilo, sendo herói da classificação às semifinais: marcou os 2 gols que empataram 0-2 parcial para o River dentro do Monumental. Com nove em campo, o CASLA classificou-se, mas caiu nas semis. Vice nacional naquele 2008, Bergessio chegou à seleção; foi o penúltimo que a defendeu como cuervo.
Cabe falar ainda de alguns irmãos: um dos campeões com Saja e Michelini na Mercosul 2001 foi o zagueiro Diego Capria, que jogou nos dois: no Racing, esteve nos anos 90, chegando ao San Lorenzo (time que os irmãos torciam), onde realmente foi ídolo, em 2001, já após o título do Clausura. Foi seu o gol da 13ª e recordista vitória seguida, já pelo Apertura, contra o Boca, em seu segundo jogo pelos cuervos. Na Mercosul, converteu o pênalti do título sobre o Flamengo. No Brasil, jogou rapidamente pelo Atlético Mineiro, com certo destaque na própria Mercosul – falamos aqui.
Já no Racing, o ídolo é Rubén Capria. Tinha talento para a seleção, mas Passarella, técnico dela na melhor fase do meia, nos anos 90, o ignorou: em sua quase confessa preferência por jogadores do River, chamava Ortega e Gallardo. El Mago foi líder dos citados vice do Apertura 95 (Capria fez 3 gols em épico 6-4 na antepenúltima rodada no Boca de Maradona e Caniggia, então líder invicto, na Bombonera) e semifinalista na Libertadores 1997, onde eliminou o então campeão River nas oitavas. Teve três passagens pelo time, a última encerrada em 2006. Nunca jogou no San Lorenzo do coração.
Outra dupla fraterna são os Scotta, goleadores surgidos no Unión. Néstor Scotta é conhecido no Brasil por jogar no Grêmio. Para opositores da unificação aos títulos pré-1971, fez o primeiro gol do Brasileirão, contra o São Paulo, aos 10 minutos em um 3-0 dentro do Morumbi. El Tola veio do River e foi do Racing de 1973-76, quando o auge do clube ainda não estava distante. Foram 63 gols em 127 jogos pela Academia, praticamente meio por jogo – ele foi mencionado naquela espetacular cena de Racing contra Huracán em O Segredo dos Seus Olhos, Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010. Brilhou também no Deportivo Cali: vice da Libertadores 1978 (para o Boca) e duas vezes artilheiro do torneio.
Já Héctor Scotta, pelo CASLA, foi mais longe no país. Campeão em 1972 (aqui) e 1974, explodiu em 1975, ano em que El Gringo somou 60 gols nas artilharias do Metropolitano e do Nacional, ainda um recorde anual na Argentina, pulverizando a marca anterior, os “só” 47 de Arsenio Erico. 5º maior artilheiro do clube, marcou 140 em 226 jogos por ele. Como um Gerd Müller argentino, era mais potente e oportunista do que propriamente um elegante com a bola (estilo também do irmão), fazendo gol até de joelho. Chegou à seleção, mas sua ida ao Sevilla, onde também foi ídolo, complicou sua presença na Copa de 1978 – este era o efeito na época de ir à Europa, tanto que só Kempes foi chamado dela.
Clique nestas outras rivalidades para acessar seus elementos em comum: Boca-Racing, River-Independiente, Independiente-San Lorenzo, Racing-Independiente, River-Racing, Boca-Independiente, Boca-San Lorenzo, River-San Lorenzo, Boca-River I, Boca-River II, Boca-River III e Boca-River IV. No mesmo estilo, também fizemos a da rivalidade San Lorenzo-Huracán.