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15 anos sem Ernesto Grillo

Se no sábado o Independiente viveu o drama inédito do rebaixamento, hoje ele relembra a morte de um de seus maiores ídolos: o atacante Ernesto Grillo, que destacou-se mesmo atuando na pior fase da história do clube, até a recente. Também foi um grande personagem no Boca, no Milan e na seleção. Lembraremos dele aqui.

Nascido em 1 de outubro de 1929, já trabalhava antes do futebol: doze horas diárias como encadernador, na ajuda ao sustento da casa em que viviam pai e dez irmãos. Nas folgas, jogava na rua pela equipe da Farmácia Cané. Um amigo lhe indicou testar-se no River Plate.

Ainda nas categorias de base, Grillo passou ao Independiente, descontente em ser escalado por Carlos Peucelle na ponta-direita no River, preferindo ser o camisa 10. Atuou pelo Rojo de 1949 a 1957, marcando 90 vezes em 194 jogos. Quando estreou, o clube havia acabado de ser campeão, em 1948. Mas só voltaria a sê-lo em 1960, de forma que Grillo esteve no meio do maior jejum da instituição (o tempo do jejum atual se igualaria a esse no próximo ano). A falta de títulos nos diablos seria a maior amargura de sua carreira, segundo o próprio.

O clube, ao menos, costumava brigar pela ponta superior da tabela, embalado sobretudo por seu quinteto ofensivo: Rodolfo Micheli, Carlos Cecconato, Carlos Lacasia, ele e Osvaldo Cruz (campeão da Taça Brasil de 1960 pelo Palmeiras). “Ao Colón!”, gritava a massa roja, em alusão ao requintado teatro de Buenos Aires. Em 1953, os cinco fizeram história: aquele ataque inteiro do clube foi transportado para a seleção, que nunca no lado ofensivo usou tantos de uma mesma equipe. A estreia foi na recepção à seleção inglesa. Que perdeu de virada, 1-3. Falamos disso tudo há cerca de um mês, aqui.

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Micheli, Cruz (acima), Cecconato, Grillo (meio) e Bonelli atuaram 4 vezes juntos na seleção. E o lembrado gol de Grillo na Inglaterra

O maior destaque foi Grillo, com dois gols, um no minuto seguinte ao do tento inglês, muito lembrado pela jogada: saiu driblando a defesa adversária e, sem ângulo, encobriu o goleiro – fazendo o craque acabar tietado pelos próprios policiais que buscavam conter a euforia popular, como retratado na imagem que abre essa nota. Aquele 14 de maio acabaria virando “o dia do futebolista argentino” pelo sindicato da categoria. Aquele ataque do Independiente jogou junto mais duas vezes em 1953. Em 1954, Ricardo Bonelli ocupou a vaga de Lacasia e esta nova formação também seria toda usada pela Albiceleste, em outros quatro jogos.

Com Lacasia ou com Bonelli, nenhum foi perdido. E a seleção ainda ganhou uma Copa América, em 1955. Grillo, do seu lado, preferia dois gols que marcou no Uruguai em 1956, quebrando jejum de 14 anos sem vitórias da Argentina em Montevidéu. Em 1957, foi contratado pelo Milan por 3,3 milhões, dinheiro empregado pelo Independiente na construção da piscina do clube. Grillo dava-se bem nos clássicos de Avellaneda, marcando 8 vezes no Racing.

Já o Milan era o então campeão italiano e, desta forma, representante único do país na Liga dos Campeões (assim foi o regulamento até os anos 90). Chegou à decisão, diante do detentor de todos os títulos até então, o Real Madrid – que perdera de 0-6 em casa para aquele Independiente de 1953, com dois de Grillo. Ele ameaçou liderar nova vitória, colocando os italianos à frente em Heysel, mas Di Stéfano & cia viraram. Foi uma final sul-americana: os milaneses tinham ainda o argentino Ernesto Cucchiaroni e o uruguaio Juan Schiaffino; além de Di Stéfano, os adversários tinham o argentino Héctor Rial e o uruguaio José Santamaría.

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No Milan, fez sucesso também. Ao lado, sua morte repercutindo na Itália

O consolo veio na temporada seguinte, com os rossoneri sendo novamente campeões da Serie A, desta vez com Grillo em campo. Apesar do sucesso na Itália, ele não foi aproveitado pela seleção argentina para a Copa de 1958. Até os anos 80, quem ia jogar na Europa perdia visibilidade, em vez de ganhar, e só nos anos 70 a seleção passou a contar com “europeus”. O fato de a Itália não ter se classificado para o torneio (e assim folgar o calendário) também dificultou a negociação dos clubes para liberar suas estrelas argentinas. O ex-diablo, agora no Diavolo, marcou 30 vezes em 96 jogos.

Em 1960, retornou a seu país. Crescido no bairro portenho de La Boca, vizinho à cidade de Avellaneda, foi contratado exatamente pelo Boca Juniors, clube que enfrentara em sua estreia profissional pelo Rojo (perdeu por 0-2). Ironia: ele, que recusara a ponta-direita no rival River, chegou a desempenhar esta função nos auriazuis. “(Paulo) Valentim mais acima, (Ángel Rojas) Rojitas um pouco mais atrás, (Norberto) Menéndez de 8, (Alberto González) Gonzalito no meio-campo… era um grande time aquele”, afirmou sobre o Boca do início dos anos 60.

A equipe, desde 1944, só havia vencido o campeonato de 1954, estando decadente. Os títulos enfim voltariam com mais constância a partir de 1962. Grillo já tinha 33 anos, mas mantinha a classe, passando a jogar mais recuado, de volante, e conseguindo o que não alcançara no Independiente. O clube foi vice na Libertadores de 1963, para o Santos de Pelé, e foi campeão argentino novamente em 1964 e 1965. Grillo, que até voltou brevemente à seleção (o primeiro dos três que ela usou tanto do Independiente como do Boca), jogou até os 38 anos, com boas condições físicas. Depois de 101 jogos e 11 gols pelos xeneizes, parou em 1966.

Seguiu no Boca por mais vinte anos, nas categorias de base. Dentre os jovens que ajudou a formar, Alberto Tarantini, Marcelo Trobbiani, Roberto Mouzo e Oscar Ruggeri. Também foi técnico boquense interino quando necessário. No fim da vida, ele, tímido fora dos campos, viveu com problemas econômicos e de depressão. Morreu em sua casa, em Bernal, por uma doença estomacal.

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No Independiente, dava-se bem nos clássicos contra o Racing. No Boca, no fim da carreira, foi capitão e nele foi onde mais conseguiu ser campeão

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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