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Eles continuarão torcendo

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Desde Buenos Aires – E o Rojo vai ser rebaixado. Sim, vai. Como antes dele também foi o San Lorenzo, o Racing, o Estudiantes, o Newell’s, o Huracán, o Rosario Central, o River… e nem por isso a paixão centenária de seus torcedores foi diminuída por um pequeno deslize no percurso de histórias marcadas por conquistas, suor e campeonatos. Ao contrário, em todos os casos o amor ao time escolhido para acompanhar durante toda uma vida foi potencializado pelo digno sentimento de “en las malas mucho más“.

Atualmente essas mesmas torcidas até se permitem canções que remontem àqueles dias trágicos de sofrimento e desesperança valendo-se de versos como “nos bancamos el descenso” entoados em alto e bom som com a certeza e o orgulho de gritar aos quatro cantos, o fato de terem permanecido fiéis ao escudo que levam cravado no lado esquerdo da gloriosa camiseta, e em alguns outros casos marcado na pele.

Depois de toda a tormenta que virá com a confirmação de uma queda que já se arrasta rodada trás rodada, os torcedores do Rojo vão descobrir que a vida não acabou. Vão perceber que o clube continua na terra santa de Avellaneda, que mantém o status de maior vencedor da Copa Libertadores, que ídolos como Sastre, Bochini e Gabriel Milito continuam figurando em formações históricas e que a tradicional camiseta vermelha segue sem nenhuma mancha, porque ser rebaixado não é humilhação como alguns meios de comunicação insistentemente tentam vender.

Ser rebaixado é o resultado no futebol de que as coisas não funcionaram bem administrativamente, financeiramente e dentro de campo, principalmente. Mas não há necessidade de fazer do desespero e do sofrimento de uma torcida o fim do mundo no apito final do árbitro. Que esses mesmos setores da imprensa não atuem com falso moralismo ao reclamar da violência dos torcedores; como aconteceu naquele fatídico jogo do River contra o Belgrano em junho de 2011 e no clássico de ontem no mesmo Monumental, só que em menor proporção. Assumam a responsabilidade por aquilo que produziram dia após dia em matérias, mesas redondas e informes.

É claro que ser rebaixado não é bom, mas é do esporte. Há muito tempo que a AFA protege os ditos “grandes” através dos promedios e da promoción. Essa última medida felizmente acabou, porém ainda aguardamos pela revogação de uma regra que obriga os torcedores irem aos estádios com uma calculadora no bolso. Quando será que a máxima entidade do futebol argentino vai compreender que ter um clube de massa disputando a segunda divisão não representa necessariamente um prejuízo?

Na temporada 2011/2012 o River Plate disputou a B Nacional e a visibilidade desse campeonato foi tão grande quanto a primeirona. E não somente nas partidas do Millonario. Todos queriam saber como jogava aquele Instituto de Córdoba que liderou durante algum tempo a competição, o Rosario Central que brigou com River e Quilmes a chance do ascenso direto. Descobrimos o surpreendente Boca Unidos que venceu o próprio River e terminou em uma merecida quinta colocação. Nesse ano todos pudemos assistir a brilhante campanha do Central e a volta do clássico de La Plata com o Gimnasia carimbando seu passaporte para a elite .

Os benefícios de se ter um “grande” disputando a segundona vão além das transmissões de televisão. Foi o fator determinante para a volta da torcida visitante nessa categoria, um novo desbravamento do país rumo ao interior mostrando que o futebol argentino não tem residência fixa em Buenos Aires, “onde Deus atende” como costumam dizer os portenhos. Deu a oportunidade para talentosos jogadores mostrarem seu valor que, de outra maneira, nunca teriam a exposição necessária para dar aquele salto de qualidade na carreira.

Esperamos que confirmado o descenso, o período que o Rojo passará na B Nacional seja apenas o estritamente necessário para realizar a sua psicanálise. Uma espécie de refúgio ou um retiro espiritual forçado. E a torcida vai fazer parte de todo este processo jogando junto e cantando até mesmo quando o time menos merecer, porque será quando ele mais vai precisar.

Esse é o futebol e essas são as suas regras. Nada vai abalar a paixão, o sentimento e a dedicação do torcedor pelo seu clube. Essas serão as qualidades que aliadas ao trabalho e esforço conjunto conduzirão o Independiente de volta à primeira divisão. Porque grande não é aquele clube que jamais caiu. Grande é aquele que sabe encontrar o caminho de volta.

 

Leonardo Ferro

Jornalista e fotógrafo paulistano vivendo em Buenos Aires desde 2010. Correspondente para o Futebol Portenho e editor do El Aliento na Argentina.

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