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Burrito ou “Burro” Martínez? Eis a questão

“Burrito” Martínez queria sair da Argentina. Agora quer voltar

Poucos meses atrás, Juan Manuel Martínez fazia o impossível para sair do Vélez. Conseguiu. Não só porque se empenhou para isso, mas também porque o próprio clube entendeu que deveria vendê-lo. Isto mesmo, a insistência de Martínez contribuiu para que os dirigentes fortineros entendessem que o Burrito não cabia mais no seu planejamento. Decidiram pela venda.

Decisão tomada e foi só esperar pelas propostas. Elas apareceram de vários clubes, inclusive de alguns para onde hoje o Burrito quer partir. Contudo, na prática, ninguém tinha caixa para bancar a contratação. Foi então que apareceram dois clubes brasileiros em condições concretas de fichá-lo. Primeiro foi o Santos. Só que no Peixe seus dirigentes imaginavam que o prestígio do clube, até então o campeão da Libertadores, seria suficiente para atrair o jogador. Fizeram corpo mole até em razão de saberem que não tinham concorrência na Argentina.

Não contrataram Martínez, pois tinham concorrência no Brasil. Antes que os dirigentes santistas se dessem conta, Edu Gaspar e companhia foram à Argentina e trouxeram o Burrito para o clube de Parque São Jorge.

Sonho realizado, já que Martínez falava em atuar por um time que disputasse grandes títulos. Havia falado também do sonho em jogar ao lado de outros craques e no melhor time do Brasil. Certo que dizia essas coisas quando já tatuavam sua imagem à do Santos. Mas, de certa forma, o craque veio parar no que hoje pode ser considerado o maior clube do país, ao lado do Fluminense. Dá pra dizer que o sonho do atleta se realizou, pois se tornou até campeão mundial pelo “Timão”. Então, por que cargas d`água escuta-se agora essa conversa de que ele quer partir?

Antes de tudo, convém reconhecer que era legítimo o desejo do Burrito de sair do Vélez. Não pelo salário à época ou pelo fato de que o clube que, a despeito de ser um dos melhores da América, sinalizava que dificilmente seria o melhor. E, para Martínez, parece importar apenas se ele estiver no melhor. O Burrito não carregou o Vélez sozinho em suas costas. Mas o fato é que o melhor momento de sua carreira corria o risco de se esgotar sem que títulos à altura de seu futebol fossem ganhos.

Em novembro, Martínez surpreendeu em coletiva de imprensa. Disse que se fosse para ficar na reserva em 2013, preferia ir embora. Depois, e aconselhado até por outros atletas do elenco, chegou a pedir desculpas ao técnico Tite. A resposta do treinador foi a de coloca-lo na formação titular por vários jogos. Só que na cabeça do comandante, Martínez era somente mais um e não a estrela principal do elenco. Com todos à sua disposição, Tite voltou a deixar o Burrito no banco.

Não se sabe se da Argentina ou se do Parque São Jorge, mas vozes já ecoam sobre o desejo do Burrito de deixar o Corinthians. O destino não seria mais a China, Rússia ou clubes da Europa, como foi especulado à época do Vélez. E isto nos faz pensar que de duas uma: ou aquelas propostas não existiam ou o meia-atacante deixou de empolgar em tempo recorde. A afirmação pode parecer rigorosa, mas é só reparar nos clubes que hoje manifestam interesse no Burrito. Todos são argentinos. E é da Argentina que ecoa a principal voz em favor do retorno do Burrito: a de seu empresário e pai Carlos Martínez.

Todas as declarações materializam a insatisfação do jogador com o banco de reservas. E os argumentos para isso não poderiam ser os mais estúpidos. Simplesmente o atleta não quer a reserva pois pretende ser titular da Argentina no Mundial do Brasil. Para tanto, ele pretende atuar no futebol de onde Sabella dificilmente vai recrutar alguém para vestir a camiseta albiceleste. Pior ainda é ignorar o fato de estar jogando talvez pelo melhor clube possível para chegar à Seleção. Na Europa, Martínez estaria em uma equipe de segunda linha. Se estivesse em um clube de primeira teria de atuar em excelente nível ou então poderia ser preterido por algum argentino que atuasse por aqui. Caso por exemplo de Barcos, convocado no lugar de Carlitos Tevez.

Segundo Carlos Martínez, “o banco de reservas arruína o futuro do Burrito na Seleção”. Então, por que o jogador não luta para conseguir a titularidade? Ou ele não acredita no seu futebol ou não confia no treinador que o comanda. Como a primeira hipótese está descartada, Martínez pratica a inocência estúpida de não reconhecer os valores humanos e profissionais do Senhor Adenor. Desconhece ainda que além de salários e benefícios possui todas as condições para desempenhar seu futebol sem a pressão que foi jogada, por exemplo, sobre um jogador de personalidade, como Barcos. Personalidade que o Burrito parece não ter. Desconhece ainda a simpatia e o carinho da torcida pelo futebol que ele jogava no Vélez, mas que ainda não jogou pelo “Timão”. Mas para este argumento pai e filho tem uma resposta:

“Não me sinto bem jogando como meia. Tenho de correr pelos lados do campo. Sou atacante, não estou acostumado”, disse o Burrito. Vale lembrar que Romarinho quase não passava do meio-campo, quando estava no Bragantino. Hoje joga até nas laterais e está mais próximo da titularidade do que o argentino. O ex-atacante do Braga se acostumou. O habilidoso argentino só vai se acostumar se quiser. Só que para isso vai ter de descer dos degraus em que pensa estar e se acomodar àqueles que de fato correspondem a seu futebol.

“Ele quer jogar o Mundial e para isso tem de atuar como atacante. Querem que ele atue pelos lados do campo. Vejo como improvável que Martínez siga no Corinthians”, disse o pai do jogador. Essas palavras deixam claro que o empresário olha para o futebol brasileiro e só veja bagunça. Ele não acredita que possa haver algum clube no Brasil que assim como o Vélez, na Argentina, consiga se diferenciar dos demais por unir competência, amor da torcida e organização institucional. Como os dois Martínez não acreditam nisso, acham que podem falar aquilo que vem à cabeça.

As bobagens não têm fim. “Têm vários clubes na Argentina que o querem”. “Ser comandado por Bianchi é o sonho ‘da vez”. “Ser da Seleção obriga o técnico Tite a colocá-lo como titular”. “Que um jogador de tal calibre não pode atuar no Mundial por apenas alguns minutinhos”. Tudo isto dá asco e prova que tanto pai quanto filho parecem ter uma inteligência muito menor do que a dos argentinos que atuaram e atuam no Brasil. Só que tudo isto ainda é pouco diante da nova pretensão de Carlos Martínez. Ele simplesmente pensa em fazer uma reunião com os dirigentes do Corinthians (sem a presença de Tite) e reivindicar que o jogador seja titular da equipe. E esta seria a condição para que o “Burro” Martínez siga na equipe de Parque São Jorge.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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