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“Chueco” García, o Poeta da Canhota

El Chueco na seleção

O que não faltou no futebol argentino das antigas foram pontas comparados a Garrincha, pela habilidade dribladora. Se Omar Corbatta e René Houseman também são equiparados pelo alcoolismo que os destruiu, já Enrique García – que surgiu antes do Mané – o seria por conta das pernas tortas (arqueadas, em seu caso). El Chueco quer dizer justamente “O Torto”. Ontem ele teria completado 100 anos e será relembrado agora pelo Futebol Portenho.

Os historiadores do futebol vizinho o colocam como o melhor ponta-esquerda já surgido na Argentina. Veloz e bastante habilidoso nos dribles e assistências, foi admirado até por torcedores de equipes que sofreram com ele. “Sou inimigo de todos os sistemas táticos: atentam contra a beleza, não há preciosismo nem improvisação” foi uma de suas frases.

Nascido na cidade de Santa Fe, já ali foi rotulado também como El Poeta de la Zurda (“O Poeta da Canhota”). Passou pelas pequenas equipes locais do Las Rosas, Brown e Gimnasia y Esgrima, onde atuou ao lado de Genaro Canteli e Gabriel Magán, de futuro destaque no San Lorenzo. Logo chamou atenção da principal cidade da província santafesina, Rosario, contratado pelo Central em 1933.

Como canalla, García chegou em 1935 à seleção, um trampolim para que no ano seguinte já estivesse em um clube mais midiático e entre os cinco grandes do país, o Racing, depois de cerca de 40 mil pesos pagos por ele – um pouco menos que o recorde mundial da época, também argentino (os 50 mil que o River depositara por Bernabé Ferreyra em 1932).

No clube de Avellaneda, El Chueco está entre os maiores ídolos, mesmo não tendo faturado títulos em seus oito anos de Academia; as pancadas e a elevada idade para a época de 32 anos o obrigaram a parar em 1944. Mas soube ser campeão com outra camisa alviceleste, a da seleção.

No Rosario Central e no Racing

Já em 1937 foi decisivo no título da Copa América, inclusive marcando o único gol da vitória no jogo contra o Brasil, que voltaria a ser vítima dele também na Copa Roca de 1939 (com gols dele tanto no 5 a 1, primeira derrota caseira do Brasil, quanto no 2 a 3, ambos em São Januário) e na Copa América de 1942 (2 a 1). Sabia se divertir contra o adversário, como bem informa uma anedota sua com José Manuel Moreno, tido pelos mais antigos como melhor até do que Maradona.

Os dois formaram uma grande dupla na ala esquerda e, para enlouquecer um brasileiro, trocavam passes enquanto dialogavam entre si: “sirva-se, senhor García”. “Tome-a você, senhor Moreno”. “Agora é sua, senhor García”. “Você primeiro, senhor Moreno”.

Outra de suas historietas também envolveu os tupiniquins, na Copa Roca de 1940. Foi pedido para ajudar o colega Fabio Cassán a marcar. “É para já”. Passou pelos oponentes como que postes e serviu ao atacante do Chacarita Juniors, que converteu. “Algo mais?”, perguntou depois.

Pela Albiceleste, Chueco García foi campeão também da Copa América de 1941 e entendeu-se com diversos outros craques da época: Rinaldo Martino (de quem falamos ontem), Emilio Baldonedo, Roberto Cherro (segundo maior artilheiro do Boca Juniors), Vicente de la Mata e o futuro maestro são-paulino Antonio Sastre. Faleceu jovem, aos 56 anos, em 23 de agosto de 1969.

Agachada, a linha ofensiva campeã de 1941: Pedernera, Sastre, Marvezzi, Moreno e ele

Caio Brandão

Advogado desde 2012, rugbier (Oré Acemira!) e colaborador do Futebol Portenho desde 2011, admirador do futebol argentino desde 2010, natural de Belém desde 1989 e torcedor do Paysandu desde antes de nascer

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