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Belgrano vence Talleres, na festa do futebol, no interior

Pirata soube chegar às redes. Lição que “La T” precisar aprender um pouco mais

Nada menos do que 52 mil pessoas enfrentaram o frio de Córdoba e estiveram no Mário Kempes para acompanhar, após três anos de ausência, o clássico entre Talleres e Belgrano. No fim, deu Pirata, com um gol de Lucas Melano, aos 20 minutos do segundo tempo. Mas isso pareceu menor, diante da imensa festa protagonizada pelas duas torcidas. Uma festa do futebol.

Desde que entraram em campo os dois elencos ficaram impressionados com a festa de suas torcidas, prenunciada pela luta nas madrugadas para adquirir um ingresso. Na empolgação, “La T” assumiu o controle do jogo e deu um senhor abafa no Belgrano. Por mais de duas vezes o Talleres teve a chance de abrir o marcador, em jogadas criadas com paciência e determinação tática no roubo da pelota no campo defesa. Por mais duas vezes, também quase chegou lá, com falhas na retaguarda do Pirata.

Isso ocorria, porque o Talleres procurava sair com a pelota no chão, desde o seu campo de defesa. O toque pensado era a tática adotada e a rifa da pelota ficava na conta do rival, que parecia sentir a pressão de atuar contra uma vibrante torcida que coloria as arquibancadas do Mário Kempes. Com a passagem de seus laterais ao ataque, “La T” ganhava profundidade e causava uma verdadeira desordem na retaguarda pirata. E assim, o conjunto dirigido por Arnaldo Sialle mandava na partida e nem de longe parecia uma equipe do Torneio Argentino A.

Melano foi o nome do gol para o Belgrano

E por que “La T” não chegou às redes do rival? Não o conseguiu graças à atuação de César Rigamonti, porteiro do Pirata cordobês. Ele foi o nome do jogo nos primeiros 45 minutos e ratificaria essa posição na etapa complementar, após “La T” levar o gol jogar o coração em campo para buscar a igualdade. Afora isso, as chances do Pirata ocorriam dos cruzamentos de Mansanelli para as cabeceadas de Lucas Parodi e Juan Martín.

No segundo tempo, o Belgrano voltou melhor. Adiantou a marcação, bloqueou melhor a passagem dos laterais do Talleres e colocou, por enfim, a bola no chão, talvez incentivado pela lição oferecida pelo rival, na primeira etapa. Então, só deu Belgrano.

Contou para isso a também condição física do elenco do bairro Jardín, que caiu muito na segunda etapa. Outra vantagem do Belgrano esteve no trabalho pelos flancos do campo, atitude que Zielinski exigiu do seu time, por perceber que o desgaste de “La T” atingiria justamente os seus homens das laterais. E foi em uma jogada assim que o Pirata chegou ao gol da vitória.

Após uma ótima trama pelo setor esquerdo, a pelota sobrou para Lucas Molina, que acertou um arremate cruzado e forte no arco de Aguiar. Um golaço do conjunto do Bairro Alberdi.

Daí até o fim da partida, o Talleres voltou a dominar as ações do encontro. Só que isso ocorreu sem a mesma organização tática e técnica do primeiro tempo. Além disso, os espaços eram oferecidos ao contra-ataque pirata. Em um deles, após o gol anulado de Klusener para os tallaríns, Pérez fez a festa na área de Garcia e quase ampliou para o clube de Alberdi.

Nos minutos finais, virou jogo de ataque contra defesa. Os “Tallarins” não queriam perder a partida e se jogaram ao ataque em uma clara tática do desespero. Contudo, o Belgrano tampouco conseguia sair e por muito pouco não cedeu a igualdade no jogo.

Foi então que Saúl Laverni apitou o fim do duelo. Para a surpresa de todos, até mesmo a torcida do Talleres fez a festa nas arquibancadas do Kempes. Fogos de artifício sobreviveram à partida por vários minutos após o seu fim. Uma festa pouco vista nos dias de hoje no mundo do futebol. Uma festa do interior com cara de festa universal. Deu Pirata, mas em janeiro vai ter a volta, novamente no Kempes, já que tanto a Boutique quanto o Gigante de Alberdi parecem pequenos demais para o tamanho dessas duas equipes e de suas hinchadas descomunais.

Belgrano: César Rigamonti; Pier Barrios (Gastón Turús), Sergio Rodríguez, Claudio Pérez, Juan Quiroga; César Mansanelli (Martín Zapata), Ribair Rodríguez (Guillermo Farré), Lucas Pittinari (Esteban González); Lucas Parodi (Lucas Zelarayán); Lucas Melano (Tobías Figueroa) e Juan Martín (César Carranza). Técnico: Ricardo Zielinski

Talleres: Diego Aguiar; Diego Chitzoff, Ezequiel Brítez, Jesús Nievas, Elías Bazzi (Nahuel Santos); Marcos Carrasco (Maximiliano Velasco), Javier Villarreal, Nery Leyes; Gabriel Carabajal (Gastón Bottino); Alexis Olivera (Gonzalo Klusener) e Albano Becica (Franco Olego). Técnico: Arnaldo Sialle.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

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