Um camisa 9 para o Corinthians. Pavone?

Na atual data de 01 de junho o Jornal Lance, no Brasil, e outros veículos na Argentina, noticiaram o interesse do Corinthians por Mariano Pavone, atualmente no Lanús. “el Tanque” Pavone de fato entraria bem no ataque corintiano, embora seja apropriado cuidar das expectativa sobre o bom atacante do Granate. Convém, por exemplo, não imaginar um jogador habilidoso, do tipo que trata a pelota com charme. Mas essa desvantagem certamente seria compensada por muitos aspectos favoráveis no atacante. Um deles é o de sua experiência internacional, já que esteve no Real Bétis, da Espanha.

Salutar o olhar tardio, mas sempre bem-vindo dos grandes clubes do Brasil para o mercado argentino. Porém, prevalecem as mesmas atitudes complicadas de sempre. Uma delas é a de que só vale contratar um jogador famoso. Ou um outro, que já faça ou tenha feito parte de algum elenco de time brasileiro. E, o mais importante, que esse jogador tenha tido uma atuação de destaque frente algum clube brazuca. Uma lástima, sem dúvida.

Vários outros jogadores poderiam fazer parte de uma lista corintiana ou de qualquer clube daqui. Vamos apresenta-la então. Mas convém deixar de lado, digamos, a nossa velha dificuldade de aceitar um ou outro, ou ainda uma ou outra situação especial. Dificil imaginar que um clube grande contrate um atacante da segunda divisão argentina. Mas niguém se importaria se ele fosse da segunda divisão brasileira e tivesse um grande destaque. E de pouco serviria dizer que a segunda divisão argentina atual é a mais disputada da história. Talvez mais difícil do que a primeira.

O Palmeiras foi buscar o Hernán Barcos na LDU. E fez bem. No próximo ano é possível que algum clube daqui vá buscar, no mesmo clube, Ezequiel Videla, do Instituto. Videla é um dos melhores, senão o melhor jogador da B Nacional. Talvez seja o melhor volante do futebol argentino. Só que atua pelo Instituto, equipe da segunda divisão. Então o organizado clube chileno está tentando contratá-lo a preço de banana para vendê-lo, no próximo ano, por uma fortuna. E por que nenhum clue brasileiro vai buscá-lo agora?

A ideia aqui é falar de atacante como alternativa a Pavone. Mas peço permissão para citar um atacante que chega a ser um absurdo que ainda esteja atuando na Argentina e que nenhum clube brasileiro foi buscá-lo. Trata-se de Juna Manuel Mártínez, do Vélez.

Bem, na nossa lista, vamos excluir Santiango Silva, que está muito bem no Boca Juniors e que ainda sofreria de certa rejeição no clube de Parque São Jorge. Para não confundir muito, vamos excluir também Cavenaghi, do River, até porque sua recente passagem pelo Sul não foi lá das melhores e isso dificilmente se perdoa por aqui, quando se trata de um atleta argentino. Vamos à lista.

Cesar Cargnano
Clube: Atlético de Rafaela
29 anos, 1,89m – valor de mercado 800 mil euros.

Exemplo de jogador sem sorte e com mau aproveitamento no exterior. Fez muito sucesso no Colón de Santa Fe, onde estreou em 2000. Foi para a Suiça atuar pelo Basel. Quase nunca entrava nas partidas; nas 17 vezes em que foi aproveitado por alguns minutos fez 8 gols. Enfrentou um longo período de contusões até que desembarcou no Atlético de Rafalea em 2010. Anotou 21 gols em 30 jogos e levou a equipe à primeira divisão do país. Passou pelo Universidad Católica, depois, com relativo sucesso. Nesta temporada, o Rafaela o foi buscar no Chile para reforçar o ataque, que pecava pela falta de gols. Contudo, Darío Gandín assumiu de vez a camisa nove e não deu chances a Cargnano de lhe tomar a posição.

É um jogador de personalidade e que precisa ser atraído por um bom projeto. Do contrário, prefere ficar no Rafaela e lutar pela titularidade. Não é um atacante ágil, mas tem muita movimentação ao redor da grande área. Porém, como um típico jogador de área, sabe se antecipar como poucos aos seus marcadores. É do tipo que faz gols de todo tipo, a maioria dos quais, é gol feio. Peca por habilidade, mas compensa pelo incrível oportunismo. É uma lástima que esteja na reserva do Atlético de Rafaela, mas é justificável: Gandín tem as mesmas características de Carignano, com a vantagem de que já era o dono da nove quando este retornou.

Também não é do tipo que marca muito na frente. O que prejudicaria o esquema do técnico Tite, cuja proposta é a de marcar sobre pressão à saída de jogo do rival. No vídeo abaixo, Carignano marca pelo Universidad Católica contra o Bella Vista, pela Sul-Americana.

Rubén “Tito” Ramírez
Clube: Godoy Cruz de Mendoza
29 anos 1,85 – Valor de mercado: especula-se o valor em torno de 2 milhões de dólares.

Centroavante de movimentação e do tipo que pressiona a saída de bola adversária. Forte e um tanto trombador, Ramírez não tem medo de cara feia. Não desiste da jogada em nenhum momento e se empenha de modo incansável por toda a partida. Costuma se colocar bem nas costas dos defensores. Também sabe se posicionar com eficiência entre dois zagueiros.

Raça em campo e disciplina tática são duas de suas características que têm atraído a atenção de vários clubes grandes da Argentina, inclusive do Boca Juniors, que tentou contratá-lo antes de trazer o Tanque Silva. Tito Ramírez não está feliz no Godoy Cruz, pois tem recaído, em excesso, sobre suas costas, a responsabilidade pelo mau momento da equipe de Mendoza. Foi o artilheiro do Torneio Apertura 2011. No vídeo abaixo, Ramírez anota contra o Vélez.

http://www.youtube.com/watch?v=YnQQD_U46Gc&feature=related

Víctor Píriz Alvez
Clube: Defensa y Justicia.
31 anos, 1,81m – valor de mercado: 450 mil euros.

Começou tarde no futebol, com 21 anos e teve a má sorte de sair de um clube quase amador, no Uruguay para amadurecer em outro país. Foi parar no Talleres de Córdoba, onde teve uma boa passagem, graças mais ao ambiente de acolhimento no clube, do que pela sua capacidade de adaptação. O sucesso em “La T” despertou o interesse do Argentinos Juniors. Não deu certo. O clube do bairro bonarense da Paternal formava jogadores em casa e não oferecia um ambiente fácil para quem chegasse com pinta de salvador da pátria. Disto resultou que Píriz Alvez teria muitas dificuldades para voltar a ter regularidade. Até que chegou ao Defensa y Justicia, onde é o destaque da equipe e o artilheiro com 19 gols em 27 partidas.

Tem a seu favor a rapidez e a força. Desloca-se com facilidade para os lados do campo, mas consegue ficar centralizado para fazer o pivô. Como arremata com os dois pés, nunca perde tempo nas bolas difíceis para o chute. Nisto surpreende o goleiro e a defesa adversária. “El Negro” também é bom no cabeceio e no corpo a corpo. Lembra Santiago Silva na vibração com que encara uma partida de futebol. Vive o melhor momento de sua carreira.

Apesar de ficar sem as assistências do meia Rearte, por vários jogos, continuou a fezer gols e levou o Defensa y Justicia nas costas quando era a única referência de criatividade na hora de guardar a pelota no arco.

Contratação fácil e baratissima. Se fracassasse por aqui, o clube que o contratasse não perderia dinheiro. Não há nenhum jogador no Corinthians, hoje, com a rapidez e o poder de definição do uruguaio Víctor Píriz Alvez. De todos da lista, seria a mais rápida adaptação. Veja abaixo o gol de “el Negro” contra o Rosário central, no Gigante de Arroyito.

Gonzallo Castillejos
Clube: Rosário Central.
26 anos, 1,87m – valor de mercado: 1,3 milhão de euros.

Artilheiro nato com rápido amadurecimento, Castillejos é o atual artilheiro da B Nacional com 24 gols em 34 partidas. O que sugere que sua condição atlética já que não participou de apenas uma das 35 partidas do Central pela B Nacional. Pode se transformar em jogador ainda mais importante, já que também estreou tarde na primeira divisão, com 21 anos de idade. Jogou apenas no Lanús e pela equipe de Rosário.

Trata-se de um grandalhão que às vezes parece não ter muita habilidade. Por vezes parece desengonçado e lembra um pouco o Peter Crouch, do Stoke City. Embora se desloque por alguns setores do campo, sua posição típica é dentro da área. Espere dele muitos gols, mas convém que alguém se encarregue de fazer a pelota chegar a seus pés. Não que seja ruim na recuperação da bola, a questão não é essa. A qualidade de Castillejos está no posicionamento. Consegue estar no momento e no local certo onde a bola vai sobrar para ele fazer o gol. Utiliza-se bem dos braços para proteger a pelota, o que qualifica muito o seu trabalho de pivô. Neste caso, poderia ser muito útil para subidas de Paulinho, por exemplo. Contudo, não espere dele que consiga girar com a bola, diante do zagueiro. “Castigol” não parece ter a devida força física para isso. É amado em Rosário e alguns dos torcedores do clube o chamam de “San Castillejos de todos los milagros”.

Seu temperamento é um pouco introvertido. O que poderia prejudicar sua adaptação ao clube de Parque São Jorge. Seria uma aposta com grande “risco” de dar certo. Se nem o Corinthians nem outro clube brasileiro contratá-lo rapidamente, um clube europeu vai fazê-lo, logo, logo. Castigol dificilmente vai seguir no Central, na próxima temporada. Abaixo um gol do atacante diante do Aldosivi de Mar del Plata.
http://www.youtube.com/watch?v=oVS-2KMTU7g

Paulo Dybala, “La Joya”
Clube: Instituto de Córdoa.
18 anos, 1,71m – valor de mercado: o atleta é vítima de muita especulação, o que dificulta a apreciação sobre reais valores de sua transferência a outro clube.

Trata-se da grande revelação do futebol argentino atualmente. Com temperamento tranquilo e reflexivo fora de campo, “La Joya” é um artilheiro nato dentro e fora da área. Chuta com os dois pés; é o craque da antecipação e da surpresa na hora de arrematar. Dentro da área lembra Romário. Faz milagres em pouco espaço e tem a frieza dos grandes artilheiros do futebol. Faz gols de todas as maneiras possíveis. Inclusive de cabeça. Embora possa atuar centralizado, Dybala pode executar várias funções, como a de armador ou a de jogador de lado de campo. Trata-se de um terror para a zaga quando marca a saída de bola. Parece dominar todos os fundamentos que um bom atacante deve possuir. Alguns deles, porém, de maneira ainda incipiente. Seria a grande aposta do ano para quaisquer clubes do mundo.

Embora muito se tenha comentado sobre a transferência do jogador, ele ainda está no Instituto. Sua venda a um grupo de empresários está sendo questionada, já que a grana não chegou aos cofres do Instituto. Havia uma cláusula na venda, segundo a qual o clube poderia reverter a negociação, caso parte do pagamento não chegasse aos seus cofres até o mês de março. Como o dinheiro não chegou o Instituto ainda mantém seus direitos sobre o passe de “La Joya”. Contudo, a especulação em torno de seu nome fez seu preço aumentar. Hoje não sairia de Alta Córdoba por um preço tão baixo quanto era no final de 2011, quando do cedido por 3,5 milhões de dólares juntamente com López Macri, outro bom e jovem atleta da equipe cordobesa.

É jogador para resolver e para investimento. Convém dizer que nenhum clube até agora chegou com grana de verdade lá em Alta Córdoba. Repito: nenhum. Nem mesmo o Palermo parecia disposto a pagar uma boa soma por Dybala. E foi também por isso que ele não foi jogar na Itália. Abaixo, um vídeo curto com alguns dos momentos do jovem atacante.
http://www.youtube.com/watch?v=zBFF3tOkxt0

Cristian Núñez
31 anos, 1,85m – valor de mercado: não disponível.

“El Ogro”, ou “el Negro”, talvez o melhor investimento de todos. A meu ver, seria o melhor, disparado. Trata-se do típico jogador que poderia sofrer preconceito por aqui, apenas por ter um visual diferente. “el Ogro”, com é conhecido é um dos melhores atacantes hoje no futebol argentino. E por que não vai para a seleção? Porque lá a disputa é das mais acirradas e não vai ser um jogador com 31 anos que vai ficar com a vaga.

Núñez demorou bastante para amadurecer, mas agora parece dispor de valores muito diferentes da maioria dos jogadores de futebol. Não é fácil tirá-lo de Corrientes. Isso porque o Ogro tem reconhecimento, bem-estar, e tranquilidade para poder viver bem com sua família no local. Apenas um projeto interessante o tiraria do clube. Tamanha é a valorização do atleta em Corrientes, que seu contrato, que terminaria em 2013, foi estendido até 2015 pelo clube. Clubes, como o San Lorenzo ouviram um sonoro “não” do grande artilheiro.

Hoje, Cristián Núñez é um atacante completo. Sabe fazer gols, sabe atuar como pivô, consegue se deslocar e trocar com facilidade os lados do campo. Além disso, sabe voltar para armar o jogo na meia cancha. Longe de ser o trombador que o seu aspecto físico sugere, Núñez trata a bola com habilidade e rapidez. Embora tenha 31 anos, é o puxador de contra-ataque da equipe. Sabe pressionar a saída de bola da defesa. Apesar de que muitas vezes essa tarefa até parece pouco apropriada para um jogador com tantos recursos. Meu palpite é que nenhum clube o contrataria, apenas pela conjunção de sua aparência física com a sua idade avançada. Esse preconceito elimina do Brasil a chance de ter um grande goleador. Se fosse o caso de algum clube mediano o contratar, Núñez ficaria apenas uma temporada nesse clube e gigantes como Flamengo, Corinthians, Vasco e São Paulo disputariam a sua aquisição depois. Como sempre acontece. No vídeo abaixo, o “Ogro” Núñez marca contra o River Plate e sai para o abraço.