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B Nacional: um pouco do Gimnasia La Plata, rival do River Plate na B Nacional

A partida do Gimnasia com o River Plate agita a Estancia Chica (sede do Lobo), como não poderia deixar de ser. Após a derrota para o Defensa y Justicia, o técnico Pedro Troglio deu entrevista e falou sobre as expectativas para o próximo confronto, diante do River. A expectativa do treinador é a de que o retorno à primeira divisão depende muito da vitória em um confronto como esse. Veja alguns pontos da entrevista e alguns detalhes sobre como se encontra atualmente o rival do River, sábado à noite, no Bosque.

Situação na tabela e perspectiva do treinador

Atualmente, o Gimnasia ostenta o quinto posto da B Nacional, com 39 pontos. A situação poderia estar bem melhor, se a equipe não tivesse perdido para o Defensa y Justicia na rodada anterior. O resultado de 1 x 0 quebrou a série de sete partidas invictas do Lobo no Bosque. Foram cinco vitórias e dois empates. Desde o início de outubro de 2011, quando fora derrotado por 2 x 1 para o Atlanta, que os “Triperos” não sabiam o que era uma derrota.

Esta situação era favorável, mas tinha a contrapartida de uma campanha bastante irregular como visitante. No reinício da temporada, em 2012, o Lobo buscava contornar esse problema e mesmo com algumas derrotas esporádicas vinha conseguindo o seu objetivo de se aproximar dos ponteiros da B. Então veio a derrota para o Defensa, que caiu como uma bomba no ânimo da equipe.

Por isso, Troglio tratou logo de chamar a responsabilidade. Em entrevista a uma rádio local, o treinador mirou no River e disse que o duelo de sábado é uma chance importante, mas não e a última. “Se vencermos, nos colocamos na briga; se empatarmos, ficaremos na espera; porém, se perdemos, ficaremos distantes do River, mas não dos demais. Embora seja certo que ficaremos fora da briga pelo primeiro lugar”.

“Com o desconto da pontuação, não há muitas diferenças entre as equipes que lutam para se acercar do grupo dos quatro primeiros”, continuou o treinador. “As equipes são muito parelhas e aquela que vencer, e contar com a felicidade de um tropeço de um dos quatro ponteiros, é bem possível que saia de um grupo e entre no outro, naquele que atualmente está na briga pelo acesso”.

“Precisamos fazer nossa parte, pois todas as equipes à nossa frente perderão pontos. A questão é que a vantagem que River e Instituto possuem permite com que sofram uma derrota e ainda mantenham a tranquilidade. O mesmo não acontece conosco. Perdemos já um sem-número de jogos e não podemos mais falhar, já que qualquer resultado que não seja uma vitória vira uma tormenta que varre fácil a nossa paz”.

Troglio reconhece que falta muito para a equipe, mas acredita que consiga levar o Lobo à primeira divisão. “Falta muitíssimo e creio que vamos chegar; neste caminho vamos perder mais alguns pontos, mas isso não pode romper a nossa necessária tranquilidade”.

Para finalizar a entrevista, Troglio voltou a falar no River. “Será um duelo muito parecido com o que tivemos com o Defensa: nossa equipe criando situações e oferecendo o mínimo possível de espaço para o River”. Ao Defensa lhe geramos duas oportunidades e eles fizeram um gol; com o River, se lhe dermos quatro chances, eles nos farão três”, finalizou Pedro Troglio, sinalizando que não para de pensar no adversário de sábado à noite.

Um pouco sobre o rival do River na rodada

O fato é que o treinador tenta disfarçar, mas sente a pressão que chega à torcida, passa para os dirigentes, atinge o treinador e respinga no elenco do Lobo. Uma pressão cheia de capítulos históricos e que tem nas grandes conquistas do rival Estudiantes a principal causa. O Lobo é tradicionalíssimo e adorado em La Plata. Contudo, não chega aos pés dos “Pincharratas” quando o assunto é títulos.

Com quase 125 anos de vida, o Gimnasia – justamente a mais antiga instituição argentina a praticar futebol, embora este esporte só passasse a ser definitivamente adotado ali nos anos 10 – foi campeão da primeira divisão uma única vez, no distante passado amador (em 1929), enquanto o rival tem seis títulos nacionais (cinco, já no profissionalismo), quatro Libertadores e um Mundial Interclubes.

Foram décadas de tentativas vãs para descontar a gigantesca diferença histórica, aberta nos anos 60. De repente, uma mescla de esgotamento com o mau planejamento institucional fez o clube cair à B Nacional. O moral da equipe e de seus torcedores foi tão soterrado que o início da temporada foi catastrófico. Nos nove primeiros confrontos pela B, foram cinco derrotas, dois empates e duas vitórias. Não havia sinais de reação visível e ela só ocorreu quase por acaso, na partida diante do Gimnasia Jujuy (então, o grande time da B). Foi um embate daqueles em que por essas circunstâncias obscuras e apaixonantes do futebol tudo deu certo para o Lobo do Bosque de La Plata.

Mas não convém subestimar o Gimnasia. Em La Plata, dizem que os intelectuais torcem para os “Triperos” e a massa para o “Pincha”. Ainda que não pareça, não é bem esse o cenário hoje em dia. O Lobo tem tanta penetração nas massas quanto o seu rival. Mas, com uma diferença em relação ao Pincha: o apego de seus hinchas ao clube está na proporção inversa à conquista de títulos. É comum, nas partidas no Bosque, quando a equipe vai mal, se deparar com torcedores apoiando o time aos prantos. Foi assim na “promoción”, diante do San Martín de San Juan, no jogo em que o clube não alcançou a vitória e foi rebaixado à segunda divisão.

Porém, quando esse contexto joga a favor da equipe, e ela encontra o rumo, se torna quase imbatível no Bosque. E este pode ser o time que o River Plate vai encontrar no sábado.

Plano de jogo

Em partidas em casa, Pedro Troglio aposta na formação com 3-1-4-3, com Exequiel Benavídez protegendo a zaga e auxiliando na saída para o jogo. O esquema é ultraofensivo, com um meio-de-campo alimentando o ataque durante os 90 minutos. Contudo, no cotejo com o River, dificilmente ele entrará com esse esquema. É possível que mantenha Benavídez na zaga, porém recuado para uma formação 4-4-2; a mesma que Troglio costuma utilizar quando sua equipe atua como visitante.

Essa foi a formação que o treinador utilizou diante do Central, ainda que estivesse atuando em seus domínios. Como alternativas ao 4-4-2, o técnico poderia apresentar duas formações. O 3-5-2, em que Benavídez deixaria a equipe e o terceiro homem da primeira à frente do arqueiro Monetti passaria a ser Marcelo Goux, de características bem defensivas. Ou o 4-4-1-1, em que Vizcarra praticamente fica sozinho na frente, já que Gonzalo Choy González de atacante fica só com a fama.

O Gimnasia não deverá fugir de um dos esquemas acima na partida com o vice-líder da segunda divisão. O que deverá ter de novo, em relação ao time que perdeu para o Defensa, é o espirito. Renovado com a pressão da última derrota e com a possibilidade de fazer justamente de um dos gigantes argentinos a escada a trilhar, rumo à primeira divisão, ao fim da temporada.

Joza Novalis

Mestre em Teoria Literária e Lit. Comparada na USP. Formado em Educação e Letras pela USP, é jornalista por opção e divide o tempo vendo futebol em geral e estudando o esporte bretão, especialmente o da Argentina. Entende futebol como um fenômeno popular e das torcidas. Já colaborou com diversos veículos esportivos.

9 thoughts on “B Nacional: um pouco do Gimnasia La Plata, rival do River Plate na B Nacional

  • Mauricio

    Pô, uma bela explicação do que significa o Gimnasia, muito bom.

  • Leandro Winkelmann

    Maior clube do mundo, sem mais.

  • Lucas Castro de Oliveira

    Tá com moral muito baixa para ganhar do meu River, não vai ser um adversário duro.

  • Angelica Lima

    Como esse time pode competir com o estudiantes se não ganhou nada nem mesmo na argentina? Não concordo com isso não. E vai perder do river feio. É um jogo para primeiro tempo.

  • Joza Novalis

    Caríssima Angélica, permita-me discordar de sua opinião sobre o Gimnasia. Talvez a estrutura da equipe seja bem superior a do próprio Estudiantes de La Plata. Trata-se de um clube que fez de tudo para ser grande na Argentina e teve a infelicidade de jamais conquistar um título. Não sei se o jogo de sábado será para primeiro tempo (com o River tudo é possível). Mas aproveite a transmissão dos canais ESPN (sábado 18h00) para verificar o amor dos torcedores ao Lobo. Obrigado pelo acesso e prestígio ao site.

  • Caio Brandão

    A diferença de títulos é de fato descomunal, Angélica. Mas isso nunca impediu que La Plata não deixasse de ser equilibradamente dividida, até porque, em matéria de taças, o Lobo tinha inclusive vantagem até 1967. Comparando grosseiramente, o Gimnasia é um Manchester City pré-investimentos árabes. Mesmo bem antes dos sheiks chegarem, dentro da cidade a torcida azul jamais deixou de ser comparável à vermelha (diz-se que inclusive, superior), apesar das diferenças dos status de cada time.

    Vale lembrar ainda que o Estudiantes passou um considerável tempo em baixa, só ressuscitando com o retorno do Verón, em 2006. Coincidentemente, o Gimnasia disputou regularmente os títulos argentinos entre o ano anterior e 1995, período em que foi seis vezes vice. Para manter a comparação ao futebol inglês, o Estudiantes era mais um menos um Nottingham Forest, com títulos internacionais incompatíveis com a força/expressão/tradição nacional.

    O FP já publicou um especial para demonstrar que, ao menos no que se refere a clássicos platenses, também (junto com a torcida) ainda há algum equilíbrio: https://www.futebolportenho.com.br/2010/09/28/estudiantes-%E2%80%93-gimnasia-tres-historias-de-vitoria-do-lobo-albiazul/

    Obrigado pela participação e siga nos acompanhando!

  • Leandro Winkelmann

    Bem, não foi no 1° tempo. Vamos ver se perde feio no 2°… oh, wait! Também já acabou o segundo tempo?

  • Angelica Lima

    Apenas acho que o River teria mais facilidades, afinal o Gimnasia não estava tão bem. Foi um jogo bem igual mas acho que merecemos a vitória, vale lembra que o jogo foi fora de casa e num calderão. Taí, se é um time grande por que não tem um estádio melhor? Não entendo.

  • Joza Novalis

    Preciso defender o Lobo, Angélica; desculpe-me. Vamos pensar em um clube grande do Brasil, em termos de estrutura. Pode ser o São Paulo? O Cruzeiro? Pois, se me permite, eu te diria que o Lobo tem uma estrutura para dar inveja a qualquer um dos dois. Isso não tira o brilho de Cruzeiro ou São Paulo, que são referências, sem dúvida. E até por isso que eu lembro desses dois grandes clubes do Brasil.

    Convido-a a ver na internet imagens da Estancia Chica, local de treinamentos do Lobo. São nada menos que 1 milhão e seiscentos mil metros quadrados. Tem até uma área enorme para acampamento dos filhos dos atletas. Com todo o respeito, minha cara; esquece essa briga, OK? Qualquer um que a encara já começa perdendo. Abraço e muito obrigado pelo prestígio e acesso ao site.

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