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Conheça a versão 2012 do Boca Juniors

Amanhã o Brasil conhecerá o Boca Juniors em sua versão 2012. E é bom que o país se prepare, pois é uma equipe muito diferente daquela que destruiu os sonhos e esperanças de tantas equipes brasileiras na década passada.

Para começar, não é uma equipe repleta de grandes jogadores. Os xeneizes atuais podem ser melhor descritos como uma equipe correta, bem montada por Julio Cesar Falcioni. O futebol não enche os olhos de ninguém, mas a eficácia é garantida, já que o clube não perde em jogos oficiais desde abril de 2011, quando foi superada pelo Lanus por 2 a 0.

Mais do que pragmática, é uma equipe “cascuda”, experiente: oito dos onze titulares têm mais de 30 anos.  Somados, os onze titulares possuem 32 títulos nacionais e 10 conquistas continentais. Mas em sua maioria são jogadores que podem ser melhor descritos como sólidos e confiáveis do que como brilhantes. Riquelme é a única exceção.

E qual o segredo dessa equipe que foi capaz de conquistar de forma invicta o último Apertura, com doze pontos de vantagem sobre seus perseguidores mais próximos? Para começar a solidez do sistema defensivo: o Boca sofreu apenas seis gols em dezenove partidas, e ainda não foi vazado nas primeiras quatro rodadas do atual Clausura. Curiosamente, essa impressionante performance não se deve exatamente à qualidade dos seus defensores.

Seu goleiro, Orión, nunca foi visto confiável, apesar dos títulos conquistados no San Lorenzo e no Estudiantes. Pela direita joga Roncaglia, lateral de características essencialmente defensivas, e que ainda buscava sua afirmação quando da chegada de Falcioni. Pela esquerda o experiente Clemente Rodriguez possui característica oposta: bom no apoio, tem dificuldades defensivas, e até pouco tempo era visto como decadente. O miolo de zaga tem o veteraníssimo Schiavi (que não atuará contra o Flu, substituído pelo questionado Caruzzo) e o frágil Insaurralde.

O segredo principal é o trio de volantes, todos trazidos por Julio Cesar Falcioni no início de 2011, após uma discreta carreira. Pelo centro, Somoza é um típico camisa 5, um xerife na proteção à zaga. À sua direita joga Rivero, também com alta capacidade de marcação, mas que se destaca pela mobilidade. À esquerda está Erviti, também bom marcador mas dotado de ótimo passe. Em seus avanços costuma ser um coadjuvante de Riquelme na armação das jogadas.

O trio de volantes é o coração da equipe de Falcioni. Impedem que a bola chegue com perigo à defesa, retomando-a a uma distância segura. Com isso, o Boca não apenas garante que a insegura defesa não seja pressionada, como também assegura o domínio da posse de bola. Efetivamente, o mais comum é que nas partidas os xeneizes retomem a bola com muita facilidade e a uma boa distância da defesa, mantendo a posse da bola pela maior parte do tempo.

À frente do trio joga Riquelme, o responsável pela criação. Decadente no aspecto físico, o jogador mantém intacta a velha classe, e quando consegue atuar sem incômodo físico ainda é o grande maestro da equipe. É menos decisivo quanto a marcar gols, mas segue fazendo a diferença nas assistências e bolas paradas.

O ataque tem sido um elemento instável da equipe. Em 2012 chegou Santiago Silva, frequentemente ridicularizado no Brasil, mas um “9” muitíssimo eficiente, que ainda tenta se adaptar à equipe. Em especial porque seu companheiro de ataque, Cvitanich, tem a tendência a sair das pontas para o meio, embolando com o uruguaio. Como “Cvita” se lesionou na última partida, será substituído por Mouche, claramente um segundo atacante, que quase sempre atua pela direita. O jogador é hostilizado pela torcida xeneize, que o vê como um jogador dispersivo na conclusão das jogadas, mas é importante tomar cuidado com sua mobilidade e velocidade.

Por outro lado, a equipe tem dois pontos negativos muito evidentes, que os adversários podem explorar. O primeiro é o lado esquerdo de sua defesa. Clemente Rodriguez avança com frequência e tem dificuldades na recomposição defensiva. E o zagueiro pela esquerda é o limitado Insaurralde. Assim, uma equipe que busque contra-atacar por esse setor terá boas chances de sucesso. No último Apertura o Racing trouxe pesadelos à defesa xeneize ao posicionar Gabriel Hauche por aquele setor.

O outro ponto fraco é a previsibilidade do sistema ofensivo xeneize. As jogadas são limitadas: essencialmente trata-se de Riquelme tentar limpar o jogo para as entradas de Rivero e Mouche pela direita ou de Erviti e Rodriguez pela esquerda. Em seus jogos é muito comum ver o Boca com um absoluto domínio da posse de bola, mas com um domínio improdutivo, com seus jogadores tocando a bola e buscando em vão um espaço que nunca aparece.

Em suma, é uma equipe que prefere atuar contra adversários que se lancem ao ataque. Nesse cenário, seu sólido sistema defensivo e seu contra-ataque mortal são muito eficazes. Mas o Boca costuma sofrer quando enfrenta um adversário cauteloso, com uma defesa qualificada e bem posicionada, em especial se buscar o contra-ataque pelo flanco mais desprotegido de sua defesa.

E no aspecto emocional vale uma lembrança. Ao contrário do que alguns têm apregoado no Brasil, o Boca Juniors não vê essa partida como uma vingança. Aquela eliminação nas semifinais de 2008 não foi vista como uma tragédia, e quase não foi lembrada nesta semana. O Boca dá à partida uma dimensão correta: festeja imensamente o retorno á Libertadores, vê o Fluminense como um rival de peso e espera fazer a festa na Bombonera. Mas não há qualquer ambiente de “vida ou morte” ou “partida histórica”.

Tiago de Melo Gomes

Tiago de Melo Gomes é bacharel, mestre e doutor em história pela Unicamp. Professor de História Contemporânea na UFRPE. Autor de diversos trabalhos na área de história da cultura, escreve no blog 171nalata e colunista do site Futebol Coletivo.

5 thoughts on “Conheça a versão 2012 do Boca Juniors

  • Es una descripción crítica, más no está mal. Mucho mejor que la de los periodistas argentinos.

    Este equipo de Boca es muy fuerte. Por algo hace 36 partidos que no pierde… ojalá podamos ganarle a Fluminense! le tengo mucha fe!

  • Lucas Castro de Oliveira

    Gostei muito da matéria, mas acho que seria bem legal associar esse Boca ao Corinthians, acho que as equipes são muito parecidas, priorizam a defesa e seja o que deus quiser no ataque.

  • Delmar

    Boca e Corinthians na mesma frase está incoerente…

  • Diogo Terra

    Não sei se está, Delmar.

    São dois times populares (seus torcedores são discriminados pelos rivais, supostamente associados a classes mais abonadas), com espaço desproporcional em boa parte da mídia televisiva, e têm dirigentes capazes de comprometer a saúde financeira do clube em nome de seus projetos políticos e pessoais.

    Os corintianos se autodenominam “maloqueiros e sofredores”. Tem um canto da 12 que diz:

    Como no voy a ser
    Como no voy a ser
    Hincha de Boca, vago y atorrante

    Expressões que se traduzem, respectiva e aproximadamente, como vadio e malandro. Há uma relação, sim.

  • OhArA

    Comentário mto completo sobre a quipe do Boca, o Flu é uma ótima equipe mas espero que possamos ganhar bem, na Bombonera é outra história!

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